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sábado, 28 de março de 2015

A morte entre parênteses


Não entendo os teus cabelos em cerâmica doirada

Como as andorinhas desnorteadas

Entre árvores

Entre filamentos de saudade

Sobre a cidade

Dos sonhos

Acordar

O espelho da vida

Em liberdade condicional

Espera

Caminha

A pedra ensanguentada

Das ruelas em flor

O ruído ensurdecedor dos morangos

E das plásticas cabeças de alfinete

O fato prisioneiro no guarda-fatos

O meu esqueleto

Dentro do fato

Os sapatos

As meias

E todo o resto

Em chamas junto ao rio

Não entendo o perfume dos teus lábios

O sorriso que se alicerça em ti

E me sufoca

Quando acorda a noite

E a noite me transporta

Para a carta sem remetente

Oiço-te

E não percebo porque brilham os teus cabelos

Dentro do cubo de gelo

Da paixão

Em aventuras

Entre árvores

Entre filamentos de saudade

Saudade…

Dos sítios obscuros com pulseiras de vidro

Cacos

Sílabas

Na seara do cansaço

Atrevo-me a olhar a lua

E não querendo ofender ninguém…

A lua suicida-me contra os pigmentos do prazer

Não sei

Como poderia eu saber

Se as candeias se extinguiram nas marés de prata

Os sonhos

Os sonhos acorrentados ao silêncio

O medo de amar

Não amando

E comer

Todas as pétalas da rosa embalsamada

Tão triste

Eu

Neste cubículo de lata

Sem janelas

Sem… sem nada

Como uma simples folha de papel

Desesperada

Sobre a secretária

Eu mato-a com a caneta

Escrevo palavras

Palavras

Que só o mar consegue entender

E… escrever

Nos meus braços

Dentro de mim há buracos negros

E as equações da relatividade

Sós

Entranhando-se no camafeu alicerce do sofrimento

Como eu sabia

Antes de a madrugada bater-me à porta

Olá bom dia

Meu amor…

Hoje não

Volte para a semana

Não

Não quero comprar nada

Hoje

Porque sinto a solidão

Nos arrozais

E nos pássaros

Que os homens constroem

Enquanto o poeta morre…

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 28 de Março de 2015

terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Sombras de mármore e ossos...

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Há um beijo inventado
que habita nos meus lábios
há um corpo adormecido
em mim abraçado
há um poema no teu olhar
que transporta o cheiro do mar...
há uma ponte nos teus cabelos
quase a desmaiar,

o desenho no espelho embriagado,

há um livro nos teus seios
que não me canso de ler
e folhear...
há um desejo dentro desse livro que vive nos teus seios...
um desejo invisível
um desejo embrulhado em capim
e pedaços de cacimbo
há um beijo inventado
… nos meus lábios
em silêncio
a escrita cuneiforme
entre sombras de mármore e ossos...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 30 de Dezembro de 2014


quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Cidade dos transatlânticos...


Alicerçar-me nos teus braços
como se eu fosse um faminto,
não.

Um sorriso de pergaminho
nos lábios de uma caneta de tinta permanente,
uma folha húmida,
como a tua pele...
sobre a secretária desarrumada,
uma pilha de livros à minha espera...
e nada,
nem palavras,
nem leitura,
apenas oiço “Wordsong”...
e... e imagino o “AL Berto” deambulando
pela cidade dos transatlânticos...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 27 de Novembro de 2014

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Em círculos


Sem pressa de caminhar sobre as nefastas palavras de chorar
o fogo das tuas mãos que iluminam esta cabana de chita
o teu sorriso... impregnado no meu silêncio...
enquanto me recordo em frente ao espelho da solidão
sou um vadio navegante
deixei de saber como era
quem era
apenas recordo algumas das imagens
muito sombreadas
como uma nuvem de carvão
voando em direcção ao mar
sem rumo... sem... sem luar,
esta esplanada de incenso
que durante anos arde no meu peito
o odor da tua pele nas paredes em lágrimas
a janela amortalhada
quase a esquecer-se da minha existência...
permaneço neste barco
em círculos
em quadrados imperfeitos
gaguejando
às vezes
às vezes sem perceber porque o meu corpo se evapora ao anoitecer
sem rumo... sem... sem luar,
sem palavras para escrever...
sem pressa de caminhar
vivo e habito nos teus lábios prateados
vivo e habito nos teus seios... como desejos parvos
sem cigarros no tecto da insónia
vivo e habito
em círculos
em quadrados imperfeitos
em parábolas moribundas
e cansadas...
como eu
sem rumo... sem... sem luar!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 27 de Outubro de 2014

quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Um dia dia vou regressar?


