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quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

O primeiro pingo de chuva

 Vou abrir todas as cancelas da noite

As visíveis e as invisíveis

Acendo o luar

E ligo a telefonia

Vou à janela

Abro-a

Puxo de um cigarro

Acendo-o

Estendo o braço

Abro a mão e pego o primeiro pingo de chuva

Fecho a mão

Encosto-a ao peito

Depois

Beijo o primeiro pingo de chuva

E chamo o mar

 

Enquanto o mar não vem a mim

Sento-me e espero

E o mar começa a entrar no meu corpo como um rio selvagem

 

Abraço-o cuidadosamente para não o magoar

E segredo-lhe baixinho ao ouvido

 

- Vem a mim

 

Depois vieram os barcos

E todos os peixes

E os barcos trouxeram as nuvens

E os peixes trouxeram a alegria

E as nuvens trouxeram as estrelas

 

Ao fundo da rua

Um transeunte

Olha-me

Eu olho-o

Eu ignoro-o

Depois

Ele ignora-me

 

Entre nós

Nem palavras

Nem das palavras

 

Apenas as sombras das palavras

 

Vem a mim

Traz as lanternas que alimentam o sono

E ensina-me a desenhar círculos de luz

Nas janelas da alvorada

E imagina quantos silêncios de pedra

Tem esta alvorada

Abre os olhos e planta as flores no meu peito

 

Depois

Traz as enxadas com que vamos capinar

Todo o capim das planícies

Onde às vezes

Deitas a cabeça e soletras o meu nome

 

Pego nos círculos de luz que me ensinaste a desenhar

E coloco-os nas vidraças da janela

Escrevo o teu nome

E o teu nome

Cresce na lareira

Enquanto o primeiro pingo de chuva começa a voar

E condenado que está

Fica prisioneiro do teu olhar.

 

 

 

 

 

 

Alijó, 07/12/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 1 de dezembro de 2022

Viagem

 E se o vento me levar

Que me leve

Até ao mar

Que me poise em cima de uma rocha

Se o vento me levar

Que me leve

Que faça de mim

Chuva

Neve

Pó.

 

Se o vento me levar

Que me leve.

 

Se o vento vier

Que me leve

Que me leve a noite

O sono

Que me leve

As estrelas e o luar

Se o vento me levar

Que me leve

Me leve

Sem que eu perceba que vou.

 

Sem que eu perceba que me leva.

 

 

 

 

 

Alijó, 01/11/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 26 de novembro de 2022

As flores do sono

 Este relógio

Que morre no meu pulso

Este relógio

Que não escreve na minha mão

As horas em que vivo

 

Este relógio

De números invisíveis

Deste relógio

Que transporta a dor

Que sentem as flores do sono

 

Este relógio

Que habita no meu pulso

O meu pulso sem coração

Completamente só

 

Este só

Que é este pulso só

Deste relógio

O relógio dos quatro ventos

Junto ao mar

 

Este relógio

Com veneno em apêndice

Com poemas e sem poemas

Porque este relógio

É o relógio deste poeta só

 

 

 

 

 

Alijó, 26/11/2022

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 25 de novembro de 2022

Destes barcos sem nome

 Abraço-me a este pobre rio

Onde poisam os barcos sem nome

O comandante

Bebe as lágrimas dos subúrbios da insónia

E sobre os ombros

 

Os dedos imaginários das tuas mãos

A serpente de Deus

Brinca no teu pescoço

E um beijo voa sobre o mar

A casa

 

A casa é indivisível

E um portão de ferro

Apreende as primeiras lágrimas da manhã

Batem à porta

Senta-se sobre a sombra e enforca-se com o poema

 

Em pedacinhos de sono

A mesinha-de-cabeceira geme

Como gemem os gonzos das portas por onde entro

E destes sonhos que me despeço

O mar leva-me

 

E parto em busca dos teus cabelos

Que semearam as planícies do teu diário

E dos dias das minhas mãos de luz

O silêncio

Deste rio onde poisam os barcos sem nome.

 

 

 

 

Alijó, 25/11/2022

(Francisco)

segunda-feira, 7 de novembro de 2022

Flor deste Doiro rio

 

Há uma flor aprisionada

Dentro do castelo luar

Há uma flor que dança

E não se cansa

Dos lábios do mar

 

Há uma flor amada

Junto ao Doiro rio de encanto

Uma flor em papel colorido

Que dizem ter vencido

A força do vento

 

 

Alijó, 07/11/2022

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 26 de outubro de 2022

Palavras ao vento

 

O vento deixou de soprar

Está cansado

Não pode trabalhar

O vento já não me pertence

Como não me pertencem

 

As palavras que lanço ao vento

O beijo

O vento

E os lábios do vento

São palavras

 

