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quinta-feira, 8 de dezembro de 2022

As estrelas do teu olhar

 Encosto a cabeça

À sombra do teu corpo.

 

Faço um cigarro com as estrelas do teu olhar,

Enquanto abraço a nudez do teu corpo

Que cresce no espelho da noite,

Escrevo nos teus doces lábios de mel,

 

Tanta coisa que poderia escrever,

Tanta coisa, minha querida…

Que nada escrevo.

 

Pego num pequeno cordel do sono,

E com ele,

Trago o silêncio

E o mar que habita no teu peito,

Depois,

Pego na insónia,

E da insónia faço uma flor

Que poiso na tua boca; uma flor colorida de beijos.

 

Encosto a cabeça

À sombra do teu corpo,

E espero que o nosso mar…

Que todo o nosso mar…

Entre pela janela,

Como entram as estrelas do teu olhar,

Quando abro a janela da manhã.

 

 

 

 

 

Alijó, 08/12/2022

Francisco Luís Fontinha

Luar de sangue

 Onde está a paixão das estrelas;

As visíveis, as invisíveis e as imaginárias?

 

Onde habita a noite,

A mesma noite que numa triste noite,

Me prometeu o Luar de sangue

E a corda invisível que transporto ao pescoço…

 

Onde está o dia,

Onde estão as palavras,

Palavras que semeava durante o dia,

E que hoje,

Só as consigo olhar à noite,

 

Onde está a paixão das estrelas;

As visíveis, as invisíveis e as imaginárias?

 

E as desenhadas?

 

E a noite?

Onde está a noite que me abraçava…

Onde está a paixão das estrelas;

As estrelas enamoradas?

Apaga a luz,

Deita a cabeça no meu peito…

E vamos imaginar o mar,

Apaga a luz.

 

 

 

 

Alijó, 08/12/2022

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 7 de dezembro de 2022

O primeiro pingo de chuva

 Vou abrir todas as cancelas da noite

As visíveis e as invisíveis

Acendo o luar

E ligo a telefonia

Vou à janela

Abro-a

Puxo de um cigarro

Acendo-o

Estendo o braço

Abro a mão e pego o primeiro pingo de chuva

Fecho a mão

Encosto-a ao peito

Depois

Beijo o primeiro pingo de chuva

E chamo o mar

 

Enquanto o mar não vem a mim

Sento-me e espero

E o mar começa a entrar no meu corpo como um rio selvagem

 

Abraço-o cuidadosamente para não o magoar

E segredo-lhe baixinho ao ouvido

 

- Vem a mim

 

Depois vieram os barcos

E todos os peixes

E os barcos trouxeram as nuvens

E os peixes trouxeram a alegria

E as nuvens trouxeram as estrelas

 

Ao fundo da rua

Um transeunte

Olha-me

Eu olho-o

Eu ignoro-o

Depois

Ele ignora-me

 

Entre nós

Nem palavras

Nem das palavras

 

Apenas as sombras das palavras

 

Vem a mim

Traz as lanternas que alimentam o sono

E ensina-me a desenhar círculos de luz

Nas janelas da alvorada

E imagina quantos silêncios de pedra

Tem esta alvorada

Abre os olhos e planta as flores no meu peito

 

Depois

Traz as enxadas com que vamos capinar

Todo o capim das planícies

Onde às vezes

Deitas a cabeça e soletras o meu nome

 

Pego nos círculos de luz que me ensinaste a desenhar

E coloco-os nas vidraças da janela

Escrevo o teu nome

E o teu nome

Cresce na lareira

Enquanto o primeiro pingo de chuva começa a voar

E condenado que está

Fica prisioneiro do teu olhar.

 

 

 

 

 

 

Alijó, 07/12/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 6 de dezembro de 2022

A luz da insónia

 

Desenho um pedacinho do teu coração no meu pensamento,

Abro todas as cancelas da noite,

Solto todos os animais,

E sussurro-te baixinho – vem a mim.

 

Guardo as estrelas

Na algibeira dos sonhos,

Pincelo a lua de encarnado

E acendo a luz da insónia.

 

Desenho um pedacinho do teu coração,

Guardo-o cuidadosamente dentro de mim

Enquanto as flores do teu jardim,

Dormem,

Dormem no meu peito.

