sábado, 14 de setembro de 2013

Doce face em claridade alface

foto de: A&M ART and Photos

Não respiro, as tuas calças sufocam-me e entro no vazio da melancolia que deixaste ficar sobre a mesa da sala de jantar, sento-me e adormeço até que sinto acordar o dia vestido de tristeza, a agonia entranha-se no soalho junto à lareira, imagino-te caminhar descalça no pavimento encerado sobre a madeira estrangeira, vejo no chão o espelho que nunca vi e que pensava não existir, caminhas, nua, só minha, só para
Para ti, meu querido, apenas,
Só,
Como as árvores não plantadas do teu quintal com vestígios de silêncio, e ao longe, imaginamos o mar entrar-nos pela janela do quarto, oiço a tua doce voz no tal
Espelho em soalho encerado?
No teu corpo, no teu corpo como ontem existiam peixes no aquário que tinhas no Hall de entrada, a porta evaporou-se e todas as janelas
Morreram?
Voaram como lágrimas em queda livre da tua doce face em claridade alface,
Morreram... como morrem todas as paixões e todos os esqueletos com duzentos e seis ossos, expirou a validade dos teus beijos, e a cidade respira ingenuamente como uma planta esquecida num dos imensos jardins em Belém, não respiro eu, e sei que as tuas calças deambulam como desassossegos verdes contra as paredes de gesso dos compartimentos que nunca saíram do papel, projectos, desenhos concebidos milimetricamente para se afogarem no rio da saudade, hoje, hoje dizes que sou eu, hoje sinto-me um barco a flutuar nas tuas coxas, hoje
Só...
Hoje percebi que as imagens de mim são reflectidas nos fantasmas dela, e que ele pertence à cidade, é filho do ciume, ele
Só?
Hoje percebi que as imagens de mim são reflectidas nos fantasmas dela, e que ele pertence à cidade, é filho do ciume, ele delicia-se com as mensagens secretas dos pensamentos travestidos telepaticamente depois de cair a noite sobre os largos ombros, sento-me e adormeço até que sinto acordar o dia vestido de tristeza, a agonia entranha-se no soalho junto à lareira, imagino-te caminhar descalça no pavimento encerado sobre a madeira estrangeira, vejo no chão os barcos enferrujados, vejo no teu chão palavras, muitas palavras para mais tarde escrever, ler, rasgar, pintar, palavras em pequenos molhos e vendidos nas ruas ímpares, e hoje
Só, eu, perdido na cidade com dentes de marfim e garganta de xisto, oiço-te quando me chamavas e eu acordava embrulhado em cobertores de lã, era verão, questionavas-me
Tens tanto frio, meu querido, estamos no verão...
Imaginava o que pensarias, imagino hoje o que pensas... quando percebeste que eu era uma paixão impossível, quando percebeste que eu era um pássaro em aço e impossível de destruir, tens... frio... no verão,
Só, então!
E vi no teu soalho encerado as lágrimas que foram minhas, quando tu ainda criança, eu, eu voava sobre as nuvens e as gaivotas, e quando acordava, percebia
Percebias...
Querido, tu estás na lua?
Claro que não, apenas frio, frio...
Percebias que eu era de pano, que eu era um espantalho que decidiste queimar numa fogueira juntamente com alguns dos livros que sobejaram das vendas clandestinas,
O jardim
Só,
Ardia, ardia como ardem as cidades de palha...


(não revisto - ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Setembro de 2013

nuvens de azoto

foto de: A&M ART and Photos

existes porque eu quero que existas
choras
não porque eu quero que chores
abraças-me porque eu quero que me abraces
amas-me
não porque eu quero que me ames
existes
insistes
e não desistes...
choras porque há nuvens de azoto nas pálpebras do Sol
porque eu quero que tenhas asas
e que voes e que voes.., como uma gaivota em desejo


