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segunda-feira, 24 de março de 2014

Viagem ao centro dos teus olhos


Verdes pergaminhos do amanhecer amargurado,
cintilantes madrugadas com sabor a desejo,
vagabundas manhãs infestadas de corações de mel,
viajo dentro de ti como os pássaros quando regressa a chuva miudinha,
verdes cansados beijos,
verdes lábios,
… boca dispersa na Primavera das flores campestres,
verdes olhos, verdes... verdes pergaminhos do amanhecer amargurado,
viajante solitário procurando abrigo, e um abraço se levanta do chão,
e dou-me conta que é noite,
cortinados cerrados...
e da tua janela... e da tua janela apenas uma sombra de silêncio.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 24 de Março de 2014

sexta-feira, 21 de março de 2014

Cidade do amor

foto de: A&M ART and Photos

Nas minhas mãos cinzentas,
promíscuos cigarros me enganam...
obscenas, elas, elas vestidas de papel de parede,
nas minhas mãos habita uma árvore de nome Primavera,
e eu, sem o saber, escrevo no seu tronco as palavras minhas da noite incógnita,
ela, ela chora, ela, ela não tem corpo, ela, ela é de porcelana invisível,
e vive numa cidade, com nome...
“a cidade do amor”... a cidade que me engana.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 21 de Março de 2014

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Saturno

foto de: A&M ART and Photos

Saturno nas tuas trémulas mãos de sede,
o infinito que habita nos teus olhos despede-se da maldição madrugada,
há um livro em desgraça,
uma fogueira inventada que consome a tua fúria no centro da praça,
há uma calçada com braços e mais nada,
e... e Saturno que teima em viver dentro de ti,
assim,
como vivem as plantas nos charcos das sanzalas de prata...
como tu desenhando cigarros de lata nos vidros da janela azul,
Saturno sempre nos teus lábios,
comendo Primaveras,
aos Sábados... em tristes sábios,

Saturno saturado da cidade,
da chuva,
do vento que teima em desabitar os teus cabelos das nuvens cinzentas...
Saturno é como as árvores que cobrem as tuas pálpebras de solidão,
e sempre que uma gaivota grita o teu nome em vão...
Saturno não se cala,
se revolta,
se revolta como os homens de uma canção,
Saturno nas tuas trémulas mãos de sede,
correndo cinzeiros,
escrevendo palavras no corredor da morte...
Saturno... Saturno sem sorte... sorte que nunca teve porque de feiticeiro nasceu o texto com beijos de avião...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 27 de Janeiro de 2014