 

Depois,

Deixo nos teus olhos

Todo o cansaço da noite,

Como se eu fosse uma pedra esquecida na paixão.

 

 

Alijó, 06/12/2022

Francisco Luís Fontinha

sábado, 26 de novembro de 2022

Cerejas do teu olhar

 Esta noite,

Caem as cerejas do teu olhar,

Esta noite,

As sílabas dos teus lábios,

Que envenenam os beijos,

Caem, como as cerejas do teu olhar.

 

E esta noite,

À sombra da solidão,

Vou procurar no mar,

As cerejas do teu olhar.

 

Esta noite,

Crescem na minha mão,

As flores do teu olhar,

Que tal como as cerejas do teu olhar,

caem nas palavras do teu olhar.

 

Esta noite,

Do teu olhar,

Nascem as palavras do meu olhar,

Que sendo as tuas palavras,

As palavras do teu olhar,

Caem, como caem as cerejas do teu olhar.

 

 

 

 

Alijó, 26/11/2022

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 8 de novembro de 2022

Os barcos da minha infância

 Nesta lareira onde ardem os meus sonhos, oiço as lágrimas do silêncio, da labareda da noite, quase todas as noites, acordam

Ou dormem?

Acordam as cordas de nylon que aprisionam os barcos da minha infância; alguns em esferovite, outros em madeira fina e outros ainda construídos com os pequenos pedacinhos sobejantes das estrelas em papel que a menina das lágrimas deixava cair quando chorava.

Não tínhamos nada, apenas tínhamos alguns farrapos, algumas bugigangas e muito amor. Hoje percebo que ninguém sobrevive sem comida, mesmo que tenha muito amor, mas se não houver comida e existir muito amor, não se morre, sobrevive-se e caso seja necessário engana-se o estômago a olhar uma pilha de livros que o meu pai teimava em não vender. Confesso que também não vendia a pilha dos livros.

Queimá-los nesta lareira onde ardem os meus sonhos, talvez, mas vender, não, vender não,

E talvez já tenham acordado, que dizes?

Ainda dormem, e mesmo que já estejam acordados, não te preocupes, não passam de barcos à espera de entrarem na tua mão,

E claro, vender, não.

Tinha vergonha da minha janela, acreditava que num metro quadrado de um caixote em madeira cabiam todos os meus sonhos, fizemo-nos ao mar, e logo percebi que nem a saudade cabia, quanto mais todos os meus sonhos. E de menino dos calções passei rapidamente a rapazote das botas pesadas, das ceroulas, das meias grossas e das luvas que nunca me protegeram as mãos de nada, a não ser, de quando te vi pela primeira vez e

Ou será que dormem?

Porque não passam de barcos à espera de entrarem na tua mão, e como barcos que são, também eles amam, também eles choram, também eles acreditam que os sonhos são pedacinhos de estrelas nas mãos da alvorada.

E o mar todas as noites entrava-nos pela janela, e o miúdo dos calções, depois rapazote das botas pesadas, das ceroulas, das meias grossas e das luvas que nunca me protegeram

as mãos de nada, a não ser, a não ser dos pregos que um carpinteiro preguiçoso tinha semeado no metro quadrado de madeira e num dos lados tinha inscrito

Ou dormem?

PORTUGAL.

Acredito que não dormiam, pois, anos mais tarde, descobri que todos os barcos, mesmo durante a noite, inventam estórias sobre a lua e toda a santa noite cantam como cantam os pássaros,

Ela subia às árvores e brincava com os pássaros,

E os barcos conversavam com as estrelas em papel que a menina deixava cair quando chorava,

Não, não dormem.

Não tínhamos nada, a roupa escasseava, o frio gélido da Trás-os-Montes entranhava-se-nos no corpo até que acabávamos por adormecer e ao outro dia acordávamos tesos como uma barra de ferro, e só depois de abrirmos a janela, e com o passar das horas, descongelávamos até ao final da tarde, que depois de cair a noite, voltávamos novamente a congelar.

Ou dormem?

PORTUGAL.

Queimá-los nesta lareira onde ardem os meus sonhos, talvez, mas vender, não, vender não,

E talvez já tenham acordado, que dizes?