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Setembro de 2013

um livro húmido sobre a cama da paixão

foto de: A&M ART and Photos

os medos teus absortos molhados olhos
os sofrimentos dele embrulhados em pedaços de papel cansados pelo peso das palavras
um livro húmido sobre a cama da paixão
liberto e amorosamente flutuante nas clandestinas janelas do desejo
o mar suspenso na tua mão de pétala cidade com telhados de vidro
o cubo onde te escondes
e dormes
transformado em insónia
os medos das nuvens encarnadas
como das flores pedestres nos abraços dela
e mesmo assim... escondo-me em ti
fujo das rochas xistosas que vivem nos teus cabelos

desço socalcos até acariciar os lábios do rio
deito-me na garganta invisível dos túneis onde os corpos deles escrevem quando lá fora chove
há lâmpadas indesejadas nas ruas da cidade
como homens e mulheres
também eles e elas
indesejados e indesejadas
por outros homens
por outras mulheres...

os medos teus... molhados olhos
e deitas a cabeça no ombro que dizem pertencer-me
e deitas as pálpebras cinzentas
como gotas de água...
na minha boca de luar
pelos molhados olhos... teus


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Setembro de 2013

sexta-feira, 13 de setembro de 2013

as palavras que sussurras em mim da madrugada marginal

foto de: A&M ART and Photos

a ditadura do teu olhar
arrependido nos cortinados das palavras embriagadas
uma corrente de medo enrola-se ao teu peito de incenso
e à janela
acorda a noite vigiada pela tempestade dos teus lábios

sou um pequeno barco enferrujado
vagueando entre pontes e carris desmantelados
sinto em mim a tua língua à poesia mendiga
que vou escrevendo no teu vagaroso corpo
como as teias de aranha do púbis que engole a manhã

sou o pulso dos gritos uivos que desabitam a tua mão com sabor a paixão
e entra em nós o silêncio desejo
o caranguejo que se esconde na velhíssima carapaça de aço
voando sobre a cidade em ruínas...
e sei que tu recordas as palmeiras do largo em lágrimas dos paralelepípedos como sandálias escorregadias

ou montículos de areia
deitados junto às rochas em desassossegos cansaços de sémen
esperamos a maré desajeitada
sobre uns míseros lençóis de cartão
escorregadias... as palavras que sussurras em mim da madrugada marginal


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 13 de Setembro de 2013

quinta-feira, 12 de setembro de 2013

se o vinho é Grimalde... só ela o sabe

Foto de: A&M ART and Photos
(se o vinho é Grimalde... só ela o sabe)

bebo-te quando mergulhas nas doces gotículas do orvalho
silencio-me nas tuas mãos híbridas
e húmidas entre fantasmas e canções de amor
amo-te nas pétalas clandestinas dos olhos azuis
que os teus dedos deixam adormecer no meu rosto cinzento
e triste porque pareço um relógio de pulso perdido na algibeira da poesia
bebo-te sabendo que és uma flor emagrecida dentro do espelho da saudade
parecida com as gaivotas dos rios nocturnos que a insónia semeia no teu peito de areia
amo-te como amo as palavras insignificantes
palavras dispersas voando debaixo dos arciprestes nas lareiras da paixão
bebo-te como se fosses o melhor vinho dos socalcos envenenados pela tristeza...
e tu pareces uma tela suspensa na parede do meu segredo


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha - Alijó
Quinta-feira, 12 de Setembro de 2013

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

esquecer-me em ti de ti

foto de: A&M ART and Photos

um cigarro esquecido
na tua boca de serpente
envenenada pela solidão
em ti
um cigarro ardido
de ti
ausente
quando o coração
de uma árvore parte e voa em silêncios de espuma
um cigarro mordido
em teus lábios de ternura
em ti de ti... senti

em ti
e de ti

a claridade mente
a madrugada distante
como as águias dos esconderijos mergulhados em ténues mãos de areia
ardem como as palavras incandescentes
e as sereias
parvas
em pequenas sementes
do corpo embrulhado em tristes larvas...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 11 de Setembro de 2013
3º Encontro com Escritores da Lusofonia - Montemor-o-Velho

