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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Palavras de papel

foto de: A&M ART and Photos

A noite destrói todas as palavras de papel que o invisível destino escreve
a noite inventa-se na algibeira do clandestino miúdo com suspensórios de vidro
o miúdo estupidamente apaixonado por uma uma gaivota...
… chora
transpira como lâminas de aço quando a lareira acesa derrete o silêncio
há uma pauta sobre a mesa da sala de jantar
na pauta brincam notas musicais órfãs
crianças das ruas sem nome não vivem... mas também não choram
crianças com mastros ao peito... vivem navegam choram e morrem...
e bandeiras de cetim sobre os cabelos cinzentos da tristeza dizem-lhes o que é a saudade
a noite embriaga-se como pedaços de xisto descendo os socalcos com as penumbras das sonâmbulas cambotas correndo e as bielas... as bielas nas mãos do miúdo estupidamente apaixonado...
… que chora... elas imóveis elas silabadas elas... elas são as bielas dos covis iluminados pela loucura neblina que o desejo procura no corpo nu sem nome as bielas fodem...
Alimentam-se dos sombreados tectos de verniz que às esplanadas de areia acordam como tecidos mortos e envenenados e doirados e... e a noite em papel dissolve-se na garganta do condenado
hoje há moelas
moedas de prata
lágrimas de crocodilo
e dentes de marfim
A janela do muro envidraçado abre-se e a noite começa a comer o miúdo depois de destruir todas as palavras de papel que o invisível destino escreveu
e o pobrezinho menino prostitui-se no cais de embarque dos petroleiros ofegantes
a gravata esgana o pescoço dos homens de mini-saia
os sapatos de três andares... adormecem noite adentro num sótão abandonado
a gaivota do amor
não dorme
não vive
chora
chora... chora... parvo... porque choras tu?
e era capaz de acreditar nos objectos negros das portas com triângulos desenhados...
com... com coxas cosidas pelas mãos da Avelã costureira...
Peneirenta
rafeira
e ordinária...
a noite é uma puta desgraçada
e feia...
a noite fode-nos como cinzeiros em prata nas mãos de um drogado...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Dezembro de 2013

