Finalmente
o sossego chegou.
Liberta-se
a tarde dos braços do dia,
Quase
noite, oiço no interior do meu corpo o outro eu,
Cansado
com a vida,
Não
vê TV…
E
só ouve poesia.
Debruça-se
no parapeito da janela sem vista para o mar,
Fuma
uns quantos cigarros de enrolar, e saboreia a Lua que se avizinha,
Não
tem medo do escuro, não tem medo da chuva,
Mas
tem medo da vizinha.
Algures
do outro lado da rua
Uma
flor desenhada no chão lê “LE CLÉZIO” … “A febre”,
E
eu, sem razão aparente, sinto o calor no meu corpo,
Talvez
contaminado pela “febre”, talvez porque a flor desenhada no chão
É
a flor mais bela que nos últimos anos vi no meu jardim,
O
outro eu, entretido com os cigarros de enrolar…
É
doido,
Ouve
poesia,
Despensa
a TV…
E
nem se apercebe que terminara o dia,
Levanto-me,
estonteante, sinto um círculo de mobiliário do Século passado,
E
livros,
Tento
abraçá-lo, ele foge de mim como se eu fosse uma nuvem poeirenta,
Com
fome,
E
com a tempestade no ventre,
Fervilho,
a flor desenhada no chão fecha o livro, sorri e desaparece como desaparecem as
andorinhas depois da Primavera,
Finalmente
está a chover,
E
a “febre” começa a baixar,
Já
consigo andar,
E
sorrir
Para
a flor desenhada no chão.
Gosto
de Jazz, também gosto de poesia, se possível lida pela voz melódica da paixão,
E
sentir na pele o salgado mar
Das
cidades portuárias,
Embriagados
versos
Ou
marinheiros sem Pátria,
Tanto
faz,
Quer
ele queira quer não… vou abraçar o outro eu,
E
seja o que Deus quiser,
Abraço-o,
Beijo-o,
E
percebo que somos dois palhaços envidraçados,
Um
fuma cigarros à janela,
E
eu, o outro eu, encantado com a flor desenhada no chão.
Somos
uns coitados,
Um
esqueleto com duas faixas de rodagem,
Dois
parvos,
Dois
parvos.
Francisco
Luís Fontinha
quarta-feira,
4 de Maio de 2016
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