quinta-feira, 3 de novembro de 2022

O triciclo dos sonhos


 

Pegava-te na mão

E voava sobre as sombreadas sombras das velhas mangueiras,

Pegava-te na mão

E escrevia nos teus olhos

O poema madrugada,

 

Enquanto o meu pai,

Também ele,

Me pegava na mão,

Os três,

Em pedacinhos de silêncio,

 

Corríamos como loucos

Em busca do mar

E dos barcos em papel,

Pegava-te não,

Pegavas-me na mão

 

Sem perceberes que um dia

Pertencerias às fotografias a preto e branco

Que brincam sobre a minha secretária,

Pego num livro

E imagino-te sentado no jardim

 

A semear cigarros,

Pegava-te na mão

E abraçava-te e tu abraçavas-me

E ele abraçava-me,

Como hoje me abraça enquanto durmo dentro deste sonho.

 

 

 

 

Alijó, 3/11/2022

Francisco Luís Fontinha

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