sábado, 21 de dezembro de 2013

Um monstro com olhos em xisto

foto de: A&M ART and Photos

O pormenor emblemático do corpo composto por luz, pétalas encarnadas e algumas insónias margaridas, o jardim parece um monstro recheado de nozes, vozes, um monstro com olhos em xisto, socalcos, montanhas... e nas veias, o rio
O Douro?
O sorriso das madames com plumas desiguais sobre os ombros sombreados pelas nuvens que a noite constrói depois de todas, ou apenas uma ou outra, luzes de néon vomitarem as palavras encravadas nas montras da cidade, oiço-te vaguear como uma gaivota ferida, doente, oiço-te mergulhar no meu Douro que odeio, confesso... que sempre odiei, vivi para ser uma cidade, com bares, ruas e ruelas, travestis, putas, e donzelas... o Douro enerva-me, desiludiu-me quando o encontrei pela primeira vez... como me desiludiram algumas das mulheres que eu tive
(como desiludiste algumas das mulheres que tiveste)
Como me desiludiram algumas das calçadas empedradas com acesso ao rio, outro rio, um rio com vida, um rio com esqueleto de marinheiro, em cio
O Douro?
A ponte iluminava-se, a ponte voava sobre os espaços exíguos da minha cabeça, acordava com pequenas grandes tonturas, acordava a fumar cigarros proibidos e deitava-me a fumar
Cigarros proibidos?
O Douro enerva-me, desculpem-me, mas amo a cidade do Tejo, amo a ponte, os charros que fumei enquanto choramingava... e depois caía num qualquer bar em Cais do Sodré, depois era madrugada, deambulava pelas ruas mais profundas, mais escuras, mais... mais amadas em mim, depois cambaleava, tropeçava no paralelepípedo e vomitava sons inaudíveis dos carris frios, tão frios como o teu corpo de menina enquanto descia Setembro sobre uma sombra em Trás-os-Montes, odeio-te sabendo que sou prisioneiro de ti, odeio-te sabendo que só serei livre quando
Pegar na tua mão, acariciar-la como se fosse a folha de um dos livros do António Lobo Antunes, ou um dos pares de luvas de lã que tive em miúdo, depois deixei de sentir frio porque as minhas mãos transformaram-se em rochas, pedaços de granito, eles também gélidos, eles também... sós, depois vieram os olhos verdes que a pouco e pouco ficaram sem cor, hoje são daltónicos e precisam de lentes para ler as tuas palavras das tuas cartas que eu te reenviei... e hoje, hoje sinto saudades
Da cidade do Tejo,
A ponte iluminada balançava quando o vento vinha para me levar e sempre que me preparava para partir, não partia, um carro de brincar iluminava a ruela dos candeeiros mortos, movimentava-se por quatro pilhas de um volt e meio, redopiava em círculos, usava a voz das minhas palavras na boca das outras palavras, aquelas que nunca consegui escrever, dizer amo-te é mentira, ilusão, despedida,
Saudades?
Do Tejo,
Dizer desejo-te é mentira, ilusão, despedida,
Saudades?
Do Tejo,
(dedico esta música a todos os meus amigos)
Amigos? Quais amigos... dás-te conta que não tens amigos, e que se vivesses na cidade do Tejo não tinhas um cão com catorze anos, caquéctico, rabugento... mas engraçado, porque só ele percebe porque choro, quando choro...
(qual é a frase?)
O pormenor emblemático do corpo composto por luz, pétalas encarnadas e algumas insónias margaridas, o jardim parece um monstro recheado de nozes, vozes, um monstro com olhos em xisto, socalcos, montanhas... e nas veias, o rio, a heroína em ebulição sentia-se e no tombar das árvores doidas, como sonâmbulos corpos emagrecidos havia sempre alguém que não regressava,
(ai a frase... a frase...)
O Douro?
A límpida água dos sonhos e da esperança voltam à panela de pressão e evaporam-se nas avenidas encantadas dos guindastes com braços em aço e lábios em pergaminho,
Hoje temos beijos,
(quer uma ajudinha... senhor Francisco?)
Hoje temos beijos, saudades e nada mais do que isso... e redopiava em círculos, usava a voz das minhas palavras na boca das outras palavras, aquelas que nunca consegui escrever, dizer amo-te é mentira, ilusão, despedida,
Saudades?
Do Tejo,
(diga comigo senhor Francisco... “Com os voos nocturnos da menina Amélia a sobremesa adormece sobre a mesa-de-cabeceira”)
Hoje temos beijos, saudades e nada mais do que isso... e redopiava em círculos, usava a voz das minhas palavras na boca das outras palavras, aquelas que nunca consegui escrever, dizer amo-te é mentira, ilusão, despedida,
Saudades?
Do Tejo,
E dizer amo-te é pura loucura, desilusão... sei lá que mais...
(à escolha)
E diziam-me que aqui existiam verdejantes barcos com asas em porcelana... pode lá ser...
E é, e é... é assim desde que partiste...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 21 de Dezembro de 2013

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

giba da paixão

foto de: A&M ART and Photos

brincava com as dúcteis tuas mãos de porcelana
vivia em nós o espelho giba da paixão
e sabíamos que das barcaças tontas dos malignos jacarés de palha...
palavras em fogo atravessavam os nossos corpos
eram agulhas de desejo
como serpentes envenenadas da selva dos beijos embriagados
comíamos coisas fúteis
bebíamos líquidos esbranquiçados com duas simples pedras de gelo...
a tua mão tremia
abraçada à tua voz de noz enfeitada com néons de linho nos cortinados vazios das esplanadas nocturnas de Belém... e os cacilheiros dentro de ti
choravas e uivavas...
e apitavas...

percebia-se nos teus olhos o romper da madrugada
e o regresso das chuvas invisíveis com sabor a procissão desalmada
brincava
choravas
e vivíamos encalhados numa tenda de circo
com asas metálicas
e nariz em fibra-de-vidro...
não não éramos um avião
e vivia em nós o espelho giba da paixão
um fino sabor a hortelã vagueava no teu rosto desenhado no xisto de prata
e da lareira
uma nuvem de sofrimento fundia-se como chumbo no prato fundo da ribeira dos tristes orvalhos...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2013

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

mil beijos depois...