Não. Não vendia a minha pilha dos livros.

 

 

 

 

Alijó, 08/11/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 3 de novembro de 2022

O triciclo dos sonhos


 

Pegava-te na mão

E voava sobre as sombreadas sombras das velhas mangueiras,

Pegava-te na mão

E escrevia nos teus olhos

O poema madrugada,

 

Enquanto o meu pai,

Também ele,

Me pegava na mão,

Os três,

Em pedacinhos de silêncio,

 

Corríamos como loucos

Em busca do mar

E dos barcos em papel,

Pegava-te não,

Pegavas-me na mão

 

Sem perceberes que um dia

Pertencerias às fotografias a preto e branco

Que brincam sobre a minha secretária,

Pego num livro

E imagino-te sentado no jardim

 

A semear cigarros,

Pegava-te na mão

E abraçava-te e tu abraçavas-me

E ele abraçava-me,

Como hoje me abraça enquanto durmo dentro deste sonho.

 

 

 

 

Alijó, 3/11/2022

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 14 de outubro de 2022

Este rio

 

O que faço junto a este rio

Enquanto o meu corpo desfalece,

E ao longe, a ponte

Corre para o mar,

O que faço junto a este rio,

 

Frio e cansado,

Abraçado ao medo,

Distante do luar.

E será este rio

A minha sepultura?

 

Ou será este rio

O leito da minha solidão,

Das noites acordado,

Nas noites inventando

Este rio cansado,

 

Porque neste rio

Enforcado,

Habitam as minhas tristes palavras,

As palavras que semeio nas estrelas em papel…

Ai as palavras semeadas!

 

O que faço junto a este rio

Enquanto a minha sombra vagueia sobre um mar de lápides,

Enquanto um cardume de insónia

Desce a montanha da tristeza…

E este rio me foge na madrugada.

 

 

Alijó, 14/10/2022

Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 13 de outubro de 2022

Círculos com olhos verdes

 São tão lindas as estrelas que voam sobre o mar, e dos barcos, vêm até nós o sorriso em silêncio dos apitos uivos, quando estes se abraçam aos teus olhos, depois, desce sobre a colina a sombra das árvores que fogem da solidão dos rochedos envenenados pelos gritos de revolta das metástases das canções sem nome, e adormecíamos debaixo das mangueiras em flor, do portão de entrada, uma alma depenada dançava e trazia com ela as tuas mãos,

Somos invisíveis, ouvia-a…

Deitava-me de barriga para o ar e sonhava com os barcos que entravam portão adentro. Pela noite, eu e eles víamos as estrelas, hoje, pincelo os teus olhos na madrugada, como se a madrugada fosse uma flor em papel, do papel que sobejava dos papagaios que a dona Arminda construía para o filho, um puto em calções, rabugento e um autêntico tinhoso,

Doem-me as pernas!

(tinhoso)

As estrelas não são em papel e que os papagaios voaram tão longe que ainda hoje vagueiam pelo Universo, e amanhã e depois de amanhã, continuaram a voar, até que um dia, serão apenas pontos de luz, e nos teus olhos ficará apenas a sombra nocturna do desejo.

Invento-me enquanto lá fora uma lâmina de saudade corta em pequenos pedaços as recordações de quando os barcos entravam portão adentro, e quando regressava a noite, dávamos as mãos e víamos as estrelas,

São tão lindos os teus olhos,

Dói-me a barriga!

(grande tinhoso)

Como são lindas as flores em papel da madrugada, e não adianta procurar os barcos que que levavam a ver as estrelas, partiram para longe, tão longe como os papagaios, tão longe,

Desculpa, não sabia que,

Porquê?

Sei lá, apetecia-me ver o mar,

E parti para a ilha dos poemas.

(tinhoso)

Come a sopa, Luisinho?