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Cabelos frios e secos

desenho de: Francisco Luís Fontinha

Dirigi, atravessei fronteiras antes inultrapassáveis, subi muros, desci avenidas, ergui-me, caí, voltei a erguer-me e novamente caí, escrevia, riscava, rasgava... fazia arder a manhã misturada em pedaços de cacimbo e tecidos vagabundos, fui uma ilha, fui uma rocha, fui um longo cubo com lábios triangulares, fui seno, fui cosseno, vivi em união de facto com a tangente, fui amante, de noite, as clandestinas visitas à cotangente..., e do círculo trigonométrico..., nada restou, depois, da tempestade, nuvens, chuva entrando em nós, de ti, uma pedra mármore com a tua fotografia, diz lá
O quê?
Eterna saudade de nós..., de mim, em ti, dirigi, suicidei-me, atravessei antes inultrapassáveis ruas, hoje, escuras, ardósias como ninguém percebeu, que um dia qualquer, um dia, ao lado do café, um miúdo, miúdo com sandálias de couro, percebeu, percebi, que a morte entrava-nos, e levava-te como levou todas as árvores que dormiam sobre as nossas sombras, dilatavam-se as tuas pálpebras, dirigi, adormeci, acordei num jardim recheado de zínias, fui feliz, infeliz, fui feliz, fui agreste, montanha, passeio pedestre, fui
O quê?
Ratazanas
Dirigi, vivi sobrevoando canteiros e riachos, sobrevivi aos beijos assassinos dos guindastes de chumbo, naveguei, cruzei oceanos como se eu fosse uma leve e tranquila folha de alumínio com uma bolha castanha, andava, ia a cima, descia, vinha a baixo, sentava-me, despedia-me, levantava-me, erguia-me... e caía,
As ratazanas amigas, amigos, protestantes e mendigos, vivi, fui vivendo, dirigi e atravessei o teu corpo transparente embrulhado em jornais envelhecidos, tinhas rugas, usavas sapatos cambados, e fui aprendendo a ultrapassar, dirigi, fui roupeiro, cobertor, homem espantalho, fui há muito tempo
Palhaço,
O quê? O que têm as ratazanas?
Palhaços, cabelos de fino arame, fui trapezista, vendi pipocas, corri avenidas em tristes engates, fui ratazana, fui praia, areia, ou barco, fui aço, fui âncora, palhaço, circo, pedestal, dirigi, cansei-me de olhar o rio, cansei-me de colocar a minha pobre mão na salgada água, lembras-me o mar, o ébano eu?
O quê?
Tínhamos zínias, cheirava em nosso redor a Primavera embriagada, desconfiávamos que o amor tinha algures um ninho num dos ramos da árvore de papel do nosso quintal onde brincávamos em meninos, não dávamos importância alguma aos pêssegos, às laranjas, às roulotes com lentes de contacto, um parvalhão de fita métrica na mão assaltava transeunte, chovia, não sabíamos, eu desconfiava dos vidros das janelas da casa das ratazanas,
Eu? Não sabia...
Desconfiava apenas,
Ratazanas, zínias enraivecidas com dentes de marfim afiados, metadona desconfiada, sem dono e abandonada, tudo se vende, tudo se compra, o zinco em chapas, os telhados em vidro, as barracas
Quais barracas?
As casas, húmidas, vivendo-se dias desenhados sobre a areia molhada, vinha o vento... e nada, tudo desaparecia, tudo se deitava, dormia, dormiam as zínias, as ratazanas, a mulheres-a-dias e as concubinas..., o quê? Eu? Não o sei... como o poderia saber,
Que horas são, hoje, mulher do mar, de mar, ao mar,
Desculpa?
Que horas são, mulher-a-dias, veleiro carrancudo, com velas de assobio, o circo, as tuas mãos desprezíveis, íngremes como as calçadas nocturnas das cidades escuras, desculpa...
Feldspato?
Não o sei, pergunta ao gerente da barraca, talvez ele saiba...
Gosto, não gosto... pelas dúvidas... deixo-te um like sobre as sobrancelhas, e
Dirigi e caí,
Me levantei, voltei a cair, e caí, me ergui, e me pendurei no teu pescoço de galinha envenenada, serpente, crocodilo, em madeira, em bom estado, vende-se dentadura postiça, primeira mão, em prestações, trinta e seis suaves, como lírios, como zínias, cachorros e cadelas e trapezistas e palhaços e trompetes de aço, me levantei, eu, e para quê?
Me sentei em ti, dormi, envelheci, e quando acordei, tu, vestida de mar..., me seduzi, me engatei nos laços transversais dos parafusos encalhados, fui, vou-me a ela, fui rua, donzela, fui... e nua, nua a tua doce madrugada.
Dirigi. Menti. Atravessei fronteiras antes inultrapassáveis, subi muros, desci avenidas, ergui-me, caí, voltei a erguer-me e novamente caí, escrevia, riscava, rasgava... tudo, tudo para nada.
(texto, ficção, vida, desenho, arte, zínias, jardins, amor, Primavera, tudo, e nada, pouca coisa, desenvergonhada, ela, paixão de areia, homens de vidro, cabelos frios e secos, mendigos).