foto de: A&M ART and Photos

eu sabia que não voltava a ouvir o som estaladiço das tuas mãos sobre o meu peito
percebi quando se extinguiram todas as lâmpadas do silêncio que existiam debaixo da ponte dos sofrimentos
havia dor
havia dor masturbada na simplicidade da doença
havia morte que se entranhava nos ossos ocos da solidão
eu sabia
eu sabia que não voltava a sentir os teus mergulhados dedos nos meus amargurados lábios
e dos meus olhos
lágrimas
gotículas de suor que se desprenderam do icebergue da desgraça
o tecto de colmo
ruiu
como o teu corpo sobre uma cama de ferro em cinzento leito
havia beijos
havia cinzeiros de nicotina esperando o regresso da madrugada
eu sabia
eu percebia...
que nunca mais regressava
que era impossível acreditar nos límpidos anzóis de naftalina
eu dormia
eu fingia que dormia
mas não dormia
porque era impossível adormecer embrulhado a um cadáver de pano...
o cigano Moisés implantado sobre os colchões de areia das tempestades de xisto
e eu
e o tecto de colmo...
no pavimento térreo... esperando que te levantasses
esperando...
esperando que acordasses das malignas manhãs de poesia
mil beijos
um
apenas... um abraço... para te aconchegar antes de partires...
escreveste as últimas palavras escritas das vozes roucas da partida
e eu sabia
que... não voltava a ouvir o som estaladiço das tuas mãos sobre o meu peito...
e... mil beijos depois... acordaste para mim.



(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 3 de Dezembro de2013

terça-feira, 24 de setembro de 2013

os mabecos na insónia do amanhecer

foto de: A&M ART and Photos

ouvíamos os mabecos embrulhados na insónia do amanhecer
e tínhamos sobre o imaginário silêncio
as palavras pergaminho de sons invisíveis que as árvores desenhavam nos teus lábios de gaivota apaixonada
tombavam como enxadas derramando suor e lágrimas nos socalcos do desejo
descendo o teu corpo
e mergulhando no rio como pequenos delírios de luz

ouvíamos os cubos de gelo gorgolando na tua garganta de caverna madrugada
e ao longe
o vento trazia-nos a flor embalsamada com pequenos colarinhos em prata
e uma mão desalmada
entranhava-se nas tuas coxas de xisto
o muro da solidão tombava
a árvore tombou
e as tuas mãos de porcelana
partiram-se enquanto a noite sorria à janela do cinzento cobertor da dor
como um longínquo fôlego caminhando nos carris da tristeza
ouvíamos
e ao longe a andorinha desassossego morria em pedaços de saudade e melancolia

ouvíamos...
chovia
a cansada abelha dos triângulos de chocolate
e ouvíamos
e chorávamos
as palavras sem palavras dos cigarros adormecidos em palavras semeadas

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 24 de Setembro de 2013

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O xisto poema


Tínhamos nas mãos dois doces pedacinhos de poesia
migalharias suaves ao mestre dos livros emagrecidos
vadios pássaros teus olhos planetários
tínhamos nas veias
o incenso clandestino de uma abelha
em mel banho-Maria,

Tínhamos o sonho
e a saudade
tínhamos os rolamento com esferas de aço
quando brincávamos nos finais de tarde,

Tínhamos o amor sensível à luz das palavras silvestres
como faziam as flores
sobre a cama relvada do silêncio jardim
tínhamos as vertigens dos mamilos desgovernados
debaixo da água do rio
ao longe brincávamos
e eu disfarçava-me de socalco
e tu
de xisto poema
tínhamos uma ardósia onde escrevíamos
os segredos minguados dos teus lábios siderais
e eu,

Tínhamos corpos de cigarros deitados nas nossas mãos de linho
estava vento
éramos a noite que um isqueiro de prata incendiava
nas planícies ágeis dos anéis de aço
e inventávamos o desejo
como quem escreve na areia antes de regressar o mar
tínhamos corpos de sémen nas algibeiras da sentinela morte
que o teu suicídio lavou em águas profundas,

Tínhamos o sorriso de um louco
que transversalmente dormia nas iscas de fígado
e na sopa de feijão
da cerveja
havia vodka que silenciava as amêndoas de luz
e tínhamos no peito
árvores cansadas de respirar
que o sabor da insónia nos roubou...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó

quarta-feira, 17 de outubro de 2012

Cai sobre mim das pálpebras azuis


O sono dos livros sem o destino prometido
na mão do menino querido
vêm da noite os silêncios de luz
que a boca trasfega na planície das palavras cansadas,
deixo de ver o olhar dos pássaros
e o sorriso das flores
não oiço mais o sofrimento dos homens de branco,
cai em mim o sono travestido de sílabas finíssimas
como fios de água
na garganta do xisto encaixado nas masmorras infinitas dos sonhos
cai em mim
as línguas do poema profanado
com a dor indistinta das manhãs sem o orvalho,
cai sobre mim
o perfume das tuas pálpebras azuis
iluminadas pelas lágrimas de um coração esmigalhado...

(poema não revisto)