Mostrar mensagens com a etiqueta existência. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta existência. Mostrar todas as mensagens

domingo, 1 de outubro de 2023

Existência

 O que vês não existe

O que sentes e existe e que não vês

E que te acompanha

Que te abraça

Existindo apenas os braços

Não existindo o abraço

Que vês e sentes

Que não interessa sentir

 

Vês esta estátua

Sentes esta estátua

Abraças esta estátua…

Mas será que ela existe?

Existirá uma estátua ou apenas um pedaço de pedra ou aço

E existe

Nos teus braços

A quinta sinfonia de Beethoven

 

Ouves a manhã

Mas não existe manhã

Mas não existe tarde

Em existência

Apenas ela

A noite existe

 

Não ouves a lua

A lua existe

Porque vês a luz

E se a lua for apenas um cortinado colorido…

 

Nesta galáxia

Que me come em pedaços

Que existe e faz com que eu deixe de existir

Neste labirinto

O dióxido de ferro que lanço

Sobre o corpo

Ante de adormecer

 

E ele sente a noite

E a noite sente-o a ele

O abraça

O escorraça

Dá-lhe banho

E deita-o suavemente na alcofa

Não o acorde

Que ele existe

E está embriagado desde a semana passada

 

Existe que não existe em ti a fotografia que vês

Que sentes e apalpas com a mão

A minha não aprisionada ao papel fotográfico

Ele chora

Ele sofre

Existe

Existia na noite anterior

Ergue-se

Ergue-se e percebe que existe

Que vê tudo aquilo que existe

E existe tudo o que vê…

Antes que a noite nos veja.

 

 

01/10/2023

sexta-feira, 24 de abril de 2015

O envidraçado corredor alimentado por fotografias e pensamentos, olho as fotografias, e sinto os pensamentos no corpo, sento-me, e levanto-me, caminho sem destino, volto a sentar-me, e levanto-me, durmo, tantas vezes que o cansaço me absorve, que figura
Os esqueletos de luz passam, e
Que figura, embriagado por uma cadeira, não sonho, invento bonecos de palha no silêncio da dor, e a morte mesmo ao seu lado…
Perdi-me em ti, meu amor, não sei quando acordará a manhã e tu, cá, vestida de insónias sobre a minha campa de palavras, o envidraçado, de vez em quando, sorri
Odeio o riso, odeio a luz e a noite, odeio as cidades e os rios e o mar,
Os barcos,
O que têm os barcos, meu amor,
Corpos,
Mortos,
Desenhos na caligrafia, os desenhos embrulhados às poucas palavras,
Nunca
Lhe
Ouvi
Uma apalavra
Nunca lhe ouvi uma palavra, disse-me ela enquanto tomávamos um café
O cigarro,
Apagado,
O dia terminado, sem que eu tenha alcançado as ruínas dos teus ossos, a cada sílaba retirada
Um ai,
O cansaço das árvores enquanto dormem, as pedras minúsculas do teu olhar, pregadas, à parede sem saberem que o dia nunca existiu
O meu irmão António
O dia nunca existiu, tu, tu nunca exististe, ela nunca existiu nem ele e ela alguma vez tenham existido,
Confusão, as tuas palavras, confusão, meu irmão, a nossa vida
Desgraçada,
António, amanhã vais ao terreiro e trazes meia dúzia de cigarros, três ou quatro fósforos… e fugimos, para longe, meu irmão, para longe, lembras-te, quando pedimos à mãe que nos levasse ao circo…
Não gostavas de circo, não gostavas de nada nem de ninguém, não pertencias a esta vida, o agora, o antes, porque o depois
Circo, António,
Porque o depois torna-se o agora e o agora transforma-se em ontem, e onde estiveste ontem, António,
No circo, no circo,
Do envidraçado, não via nada, nada, apenas esqueletos de luz…
 
(ficção)
Francisco Luís Fontinha - Alijó
Sexta-feira, 24 de Abril de 2015


sábado, 14 de setembro de 2013

nuvens de azoto

foto de: A&M ART and Photos

existes porque eu quero que existas
choras
não porque eu quero que chores
abraças-me porque eu quero que me abraces
amas-me
não porque eu quero que me ames
existes
insistes
e não desistes...
choras porque há nuvens de azoto nas pálpebras do Sol
porque eu quero que tenhas asas
e que voes e que voes.., como uma gaivota em desejo


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 14 de Setembro de 2013

domingo, 12 de maio de 2013

Existes não existes e insistes

foto: A&M ART and Photos

Existes
porque eu desejo que existas
em mim
dentro do meu peito

Existes
até me apetecer que existas
como as árvores do quintal de Luanda
existirão elas ainda?
existes eu sei que existes
até eu o desejar
que existas
inventando-te para me abraçar
quando a manhã se transforma em silêncio...
existes
mas... e existirás até eu me cansar que existas...?

Existes e insistes existir
e oiço o longínquo emagrecer das pontes de aço
existirás amanhã e depois de amanhã?
não o sei... mas existes
porque o desejo que existas
assim... fictícia e invisível como as nuvens nocturnas
que poisam nos teus cabelos domesticados pelas pombas do rio apaixonado
existes não existes porque então insistes existir dentro de mim...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha