sábado, 22 de novembro de 2014

Sem sentido - “A merda de um poema”


Queima o filme negro da tua vida,
ensina aos teus ossos as boas práticas de comer,
sem nunca mencionares o nome da despedida,
nem na rua invisível do teu corpo,
imagina o vento fatiado abraçando-se aos teus seios,
escrevendo neles...
Amo-te...
sem gaguejares,
sem medo de chorar,
os abutres cardumes da insónia
que se alicerçam aos teus cabelos de luar,
queima o filme negro da tua vida... como quem pronuncia pela última vez a palavra amar!



Francisco Luís Fontinha
Alijó, 22 de Novembro de 2014

Insígnia da paixão


Queimaste a insígnia da paixão no sonífero adeus da tempestade,
dormes profundamente só...
e te alimentas das insignificantes metáforas da saudade,
trazes nas lágrimas uma canção por escrever,
um poema se ergue na tua mão,
e sem o saberes...
habitas na calandra encaixotada do sofrimento,
não sei se algum dia serei teu,
não sei... não sei se lá fora há sol ou escuridão,
se é dia,
noite...
ou... uma mistura de tons com odor a infância,
um barco encalha nos teus seios,
transpiras... gemes as sílabas do prazer,
esperas pelo nascer da madrugada,
quando hoje não haverá madrugada,
quando hoje... não acontecerá nada...
se é dia,
noite...
ou... ou um pincel disparado pela espingarda da solidão,
e se entranha no teu sorriso...
e no entanto,
queimaste a insígnia da paixão,
como quem apaga um cigarro depois de te amar.




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 22 de Novembro de 2014

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

A matriz do Adeus


(para os meus pais)


O “foda-se” triplicado na equação do Adeus
a morte
o corpo evapora-se e viaja em direcção a um punhado de fotografias a preto e branco
a roldana da insónia range
gritaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaa..................................
não posso mais
estou mergulhado no teu sorriso como um pêndulo sem alicerce
embriago-me nas tuas pérolas falsificadas
olho-me no espelho... pareço um falhado construído de cartão
sem coração
em revolução...
apetece-me matar todas as flores do teu jardim
aprisionar os pássaros dos teus sonhos...
não posso mais com rostos transformados em nada
corpos cadentes
e lágrimas
o “foda-se” triplicado na equação do Adeus
a morte
o corpo vacila no sentido descendente da impaciência
penso
escrevo...
nada... apenas “merda”
e
e complicadas matrizes melódicas
a fome que não é fome...
e quando apareço nos seus cabelos...
ela me inventa equações sem resolução
os anais
sem personagens vestidas de marinheiro desempregado
o estranho
a pintura de engano das tuas veis desalojadas do Sol
e desengano-me a cada pedra de xadrez...



(não sou eu...)



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 21 de Novembro de 2014

Barco sem regresso


Desço ao inferno barco sem regresso,
olho-me no espelho do triste Oceano sem cortinados,
ou... ou janelas de pálpebras inchadas,
tenho na mão a enxada da dor...
e nos lábios o beijo de uma flor,
desço,
mergulho...
saltito nas cinzas do teu corpo inseminado nas páginas de um livro,
de poemas,
de “merdas” sem significado algum,
mergulho... e desço...
e percebo que o futuro é incerto,

Negro como a noite interminável...

Fujo,
escondo-me na sombra do teu sangrento olhar,
desço ao inferno barco sem regresso,
em desassossego,
como um esqueleto esquecido no mar...
como uma árvore que acaba de morrer,
sem medo...
sem... sem palavras de escrever.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 21 de Novembro de 2014

quinta-feira, 20 de novembro de 2014

Desintegração


Desintegro-me na desilusão das imagens adormecidas
pareço um velho palhaço gritando para a multidão
palavras
e canções
e noites perdidas,

Viagens enigmáticas com odor a madrugada
rios embriagados correndo nas minhas veias
dilatadas
tristes
tristes como as lágrimas da calçada,

Desintegro-me sem o saber
enquanto sonho nas planícies lunares
desintegro-me lentamente como o vento nas tardes de liberdade
recebo uma carta... lá dentro habita a saudade...
e desintegro-me nas palavras por escrever,

As rosas que disparam sorrisos encarnados
o oceano levitando nas mãos de alguém que é amado
o barco do desejo... navegando
navegando nos cortinados da mentira...
e desintegro-me nos planaltos prateados,

Há no teu olhar rochedos vadios comendo mendigos engravatados
das tuas pálpebras ancoradas
despem-se os seios da manhã sem despertador
maldito relógio que nunca morre...
e todas as luzes poisam nos ombros dos alegres desgovernados...