(não revisto – quase ficção)
@Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 2 de julho de 2013

e corações com o marcador encarnado

foto: A&M ART and Photos

Vivíamos não percebendo que das marés de Inverno
habitava em nós o tédio
construíam-se-nos alicerces envenenados por doces lábios de incenso
como Primaveras desenhadas num papel esquecido em ti
eu
de esquadro e régua
tu
deitada sobre o estirador do desejo
delineava-te em curvas com sombras de trapézios
e dos poucos ângulos que sobejavam em ti
davam para alimentar-me quando chovia nos lençóis da espuma infância
e sorrias como os milímetros de noite inertes entre pilares de granito e luzes ancoradas pelo suicídio,

Vou deixar de escrever
(confesso-o apenas a ti)
porque tudo tenho perdido com as palavras
hoje
(confesso-o apenas a ti)
olhei-me no espelho do meu guarda-fato (que te garanto, nada guarda)
e vi os meu olhos em pedaços de lume
como a lareira de Carvalhais
(lembras-te do Inverno?),

Sorrir para quê?
Se todas as minhas fotografias são tristes
inexpressivas e doentes
até parecem (disseram-me um dia)
cadáveres voando sobre os Oceanos onde mergulhavas em busca de cardumes inexistentes
de peixes
e lobos descendo a Serra
aldeias perdidas em ti
como eu
(disseram-me um dia, que as madrugadas não eram todas iguais)
apelidei-te de PARVALHONA e hoje percebo que errei
(peço-te desculpa)
porque nenhuma madrugada consegue ser decalcada no estirador onde habitas
digamos que (onde ainda consigo ver o teu corpo no esquisso),

Abro a janela
(para quase todos eles, já é noite)
para mim (para mim acorda agora o dia)
começam as brincadeiras dos meninos enquanto mães desassossegadas
habitam como tu no estirador semi-nu das estrelas de plátano adormecido,

(confesso-o apenas a ti, tenho fome)
fome daquela que estávamos habituados a saciar
coisa que conseguíamos resolver com dois ou três livros
alguns beijos
e corações com o marcador encarnado
deixando no teu peito uma rosa
um silêncio
sem queixumes
saudades
ou pieguices...
abro a janela
e deixaste de descer a Serra
como os lobos
(quando ouviam a velha máquina de costura Singer),

Hoje
Que dia é hoje, (se posso apelidar-te de amor)?
Não sabes ou não queres responder...
deixei de perceber se é Sábado
Terça-feira
não o sei porque não o desejo saber
(Vivíamos não percebendo que das marés de Inverno
habitava em nós o tédio
construíam-se-nos alicerces envenenados por doces lábios de incenso
como Primaveras desenhadas num papel esquecido em ti
eu
de esquadro e régua
tu
deitada sobre o estirador do desejo)
porque se o soubesse
perceberia o quanto feliz eu era sem as malditas palavras...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 3 de junho de 2013

Navegantes sorrisos

foto: A&M ART and Photos

Os desencontros dos navegantes sorrisos
da sua boca o desassossego em preguiça
os meus teus lábios voando sobre as calçadas do silêncio
entre medos
degredos
teus luxos segredos
quando um cortinado se esbanja à janela da solidão
e a tempestade avança contra nós e nos tomba no chão,

Os espelhos dos teus seios como coloridas manhãs de Primavera
havíamos plantado árvores de brincar
tínhamos bancos de sentar
como inventada madeira
saltitando nervos dos horóscopos aquários
eu vagabundo
eu imundo... sorrindo cansaços marasmáticos em saliva amanhecer
e oiço a tua sóbria voz no meu peito de xisto,

Tinhas na boca a minha boca em papel cremado
sentia a tua língua em poesia escrevendo versos no meu pescoço...
pegava-te na mão dilacerada e esperava pelas tuas doçuras coxas
inventávamos areia sobre os lençóis de linho
e desciam as estrelas sobre os nossos corpos em delírio
coisas em coisas como tinta numa tela encarcerada dentro da prisão dos húmidos desejos
e havíamos esgotado todos os livros e marés de ninguém
e tínhamos um cubículo de fome só nosso... como flores esquecidas na jarra sobre a mesa-de-cabeceira....

