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quarta-feira, 5 de julho de 2023

Círculo

 Dentro deste pequenino círculo,

Sinto-me uma estrela em autodestruição…

Aprisionado,

Acorrentado…

 

Dentro deste pequenino círculo,

Sinto o meu corpo minguar…

Até que um dia,

Quando acordar,

Serei apenas uma sombra;

Uma sombra nos braços do mar,

 

Dentro deste pequenino círculo,

Que dorme na lareira da tristeza…

Pareço o poeta enforcado…

Na solidão e na incerteza…

 

 

 

05/07/2023

Bragança

domingo, 24 de março de 2019

Fim da vida


O ponto final da vida.

A morte prometida,

Sobre uma mesa empobrecida,

Quando os livros revoltados,

Descem a avenida,

Como soldados.

 

Pum. Fim da vida.

 

O silêncio.

Amo o silêncio dos pássaros, poisados nos teus lábios,

Doirados,

Doces,

Dos eternos namorados.

 

Grandes sábios.

 

Descem, sobem,

Sobem e descem,

 

Avenidas, ruas e ruelas,

Coitados,

Dos pássaros enamorados,

 

Entre lágrimas e velas.

 

Morre o poema na minha mão,

Sinto-lhe o esqueleto de dor, junto à noite,

Morrem todas as palavras do poema que morre na minha mão…

E coitadas…

Das janelas empoeiradas,

Velhinhas,

E, cansadas,

Como sexos apaixonados,

Nas sanzalas de prata,

A chuva miudinha,

Dos marinheiros em flor,

O cansaço, a desgraça do cio da madrugada,

Do meu primeiro amor.

 

Como eu quero escrever no teu corpo de sombra,

Na rua, uma montra,

Um par de calças esperando-me…

Sem saber que no final do dia,

Eu sentia,

A fórmula mágica das árvores apaixonadas,

As areias,

Os insectos envenenados pela fúria,

Não o sei, meu amor,

Nunca soube, meu amor,

Que o amor é uma merda,

Uma canção de revolta,

À volta,

Da fogueira.

 

Pum. fim da vida.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

24/03/2019

domingo, 15 de abril de 2018

O carrasco


Todos os dias apareço.

Todas as noites sou comido por uma língua de sombra,

 

Posso concluir que sou um sonâmbulo desorganizado,

Distante das estrelas,

Cansado do vento.

 

Cada osso meu,

Um poema teu,

 

O carrasco.

 

Não gosto do vento,

Porque o detesto,

Faz-me mal às palavras escritas,

Enquanto dormes.

 

E sonhas.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 15 de Abril de 2018

segunda-feira, 24 de julho de 2017

A fuga


Parto feliz.

Deixo tudo nas tuas mãos, os velhos papeis, os livros… e a minha sombra.

Para onde vou, nada disso necessito…, apenas preciso de paz.

A fuga, depois da alvorada… para além do rio,

Uma caravela com velas de sonho,

Um pedacinho de solidão…

E lá vou eu, eu, feliz…

Parto feliz.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Julho de 2017

sexta-feira, 18 de março de 2016

Barcos em silêncio


Uma janela de sombra

Suspensa no parapeito da saudade

O equinócio sonho

Atormentado

Espera os meus braços de granito

Um grito

E fujo

Salto a janela de sombra

Corro calçada abaixo

Até tocar o rio salgado pela inocência da noite

E sou apedrejado

Pelos barcos em silêncio…

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 18 de Março de 2016

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

a sombra em teu sorriso vermelho


a sombra

em teu sorriso vermelho

sem destino nos meus lábios

entre marés de Inverno

e noites de Inferno

traz o sofrimento desejado

inventa no meu corpo a alma desajeitada

que só os fantasmas conseguem ouvir

na madrugada

da sombra

na sombra

em teu sorriso vermelho

a rosa de papel com odor a silêncio

teus beijos

sem triangulares janelas

onde poisas os teus seios

quando passa na Calçada

o quadrado a recta e o sonâmbulo embriagado

a sombra

na triste roda dentada

aqui

ali

longe de mim…

sentada

à minha espera sabendo que eu não regressarei nunca

aos teus braços

às tuas mãos…

nunca

a sombra

em teu

sorriso

vermelho

se ausentou do meu destino

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 4 de Novembro de 2015

quarta-feira, 18 de março de 2015

A serpente de vidro


O fantasma orgulho do corpo
que navega nos sorrisos imperfeitos
fingimento
quando a noite cai
não vive
e quer
ser
não sendo
o que é...
uma lâmpada de lágrimas
alicerça-se ao ombro ferido da serpente
tem na roupa a etiqueta