Blogue Cachimbo de Água em destaque – Sapo Angola


Blogue Cachimbo de Água em destaque – Sapo Angola
http://cachimbodeagua.blogs.sapo.ao/

terça-feira, 10 de setembro de 2013

O só eu como os outros em gravatas de madeira

foto de: A&M ART and Photos

O só, o castanho cabelo das árvores inseminadas nas tardes de literatura, vi-a como só, vestida dentro de uma voz melódica, poética, dizem que o amor vive dentro de um cubo de vidro, e que durante a madrugada, ele, só, brinca com o hipercubo da vizinha do rés-do-chão direito, lá fora não há sol desde que partiram os cortinados de cerâmica, lá fora há apenas vestígios de lágrimas, uivos e folhas espalhadas pelo pavimento chão em madeira tratada, de um cubículo mobilado apressadamente, um vulto de areia grita por mim, diz-me que o amor
Amo-a, menina, amo-a... sabia?
Claro que não, diz-me que o amor é o amor, que a noite é a noite, que as viagens à lua são as viagens à lua... e que no quintal dela habitam roseiras bravias, e nos lábios trazem pergaminhos de poesia, o só, eu, o castanho cabelo das árvores
Amo-a..., sabia?
E cansei-me do sono, das luzes quando desce sobre ti a noite, cansei-me das retretes e dos mictórios com o letreiro
“não deitar pontas de cigarro”
E cansei-me das estrelas, e dos cinzeiros com letreiros...
“não urinar dentro do cinzeiro”
E cansei-me dos letreiros... “hoje há caracóis”
Gritas-me
Já não temos caracóis, amo-a menina, se fosse há coisa de cinco minutos... e como sempre, cansei-me de andar e chegar atrasado a todas as ruas da cidade, espero-a na paragem do autoruas...e vejo-a caminhar rapidamente em direcção ao rio, e sinto as ruas em pequenas corridas, apinhadas de gente, não param, seguem, rua acima, rua abaixo
Acima
Abaixo o capitalismo,
Não param, buzinam, gritas-me
Amo-o... menino, sabia?
Acima
Abaixo o capitalismo,
Rua abaixo galgando as gruas enferrujadas dos velhos guindastes de pano, os sapatos pontiagudos apertavam-lhe os dedos do pé, raio
Gritava ele,
O casaco e a camisa pareciam papel de engenheiros, transparentes e embrulhados em tinta da china, e uma triste gravata
Acima
Abaixo o capitalismo,
O pescoço torcia-se, vacilava, e uma andorinha uivava sobre os teus crisântemos seios de névoa adormecida, Acima
Abaixo o capitalismo,
Não param, buzinam, gritas-me
Amo-o... menino, sabia?
Acima
Abaixo o capitalismo,
E respondo-lhe
Se eu soubesse...
E se também eu soubesse...
Não
Não?
Não, nãos escrevíamos estas parvoíces, sem sentido, como serpentes de uva embebidas em longas e distantes prisões com grades de ébano, e do Éden Jardim
Não, não o sabia... menina,
Dormem os anjos das coxas encarnadas, vivos, e gritam, gritam...
E cansei-me dos letreiros... “hoje há caracóis”.

(Não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 10 de Setembro de 2013

segunda-feira, 9 de setembro de 2013

acreditava que eras de pedra

e a foto é de: A&M ART and Photos

acreditava que eras de pedra
e que tinha no olhar uma nuvem de luz
sentia-te vacilar nas searas da tristeza
voando sobre os tentáculos da solidão
dizias-me que eu pertencia às árvores de folha caduca
e em cada Outono
eu
tombava nas tuas mãos emagrecidas
os dedos esticados e finos
quando procuravas o mar nas clareiras do silêncio depois de partir a tarde
acreditava que eras de pedra
e percebia que amavas e percebi que tinhas no peito um coração de rosa dorida

(doente
dormente
ausente
e mente)

o amor depois da tempestade
fingia suspender-se nos teus dedos de verniz
compridos e longos
distantes como a madrugada
e vinha a noite
e tu acordada
esperavas
não dormias
abrias e fechavas
janelas
e ventanias
como sentias o meu corpo dentro do teu ventre

talvez
um dia percebas as fachadas dos meus olhos coloridos pelos pigmentos da insónia
memória tenho e nunca me faltou
corpo tenho e dou-me conta que me roubaram o esqueleto
em aço inoxidável
ao carbono
talvez percebas que o amor é uma treta como são todas as palavras
todos as imagens...
e um dia acredites nas gaivotas e nos barcos com dois braços meus
velas em teus cabelos
loucas
cinzentas que sobejaram do jardim teus lábios