Nunca vi o teu nome escrito na fogueira da tarde,
imaginava-te uma serpente de luar enrolada no pescoço da noite,
tinha medo de ouvir a tua voz, tinha medo... da minha própria voz,
sabia que havia um espelho onde habitavas, um espelho mágico onde aparecias depois de cessarem todas as luzes em mim,
sentava-me sobre a ponte metálica da sonolência, inventava silêncios para não ouvir os teus gemidos,
desenhava-os como se eles fossem o acordar da manhã no pulso de um mendigo de aço,
e acreditava nas palavras não ditas, aquelas que tu escondias junto ao teu peito de anémona-do-mar,
sem vontade de amar,
sem vontade de viver...
nunca vi o teu nome nas ardósias madrugadas de suor,
quando uma cama recheada de sombras cobria a tua pele...
uma janela que se suicidava, e tombava no pavimento térreo da saudade,

Uma criança que chorava, e tu, e tu pensavas que eram os mabecos enfurecidos pelo cacimbo,
e afinal, e afinal eram apenas as mãos do desejo a penetrarem em ti,
desgovernada mulher dos sete lençóis de prata...

Tínhamos uma palhota com pernas de solidão,
e nunca vi o teu nome... escrito... na fogueira da tarde,
hoje, hoje sei que a tua voz é de cristal, e com a tempestade... quebrar,
grãos de amêndoa voando na algibeira do Tejo,
os cacilheiros em apitos joalheiros, e cansados de tantas viagens sem regresso...
um dia dia vou regressar?
Nunca soube a resposta aos apelos do Oceano,
num recreio de escola, uma criança vestia-se de estátua, no seu pedestal apenas uma flor amarela, e não palavras, e não... e não sorrisos,
e... e não sonhos,
nunca via o teu nome,
em mim...
como as escoras da insónia nas frestas do gesso envelhecido.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 6 de Agosto de 2014

domingo, 2 de março de 2014

Cais das laranjeiras

foto de: A&M ART and Photos

Perdi o teu olhar na penumbra seara de trigo,
tínhamos descoberto o silêncios dos rios que dormiam nas nossas veias,
perdi o teu olhar das palavras por escrever,
e sentia em ti o desejo de partires,
à janela apareciam as imagens que tínhamos deixado do outro lado do muro,
havia um fino sorriso de melancolia e as tuas mãos tremiam como tremia a tua voz de centeio,
perdi o teu olhar,
e da penumbra seara de trigo apenas sobejaram as flores envenenadas dos beijos adormecidos,
Descemos a montanha,
dormíamos nas almofadas clarabóias das rochas graníticas,
líamos as estrelas junto ao cais das laranjeiras, e... e sentíamos o florescer da manhã com rosas,
sobre nós um papagaio de papel lançava pequenos grãos de areia e alguns favos de mel...
as abelhas descoloridas morriam,
como nós, hoje,
cadáveres de gesso suspensos nas amoreiras,
e havia sempre uma criança em ti que me fazia sonhar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 2 de Março de 2014

