sábado, 4 de janeiro de 2014

enlouquecido acordado

foto de: A&M ART and Photos

enlouqueço como os ramos cansados da amoreira
evaporam-se no vento agreste que traz a tempestade de areia
vomita barcos e caravelas e mulheres de porcelana
belas às vezes... feias quando os charcos lamacentos do abismo estão sobre o mar...
mulheres que fogem das nuvens invisíveis dos doces torrões de açúcar
enlouqueço
vivo fingindo viver
e escrever fingindo que escrevo
não escrevendo...
… nada
absolutamente... nada
porque odeio as canetas de tinta permanente

porque deixei de guardar as velhas folhas em papel amarrotado...
velho
porque... queimei os dedos do teclado da máquina de escrever
ainda oiço os sons magoados das sílabas em sangue...
e enlouquecido... sinto-me um iceberg perdido na espuma tranquila do silêncio medo
procurando travessões longos de madeira firme
palavras
tristes palavras
das cadeiras da sala de jantar...
oiço e choro
perco-me não percebendo que do pavimento da paixão
acordam os laços de nylon dos mastros enferrujados.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 4 de Janeiro de 2014

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