Noite de Mim – Francisco Luís Fontinha – Final do Ano.
quarta-feira, 15 de agosto de 2018
domingo, 12 de agosto de 2018
Ausências
O
tempo não passa.
O
tempo é uma ameaça, um rio sem nome,
Escondido
na minha infância.
Mãe,
tenho fome,
Sinto
o vento na tua lápide imaginária…
No
fundeado Oceano,
De
pano…
Mãe,
me aquece antes que adormeça,
E
esqueça,
O
telefone,
Que
não me larga,
Durante
a noite,
A
desgraça,
Os
ossos envenenados pelo tédio da esplanada mal iluminada,
O
empregado,
Coitado,
Cansado…
Já
não me atura,
Foge,
Mistura,
O
tabaco com outras substâncias, folhas mortas, ausências…
O
tempo não passa, mãe.
E
sinto constantemente, em mim, esta miséria,
Que
me alimenta,
Mente,
Como
um Planeta adormecido,
Senta,
Senta
em mim as sombras das tuas lágrimas.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
12/08/18
domingo, 5 de agosto de 2018
Que sítio é este, meu amor!
Que
sítio é este, onde me trazias lágrimas e palavras,
Ao
final do dia,
Quando
o meu corpo sentia,
A
saudade desorganizada da fantasia,
Que
corpo é este, onde me alimentavas a poesia,
E
ao nascer do dia,
Uma
gaivota apaixonada,
Me
dizia…
Amanhã
não serás nada,
Que
amor é este, que trazes na lapela,
E
afoguentas o Verão…
São
palavras, senhora,
São
vírgulas envenenadas pelo vento,
Que
vem e vão…
Que
silêncio é este, menina das tardes perdidas…
Entre
rochedos e riachos, entre parêntesis e lâminas de incenso,
E
lágrimas vendidas,
Numa
qualquer feira, numa qualquer cidade,
Incendiada
pelos teus seios, numa qualquer madrugada,
E
searas.
Que
triste, meu amor, as amoras selvagens,
Dormindo
nos caminhos pedestres,
Descendo
até ao rio…
Setadas
na penumbra liberdade,
De
um beijo amaldiçoado…
Na
triste saudade,
Que
sítio é este, meu amor desgovernado, triste e cansado…
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
05/08/2018
domingo, 29 de julho de 2018
Nesta casa
Nesta
casa não conheço a tua pessoa,
Nesta
casa despede-se a paixão das estrelas sem nome…
Como
um relógio abandonado,
Nesta
casa deixou de haver alegria,
E
todas as janelas se transformaram em grandes,
Revoltadas,
Cinzentas,
Nesta
casa habita a saudade,
Da
tua pessoa,
Em
cada final de tarde,
Nesta
casa não conheço a tua pessoa,
Apenas
sombras de papel suspensas nas paredes,
E
um sorriso submerso na minha infância…
Em
cada dia,
Em
cada tristeza.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
29/07/18
domingo, 22 de julho de 2018
O suicídio de uma caneta
E
assim me suicido com a bala disparada de uma caneta,
Cada
palavra, um sonho,
Cada
sonho, um poema transfigurado pela manhã,
O
sangue passeia-se sobre a secretária,
E
sinto os cheiros da minha infância…
Francisco
Luís Fontinha
22/07/18
sábado, 14 de julho de 2018
domingo, 8 de julho de 2018
A fuga
Navego
no teu sorriso como um louco pássaro,
O
sal mistura-se na tua mão com a areia fina da saudade,
E
perco-me no teu olhar…
Depois
do pôr-do-sol.
Descalço-me,
Lanço-me
ao rio…
E
sinto o meu corpo em fuga em viagem até à morte.
Sou
apenas uma serpente envenenada pela escuridão…
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
08/07/2018
domingo, 1 de julho de 2018
domingo, 24 de junho de 2018
Três
dedos de conversa, uma chávena de chá, um livro poisado na tua mão, enquanto lá
fora, muito distante de nós, uma cobra brinca na fina areia dos teus olhos.