domingo, 16 de fevereiro de 2014

A janela verde

foto de: A&M ART and Photos

Da tua janela sentia o pulsar inconstante das tuas veias, do oitavo andar eu conseguia, não, aprendi a perceber as árvores em movimento, aprendi a ouvir os teus lamentos, aprendi a sentir a tua minha dor, contava a vezes que o metro de superfície passava em frente aos teus olhos cerrados, perdi-lhe a conta, desisti de contar, mudei repentinamente para os automóveis sonolentos que enteavam no parque de estacionamento, eram tantos, meu Deus, tantos, tantos que... voltei a desistir,
Percebi o significado do medo, aprendi a esperar pelas palavras do invisível, e confesso que não rezei, confesso que mentalmente colocava a hipótese de te perder, e ainda não tenho a certeza se te vou perder, enquanto dormias, enquanto eu olhava os teus sonhos impregnados no cortinado de fumo, eu, eu sabia que tu me esperavas quando acordasses, acordaste,
Então, chegaram bem?
Não te respondi, sentia-me agoniado, com fome, sem palavras para responder aos teus anseios..., pegava nos cigarros amorfos, acendia um e depois outro e mais outro... até que percebi que no corredor de acesso ao teu quarto, até que entendi a solidão, o amor enquanto esperava as lânguidas manhãs de Janeiro,
Então, chegaram bem?
Muita neve, chuva, vento, e perdemos-nos na tua sonolência de cadáver inventado por um louco, perguntava-te se estavas bem, e respondias-me
Então, chegaram bem?
Que sim, que tudo não passava de um sonho, que tudo nunca tinha existido, que tudo
Então, chegaram bem?
Que tudo acorda quando os silêncios dos teus lábios me diziam
Estou mal, tenho dores, não consigo adormecer,
Me diziam, me obrigavam a acreditar nas palavras escritas na tua cama, oitocentos e trinta e cinco, para os matemáticos um belíssimo número, mas
Então, chegaram bem?
Mas para um poeta esse número significava uma perda, uma ausência de ti para comigo, imagino-te subir as escadas do sótão da saudade, imagino-te a pegar na minha mão e ir-mos ver os barcos ao porto de Luanda...
Então, chegaram bem?
(não te respondi, sentia-me agoniado, com fome, sem palavras para responder aos teus anseios..., pegava nos cigarros amorfos, acendia um e depois outro e mais outro... até que percebi que no corredor de acesso ao teu quarto, até que entendi a solidão, o amor enquanto esperava as lânguidas manhãs de Janeiro...)
E víamos os paquetes abraçados aos longínquos marinheiros com fardas de embriagados esqueletos procurando sexo, álcool... e drogas,
Os coqueiros, os treinos de Hóquei em patins, e sempre, e sempre a tua mão entrelaçada na minha mão de criança, da tua janela sentia o pulsar inconstante das tuas veias, do oitavo andar eu conseguia, não, aprendi a perceber as árvores em movimento, aprendi a ouvir os teus lamentos, aprendi a sentir a tua minha dor, contava a vezes que o metro de superfície,
Então, chegaram bem?
E olhavas-nos, e sei que choravas...




(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha- Alijó
Domingo, 16 de Fevereiro de 2014

sábado, 4 de janeiro de 2014

enlouquecido acordado

foto de: A&M ART and Photos

enlouqueço como os ramos cansados da amoreira
evaporam-se no vento agreste que traz a tempestade de areia
vomita barcos e caravelas e mulheres de porcelana
belas às vezes... feias quando os charcos lamacentos do abismo estão sobre o mar...
mulheres que fogem das nuvens invisíveis dos doces torrões de açúcar
enlouqueço
vivo fingindo viver
e escrever fingindo que escrevo
não escrevendo...
… nada
absolutamente... nada
porque odeio as canetas de tinta permanente

porque deixei de guardar as velhas folhas em papel amarrotado...
velho
porque... queimei os dedos do teclado da máquina de escrever
ainda oiço os sons magoados das sílabas em sangue...
e enlouquecido... sinto-me um iceberg perdido na espuma tranquila do silêncio medo
procurando travessões longos de madeira firme
palavras
tristes palavras
das cadeiras da sala de jantar...
oiço e choro
perco-me não percebendo que do pavimento da paixão
acordam os laços de nylon dos mastros enferrujados.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 4 de Janeiro de 2014

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

os insectos da melancolia

foto de: A&M ART and Photos

perdi-a sem saber que a tinha
dentro da minha mão despedaçada
enrolada nos meus finos dedos de arame farpado
perdi-a sem o saber
dentro das minhas veias habitavam os insectos da melancolia
três horas antes de adormecer
três vezes ao dia
a insónia invade-me entranhando-se nos meus olhos desnorteados
vagabundos
apaixonados...
e eu sem o perceber entro nas tempestades com sorrisos de mar
perdi-a e nunca mais a conseguirei encontrar no jardim do esquecimento

subi escadas
sentei-me em inúmeras varandas...
desci escadas
corri calçadas
tropecei... e caí sobre as lágrimas
perdi-a sem saber que a tinha
dentro da minha mão despedaçada
e uma sombra de mimo jaz na almofada do sonho morto

