foto de: A&M ART and Photos
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Nunca sei como começar, nunca sei porque me sento
em frente a esta secretária, nunca sei porque escrevo estas
palavras, às vezes, mortas, às vezes
Sem sentido?
Às vezes perco-me na escuridão do dia e acordo na
neblina da noite, às vezes escondo-me nos rochedos do medo, outras
vezes
Sem sentido?
As nozes caem como papelinhos de anjos mergulhadas
no desespero de que as vê cair, e depois de inertes no chão
ensanguentado de cascas e pequenas ervas daninhas, os olhos da
papoila dançam canções de Domingo noite fora, tínhamos uma vara
de aço, ouvíamos alguém na sombra a remexer os ramos escondidos
nos alicerces da montanha, tínhamos frio, tínhamos o desejo de as
comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço
parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,
Sem sentido...
Às vezes?
Ficávamos abraçados a sentir a morte das nozes,
Nunca sei porque o faço, nunca sei porque o comecei
a fazer, no passado, muitos anos antes de aqui e agora sentir o
Telintar das nozes?
Sem sentido, escrevo-te como se fosse a minha última
vontade, e a minha ultima vontade é não ter vontade nenhuma, quero
ser como fui, quero ser como nunca consegui ser, caminhar sem
Sentido?
Ouvimos-las descer o talude em direcção ao rio, em
queda livre, elas parecem pássaros a despedirem-se dos voos
nocturnos da paixão
Conheces alguém que tenha conseguido sobreviver ao
impossível amor?
Os ratos,
As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e
eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e
distante estante recheada de
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se
De ti?
Não o creio, porque o teu corpo de cascalho tombou
antes de elas caírem do céu, diziam-nos que as nozes tinham
saborosas palavras que juntas
Poemas?
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se
Sente-se...
Sentido?
Prometi e não consigo cumprir, porque as nozes não
o deixam, porque as vozes não mo deixam, porque não o consigo
realizar, porque não sei
Como começar?
Era uma vez...
Não, não o quero, não o consigo fazer
Porque elas caem?
As ratazanas doidas comem os macacos menos loucos, e
eu, eu aqui a olhar o mar estampado nas prateleiras de uma longa e
distante estante recheada de
Rochedos?
Vozes e nozes,
O mar, o mar vê-se e ouve-se e alimenta-se e
beija-me, o mar ama-me, o mar acaricia-me e deixa a minha pele
desejada em palavras de caserna, da despensa ouvíamos as latas de
conserva revoltadas porque hoje é Domingo, porque lá fora
Caem as nozes
E as vozes,
Fazes-me um bolo de chocolate com nozes e vozes e
Palavras?
Sim, sim,
Palavras inanimadas sobre a mesa da cozinha, e
depois de fazermos amor, ouvimos-las...
Caírem sobre o talude da paixão,
Rolavam como serpentes sobre os lençóis húmidos
que o teu corpo de solstício de Outono deixava ficar junto à janela
onde a nogueira embriagada pela tempestade gritava uivos sons de
Palavras?
Sim, sim,
Não, não o consigo fazer, despedirem-me dos versos
molhados, despedirem-me das pedras vestidas de branco e dançando no
centro da noite de
Domingo? Tínhamos frio, tínhamos o desejo de as
comer, e ouvíamos de dentro da escuridão uma mão de cansaço
parti-las com uma pedra ou com a dentadura postiça,
Sem sentido...
Às vezes?
Que às vezes nada parece fazer sentido, depois do
corpo adormecer e dos ossos magoados do miolo da noz...
As palavras ejaculam sílabas de arame.
(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 13 de Outubro de 2013