Enquanto
dormia, a flor do teu sorriso despede-se das pétalas envenenadas da noite,
rosna o sorriso do lobo, rosna o silêncio da montanha, quando deitas a cabeça
no meu colo…
São
rosas, meu amor, são rosas os teus cabelos brancos.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
24/06/2018
segunda-feira, 18 de junho de 2018
Livro proibido
Aqueço-me
nos teus olhos, disfarço as rugas, pego num livro proibido sem tu o dares conta,
e imagino-te sentada junto ao lago desconhecido; nunca soube o seu nome, raça,
credo ou sexo, mas é o lago mais lindo do Universo.
Aqueço-me
nos teus olhos, banho-me na tua tristeza de um dia acordar a Primavera sem mim,
tu, descalça, caminhando em volta do lago, danças, saltitas e chamas por mim; e
nunca percebeste qual era o livro proibido…
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
18/06/2018
Desenho de Francisco Luís Fontinha
domingo, 17 de junho de 2018
Arte
A
arte do ser,
Quando
acorda na noite o prazer,
De
ler,
E
chovem estrelas de adormecer…
No
teu corpo de sofrer.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
17 de Junho de 2018
domingo, 10 de junho de 2018
domingo, 3 de junho de 2018
sábado, 26 de maio de 2018
206 ossos
A
colmeia de ossos perdida na montanha,
As
flores florescentes que iluminam a noite,
E
escrevem no meu corpo o poema,
Palavras,
Malditas
palavras na boca do inferno,
A
ribeira, simples lareira junto ao mar,
Descem
as caravelas,
Sobem
os braços dos náufragos,
Marinheiros
dos esqueletos putrificados,
As
candeias nocturnas do Adeus,
O
amor,
Amo-te?
Nunca
o saberei,
O
que é o amor?
Uma
vaca que voa…
Ao
cair a noite!
O
papel amarrotado do teu olhar,
Quando
as estrelas se suicidam nos teus lábios,
Nunca
amarei uma pedra…
Quando
ela me abraça,
Beija…
Nas
sombras dos holofotes de néon,
O
dia límpido,
A
neblina dos teus seios iluminados na floresta,
Ouves-me?
Amas-me?
Como
uma pedra,
Descalça,
Sem
palavras,
Ao
final da tarde.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
26 de Maio de 2018
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Poesia,
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Location:
Alijó, Portugal
sábado, 19 de maio de 2018
A partida do Adeus
O
burro morreu. Paciência, dizem uns, coitado, dirão outros, mas eu é que o perdi
e é a mim que faz falta.
Em
homenagem ao meu burro falecido…
Tinhas
a alegria da paixão.
Todas
as madrugadas, ouvia os teus sons melódicos da fome matutina,
Sentia-te
nos teus aposentos, rosnavas como um cão e uivavas como um lobo, com só tu o
sabias fazer,
Lias
os livros perdidos comigo,
Escrevíamos
lado a lado na secretária de madeira,
Com
cheiro a poeiras e outros cheiros…
O
Ópio abafava-nos, levava-nos aos confins do Universo, comíamos cenouras,
bebíamos uísque de Sacavém…
E
tinhas sempre um sorriso na algibeira.
Todas
as flores eram nossas,
E,
o quintal perdido na imensidão do desejo…, contiguas aos pássaros das árvores
de brincar,
Sempre
no desejo, de um dia, seres eterno como eu.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
19 de Maio de 2018
sábado, 12 de maio de 2018
Flores
Gostava
que as tuas mãos fossem palavras,
Sonhos
encantados nas páginas de um livro embriagado,
Gostava
que as tuas mãos fossem fósseis,
Pedaços
de ossos,
Adormecidos
no lençol da madrugada.
Gostava
que as tuas mãos fossem um sorriso,
Um
rio envergonhado correndo para o mar,
Gostava
que as tuas mãos tivessem nos dedos pequenos dardos de sangue…
Quando
acorda a lua.
Gostava
que as tuas mãos fossem papéis,
Pedacinhos
de jornal,
Entre
parêntesis,
Em
cada final de tarde.
