Tínhamos nas mãos dois doces
pedacinhos de poesia
migalharias suaves ao mestre dos livros
emagrecidos
vadios pássaros teus olhos planetários
tínhamos nas veias
o incenso clandestino de uma abelha
em mel banho-Maria,
Tínhamos o sonho
e a saudade
tínhamos os rolamento com esferas de
aço
quando brincávamos nos finais de
tarde,
Tínhamos o amor sensível à luz das
palavras silvestres
como faziam as flores
sobre a cama relvada do silêncio
jardim
tínhamos as vertigens dos mamilos
desgovernados
debaixo da água do rio
ao longe brincávamos
e eu disfarçava-me de socalco
e tu
de xisto poema
tínhamos uma ardósia onde escrevíamos
os segredos minguados dos teus lábios
siderais
e eu,
Tínhamos corpos de cigarros deitados
nas nossas mãos de linho
estava vento
éramos a noite que um isqueiro de
prata incendiava
nas planícies ágeis dos anéis de aço
e inventávamos o desejo
como quem escreve na areia antes de
regressar o mar
tínhamos corpos de sémen nas
algibeiras da sentinela morte
que o teu suicídio lavou em águas
profundas,
Tínhamos o sorriso de um louco
que transversalmente dormia nas iscas
de fígado
e na sopa de feijão
da cerveja
havia vodka que silenciava as amêndoas
de luz
e tínhamos no peito
árvores cansadas de respirar
que o sabor da insónia nos roubou...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó
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