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 20 de Novembro de 2014

quarta-feira, 19 de novembro de 2014

Cinco vidas perdidas


Cinco vidas perdidas
uma sombra sobejante
e esquecida
uma noite de tempestade
e eu, e eu... palmilhando a cidade
comendo sandes de insónia
e algemas de liberdade
cinco vidas perdidas
uma lua brilhante...
e falta-me uma cama decente
colorida...
como os poemas embrulhados em silêncios pincelados de saudade...
colorida
a vaidade
a ousadia...
viva... viva a poesia!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 19 de Novembro de 2014

terça-feira, 18 de novembro de 2014

Corpo flutuante


Um corpo flutuante nas arcadas nocturnas do medo
o fumo negro da saudade
que sobeja de um cigarro embriagado
tu
tu não vês... que há pássaros poemas
e poetas pássaros
tu
tu não vês... que há palavras disparadas de uma espingarda
um soldado que tomba
e sonha
e flutua...
o corpo flutuante sobe ao cimo da montanha,

grita
chora...
e ausenta-se da neblina cinzenta,

são horas de adormecer
o cansaço espera o corpo flutuante que aos poucos se solta das cordas do silêncio...
parece sofrer
mas... mas o medo permanece impávido
na parada da insónia
são horas do corpo flutuante renascer
brincar
e... e... e deambular sem correntes calçada abaixo
em direcção ao mar
grita
chora...
e ausenta-se da neblina cinzenta.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 18 de Novembro de 2014

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Equação do desejo


Quando a equação do desejo se perde na escuridão
e há uma incógnita sonolenta embrulhada na ardósia da tarde
nada a fazer
esperar
ou... ou chorar
ou... ou escrever,

Quando a equação...

É um pedaço de chuva alicerçada à tempestade
o xisto envenenado reaparece nos socalcos em fuga
nada a fazer
olhar o mar
ou... ou inventar palavras de amar
ou... ou desenhar o sorriso da Garça sem o saber,

Quando a equação...
… quando a equação te faz sofrer.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 17 de Novembro de 2014

domingo, 16 de novembro de 2014

pedaços de inveja


as migalhas são pedaços de inveja
da miserabilidade dos enlatados caixões de porcelana
há sempre uma janela não encerrada...
há sempre uma porta sem saída
não iluminada
há sempre uma rua finíssima
tão fina como as fatias de poesia
que o poeta deixa num banco de jardim.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 16 de Novembro de 2014

sábado, 15 de novembro de 2014

cacaréus


invento-te nos nocturnos cortinados da insónia
acaricio-te sabendo que não passas de um mísero desenho da minha autoria
não sei desenhar...
invento-te nas noites de água invisível
quando sei que lá fora...
… distante de mim
há uma tempestade de desejo em rotação
calculo o seu centro de massa
calculo o seu centro geométrico...
e descubro que és uma invenção de uma mísera folha de papel
sem odor nem corações
nem beijos

apenas um desenho meu

invento-te nas madrugadas cinzentas
quando todas as luzes dormem
e sonham...
e... e morrem nos meus braços

cacaréus
pedaços de ossos
cabelos teus que deixaste nos lençóis clandestinos de uma pensão sem nome...
e em frente à janela
o rio
a fome

cacaréus
cacaréus
… e cacaréus...

pedaços de nada sobejantes de uma noite em construção
ofegante tu
ofegantes os transeuntes em desalinhado cansaço...
e eu... e eu apenas queria desenhar-te no espelho do guarda-fato

e depois... e depois vestir a gabardina e fugir dos teus lábios
como um louco
sem perceber porque chove hoje...
sem perceber porque choram os pássaros do teu olhar.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 15 de Novembro de 2014