sábado, 24 de maio de 2014

Folha esquecida


Sentia-me aconchegado nos teus braços,
regressava a noite ao teu olhar,
e percebia que no meu corpo habitavam beijos de insónia,
lençóis de porcelana entranhavam-se nas tuas pálpebras de luar,
sentia-me envergonhado,
triste...
sentia-me aconchegado,
como se tu fosses um cobertor recheado de poesia,

Um livro não lido,
uma folha esquecida sob a mesa-de-cabeceira,
uma ribeira,

Sentia-me aconchegado nos teus braços,
adormecia,
e... e sonhava,
ouvia,
ouvia os pássaros,
escrevia,
escrevia nas tuas coxas as palavras proibidas,
as palavras... sentidas,

Um livro não lido,
uma folha esquecida sob a mesa-de-cabeceira,
uma ribeira,

O mar,
o mar quando se escondia nos teus seios de Primavera,
acordava o marinheiro sem pátria,
havia uma bandeira,
uma... uma casa que voava,
sentia-me aconchegado... nos teus braços,
os alicerces de uma cidade inventada,
em papel, uma casa do tamanho dos teus lábios...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Maio de 2014

poemas de morrer


morte
viagem sem regresso
destino
bilhete
desamarrar as cordas da saudade
voar
e partir...
a morte das palavras
escritas numa lápide de lágrimas
morte
quando o corpo cessa de escrever
e nos olhos de quem parte... nascem poemas com nome de “morrer”.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 24 de Maio de 2014

sexta-feira, 23 de maio de 2014

há um dia apelidado de “FIM”

foto de: A&M ART and Photos

há um dia apelidado de “FIM”
um dia sem esqueleto
um dia esquecido nas esplanadas da cidade sem nome
há um dia com silêncios disfarçados de melodia
um dia poético
um dia procurando palavras
no teu resgatado olhar
há um dia apelidado...
com medo e cansado
há um dia laminado
que nas tuas mãos inventa baloiços
e meninos sorridentes,

há um dia
um dia “filho da puta”
um dia que te levará sem destino
um dia... um dia apelidado de “FIM”,

há um dia eternamente recordado
um dia feio
um dia desamado
há um dia que o teu corpo vai vacilar
desistir
um dia com janelas e pálpebras de mar
há um dia que será a noite
há as lágrimas do sofrimento
que nesse dia
o dia cessa de caminhar
pára
STOP...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 23 de Maio de 2014

quinta-feira, 22 de maio de 2014

triste borboleta

foto de: A&M ART and Photos

sou uma triste borboleta
cansada de voar
um rio que deixou de correr para o mar
o barco
uma pedra a chorar
sou uma triste borboleta
com olhos de insónia
com asas de papel
com mãos de amónia
uma triste borboleta
eu sou
como as madrugadas de mel...

sou uma triste borboleta
em busca do Inverno
e desce a noite aos teus cabelos
e acorda o maldito Inferno
e deixo de viver
e deixo de habitar
os teus olhos sem palavras de escrever
sem as palavras de sofrer...
uma triste borboleta
cansada de voar
cansada de amar...
nas manhãs da manhã ensonada.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 22 de Maio de 2014

quarta-feira, 21 de maio de 2014

Os teus olhos

foto de: A&M ART and Photos

Os teus olhos no espelho que poisa no meu rosto,
do cansaço adormecido das palavras anónimas,
tu, meu amor, sussurras-me baixinho que serei eternamente tua,
acredito,
acredito que há no teu jardim rosas envergonhadas,
acredito,
acredito que os olhos que habitam no meu espelho,
um dia serão as minhas estrelas vadias,

Os teus olhos que dormem nos meus lençóis,
sós,
a aldeia escapa-se entre os dedos da tristeza...
e acredito...