(não revisto)
não datado (o hoje não existiu)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó (não tenho a certeza se sou eu)

domingo, 8 de setembro de 2013

estive esperando na tua cama


pois vou... estive esperando na tua cama... e tu? voando entre quatro paredes... e tu? sorrindo rosas com pétalas de cetim, pois vou, vou, claro que vou, dormir, sonhar, ficar apenas acordado, olhar o tecto, desesperado, cansado, pois vou... estive, estou... esperando por você... e a sua cama parece um manicómio com muitas janelas, um corredor longínquo, grandes de beijos nas janelas, voando, dançando, pois vou, claro que vou... sonhando, brincando, até que a tempestade traga as tuas mãos disfarçadas de gaivota, mar, barco... ou... nada,
só isso, buscar água? e eu que pensei que foste procurar-me entre sombras, debaixo das bananeiras do teu quarto... mas não, não
pois vou,
dormir... estive esperando na tua cama... e tu?


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Setembro de 2013

Aqui não há nada

foto de: A&M ART and Photos

Aqui não há nada,
pensava eu,
aqui vive-se acreditando nos lençóis de insónia que durante a noite acordam das madrugadas incolores, os corpos vagueiam como pedras caindo do terceiro andar, depois uma fina chuva de sorrisos cai nas esplanadas cinzentas das avenidas ainda incógnitas, ainda virgens como árvores por descobrir no quintal lá de casa, abriam-se a janelas, abriam-se as portas e
pensava eu
aqui não há nada,
Depois diziam-me que as coisas iam melhorar, diziam-me que amanhã o sol acordaria dentro de mim, e eu, chateado
(acorda o caralho... porque só vejo calhaus e ferros em aço pedindo migalhas de pão)
chateado ouvia-os no varandim da casa amarela escrevendo frases de revolta na sombra dos lábios inchados pelos pequenos morcegos de negras asas em cartolina, e diziam-me que amanhã
Amanhã tudo será diferente,
(o caralho que será)
Amanhã como hoje, amanhã como ontem, amanhã como há vinte e cinco anos, as palmeiras, os semáforos avariados, as tuas coxas magricelas parecendo esteios de xisto mergulhadas em ocas palavras em desejo, amanhã, amanhã e ontem, e hoje, e amanhã as tuas mesmas coxas de ontem, iguais nada em ti mudou, nada... nem a cor dos olhos, da pele, do púbis, tudo igual, porra
(muda, amanhã, o caralho...)
Amanhã,
Muda, muda de coxas, muda de seios, muda a cor à pele de marinheiro poisando os cotovelos na escotilha do submarino que há dentro de ti, muda, alimenta-te de mim, alimenta-te dos pedaços de rosa que deixaste meus no interior de um livro, ainda existe?
Existes tu, coxas magricelas, leves, invisíveis quando o sol levanta voo e alicerça-se no teu peito doirado, chovia em ti, molhavas-te para te esconderes em mim, e de mim, e o amor és isto
(uma merda escrita num papel e outra merda descrevendo círculos numa branca tela, virgem, fina, magricelas, igual às tuas lâminas coxas)
Amanhã...
Existes em mim?
Claro que não, claro que n ã o...
Nunca
(muda, amanhã, o caralho...)
Porque aqui, aqui não há nada.

(Não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Setembro de 2013

gritos de revolta

foto de: A&M ART and Photos

sinto-o correr nos poços escuros do meu corpo
quando escarpas e ventos se alicerçam nas minhas tristes mãos de areia
sinto-o como se ele fosse uma lâmpada de cristal vomitando palavras
tracejados traços no sorriso de uma abelha
e sinto-o e sinto-a
em mim depois de adormecer a solidão
sinto-o correr nos poços escuros... do corpo
e há uma corda invisível em cada esquina do sofrimento
que as cidades descobrem depois de acordar a manhã
e as ruas absorvem as lágrimas tuas
que correm nos poços...
escuros nus dormentes ausentes das sílabas de prata

vazios como o silêncio desgovernado
dos teus íngremes cabelos com sabor a naftalina
e de uma gaveta fechada
uma sombra disfarçada de imagem
emerge no espelho da dor
estás triste
como se o teu barco naufragasse no profundo Oceano mar...
e no entanto
sem o perceberes
uma jangada voa nos teus olhos magoados
como uma gaivota de oiro envenenada pela insónia de uma velha estória...
e sinto-o e sinto-a... dentro de mim em gritos de revolta