perdi-a
sem o saber
perdi-a de mim quando escrevia
palavras sem rosto
palavras
sílabas de nada
tristes madrugadas
perdi-a sem saber que a tinha
dentro
fora
na dupla esquina
de luz... como a luz dos holofotes dilacerados.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 27 de Dezembro de 2013

quinta-feira, 31 de outubro de 2013

o amor morre como um esqueleto de vidro

foto de: A&M ART and Photos

havia suspiros na tua voz de chocolate
lanternas diurnas embrulhadas em finas mãos de silêncio
escrevem-se nas palavras dos teus braços
oiço as teclas dos teus dedos na máquina do meu corpo
onde te espera uma folha de tristeza para rasurares como uma tempestade envenenada
havia suspiros uivos nos teus doces lábios
e dos beijos amargos o poema envaidece-se
cresce
e torna-se homem
mulher
apaixonado
apaixonada

o amor morre como um esqueleto de vidro
amado
amada
desamada
desalmada
o amor desaparece dentro dos círculos verdes das marés de incenso

havia suspiros nos olhos dos crisântemos
sobre a térrea campa do desejo
na lápide uma límpida manhã ensonada conversando sobre esplanadas
rios como cemitérios de ferrugem
e barcos como mulheres ansiosas pela chegada dos corpulentos marinheiros do abismo
tínhamos uma algibeira recheada de geada
tínhamos no peito uma mísera envergonhada madrugada
húmida
comida pelo suor das palavras loucas
tínhamos no sexo uma fiada cinzenta de cinza
que sobejava dos tristes cigarros em papel crepe
havia suspiros nos olhos... e sempre que chovia ouvíamos os comboios suicidarem-se nos carris do sonho

o sonho morreu junto aos arbustos em Belém
o rio galgou as montanhas de gelo
e entrou na tua vida alimentando-a de ossos e pedaços de sombra
havia suspiros
lágrimas
desajeitadas mãos na face de um busto granítico...

havia suspiros de chapa doirada
nas sanzalas avenidas que sentíamos das janelas de verniz
tínhamos uma lareira em cada suspiro inventado no teu ventre
havia rosas vermelhas nos confins das tuas coxas
migalhas de xisto entranhavam-se nos teus seios borbulhantes
e nós que parecíamos crianças sem infância
brincávamos como bonecas de trapos
e folhas de mangueira
ouvíamos o pulsar garrido do cavalo branco
e sabia dos teus cabelos clandestinos
onde escondias o verdadeiro amor...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 31 de Outubro de 2013

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

sexta-feira, 31 de maio de 2013

Do medo, de olhar-te sem roupa e de não ser capaz de resistir à mais bela imagem a preto-e-branco