Ofereço-te o meu corpo embrulhado em poemas de miséria,
eternamente tua, eternamente... ausente de ti,
regresso ao espelho e descubro os teus braços na sombra dos meus seios,
afago os teus cabelos enquanto a noite se veste de menina desajeitada,
de menina... de menina de uma outra cidade,
ofereço-te o meu corpo como se eu fosse a tua flor preferida,
a árvore sob a qual te deitavas quando se inventavam em ti os sargaços da manhã,
e partiam os barcos para o luar como pássaros em busca dos filhos em voos infinitos,

Os teus olhos que dormem e sonham nos meus lençóis,
tão distante, tu, homem sem local para aportares...
ofereci-te os meus abraços,
e tu,
e tu fingiste não ouvir,
disseste-me que o cais serve apenas para a partida,
e partiste,
sem regressar nunca,

Como as palavras,
depois de extinta a fogueira da paixão,
ouvia o silêncio dos teus livros...
e nada mais tenho a acrescentar a ti e de ti,

Os teus olhos que nunca me pertenceram,
os teus olhos que brincavam nas minhas coxas antes de eu levitar em direcção aos sonhos,
cerravas-os e partias como uma tempestade de areia...
a ti e de ti,
as conversas inacabadas,
as palavras não escritas, e não ditas,
os teus olhos, os teus malditos olhos que iluminavam um cubículo de papel...
e tinham tentáculos que conseguiam beijar o mar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 21 de Maio de 2014

Texto de Francisco Luís Fontinha – Divulga Escritor


terça-feira, 20 de maio de 2014

Quem és, pergaminho abandonado no meu corpo?

foto de: A&M ART and Photos

Quem és, pergaminho abandonado no meu corpo?
Enrolas-te em mim disfarçado de cobra, alicerças-te aos meus frágeis braços,
e,
navegas no meu ventre como uma caravela sem destino...
entranhas-te em mim e dizes-me que o teu nome é Primavera...
Primavera... finjo nem perceber,
cerro os olhos e sinto as tuas mãos de desejo laminado nos meus seios,
pergunto-te porquê... pergunto-te porquê eu, pergaminho de olhos verdes?

E a cada momento meu o teu corpo descongela,
ficamos apenas uma finíssima pedra de amor...
descendo a montanha da paixão,

Quem és?
Eterno nocturno com sabor a escuridão,
marinheiro perfumado que te enfaixas nas minhas coxas de areia,
e sinto... e sinto os meus gemidos no espelho dos teus olhos,

Ai... meu querido amor!
A paciência minha depois dos teus gritos de prazer,
depois de adormecerem as gaivotas no Tejo,
e tu,
tu sais de mim,
e tu...
e tu desapareces na neblina que engole a escadaria do prédio onde habitamos,
foges,

sem destino,
e eu, e eu como uma folha amarrotada nos dedos de um cinzeiro de prata,

Quem és, pergaminho abandonado no meu corpo?
Que oiço os teus cabelos no peitoril enquanto saboreias o teu último cigarro,
que oiço o bater do teu coração enquanto poisas a tua cabeça no meu peito...
e pareces-me uma rua sem janelas numa cidade sem telhado,
uma casa sem varanda,
uma casa... uma casa enfeitada com sombras e pássaros,
uma casa como tu,
uma casa onde me abraças e me dou conta que apenas te pertenço...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 20 de Maio de 2014

segunda-feira, 19 de maio de 2014

A manhã antes de acordar


Tínhamos dentro de nós
uma finíssima película de espuma
éramos dois espantalhos semeados no centro do trigo
sentados
olhávamos o espigueiro da preguiça
cansado
ao sol
deitado entre as ripas da solidão,

Tínhamos um punhado de desejo
e sentíamos as faces do vento nas nossas mãos de esmeralda
os diamantes iluminavam os teus olhos de sereia madrugada,

Tão louca
a noite
quando adormece no teu ventre,

Colocava os meus dedos nos teus cabelos
voavam como um colorido papagaio em papel doirado
ouvíamos as lágrimas do rio
que depois do luar... acorrentava barcos e marinheiros famintos
e tínhamos
e sentíamos...
o quê?
beijos transversais nas vidraças do poema,

Tínhamos...
… e era tão louca
a manhã antes de acordar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 19 de Maio de 2014

domingo, 18 de maio de 2014

A menina das palavras


Das palavras que me obrigas a escrever
oiço-as em teu dedos pincelados nos pérfidos desejos
reescrevo-as
e desenho-as no teu corpo mergulhado na amarrotada pele de seda
das palavras que me obrigas...
escrevo-as
dito-as
e finjo estar acordado,