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 8 de Setembro de 2013

sábado, 7 de setembro de 2013

e eu e eu acreditei

foto de: A&M ART and Photos

não sei como são as tuas manhãs de solidão
quando acordam os vidros embalsamados pela escuridão do corpo suspenso no tecto da paixão
não sei como és quando descem sobre ti as mandíbulas ensanguentadas do orgulho
quando o mar entra na tua mão
e no peito
uma âncora de prata alicerça-se como um cogumelo encarnado
voando sobre os cinzentos teus seios de flor apaixonada
não sei como são as tuas tristes manhãs de solidão
se és branca
escura
alegre abelha de silício
procurando a colmeia do púbis em madrugadas embriagadas

não sei como são os barcos onde nasceste
viveste
brincaste com os meus olhos debaixo das mangueiras de papel
e tínhamos dentro de nós
o frio congelado dos beijos nunca dados
inventávamos tardes numa sanzala de cartão
e chapinhávamos nos charcos de incenso
as doces pernas da infância
brincávamos
e em beijos
ouvíamos os meninos que dormiam sobre um colchão de palha castanha...
e chovia e dormiam e choviam coloridas imagens de triângulos equiláteros

eu procurava nos teus seios ainda por descobrir o cosseno dos teus abraços
e tu
calculavas a tangente do sémen que um dia apareceria nas equações húmidas diferencias
que de um caderno quadriculado saltitavam como pigmentos de resina depois da despedida noite em lençóis de Aspirina derretida
éramos tontos vagabundos de areia
apaixonados loucamente e literáriamente vestíamos personagens magoadas pela ausência do Pôr-do-Sol...
não sei como são as tuas manhãs de solidão
porque a noite rende-se à porta de entrada
onde moram as tuas loucuras fantasias dos telhados em zinco
uma sanzala chorava
eu chorava...
e tu dizias-me que o cacimbo tinha levado o meu triciclo e eu e eu acreditei


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Setembro de 2013

Esqueleto de aço com mãos de seda

foto de: Francisco Luís Fontinha

(dedicado ao amigo Zeca Gaspar)


Se sentes a pulsação do sol não digas que estás triste, inventa riscos traçados nas paredes das nuvens envergonhadas, inventa desassossegos nos cansaços das caravelas teus olhos, hoje, encerrados como quatro paredes de uma cela com meia dúzia de grades em papel colorido, inventavas traços nas costas dos morcegos, inventavas sílabas na língua dos socalcos inclinados descendo o Tua... e ao longe, o verdadeiro apito da vida, as tuas mãos que seguravam as escadas em direcção ao Céu, as tuas mãos, iguais às minhas, iguais às de tantos outros camaradas... acreditávamos que era possível vencer a insónia, o cansaço e a fome, como tantos outros, tudo demos, e tufo fizemos, se sentes a pulsação do sol, tu, amigo, não fiques triste pela ausência da luz vestida de marinheiro, não fique triste amigo
(prisões de chocolate com sabor a melancolia)
E no entanto, tu, eu, acreditávamos no sonho, na saudade, na literatura e nos automóveis com nomes esquisitos
Dizias-me... Isto é um Lada... e
E nas árvores com pássaros coloridos por diversos artistas, por diversas mãos, como as de há pouco, pequenas, silenciosas, e meigas, em chocolate, em porcelana, em...
E subíamos e descíamos, ruas e becos e montanhas, e nunca, e nunca
Adormecíamos, e nunca, e nunca
Éramos vencidos pelo cansaço, pela vergonha, ou
Dizias-me... Isto é um Lada... e ao longe, o comboio subindo o Douro, ofegante, na mala do carros a propaganda misturada com inocência, misturada com a saudade, misturada com os sonhos, os mesmos sonhos que ainda hoje, uns mais do que outros, acreditam, acreditamos, e tu? Onde estarás agora, logo, e pela madrugada? Andarás a segurar as escadas sonâmbulas onde eu timidamente, como medo de tombar sobre as pedras íngremes do medo... eu... subia, subia
Não tenhas medo pá, ninguém nos bate!
Claro que não, claro que não, respondia-te sempre com todo o respeito que merecias, mereces... e continuarás a merecer, como continuará suspenso na parede da minha biblioteca o quadro que me ofereceste, autografaste... e quando te encontrar, talvez
(prisões de chocolate com sabor a melancolia)
Se sentes a pulsação do sol não digas que estás triste, inventa riscos traçados nas paredes das nuvens envergonhadas, inventa desassossegos nos cansaços das caravelas teus olhos, hoje, encerrados como quatro paredes de uma cela com meia dúzia de grades em papel colorido, inventavas traços nas costas dos morcegos, inventavas sílabas na língua dos socalcos inclinados descendo o Tua... e ao longe, o verdadeiro apito da vida, as tuas mãos que seguravam as escadas em direcção ao Céu, as tuas mãos, iguais às minhas, iguais às de tantos outros camaradas.. porque a vida é isto, entramos uns dentro dos outros... e depois...
Depois...
Simplesmente... partimos.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Setembro de 2013