foto: A&M ART and Photos

(não foi por falta de tempo que ainda não escrevi sobre o teu corpo, mão porque o teu corpo seja desajeitado, não, porque ele é lindo, belo, desejado, não foi por falta de tempo, como os livros em fila de espera, como os textos em círculos dentro da minha cabeça, à espera de uma mão e de uma caneta, e claro, papel, não é por falta de tempo, mas confesso, que do teu corpo, sairá um dos mais belos textos, prometo, e não é, não foi, por, falta, de tempo, porque tempo, é certamente o que mais tenho...)
Não observava a luz natural desde que por decreto Real mandaram encerrar todas as janelas com vista para o mar, assim, deixamos de olhar os peixes em cardumes fingindo brincadeiras num qualquer jardim de uma aldeia encastrada na montanha bela adormecida, suas árvores diurnas caminhavam como pedras descendo ravinas, subindo escadas, galgando socalcos e olhando o Douro curvilíneo entre sombras e barcos imaginários, sentávamos-nos nas mãos flácidas dos pássaros negros com pintinhas brancas, recordavam-nos os velhos lençóis de areia que deixamos sobre a mesa da cozinha, quando também por decreto Real, tivemos de abandonar a cabana na margem direita da ribeira, pescávamos, às vezes, entre intervalos, entre palavras, oferecia-te um beijo, desenhava-te um abraço no teu corpo, aquele que espera pelas minhas palavras, que por falta de tempo, preguiça, quiçá... MEDO, ainda não o escrevi, sobre ele, olhando-o como se eu fosse o espelho de olhos verdes que te vê subindo as paredes do desejo, e esse belo corpo uma árvore semi-nua esperando o vento para se baloiçar nas cordas da manhã quando acorda, e as persianas do teu olhar, meias estonteantes, embriagadas pelo sono vernáculo que as palavras provocam no esqueleto feminino...
Tenho fome,
De ti?
Do medo, de olhar-te sem roupa e de não ser capaz de resistir à mais bela imagem a preto-e-branco, pendurada nas garras de um cortinado, velas parecendo lâmpadas, fósforos sobre o lava-loiças como silêncios em alumínio panelas, a sopa, o bacalhau esfriado, insosso, demolhado,
(apetecia-me um cigarro)
Invento nomes de objectos estranhos, lembro-me do hipercubo e de todas as histórias à sua volta, o porquê de ele ter nascido dentro de mim, das pessoas que me acompanharam, apadrinharam, coitadas delas, a paciência para me ouvirem sobre uma coisa quase estranha, mas real, lógica, geométrica, penso
Poderá o corpo nu ser um hipercubo?
E se
Penso, como serás quando todas as lâmpadas estiverem silenciadas, como as pessoas, de boca cerrada por um cortina de fogo, penso, como serás dentro das minhas mãos, quando eu, por uma mera suposição, manuseasse esse teu corpo de hipercubo, complexo, vagabundo no sentido poético, em desejo, eu,
E se, eu? E se eu transformar o teu corpo de hipercubo em flores com pétalas de papel, como as gaivotas, quando sobrevoam os teus seios...
Perceberás as minhas palavras, e dir-me-ás que sou louco, e dir-me-ás que já não queres, que eu, escreva sobre o teu corpo, o mesmo, aquele que é desejado e durante a noite se veste de hipercubo, sobe ao telhado e fica... assim, como eu, imune às imagens de marinheiros escrevendo nas paredes da madrugada...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sábado, 25 de maio de 2013

nem pertenço ao mar, nem pertenço à terra

foto; A&M ART and Photos

O escritor não sou eu, os cigarros terminaram quando ainda pertenciam-me coisas pequenas, pássaros e poemas, secretárias que vomitavam palavras, cidades que flutuavam entre manchas de sémen e flores de pétala encarnada, o escritor morreu, não me pertencem as palavras que escrevo, que ele escrevia para mima, e eu, amava-o loucamente como quem ama uma árvores, um pedestal sem estátua, ou... escrevia-me nas costas enquanto eu, dormia, imaginava-me dormir dentro dos teus braços, hoje partiste definitivamente de mim, acabaram-se-me palavras e cores e os riscos desordenados das noites de Sábado, hoje
escrevia-te palavras vãs em teus olhos verdes, poisava os cotovelos sobre a secretária, mal educado, ouvia eu da tua triste boca, eu, sem sentido, não me importava que de ti acordassem glândulas e células onde eu guardava as palavras para ti, meu amor, e sinceramente, aos poucos fui desistindo dos teus lábios, ficaste confuso, tu, o homem que veste o meu corpo, me transportas para as imagens longínquas de uma cidade que ainda hoje, não Sábado, não consegues pronunciar, e da minha Luanda infinita com o mar arregaçado até aos tornozelos, tu, desististe de me transportar, de me amar, e assim, perderam-se-me todas as palavras que te escrevi...
Odeio-te como odeio as chuvas tempestades sobre os rios de brincar,
flutuávamos como alicerces de edifícios em ruína, éramos aço que cobria o esqueleto dorsal de um paquete não baptizado, levianamente, desaparecias durante a noite, provavelmente, vestias-te de peixe, e voavas sobre o capim ruidoso que os mabecos rosnavam antes de adormecerem, esperava-te na cama mergulhada em livros, papeis velhos e canetas de tinta permanente, perguntavas-me qual era a minha terra e eu respondia-te que sinceramente, ou
Provavelmente,
ou...
Não tenho terra, aqui não me conformo, não me revejo, e lá, lá não me querem como cidadão Angolano, portanto, além de te perder, além de perder as tuas palavras, os teus abraços, os teus doces lábios, perdi também a Pátria, e considero-me um apátrida, nem pertenço ao mar, nem pertenço à terra,
ou,
Odeio-te como sabias que todos os calendários inventam dias, e que todos os relógios, os pobres, e os ricos, todos, comem horas, minutos e segundos, e subíamos a um coqueiro com asas de vidro, e sentia-te em mim, e sabia-te disfarçado de sebenta com palavras, e palavras, palavras...
a quem pertenço eu? A que corpo pertencem os teus lábios que saboreiam o meu pescoço? Às palavras não ditas, por medo, covardia, Qual é a minha Pátria?
Quem diria, que eu, um dia, procurasse nos caixotes de cartão a tua fotografia, quem me diria, se eu te odeio, desde que morreste-me nas mãos em palavras,
vãs,
E nunca, pára de mentir-me, porque nunca vivi na Vila Alice, porque, nunca, vivi no Bairro Madame Berman, e
vãs, sãs, e nunca, nunca te esqueças, meu grande sacana, que o teu querido corpo, é meu e pertence-me, leva as tuas palavras, leva-as, mas deixa-me o teu corpo para eu brincar no espelho do guarda-fato enquanto não regressa o Inverno...

@Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 4 de abril de 2013

E no Sábado?

foto: A&M ART and Photos

Há uma parede ínfima que separa a saudade da vontade de regressar, há uma brecha na parede ínfima onde me é permitida a entrada, e mesmo sendo apenas ao Sábado, eu entro, e fico lá, a olhar os pedaços de loiça que sobejaram da catástrofe que as madrugadas sem destino provocaram na melodia que junto à noite ouvíamos, provavelmente, da casa do vizinho, mas ao longe, um senhor de barba, todos os finais da tarde, saboreava o seu trompete, e eu, uma criança curiosa, inventava palavras para justificar aqueles sons, que ainda hoje oiço, cerro os olhos, e a música flui em mim como o vento quando enrola os lençóis pendurados no estendal perdido no quintal, lá, misturam-se couves, cebolas, tomates, feijão-verde, alhos e algumas galinhas em processo de rescisão de contracto, são velhas, e imaginando-as dentro de uma panela em ferro-fundido, nunca, nunca estarão prontas para serem comestíveis, a não ser que
(o infinito dos dias deram lugar à rapidez das palavras, quero-as escrever e estou a sentir dificuldade de imaginar-me sentado a uma secretária (digo – de madeira) com uma caneta de tinta permanente a escrever num caderno sem nome, talvez lhe coloque o nome de “Matraquilho”, Porque não? Sempre será mais agradável escrever sobre um nome, semelhante a escrever num corpo desnudo, e não saber o nome da folha de pele doirada onde se escreve, “onde se lê folha de pele doirada, o escritor quer dizer PÉTALA DE ROSA ABANDONADA”, e claro, é como beijar os lábios mais belos do Céu e desconhecer o nome desses lábios, todos têm um nome, uns são de filigrana, outras são de marijuana, outros..., o nome, por favor, insira a moeda na ranhura, e rode a alavanca, e logo em seguida tem o seu desejo concretizado, e melhor do que fazer pipocas, porque essa ideia já é tão velha como o apelidado de “cagar”, porque quase há trinta anos que vejo os ciganos nas feiras a venderem pipocas, e como dizia um professor meu na Universidade, tudo em engelharia já foi inventado, ou quase inventado, neste momento a sabedoria está em descobrir novos e mias económicos materiais, portanto, neste momento é na ciência de materiais que está a sabedoria, porque de equações quase que estamos conversados, esta agora... Pipocas..., ele há cada um)
A não ser que a minha amiga que vive na cabana a seguir à ribeira tenha uma porção mágica para transformar galinhas velhíssimas em novas, com coxas, com lábios, com seios, comestíveis
(o rio enfureceu-se comigo, entrou-me em casa e destruiu-me todos os papeis e livros, e eu não percebendo se estava a sonhar, e eu não percebendo se estava a dormir, apenas recordo-me de dizer – Felizmente, felizmente que alguém fez alguma coisa e destruiu-me esta porcaria sem cheiro, semelhante a rodas de chocolate, parecidas com bolachas de madeira – E logo eu, eu meu querido, logo eu que sou apaixonadíssimo por rios e barcos, logo eu)
Comestíveis saudáveis, comestíveis como folhas de alface – quando a parede ínfima que separa a saudade da vontade de regressar, há uma brecha na parede ínfima onde me é permitida a entrada, e mesmo sendo apenas ao Sábado, eu entro, e fico lá, a olhar os pedaços de loiça que sobejaram da catástrofe que as madrugadas sem destino provocaram na melodia que junto à noite ouvíamos, provavelmente, da casa do vizinho, mas ao longe, um senhor de barba, todos os finais da tarde, saboreava o seu trompete, e eu, uma criança curiosa, inventava palavras para justificar aqueles sons, que ainda hoje oiço, cerro os olhos, e a música flui em mim como o vento quando enrola os lençóis pendurados no estendal perdido no quintal, lá, misturam-se couves, cebolas, tomates, feijão-verde, alhos e algumas galinhas em processo de rescisão de contracto, são velhas, e imaginando-as dentro de uma panela em ferro-fundido, nunca, nunca estarão prontas para serem comestíveis, a não ser que – e dizem-me que amanhã é outro dia, claro, compreendo perfeitamente minha querida senhora, mas... E no Sábado?
(não sei o que são Primaveras)
Grades de sombra
(havia silêncios misturados nos sons do trompete do homem de barba, recordo-me agora, que era branca, tipo – Pai Natal? - Ora aí está, tal e qual, isso mesmo, e na altura eu sentava-me em frente à porta de entrada, uma casa simples, descomplexada, onde os aposentos de serem tão minúsculos quase que abria os braços e atravessava o quarto, entrava na casa da vizinha, e tirando isso – éramos felizes – e aqueles sons habitam hoje dentro do meu corpo, ainda hoje, sento-me em frente à porta de entrada da cabana onde habito, e apesar de não ser a mesma casa e de não ser o mesmo local, consigo ouvir os sons melódicos do trompete do senhor com barba branca, talvez do tempo, talvez da idade, talvez dos versos...)
E o teu corpo prisioneiro em grades de sombra, num castelo de areia, tão alto, tão alto, que é quase impossível alguém subir, subir – se ao menos soubesses voar! - Pois, mas infelizmente não sei voar, pois, mas infelizmente tenho medo que a areia ceda, e se transforme em grãos como bolas e sabão quando éramos crianças e andávamos pelas ruas do bairro a lançar bolinhas para a atmosfera, hoje, ainda as vejo, às vezes, a atravessarem o horizonte entre voos rasantes e lentidão de saliva, e o teu corpo lá, lá, lá...
(A não ser que a minha amiga que vive na cabana a seguir à ribeira tenha uma porção mágica para transformar galinhas velhíssimas em novas, com coxas, com lábios, com seios, comestíveis – Depois de amanhã é Sábado – e mesmo assim talvez não seja este Sábado que vou conseguir entrar através da brecha da parede ínfima que separa a saudade da vontade de regressar – só se as comermos assim, mesmo assim, duras)
Lá, na rua onde vivemos, aprisionado a grandes de sombra, e lá – Lá o quê? - lá bem no alto a entrada no castelo para chegar à cela invisível onde ela come e dorme e vive... e dizem que ama.