Sei que as tuas tristes sílabas vagueiam no meu peito
como sementes esquecidas no vento
sei que nos teus lábios habitam agulhas de algodão
que servem para afugentarem as minhas palavras,

Das palavras que me obrigas a escrever
elas se acorrentam aos meus braços
fazes de mim um prisioneiro vadio
ou uma árvore sem coração
correndo sob a neblina do teu olhar
delas
apenas o perfume do néon que a cidade engole,

Mulher prisão
mulher inseminada das minhas tristes palavras
mulher de negro
mulher... mulher paixão,

Das palavras minhas que que obrigas a escrever
faço-o apenas porque os meus dedos deambulam no nocturno Oceano
escrevo-as
apago-as
afogo-as como mágoas
as palavras
as palavras que me obrigas a escrever
eu as escrevo para te silenciar...

Há mendigos palavras
homens enlatados descendo a avenida
há as minhas malditas palavras...
delas e elas... as palavras sem comida,

Uma duas três tristes palavras
uma duas três quatro... quatro vogais descendo as tuas coxas de iodo
uma janela peneirenta
e uma porta de entra roxa
e há uma varanda onde tu lês as minhas tristes palavras
aquelas que me obrigas a escrever
a vomitar sobre as páginas de um rosto em sofrimento
das palavras que me obrigas a escrever,

Há palavras obrigadas a viver
dentro de mim
e por ti...
por ti menina das palavras...

Há palavras que eu não quero escrever
há escrever sem palavras que recuso ler
há a menina das palavras
com correntes em aço
palavras prisioneiras
palavras amaldiçoadas
palavras que o púbis da caligrafia
semeia no corpo da menina das palavras.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Maio de 2014

Os círculos do desejo


Redefino-te entre os círculos do desejo
percebo das pálpebras do Oceano que o teu corpo flui na equação da recta
há nos teus seios de oiro uma velha parábola
que voa
e dorme
nas tuas mãos embrulhadas na curva de Agnesi,

És matemática que o homem acaricia
docemente
e resolve as equações de ti,

Redefino-te e sinto na tua boca o regresso do amor
sento-me em frente ao mar
e espero que cresça a noite
desenho na areia do prazer os lençóis onde adormeces
e absorvo-te na peugada estrelar das camélias em flor
e sei que habitam em ti todos os esconderijos da montanha...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Maio de 2014

sábado, 17 de maio de 2014

beijo feitiço


há um beijo feitiço nos teus lábios de saudade
há uma flor adormecida em tuas mãos
a penumbra manhã quando finge olhar-te
e desiste
há um biombo de ânfora perdido nas tuas pálpebras
e o beijo feitiço
voa como as palavras do poeta
nos seios de uma folha amarrotada,

há um beijo feitiço numa boca inventada
há uma menina traquina
há uma menina apaixonada...

há um beijo feitiço disfarçado de madrugada
estrelas em papel aprisionadas na mão da menina traquina...
há uma casa sobre uma árvore
com o nome de paixão
há um beijo
há um despedaçado coração
no feitiço
do beijo desejado.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Maio de 2014
(ao som do Planeta3)

tentáculos da saudade


sentei-me sob as lágrimas de ti
e fiz-me marinheiro do amor
corri
ouvi...
e escrevi
todos os sorrisos da tua flor,

voei nos teus cabelos de solidão
desenhei-te poemas sem sentido
fui um transatlântico anão
oceano nocturno dentro do teu coração
sou um homem esquecido na tua mão
sou um pequeno cortinado de veludo no vento perdido,

sentei-me sob as lágrimas de ti
e hoje pareço uma rua sem saída habitante de uma triste cidade
vivi
e senti
(os cansaços que o xisto absorve depois das miudinhas gotículas do desejo)
e vi...
o regresso da saudade.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Maio de 2014

falsos sorrisos


vendem-se falsos sorrisos
conquistam-se corações de espuma
que se embrulham em impregnados livros com sabor a solidão
escrevem-se falsas palavras
no corpo da insónia