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 23 de maio de 2013

Sonhos que acompanhavam o vendedor de sombras

foto de: A&M ART and Photos

Não sabia como apelidar-te, se de anjo, chuva... ou Primavera enlouquecida, mas sentia-te logo pela manhã, ainda meio acordado, ainda meio sonâmbulo, ainda não sentido a musicalidade dos pássaros que horas mais tarde, e de árvore em arbusto, passeiam-se como se fossem transeuntes embriagados com palavras do motor de arranque do automóvel que me transportará ao meu destino final,
não sabia,
E no entanto, quando ancorava o rabo na cadeira de couro, com pernas elegantes e rodinhas que me transportavam e me faziam transportar, em círculos, em ondas, como atravessando os espaços vazios do compartimento a que baptizaram de “escritório”, eu recordava-me dos teus olhos...
dirão... olhos, quais olhos, de quem são os olhos que neste momento dormem sobre as palavras acabadas de escrever?
E tantos, de tantas cores, uns cansados e usando óculos, outros, menos cansados, e não necessitando de uma bengala para simples leituras a curtas distâncias, e outros, outros da cor do desejo e com sabor a melancolia, a saudade, a tristeza, a... vinham as tempestades, e traziam-me os cordéis que serviam para me acorrentar às árvores em protesto pela sombra prometida, e víamos que de sombra nada ou algo parecido, concluindo que tínhamos sido burlados pelo vendedor de sombras, homem que se fazia passar por honesto, como todos os homens burlões, bem falante, com cultura superior à média, bem apresentado visualmente, e no entanto, abria a pasta de couro, e de um catálogo colorido, mostrava-nos vários tipos de sombras, algumas pareciam lâmpadas de baile de aldeia encurralada na montanha dos apaixonados cus de de um desonesto homem vendedor de lanternas, que além das sombras, nos impingia algibeiras envenenadas contra todas as perdas monetárias, como se de uma vacina se tratasse, comprei uma delas, e logo por azar, perdi trinta euros, paciência, digo-me enquanto folheio mentalmente as imagens das milhares de sombras, que ele, o homem, nos vendia por uma módica quantia de cinco mil euros,
adquiri uma em treze suaves prestações, mas até à data de hoje, sombra nenhuma,
Voltando ao apelidado “escritório” quando carregava no interruptor que supostamente serviria para ligar a lâmpada do pequenos espaço com duas secretárias (em madeira – não das outras), só não acendia lâmpada alguma como ouvia do rés-do-chão o rinchar de uma égua, a princípio não sabia explicar o sucedido, depois, depois de tanto pesquisar, de descer escadas, entrar no curral do animal, carregar no interruptor e a luz apagada, e do primeiro andar a voz da menina Augusta
acendeu a luz do escritório...
O electricista tinha trocados os fios, e o interruptor do escritório servia para acender a luz do curral da égua, e o interruptor do curral da égua, acendia a luz do “escritório”, não sabia como apelidar-te, se de anjo, chuva... ou Primavera enlouquecida, mas sentia-te logo pela manhã, ainda meio acordado, ainda meio sonâmbulo, ainda não sentido a musicalidade dos pássaros que horas mais tarde, e de árvore em arbusto, passeiam-se como se fossem transeuntes embriagados com palavras do motor de arranque do automóvel que me transportará ao meu destino final,
não sabia,
E dos inúmeros olhos que poisaram sobre os meus olhos verdes, foram os teus, foram os teus, aqueles olhos cristalinos como a água transparente da ribeira quando desce a montanha, e sem o perceberes, estás sentada num lago invisível, e nas tuas costas, cisnes, brincam, conversam contigo, iluminados pelos
não
Sonhos que acompanhavam o vendedor de sombras, e agora, não sei, se foste uma sombra, ou se és um sonho, não sei,
acendeu a luz do escritório...
Ou... talvez saiba, luzes, luzes embainhadas em cores como os milagres do burlão vendedor de sombras, que na compra de uma, me ofereceu como bónus... o teu olhar de feiticeira, escondida sempre entre jardins e clarabóias de sótãos com janelas viradas para o rio, o mesmo, que te viu despedir-se do mundo...

