terça-feira, 3 de maio de 2016

A morte do dia


O dia desaparece nos alicerces da solidão,

O meu corpo finge não pertencer a este objecto inanimado

Que habita esta casa, ouvem-se os pequenos resíduos do cansaço,

E antes de regressar a chuva, termino o meu desejo.

A paixão quando os olhos navegam sobre as searas conduzidas pelo vento,

E que mais tarde morre junto ao cais do sofrimento,

A dor entranha-se nos ossos da tristeza,

O silêncio alimenta o desassossego da alma…

Que permanece impávido quando lhe toco com a minha mão,

Não importa se a noite traz o prazer do sono,

E se os sonhos são desenhados nos corredores inabitados deste rio sem nome…

Morre o dia.

Libertam-se de mim todos os círculos da geometria

E todas as palavras do alfabeto,

O dia já foi, e não voltará mais ao meu corpo,

Abro a janela, sinto o odor do teu olhar

No sexo da melancolia,

Entre azedumes e poemas…

Camuflados pelo incenso da madrugada,

Odeio o teu corpo como sempre odiei o meu,

Pedaços de farrapos suspensos no estendal embrulhados em cordas de nylon,

Descendo a montanha,

Desço-a enquanto o dia é levado para outros longínquos lugares,

Triângulos de papel que ardem à minha passagem,

E tudo em que toco… arde, ou morre…

Morre o dia. Ergue-se a noite no esplendor do esquecimento, e este circo não cessa de dançar sobre os rochedos do medo,

A doença toma conta de mim,

Fico ausente perante os teus olhos,

Fico ausente quando acorda a noite e se libertam de mim as frágeis tempestades de areia,

O mar imagina-me brincando junto aos barcos de esferovite,

Sem motor,

Espero o vento das aldeias em flor,

E quando me apercebo… estou em pleno Oceano,

Liberto de ti

E das garras do teu corpo,

Morre o dia.

Morre o meu corpo.

 

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 3 de Maio de 2016

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