Madrugadas

Que esperam pelo vento

O vento que deixou de soprar

E teima em não trabalhar

Maldito sejas vento de amar

 

 

Alijó, 26/10/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 15 de outubro de 2022

Menina poesia sentida

 Abraço-te, silêncio em despedida,

Menina que voas sobre o mar,

Abraço-te, menina poesia sentida…

Sentida ao despertar,

 

Abraço-te, meu moinho que dança no vento,

Árvore despida,

Abraço-te, sombra do meu pensamento,

Em delírio na partida,

 

Abraço-te, nuvem cansada de pensar,

Chuva miudinha na madrugada,

Abraço-te, rio que não se cansa de navegar

 

Nos teus seios de amanhecer,

Abraço-te, sorriso que brinca na alvorada,

Sem pressa de chegar, sem pressa de morrer.

 

 

Alijó, 15/10/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 14 de agosto de 2021

A insónia de Deus

 

Uma abelha de luz poisa no teu olhar. Haverá sempre noite; mesmo que a lua se suicide no teu olhar, haverá sempre luar na tua vida,

O cansaço,

Nos dias que se perdem, nas horas em que nasce e, morre uma estrela, mesmo assim, haverá sempre Primavera na esplanada da saudade.

O esqueleto rangia como os gonzos do silêncio e, nunca percebeu que lá fora, junto ao rio, um fio de nylon tentava regressar à velha fotografia; tinha na mão a imagem de Cristo crucificado.

Em cio, avança o exército de gaivotas em direcção ao mar; os barcos da minha infância são hoje objectos raros, distantes de uma cidade envergonhada pelo passado.

Pedacinhos de linha, anzóis despedidos pelo velho pescador e, junto ao cais

Uma criança inventa electrões, protões e a tomografia por emissão de positrões e, eu desconhecia que o PET lhe vasculhava tudo até aos ossos; amores e paixões, flores e jardins, sumo de laranja e bacalhau com natas. No final

A sentença. CONDENADO.

Ela

CONDENADA.

Hoje, há quem me diga que são muito felizes, os dois e, vão amar-se eternamente.

O dia e anoite,

A lua e o luar,

Ambos, ambas, condenados

Condenadas pela insónia de DEUS.

Hoje são pequenos grãos de areia na mão da tempestade. Vivem num cubo de vidro, alimentam-se de pequenos nadas e, lêem as escrituras divinas. Nada a fazer, digo eu

Tudo a fazer, dizia ela

CONDENADA pelo oxigénio abstracto da manhã.

 

 

Alijó, 14/08/2021

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 24 de fevereiro de 2020

As sombras do silêncio


Acordava do sono emagrecido,
O homem da nuvem embriagada,
Cansado,
Perdido,
E, reclamava,
E, gritava,
A palavra enfeitiçada.
E, hoje, nas camufladas ruas da cidade esquecida,
Embrenhado na poesia, a canção do adormecido,
O homem, cansado, denegrido,
Escreve sem ânimo,
Desiludido…
Dos alicerces envergonhados.
Rezam pela sua alma,
Coitado,
Sem nome,
Degolado pela tempestade,
O homem, o mesmo homem, o cansado,
Pegas nas palavras da reza em seu poder,
Desorganiza-se,
Veste-se de negro,
Negro, negrito, negrinho,
Como o gato do vizinho,
Dançando na eira das espigas adormecidas.
As sombras do silêncio,
A alvorada da sinfonia que jaz na ribeira,
O rio, em delírio,
O rio, desconectado da vida,
E, corre,
E, dorme,
Nas almas do mar.
O mar tudo engole, e, tudo mastiga,
Pessoas, lixo, palavras, o vento…
Uma laranja, sofre,
E, vive,
E, morre,
Dentro da laranja adormecida.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
24/02/2020

domingo, 27 de outubro de 2019

Abstenção


Abstenho-me de sonhar.

Sinto no corpo o cansaço das armas proibidas.

Abstenho-me de sonhar,

Desenhar,

Escrever no sonho a madrugada de amar.

Pintar.

Mar.

Abstenho-me de sonhar.

O poeta das noites perdidas.

O astronauta das tardes prometidas,

Junto à ribeira,

Lá longe,

O apito do comboio em suicídio…

Apetece-me partir.

Fugir.

Escrever no teu olhar

As tardes passadas na eira.

Sem fronteira,

Caminho velozmente contra o vento,

Alguém, alguém mente,

E sofre,

As dores do sofrimento.

Abstenho-me de sonhar.

Escrever,

Desenhar.

Abstenho-me de pintar,

Quando uma gaivota poisa no teu silenciar….