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 22 de março de 2013

Flores de Inferno

Quem sou eu, senhor ANORMAL?
À segunda foi de vez, e quando todos esperavam que ele fugisse para não regressar mais, ele desce a montanha, devagar como todos os passos mórbidos de homens cansados, da água vieram as cintilações que abraçavam as candeias de alumínio que se suspendiam na chaminé, e nas cozinhas, as doces âncoras do vento que aprisionavam os esquifes ao pavimento húmido da laje submersa em lágrimas de saudade e flores de inferno, na lareira um cisco de oliveira derretia-se como açúcar embrulhado em alguidares palavras, que só ele, o senhor ANORMAL conseguia distinguir nas horas de desespero,
Quando batiam à porta, escondia-se e fingia-se de invisível,
(Diz-lhes que eu não estou),
Sim?
É para conversarmos com o senhor ANORMAL..., ah..., lamento, mas ele disse-me para lhes dizer que ele não estava hoje, ouvia os risos em fotocópias de livros de poesia, e sentia-os descerem em passos apressados a dura calçada de areia até desaparecerem nas luzes do cemitério,
Sim, eu digo-lhes que o senhor me mandou dizer que hoje não estava em casa, saiu, qualquer coisa relacionada com má disposição, Olha
Sim?
Diz-lhes que eu morri anteontem e que fui a enterrar hoje,
Olhe que eu digo-lhes isso, padrinho,
Diz Diz,
Então quando está, perguntaram-me eles?
Ora... foi a enterrar hoje, talvez daqui a cinco dias, sim, cinco dias,
E eu ia, procurava-te, imaginava-te sentada num banco de granito, circular, serrado em duas simples metades, deixavas o corpo florir, começavas por esta altura, quando regressam os pássaros, as abelhas, e o sol, gostas de Sol?
Não percebo, padrinho, nunca percebi porque se esconde de mim,
E do Céu um arco de silêncio pindericamente mal vestido, como eu, padrinho, entre moinhos e lençóis de água, e porque foges de mim, padrinho?
Gosto de si, padrinho,
E poisava-me a mão sobre os meus débeis joelhos, não falava, nada dizia, e talvez escrevesse dentro dele
Eu também, minha querida, eu também..., mas diz-lhes que eu não estou,
E eu, esperava-o, sentava-me sobre a meia-lua do prazer, pegava num livros, lia qualquer coisa, e fechava-o, e recordava o cisco de oliveira cilindrado dentro de uma lareira de prata numa cozinha de aldeia, cansei-me, cansei-me
De ti,
Uma mala de chapa uivava junto aos meus pés, lá dentro, apenas papeis e livros, e claro, senhor anormal, os livros são constituídos por folhas de papel, logo
Os livros também são papeis,
Então trouxeste de tão longe, uma mala
Sim?
Uma mala de chapa e recheada com papeis,
De ti,
Porquê padrinho? Porque tens medo de mim?
E a meia-lua desesperadamente voava sobre os desvairados plátanos do pensamento, havia lápis de cor e folhas de cartolina, sobre os meus joelhos, a mão dele, sentia-a, como mais tarde senti a mão da solidão no interior do meu púbis, como mais tarde senti nas minhas coxas, sim padrinho
A sua suave voz melódica e poética que Deus criou, como as nuvens e os infernos das flores em putrefacção, corpos de carne misturados em bocas de mar que as árvores tanto invejam, Percebe-me, padrinho?
Não, não consigo imagina-te...
Sentada neste sofá à espera que você regresse?
E se eu não regressar?
Tenho-a, todas na minha mão, tenho-a quando lhes menti e lhes disse que o senhor tinha morrido, não morreu e hoje espero-o, sabe?
Não, minha querida,
Apetecia-me recordar a sua mão sobre os meus débeis joelhos, em marés por viver e traineiras de amar, amá-lo como se amam as flores, amá-lo como se amam os homens e as mulheres, e o sol
Gostas de Sol?
Sim padrinho, adoro o sol.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 21 de março de 2013