Texto em destaque - Blogue Cachimbo de Água - Sapo Angola


Texto em destaque - Blogue Cachimbo de Água - Sapo Angola

sexta-feira, 6 de setembro de 2013

então um dia

foto de: A&M ART and Photos

então um dia vou cobrir o teu corpo de rosas...
inventar o sono que dormirá sobre os teus seios em pedaços de pétala
então um dia vou saborear os teus lábios como se fossem pequenos favos de mel
como se fossem Primaveras embebidas em silêncios
mergulhadas
como se a luz fosse uma janela
e o mar
a jangada por onde foges
corres
invisível no corredor da solidão
então um dia voarás nos meus braços
e do teu sorriso uma fina lâmina de madrugada embriagar-se-á com o teu corpo salgado


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 6 de Setembro de 2013

quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Assim seja, assim seja, amigo fiel...

foto de: Francisco Luís Fontinha (Noqui)

Será que me vais perdoar? Os dias terminavam em canseiras brincadeiras e ao longe submergia o cheiro do rio encurvado, um barco flutuava sobre o teu peito com asas fungiformes, acendiam-se as lâmpadas da dor, olhavas-me, eu olhava-te, trocávamos silêncios por pedaços de solidão, depois chegava o perfume de embriaguez que servia de esconderijo das mulheres que te absorviam como as moscas embebidas nos cortinados de areia, eu percebia a tua dor, eu sentia o teu sofrimento, eu
Adormecia envenenado pela tua tristeza vagabunda que circulava pelas ruas da velha cidade, pegávamos numa pistola, brincávamos com balas de borracha e teias de aranha magoadas pelos tornozelos das sombras das estrelas em papel crepe, solitáriamente correndo becos, encostando-se a esquinas invisíveis, e inventando mares de prazer entre lençóis de espuma, eu
Adormecia,
Pensava em ti, recordar-te como criança saltitando os socalcos dos íngremes vómitos do comboio em direcção ao Porto, curva, curva, montanha, montanha, e nada mais
Xisto?
Quanto houver, venha ele, se for preciso... comemos-o como se comem os mabecos que o inferno tece, vulcões com sorrisos de marfim, tabique em solstícios envergonhados, e havia janelas com larvas suspensas nas persianas da lareira do incenso, adormecia, adormecia, adormecia... até que o vento nos separava, até que a tempestade nos transportava para
Onde?
Xisto, voávamos sobre as circunferências tracejadas dos olhos castanhos que viviam na página trinta e cinco do livro das noites sem dormir, tínhamos vergonha de sonhar, tínhamos vontade de comer
Os mabecos?
Tristes, alegres, cansados folgados, meninos e meninas, soldados
Todos temos o direito de amar...
Guerreiros, canhões de guerra barcos e petroleiros
Todos temos o direito de amar...
Xisto? Quanto houver, venha ele, se for preciso... comemos-o como se comem os mabecos que o inferno tece, vulcões com sorrisos de marfim, tabique em solstícios envergonhados, e havia janelas com larvas suspensas nas persianas da lareira do incenso, adormecia, adormecia, adormecia... até que o vento nos separava, até que a tempestade nos transportava para
Os socalcos?
Para, para depois de amanhecer descermos as escadas do poço da morte...
Assim seja, assim seja, amigo fiel.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 5 de Setembro de 2013

quarta-feira, 4 de setembro de 2013

um dia

foto de: A&M ART and Photos

um dia serei eu
um dia acordará a madrugada vestida de branco
com uma pétala de rosa em cada estrela suicidada
um dia vestir-me-ei de amanhecer
como as páginas de um livro perdido na livrarias em poeira...

um dia acordarei e tu és uma pausa
como as sombras do musseque
depois da chuva se entranhar na terra ressequida
um dia
um dia ausentar-me-ei... como as bananeiras do teu sobrolho

como as sílabas dos teus lábios
e um dia saberás quem sou porque morri
partirei para a terra de ninguém
não estarás certamente à minha espera... porque tu não existes
porque tu és uma feiticeira com asas de carvão e boca de crocodilo


(n ã o r e v i s t o)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 4 de Setembro de 2013

terça-feira, 3 de setembro de 2013

Essas, essas, não...

foto de: A&M ART and Photos

Não percebo as angústias dos teus braços, é sexta-feira e lá fora chove, e todas as flores do nosso jardim, hoje, hoje não estão, bato-lhes à porta e parecem ausentes, ou doentes... ou preferem não me reconhecer durante a viagem ao inferno dos teus sonhos, tenho portas metálicas que me obrigam a esconder da luz original das madrugadas onde tu
Eu deitava-me sobre os embondeiros dos teus olhos, abrigava-me como pétalas e mesmo assim, sabia que tu
Que eu?
Que tu continuavas a mentir-me, que tu
Que eu?
Que tu continuavas a escrever nas nocturnas meninices com o cabelo apanhado e enrolado sobre os bronzeados comestíveis peixes do aquário que durante anos tivemos na sala de jantar, hoje
Hoje?
Hoje, ontem, talvez amanhã...
Hoje, que... eu?
Hoje, ontem, talvez amanhã... sexta-feira, meia-noite nos teus lábios, o pêndulo tresloucado contra a trave em madeira que sustenta o tecto, do aquário os peixes de brincar adormecem nas mãos deles, e os ponteiros de ti... adormecidos entre as três horas e as três horas e quarenta e cinco minutos, indeciso, não o sei
Desisto?
Não Desisto?
Hoje?
Que tu continuavas a mentir-me, que tu
Que eu sofro porque deixei de observar as estrelas sobre o mar, que eu sofro por
Tu continuas a mentir-me,
Tu
Tu que eu sofro por não adormecer devidamente como as nossas plantas da varanda das traseiras, porque
(Para que serve esta porcaria, saberás responder-me?)
Porque os rios são de seda, porque as árvores são de papel... porque eu
De pano, achas que eu sou de pano?
Talvez de entretela... estranha manhã a tua antes de acordares e me venderes o primeiro e o último beijo do dia, um por dia, trinta e cinco euros, e a vida parece sorrir-lhe até que regressou um veleiro de lá e trouxe a tempestade de abelhas que devoraram todas as plantas
Da varanda das traseiras?
As plantas que não quero, as plantas que não me interessam... e o cansaço encontrou-me debaixo da meia-noite, despeço-me de sexta-feira e entranho-me no sábado...
Normal?
(Para que serve esta porcaria, saberás responder-me?)
Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras?
Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras? Da varanda das traseiras?
(Para que serve esta porcaria, saberás responder-me?) e
Desisto?
Não Desisto?
Hoje?
Que tu continuavas a mentir-me, que tu
Que eu sofro porque deixei de observar as estrelas sobre o mar, que eu sofro por
Tu continuas a mentir-me,
Tu
E,
… cansaço sono amargura sofrimento solidão loucura... tudo, tudo, menos as plantas da varanda das traseiras,
Essas, essas, não...
… cansaço sono amargura sofrimento solidão loucura... tudo, tudo, menos as plantas da varanda das traseiras,
Essas, essas, não... cansaço sono amargura sofrimento solidão loucura... tudo, tudo, menos as plantas da varanda das traseiras,
Essas, essas, não... cansaço sono amargura sofrimento solidão loucura... tudo, tudo, menos as plantas da varanda das traseiras,
Essas, essas, não...


(não revisto – ficção – Alijó)
@Francisco Luís Fontinha
Terça-feira, 3 de Setembro de 2013