desenham-se círculos nos seios da madrugada
choram as meninas do amanhecer
há rosas envenenadas
há rosas com vontade de morrer...
vendem-se falsos rios e falsas caravelas

vendem-se cidades de vidro
com ruas de porcelana
e corpos de nada
e corpos... e corpos de néon marinheiro
nos seios da madrugada.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 17 de Maio de 2014

sexta-feira, 16 de maio de 2014

amanheceres triangulares


dizem-me os teus olhos
pequeníssimos lençóis de solidão
fios de seda em desejo coração
manhãs adormecidas e sem poiso
dizem-me os teus olhos
que há madrugadas quadriculadas
e amanheceres triangulares
dizem-me...
quando oiço o teu enfeitado sorriso brincando na calçada
e uma criança abandonada
aprisiona o teu olhar e me diz...
o que dizem os teus olhos.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 16 de Maio de 2014

quinta-feira, 15 de maio de 2014

equação sem solução


o olmo cansaço do teu peito
há em ti a penumbra escuridão
sinto-te e sei que não pertences às coisas físicas
talvez não passes de uma equação
tão pobre
e sem solução


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 15 de Maio de 2014

quarta-feira, 14 de maio de 2014

O medo inventa-se em mim


O medo inventa-se em mim,
cresce,
e sorri,
o medo aprisiona-me como aprisiona o paquete mergulhado em nuvens de dor...
o medo é assim,
o medo inventa-se,
e,
e espera pelo regresso da noite para adormecer no meu corpo,

Hoje, hoje não sinto a falta de um abraço,
um beijo,
ou... ou de uma simples carícia,

Hoje, hoje tenho medo,
medo do regresso do medo,
medo das tempestades de areia branca,

O medo inventa-se em mim,
vive como um crustáceo nas rochas da insónia,
caminha,
corre no corredor do amanhecer,
saltita nas janelas da madrugada,
o medo inventa-se,
e... e aparece num esqueleto de vidro mendigando na cidade dos sonhos,
e hoje, hoje não um abraça, e hoje, hoje não um beijo... hoje tenho medo...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 14 de Maio de 2014

terça-feira, 13 de maio de 2014

Habitante das nuvens de algodão


Não sei quem és, habitante dos meus sonhos,
não percebo a tua insistência de viveres em mim, enquanto durmo e invento círculos com mãos de prata...
e voas como um pássaro ferido, e ardes... como uma sanzala de papel,
não sei que és,

Entras e sais,
e... e nem uma simples carícia na despedida,
não sei quem és, porque me escolheste para habitar,
e entras,
e... e sais,
e sais sem me beijar.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 13 de Maio de 2014

Poema de Francisco Luís Fontinha em Divulga Escritor


segunda-feira, 12 de maio de 2014

pincelados beijos


pincelados beijos
que escondem o teu sorriso
anáfora caneta sobre os teus seios de maré adormecida
aos lábios regressam os marinheiros
e todos os bandidos
pincelados beijos
do amanhecer mórbido
há ventos enfurecidos
e nocturnos corpos voando sob o silêncio da ponte de pedra...
o rio chora
o rio engorda
como uma gaivota que espera o nascer do dia...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 12 de Maio de 2014

domingo, 11 de maio de 2014

Cerejas de papel


O corpo é de espuma verde,
cintilam nela as cerejas de papel,
o corpo incendeia-se quando cresce a noite nas mãos do desejo,
e ouve-se o beijo,
deambulando nas orgias marés de Inverno,
o corpo em chamas, o corpo Inferno,
como lábios de mel...
a cidade desamarra-se do cais da liberdade,

O corpo é de espuma verde,
erva daninha nas encostas da montanha sem amanhecer,
o corpo brinca na lareira inventada dos olhos em verniz envelhecer,
o corpo ginga como uma moeda a morrer,
sei que vês os Oceanos marginais que a cidade embarca,
o corpo diminui, o corpo procura a sílaba tonta com perfume de naftalina, e há uma arca,
e há uma sombra, apenas com uma palavra e que não quero escrever...
o corpo é uma bala com nome de cidade,

A cidade a arder.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 11 de Maio de 2014