Gostava
que as tuas mãos fossem um carrossel,
Com
crianças de sombra,
Gostava
que as tuas mãos fossem um poema,
Cantado
pelo silêncio,
Nos
lábios de uma pomba.
Gostava
que as tuas mãos fossem a Primavera,
Flores,
Jarras
envenenadas por flores…
Das
flores desencontradas.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
12 de Maio de 2018
domingo, 6 de maio de 2018
Âncoras de desassossego
Tinhas
nas mãos os ossos enraivecidos da solidão,
Dos
teus olhos desciam as palavras que eu escrevo no teu corpo; quando me escondo
de ti na madrugada.
Tinhas
nas mãos as sangrentas areias do deserto,
Poisavam
livros nas tuas coxas, e do Luar regressava a nuvem da lamentação,
Uma
lágrima chorada no teu rosto,
A
alma desinquieta que atormenta os ventos nocturnos,
Como
pequeníssimos papéis perdidos nos teus dedos.
Assim…
ao deitar.
Sonhava
com rugas, pedras e enxadas,
Rasgava
a terra bolarenta dos segredos muros de xisto,
E,
todas as manhãs, tinhas nas mãos a aurora neblina suspensa na janela do sonho.
Tinhas
nas mãos a alavanca mecânica, o martelo e a minha dor…
Entre
as penas dos melros brincando no meu jardim,
A
sucata dos dias transformados em madrugada,
E
os barcos, lá longe, vomitando âncoras de desassossego.
Perdi-me
em ti, sabes?
Tinhas
nas mãos a ânfora caminhada dos trilhos desenhados numa rocha,
Os
santos em rebeldia nos altares das capelas,
O
silêncio,
As
pedras, os sargaços, e outras velharias…
Tinhas
nas mãos o meu rosto…
E
nunca percebi a claridade dos teus lábios.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
6 de Maio de 2018
sábado, 5 de maio de 2018
Sinfonia
Sentia-me
obtuso com a tua simplicidade dos jardins adormecidos; uma flor poisa
ruidosamente no teu rosto. O acordar!
Sentia-me
confuso com o silêncio dos teus lábios, flácidos, cansados das minhas pobres
mãos,
O
sono.
Sentia-me
perdido na seara da solidão,
Quando
os pássaros escreviam palavras na eira, era Verão, e a candeia perdia-se sobre
a mesa do esquecimento,
Me
levanto,
E
pego no Sol.
Me
levanto,
E
pego no silêncio que traz o Sol,
Sentia-me
uma pomba quando o teu corpo desleixado aterrava no meu olhar,
Uma
réstia de alegria,
Uma
sinfonia para brincar…
E
ouvia desenfreadamente os sons da alvorada.
Como
eu queria ser criança…
Alijó,
5 de Maio de 2018
Francisco
Luís Fontinha
terça-feira, 1 de maio de 2018
Sem ti
O
fogo, sem ti, não é fogo.
É
cansaço que se apodera dos braços,
É
flor que morre na tua mão,
É
avenida deserta, nesta cidade, sem pão.
O
fogo, dos beijos baços,
É
jardim de árvores caquécticas,
Adormecidas,
Tortas.
O
fogo, sem ti, não é fogo.
É
noite mal dormida,
Sorriso
na parada do sofrimento,
De
olhar distante,
É
sirene da alvorada,
Muro
em xisto,
Que
atormenta minha amada…
Ai,
meu amor, o fogo, sem ti…
Atormenta
tanta gente.
O
fogo, sem ti, meu amor,
É
a luz das esplanadas de Verão,
São
ruas,
Casas…
São
barcos encostados ao portão,
Quando
o meu quintal dança nos teus lábios de algodão,
O
fogo, sem ti, meu amor,
Não
é nada, nem pão, nem pedras poisadas no coração.
Amanhã,
se o fogo, sem ti, não for fogo,
A
minha vida é um pequeno conto,
Palavras…
Palavras,
meu amor, sem ti!
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
1 de Maio de 2018
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