terça-feira, 3 de dezembro de 2013

mil beijos depois...

foto de: A&M ART and Photos

eu sabia que não voltava a ouvir o som estaladiço das tuas mãos sobre o meu peito
percebi quando se extinguiram todas as lâmpadas do silêncio que existiam debaixo da ponte dos sofrimentos
havia dor
havia dor masturbada na simplicidade da doença
havia morte que se entranhava nos ossos ocos da solidão
eu sabia
eu sabia que não voltava a sentir os teus mergulhados dedos nos meus amargurados lábios
e dos meus olhos
lágrimas
gotículas de suor que se desprenderam do icebergue da desgraça
o tecto de colmo
ruiu
como o teu corpo sobre uma cama de ferro em cinzento leito
havia beijos
havia cinzeiros de nicotina esperando o regresso da madrugada
eu sabia
eu percebia...
que nunca mais regressava
que era impossível acreditar nos límpidos anzóis de naftalina
eu dormia
eu fingia que dormia
mas não dormia
porque era impossível adormecer embrulhado a um cadáver de pano...
o cigano Moisés implantado sobre os colchões de areia das tempestades de xisto
e eu
e o tecto de colmo...
no pavimento térreo... esperando que te levantasses
esperando...
esperando que acordasses das malignas manhãs de poesia
mil beijos
um
apenas... um abraço... para te aconchegar antes de partires...
escreveste as últimas palavras escritas das vozes roucas da partida
e eu sabia
que... não voltava a ouvir o som estaladiço das tuas mãos sobre o meu peito...
e... mil beijos depois... acordaste para mim.



(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 3 de Dezembro de2013

Sem comentários:

Enviar um comentário