quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

O xisto poema


Tínhamos nas mãos dois doces pedacinhos de poesia
migalharias suaves ao mestre dos livros emagrecidos
vadios pássaros teus olhos planetários
tínhamos nas veias
o incenso clandestino de uma abelha
em mel banho-Maria,

Tínhamos o sonho
e a saudade
tínhamos os rolamento com esferas de aço
quando brincávamos nos finais de tarde,

Tínhamos o amor sensível à luz das palavras silvestres
como faziam as flores
sobre a cama relvada do silêncio jardim
tínhamos as vertigens dos mamilos desgovernados
debaixo da água do rio
ao longe brincávamos
e eu disfarçava-me de socalco
e tu
de xisto poema
tínhamos uma ardósia onde escrevíamos
os segredos minguados dos teus lábios siderais
e eu,

Tínhamos corpos de cigarros deitados nas nossas mãos de linho
estava vento
éramos a noite que um isqueiro de prata incendiava
nas planícies ágeis dos anéis de aço
e inventávamos o desejo
como quem escreve na areia antes de regressar o mar
tínhamos corpos de sémen nas algibeiras da sentinela morte
que o teu suicídio lavou em águas profundas,

Tínhamos o sorriso de um louco
que transversalmente dormia nas iscas de fígado
e na sopa de feijão
da cerveja
havia vodka que silenciava as amêndoas de luz
e tínhamos no peito
árvores cansadas de respirar
que o sabor da insónia nos roubou...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
Alijó

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