foto de: A&M ART and Photos
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não sei como são as tuas manhãs de
solidão
quando acordam os vidros embalsamados
pela escuridão do corpo suspenso no tecto da paixão
não sei como és quando descem sobre
ti as mandíbulas ensanguentadas do orgulho
quando o mar entra na tua mão
e no peito
uma âncora de prata alicerça-se como
um cogumelo encarnado
voando sobre os cinzentos teus seios de
flor apaixonada
não sei como são as tuas tristes
manhãs de solidão
se és branca
escura
alegre abelha de silício
procurando a colmeia do púbis em
madrugadas embriagadas
não sei como são os barcos onde
nasceste
viveste
brincaste com os meus olhos debaixo das
mangueiras de papel
e tínhamos dentro de nós
o frio congelado dos beijos nunca dados
inventávamos tardes numa sanzala de
cartão
e chapinhávamos nos charcos de incenso
as doces pernas da infância
brincávamos
e em beijos
ouvíamos os meninos que dormiam sobre
um colchão de palha castanha...
e chovia e dormiam e choviam coloridas
imagens de triângulos equiláteros
eu procurava nos teus seios ainda por
descobrir o cosseno dos teus abraços
e tu
calculavas a tangente do sémen que um
dia apareceria nas equações húmidas diferencias
que de um caderno quadriculado
saltitavam como pigmentos de resina depois da despedida noite em
lençóis de Aspirina derretida
éramos tontos vagabundos de areia
apaixonados loucamente e literáriamente
vestíamos personagens magoadas pela ausência do Pôr-do-Sol...
não sei como são as tuas manhãs de
solidão
porque a noite rende-se à porta de
entrada
onde moram as tuas loucuras fantasias
dos telhados em zinco
uma sanzala chorava
eu chorava...
e tu dizias-me que o cacimbo tinha
levado o meu triciclo e eu e eu acreditei
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 7 de Setembro de 2013
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