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terça-feira, 17 de janeiro de 2023

Os cães os gatos e os outros

 

Nada tenho contra os animais, pelo contrário; adoro-os.

Mas começo a ver uma sociedade mais preocupada com o cão e com o gato de que, em alguns casos, com os filhos ou com os pais.

Conheço alguns casos. Deixam as crianças na escola, como se esta fosse um depósito de coisas, e depois o professor que se amanhe, deixam os pais no lar, e quase não os visitam…

E depois vão para o jardim passear o seu animal de estimação.

Vão almoçar ou jantar ao restaurante, dão o telemóvel aos filhos para estarem entretidos e caladinhos, e ao colo, têm o cão e o gato.

E eu pergunto se não seria melhor, em vez de adoptarem um cão ou um gato, adoptarem uma criança, num país com tantas crianças em lista de espera nas nossas instituições de solidariedade social

E há tantas crianças com fome, não de pão, mas de amor.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha


quinta-feira, 5 de setembro de 2013

Assim seja, assim seja, amigo fiel...

foto de: Francisco Luís Fontinha (Noqui)

Será que me vais perdoar? Os dias terminavam em canseiras brincadeiras e ao longe submergia o cheiro do rio encurvado, um barco flutuava sobre o teu peito com asas fungiformes, acendiam-se as lâmpadas da dor, olhavas-me, eu olhava-te, trocávamos silêncios por pedaços de solidão, depois chegava o perfume de embriaguez que servia de esconderijo das mulheres que te absorviam como as moscas embebidas nos cortinados de areia, eu percebia a tua dor, eu sentia o teu sofrimento, eu
Adormecia envenenado pela tua tristeza vagabunda que circulava pelas ruas da velha cidade, pegávamos numa pistola, brincávamos com balas de borracha e teias de aranha magoadas pelos tornozelos das sombras das estrelas em papel crepe, solitáriamente correndo becos, encostando-se a esquinas invisíveis, e inventando mares de prazer entre lençóis de espuma, eu
Adormecia,
Pensava em ti, recordar-te como criança saltitando os socalcos dos íngremes vómitos do comboio em direcção ao Porto, curva, curva, montanha, montanha, e nada mais
Xisto?
Quanto houver, venha ele, se for preciso... comemos-o como se comem os mabecos que o inferno tece, vulcões com sorrisos de marfim, tabique em solstícios envergonhados, e havia janelas com larvas suspensas nas persianas da lareira do incenso, adormecia, adormecia, adormecia... até que o vento nos separava, até que a tempestade nos transportava para
Onde?
Xisto, voávamos sobre as circunferências tracejadas dos olhos castanhos que viviam na página trinta e cinco do livro das noites sem dormir, tínhamos vergonha de sonhar, tínhamos vontade de comer
Os mabecos?
Tristes, alegres, cansados folgados, meninos e meninas, soldados
Todos temos o direito de amar...
Guerreiros, canhões de guerra barcos e petroleiros
Todos temos o direito de amar...
Xisto? Quanto houver, venha ele, se for preciso... comemos-o como se comem os mabecos que o inferno tece, vulcões com sorrisos de marfim, tabique em solstícios envergonhados, e havia janelas com larvas suspensas nas persianas da lareira do incenso, adormecia, adormecia, adormecia... até que o vento nos separava, até que a tempestade nos transportava para
Os socalcos?
Para, para depois de amanhecer descermos as escadas do poço da morte...
Assim seja, assim seja, amigo fiel.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 5 de Setembro de 2013