(quase ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sábado, 16 de junho de 2012

Três vezes ao dia

Três vezes ao dia
depois de almoçar
ao deitar
e quando acordar
e quando acordar cerrar bem os olhinhos
e tomar

(e nunca esquecer)

três vezes ao dia
acordar
almoçar
deitar
e nunca esquecer
não tomar
se estiver a ler
ou andar a escrever

três vezes ao dia.

quinta-feira, 22 de março de 2012

As algemas da noite

Saberei escrever
Depois de morrer,
Pergunto-me,

De que me servem as palavras
E as árvores sonâmbulas
E as janelas para o mar,
De que me servem os barcos
E as algemas da noite,
Pergunto-me
Se saberei escrever
Depois de morrer,

E quando morrer,
Quem…
E depois de morrer quem se lembrará de mim,
Pergunto-me
Se saberei escrever
Depois de morrer,

E as árvores sonâmbulas
E as janelas para o mar
E os barcos,
Pergunto-me
Que fazem na minha mão antes de adormecer…

segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

O centro da eira

Não sei se está vento
No meu corpo encalhado
Se estou gordo
Ou magro

Não sei se deva continuar a escrever
Ou simplesmente me sentar
Ver a manhã a morrer
Nos braços do mar

Não sei o que são gaivotas
Ou poemas de amar
Sei o que eram almas mortas
Na Rússia do Czar

E tal como Gogol
Pego na minha escrita
E faço uma fogueira
E tudo desaparece no centro da eira