foto: A&M ART and Photos
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(não foi por falta de tempo que ainda não escrevi
sobre o teu corpo, mão porque o teu corpo seja desajeitado, não,
porque ele é lindo, belo, desejado, não foi por falta de tempo,
como os livros em fila de espera, como os textos em círculos dentro
da minha cabeça, à espera de uma mão e de uma caneta, e claro,
papel, não é por falta de tempo, mas confesso, que do teu corpo,
sairá um dos mais belos textos, prometo, e não é, não foi, por,
falta, de tempo, porque tempo, é certamente o que mais tenho...)
Não observava a luz natural desde que por decreto
Real mandaram encerrar todas as janelas com vista para o mar, assim,
deixamos de olhar os peixes em cardumes fingindo brincadeiras num
qualquer jardim de uma aldeia encastrada na montanha bela adormecida,
suas árvores diurnas caminhavam como pedras descendo ravinas,
subindo escadas, galgando socalcos e olhando o Douro curvilíneo
entre sombras e barcos imaginários, sentávamos-nos nas mãos
flácidas dos pássaros negros com pintinhas brancas, recordavam-nos
os velhos lençóis de areia que deixamos sobre a mesa da cozinha,
quando também por decreto Real, tivemos de abandonar a cabana na
margem direita da ribeira, pescávamos, às vezes, entre intervalos,
entre palavras, oferecia-te um beijo, desenhava-te um abraço no teu
corpo, aquele que espera pelas minhas palavras, que por falta de
tempo, preguiça, quiçá... MEDO, ainda não o escrevi, sobre ele,
olhando-o como se eu fosse o espelho de olhos verdes que te vê
subindo as paredes do desejo, e esse belo corpo uma árvore semi-nua
esperando o vento para se baloiçar nas cordas da manhã quando
acorda, e as persianas do teu olhar, meias estonteantes, embriagadas
pelo sono vernáculo que as palavras provocam no esqueleto
feminino...
Tenho fome,
De ti?
Do medo, de olhar-te sem roupa e de não ser capaz
de resistir à mais bela imagem a preto-e-branco, pendurada nas
garras de um cortinado, velas parecendo lâmpadas, fósforos sobre o
lava-loiças como silêncios em alumínio panelas, a sopa, o bacalhau
esfriado, insosso, demolhado,
(apetecia-me um cigarro)
Invento nomes de objectos estranhos, lembro-me do
hipercubo e de todas as histórias à sua volta, o porquê de ele ter
nascido dentro de mim, das pessoas que me acompanharam, apadrinharam,
coitadas delas, a paciência para me ouvirem sobre uma coisa quase
estranha, mas real, lógica, geométrica, penso
Poderá o corpo nu ser um hipercubo?
E se
Penso, como serás quando todas as lâmpadas
estiverem silenciadas, como as pessoas, de boca cerrada por um
cortina de fogo, penso, como serás dentro das minhas mãos, quando
eu, por uma mera suposição, manuseasse esse teu corpo de hipercubo,
complexo, vagabundo no sentido poético, em desejo, eu,
E se, eu? E se eu transformar o teu corpo de
hipercubo em flores com pétalas de papel, como as gaivotas, quando
sobrevoam os teus seios...
Perceberás as minhas palavras, e dir-me-ás que sou
louco, e dir-me-ás que já não queres, que eu, escreva sobre o teu
corpo, o mesmo, aquele que é desejado e durante a noite se veste de
hipercubo, sobe ao telhado e fica... assim, como eu, imune às
imagens de marinheiros escrevendo nas paredes da madrugada...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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