O menino dá,

E não dava nada, pegava no par de asas que tinha desenhado junto à capoeira das galinhas, vestia as roupas do chapelhudo, e…

(tinhoso)

Quando dava conta, depois de percorrer meio jardim, depois de contornar a Maria da Fonte, sentava-me no Baleizão, pumba,

O menino não gosta de gelados,

(grande tinhoso, este miúdo)

E voava em pequenos círculos até que as pilhas faleciam de pasmaceira, e tinha de pedir ao meu pai para retirar o barco do pequeno tanque que um amigo dele me tinha oferecido, depois, lembrava-me que tinha deixado um avião pendurado numa das mangueiras por um fio de nylon que desenhava também como o barco, círculos com olhos verdes, e ainda hoje oiço o silencioso som dos pequenos motores, e ainda hoje sinto que os círculos com olhos verdes caminham por aí, em direcção ao infinito,

Acreditas no infinito, Luisinho?

Doem-me as pernas.

(tinhoso, tinhoso)

O chapelhudo, mãe?

Morreu, filho.

Morreu como morreram os papagaios?

Mão filho, os papagaios voam pelo Universo, os papagaios em papel nunca morrem.

Depois de olharmos as estrelas, levava os barcos até à cama, contava-lhes uma estória sobre um menino de calções que se encantou com o sorriso de uma estrela, aos poucos, eles, cerravam os olhinhos, até que adormeciam acreditando que os papagaios em papel ainda hoje voam pelo Universo,

O infinito, mãe!

(ranhoso)

Come a sopa,

O menino dá.

E claro, não dava nada. Escondia-a na boca em pequenos pedaços, e providos de alguns movimentos, como se fossem os trapezistas do circo que na noite anterior tinha observado, lançava-os contra a parede da cozinha onde jaziam alguns rabiscos feitos pelo dito tinhoso,

(doem-me as pernas)

Vês. Não fui e também não foste.

(só umas nalgadas nesse rabo)

Como assim, estrelas suspensas nos teus olhos?

Verdade.

Vi-as quando fui adormecer os barcos.

E das tardes a cortar e a coser farrapos para vestir o chapelhudo, o tinhoso do miúdo também metia pregos nas tomadas da electricidade, até que um dia o avô Domingos resolveu colocar todas as tomadas a um metro do chão,

Em Portugal,

Os fusíveis rebentavam,

E os papagaios ainda voam,

(tinhoso)

Como assim, estrelas suspensas nos teus olhos?

Verdade.

Depois de olharmos as estrelas, levava os barcos até à cama, contava-lhes uma estória sobre um menino de calções que se encantou com o sorriso de uma estrela…

(tinhoso)

 

 

Alijó, 13/10/2022

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Manhãs de Outono

 

Poisam na tua voz

Os beijos das flores aprisionadas,

Sentam-se na tua voz

As tardes de mim, distantes e cansadas,

 

Deitadas

Nas andorinhas floridas.

Poisam na tua voz

As lágrimas perdidas…

 

Enquanto estas tristes palavras

Morrem junto ao mar;

Poisam na tua voz

Os barcos que não conseguem zarpar…

 

Porque se sentem sós,

Porque estão amargurados…

Poisam na tua voz

Os corpos amarrotados,

 

Invisíveis pelas manhãs de Outono.

Poisam na tua voz as pedras cinzentas

Que brincam no meu jardim,

E onde todas as noites te sentas…

 

E ficas longe de mim.

Poisam na tua voz todos os poemas em revolta,

Poisam as estrelas, poisa o luar…

E tudo aquilo que não volta.

 

 

 

Alijó, 03/10/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 2 de outubro de 2022

Outros dias

 Estes dias, entre dias, estes dias

Onde nascem flores nas paredes nocturnas do luar,

Destes dias,

Onde brincam palavras

Nas paredes nocturnas do luar,

Aos dias que deixaram de ser dias; adeus e um forte abraço.

 

Até amanhã. Noutros dias

Onde voam as flores nas paredes nocturnas do luar…

Erguem-se na alvorada

As simples imagens do prazer,

Há um finito gemido,

Enquanto estes dias, trazem entre dias…

 

Outros dias.

E entre dias e aqueles dias

Há um dia, aquele dia triste

Onde deixaram de ser dias…

As palavras dos dias;

(a gasolina volta a subir)

 

Estes dias, que já foram dias,

Vivem dias de amargura, porque os outros dias

Ainda não são os verdadeiros dias…

E das palavras dos dias

Outros dias,

Outros dias de merda.