E pela madrugada,

Sem o saberes, sem o quereres,

Uma nuvem começa a chorar.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

27/10/2019

sábado, 13 de abril de 2019

Menina do meu saber


Menina do meu saber,

Endiabrada e a correr,

Menina do Douro encurvado,

Que chora sem querer…

Menina mimada, menina das tardes a chover,

Menina cansada,

A chorar,

Neste rio deitada,

A correr para o mar.

Menina da ribeira,

Dançando sobre o amor,

Palavras escritas no vento,

Deste corpo suicidado,

Menina das flores e do amar…

No pensamento,

A mão lançando a espada,

Dos livros, de nada…

Menina em flor,

Meninada apaixonada.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

13/04/2019

domingo, 12 de agosto de 2018

Ausências


O tempo não passa.

O tempo é uma ameaça, um rio sem nome,

Escondido na minha infância.

 

Mãe, tenho fome,

Sinto o vento na tua lápide imaginária…

No fundeado Oceano,

De pano…

 

Mãe, me aquece antes que adormeça,

E esqueça,

O telefone,

Que não me larga,

Durante a noite,

A desgraça,

 

Os ossos envenenados pelo tédio da esplanada mal iluminada,

O empregado,

Coitado,

Cansado…

Já não me atura,

Foge,

Mistura,

O tabaco com outras substâncias, folhas mortas, ausências…

 

O tempo não passa, mãe.

 

E sinto constantemente, em mim, esta miséria,

Que me alimenta,

Mente,

Como um Planeta adormecido,

Senta,

Senta em mim as sombras das tuas lágrimas.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12/08/18

domingo, 22 de abril de 2018

Palavras ao vento


Flor queimada.

Quando a enxada da saudade,

Dócil quimera da tempestade,

Mergulha na madrugada,

 

Perfume da solidão,

Rasgando a terra onde se entranha o teu cansaço,

Toco-te com a minha mão…

E sacudo a espada do abraço,

 

Nada faço,

 

A não ser escrevendo palavras ao vento.

 

Me sento.

 

Me alimento.

 

Menino da tua liberdade.

 

Flor queimada,

Que o mar semeia nos tempos de espera,

Quem me dera…

Nos soníferos da pomba assassinada.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 22 de Abril de 2018

domingo, 15 de abril de 2018

O carrasco


Todos os dias apareço.

Todas as noites sou comido por uma língua de sombra,

 

Posso concluir que sou um sonâmbulo desorganizado,

Distante das estrelas,

Cansado do vento.

 

Cada osso meu,

Um poema teu,

 

O carrasco.

 

Não gosto do vento,

Porque o detesto,

Faz-me mal às palavras escritas,

Enquanto dormes.

 

E sonhas.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 15 de Abril de 2018

sábado, 29 de abril de 2017

Sombra de viver o infinito sorriso do vento


Em direcção à morte

O vento se despede da solidão

Sem perceber que a manhã se suicidou contra os rochedos da insónia

A noite chegou

Trazia na algibeira o Universo remendado pelos papéis da agonia…

E um homem espera desesperadamente pelo seu amante,

Escrevo-te,

Junto ao mar

Os petroleiros do desejo em soluços

Como as estrelas pregadas no Céu nocturno das fotografias prateadas,

Escrevo-te,

Espero pela alegria da distância abrupta da imensidão do tempo,

Espero pela ausência do teu peito

Fundeado num qualquer porto esquecido numa qualquer cidade…

Em direcção à morte

Os alicerces do medo entre pergaminhos e livros de veludo

Correndo a calçada que abraça o rio,

A areia do teu corpo semeado nas mãos do teu rosto,

E não sabias que do fogo da inocência

Um suspiro se ergue até ao pôr-do-sol,

Desisto,

Sento-me no jardim com vista para a tristeza,

E um copo de uísque se despede de ti,

Até logo,

E escrevo-te nesta angustia de viver

No sonho do veleiro abandonado,

Fujo com o barco,

Deixo-te,

Abandono-te…

Sem perceber o desejo do meu corpo

Nos parêntesis da memória,

Escrevo-te,

Junto ao mar…

E escondo-me da tua sombra.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 29 de Abril de 2017

quinta-feira, 28 de abril de 2016

O vento que passa


O vento que passa

E leva com ele a madrugada

O peso das árvores sobre o sorriso da solidão

Um livro assa

Na fogueira do teu coração

Quando a manhã acorda cansada,

 

O vento que passa

E traz a mim a insónia dos corredores

Preciso de espaço para saborear o beijo

E libertar-me da maça

Que lapida os meus ossos como flores

E me leva o desejo,

 

O vento que passa

E transforma a liberdade em melancolia

O sorriso da fera acorrentada

E se enlaça

No acordar do dia

Como uma montanha apressada…

 

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 28 de Abril de 2016