mas...
mas existem pedras de giz
na ardósia tarde que observa o rio
não vive
e quer
ser
não sendo
o que parece
às vezes é uma estrela
às vezes... não passa de uma sombra
velha por dentro
infeliz

coitada
e quer
a serpente sobre a secretária
difícil de perceber
o amor
as palavras
os livros
e todas as lâminas que o sono constrói no sonho
a casa desabitada
infestada de personagens
cansadas
como o silêncio luar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 18 de Março de 2015

sábado, 2 de novembro de 2013

madrugadas de alecrim

foto de: A&M ART and Photos

eu me confesso aos teus secretos desejos
oiço em ti a sinfonia melancólica da paixão louca que acorda as palavras poucas
eu me confesso aos teus olhos de espiga solitária
no infinito cereal pergaminho
vejo e sinto os animais vadios
e os pássaros mendigos
eu me confesso sabendo que tens em ti a diurna estória sem sombras
ou os pequenos laços no pescoço da morte
ou da lápide o sofrimento ensanguentado beijo da despedida
a partida é uma forma de viver
ser feliz
e sonhar com as madrugadas de alecrim


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 2 de Outubro de 2013

domingo, 13 de outubro de 2013

Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes

foto de: A&M ART and Photos

Nunca sei como começar, nunca sei porque me sento em frente a esta secretária, nunca sei porque escrevo estas palavras, às vezes, mortas, às vezes
Sem sentido?
Às vezes perco-me na escuridão do dia e acordo na neblina da noite, às vezes escondo-me nos rochedos do medo, outras vezes
Sem sentido?
As nozes caem como papelinhos de anjos mergulhadas no desespero de que as vê cair, e depois de inertes no chão ensanguentado de cascas e pequenas ervas daninhas, os olhos da papoila dançam canções de Domingo noite fora, tínhamos uma vara de aço, ouvíamos alguém na sombra a remexer os ramos escondidos nos alicerces da montanha, tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,
Sem sentido...
Às vezes?
Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes,
Nunca sei porque o faço, nunca sei porque o comecei a fazer, no passado, muitos anos antes de aqui e agora sentir o
Telintar das nozes?
Sem sentido, escrevo-te como se fosse a minha última vontade, e a minha ultima vontade é não ter vontade nenhuma, quero ser como fui, quero ser como nunca consegui ser, caminhar sem
Sentido?
Ouvimos-las descer o talude em direcção ao rio, em queda livre, elas parecem pássaros a despedirem-se dos voos nocturnos da paixão
Conheces alguém que tenha conseguido sobreviver ao impossível amor?
Os ratos,
As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se
De ti?
Não o creio, porque o teu corpo de cascalho tombou antes de elas caírem do céu, diziam-nos que as nozes tinham saborosas palavras que juntas
Poemas?
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se
Sente-se...
Sentido?
Prometi e não consigo cumprir, porque as nozes não o deixam, porque as vozes não mo deixam, porque não o consigo realizar, porque não sei
Como começar?
Era uma vez...
Não, não o quero, não o consigo fazer
Porque elas caem?
As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e distante estante recheada de
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se e beija-me, o mar ama-me, o mar acaricia-me e deixa a minha pele desejada em palavras de caserna, da despensa ouvíamos as latas de conserva revoltadas porque hoje é Domingo, porque lá fora
Caem as nozes
E as vozes,
Fazes-me um bolo de chocolate com nozes e vozes e
Palavras?
Sim, sim,
Palavras inanimadas sobre a mesa da cozinha, e depois de fazermos amor, ouvimos-las...
Caírem sobre o talude da paixão,
Rolavam como serpentes sobre os lençóis húmidos que o teu corpo de solstício de Outono deixava ficar junto à janela onde a nogueira embriagada pela tempestade gritava uivos sons de
Palavras?
Sim, sim,
Não, não o consigo fazer, despedirem-me dos versos molhados, despedirem-me das pedras vestidas de branco e dançando no centro da noite de
Domingo? Tínhamos frio, tínhamos o desejo de as comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,
Sem sentido...
Às vezes?
Que às vezes nada parece fazer sentido, depois do corpo adormecer e dos ossos magoados do miolo da noz...
As palavras ejaculam sílabas de arame.

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Outubro de 2013