 

 

 

Alijó, 2/10/2022

Francisco Luís Fontinha

domingo, 21 de junho de 2015

Incógnita de uma equação sem solução


Tenho medo de me sentar na esplanada

Junto ao mar,

Tenho medo de me apaixonar,

Pelo mar,

Pela madrugada vestida de mar,

Tenho medo dos sorrisos

E do luar,

Da noite,

Do dia vestido de noite,

Medo,

Medo de caminhar sobre as ervas daninhas e belas,

Medo das ervas menos belas,

E das estrelas

Em forma de velas,

Os barcos cruzam-se nas minhas veias,

Não têm marinheiros,

Mulheres a bordo,

Imagens de cadáveres espelhados

Na sombra da tarde,

Preparo-me,

Sem saber do que tenho medo,

Mas tenho medo do teu olhar…

Vestido de saudade.

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Domingo, 21 de Junho de 2015

terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Estrelas de papel

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


E voas sobre os telhados de vidro
desassossegas-te quando acorda a noite
e percebes que a tarde morreu junto ao mar
inquietas-te
constróis sorrisos fingidos
que só a madrugada compreende
e nunca tens medo de cerrar os olhos
e nunca tens medo das estrelas...
em papel
que eu te deixava sobre a mesa-de-cabeceira...
e voas
como as andorinhas travestidas de silêncio...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 10 de Fevereiro de 2015


quarta-feira, 10 de dezembro de 2014

Sou um estranho… no teu peito


Sou um estranho teclado
dentro do teu peito,
sou a manhã na boca da insónia...
e perco-me nas tuas mãos
como um pássaro em sofrimento,
surpreendo-me com o teu olhar entranhado na escuridão,
pareces um cortinado invisível,
uma espingarda de papel...

sou um estranho teclado
dentro do teu peito,
sou os rochedos incinerados
que escondem as tuas palavras,
e nunca tenho tempo para abrir a janela
do teu coração,
sou um emaranhado de estrelas
sem passado nem canseiras,

Sou um estranho...
… no teu peito,
visto-em de negro
e confundem-me com a noite,
sou o silêncio dos teus cabelos
e a cartilha dos teus medos...
sou a clarabóia do teu sorriso
quando lá fora...

gritam o meu nome em vão,
e eu, e eu nunca tive um nome,
uma pátria,
uma bandeira,

nem... nem paixão...

gritam o meu nome em vão,
e o teclado estranho
que habita no teu peito...
chora... chora como a bala de um canhão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 10 de Dezembro de 2014

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Rochedos da infância


O vigilante nocturno olha-me e alicerça-se aos meus braços,
sinto-lhe o esqueleto enferrujado a caminhar no meu peito,
ofegante,
alimenta-se dos meus velhos ossos com odor a madrugada sem luar,
peço-lhe um desejo...
e... e nada posso desejar,
o vigilante nocturno é como uma âncora de luz sobre as minhas pálpebras envergonhadas,
que as flores seduz...
e aos jardins oferece poemas,
e... e palavras de amar,
o amor enfurece as árvores sem folhas,
nuas como as gaivotas ao entardecer...

Depois acorda o silêncio vestido de cidade,
e eu sem saber o que fazer,
os comboios saltitam dentro dos carris desalinhados,
os comboios parecem corpos a arder...
há cinzas laminadas de sangue no sonífero poético,
alucinações desorganizadas em grande multidão,
uns que choram,
e outros... e outros que choram por prazer,
e sem perceberem...
há uma placa de zinco onde habita uma ponte,
nunca conheci o seu nome,
nunca vi um sorriso nas suas treliças,

Têm fome as estrelas de papel que brincam no tecto da minha aldeia,
lêem pedaços de nada e alguns cubos de sombra,
escrevem na incandescente memória o álcool sobejante da noite passada...
ressuscitam os outros vigilantes e demais arruaceiros sem gabardina,
e o meu corpo de aço... tomba sobre o ombro de um transeunte desconhecido,
a cidade é uma seara sem espigueiros,
desalojadas enxadas em luta conta a pobreza...
têm fome as estrelas e os planetas,
mendigos travestis correndo montanha abaixo,
e suicidam-se nos rochedos da infância...
triste, triste esta vontade de escrever...
sabendo que nem às pedras pertenço!




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 5 de Novembro de 2014