O caçador de Grilos

Apetecia-me caçar grilos, acordou a bela Primavera, as palavras são grátis, apetecia-me, correr sobre os carris inanimados, moribundos e doentes, ou
Cansados,
Estás cansado meu querido?
Sim, talvez, sou capaz,
Cansado de caçar grilos onde à partida, nãos os há, emigraram para outra planície, partiram de mochila às costas, ombros em punho, Oiço-a (Ana Drago a falar para o boneco), porque os grilos, fugiram, emigraram, oiço na Antena 3 qualquer coisa relacionado com Filosofia, deve ser o tema da Prova Oral, mas mal oiço a palavra Filosofia
Doente, sabes o que tenho, estou doente,
Vou caçar grilos, tanto me faz que sejam do António, do Zé do Do ZIZIARINHO, interessa-vos o dono do grilo?
E claro que ela tem razão, gosto de a ouvir, mas neste momento estou mais interessado na caça voraz aos grilos dos terrenos baldios, lembro-me
Ainda te lembras, meu querido?
Gri Gri Gri tua casa não é aqui, e eu, parvalhão, de palhinha na mão a masturbar um buraco, outro parvalhão dizia-nos
Se urinarmos para o buraco ele sai, diga-se, diga-se o referido grilo, mas
Não saía, o gajo só não saía como certamente não estava lá, ela tem razão no que diz e eu gosto de a ouvir, e já na altura os grilos eram teimosos, mentirosos, fingidos, e já na altura
Meu meu querido, amas-me?
Claro que sim meu grilinhos, claro que sim,
Perdão?
(ah... o grilo não é do António, ah... o grilo não é do Zé, ah... então o grilo é do ZIZIARINHO?)
Pedimos
Perdão
Pelo sucedido,
Dentro de momentos voltamos à caça dos famosíssimos grilinhos das esparsas ruas com legumes e fruta da época, valeu-nos o regresso do outro, que com a sua voz melódica, todos, mas todos
Os grilos saíram da toca,
Ah,
Depois vinha o meu grande amigos dos Sorrisos, de mãos nos bolsos, olhava-me e em termos visuais quase nulos, dizia-nos
Não podem gritar nem ser agressivos com a palhinha no buraco, assusta-os, e a esta hora
Que tem a hora, pá?
Estão a sonhar,
A sonhar? Mas ouve lá oh risinhos, Os grilos sonham?
Claro que sim, os grilos, os pássaros, as árvores e as couves e os rios
E já agora, as pedras, não?
Claro que sim, também sonham,
Apetecia-me caçar grilos, acordou a bela Primavera, as palavras são grátis, apetecia-me, correr sobre os carris inanimados, moribundos e doentes, ou ouvir-lhe todos os discursos, ou
Pedimos perdão pelo sucedido, o texto segue dentro de momentos,
(ah... o grilo não é do António, ah... o grilo não é do Zé, ah... então o grilo é do ZIZIARINHO?)
Não, não venhas, não, não urines para o buraco
Parvalhões
Gri Gri Gri tua casa não é aqui, e claro que sim, sonham, como nós, e vós, ou
Pedimos perdão pelo sucedido, o texto segue dentro de momentos, os carris seguem dentro de momentos, alguns nunca mais seguirão porque uns parvalhões quaisquer tiraram-os, venderam-os, sucata, palavras malvadas nas algibeiras clandestinas da saudade, porcarias, estradas entre a noite e os queridos apaixonados pelos mais belos poemas de amor
Gostam de Amor?
Simmmmm...
E hoje,
Hoje?
Deixaram de passar comboios onde antigamente havia buracos, nesses buracos viviam grilos, esses grilos cantavam, e de mãos da algibeira regressava o meu grande amigo dos sorrisos, olhava-me, e dizia-me com se estivesse a escrever apaixonados lábios na seara de trigo
E respeitosamente,
Dizia-me
Não podem gritar nem ser agressivos com a palhinha no buraco, assusta-os, e a esta hora
Que tem a hora, pá?
Estão a sonhar,
A sonhar? Mas ouve lá oh risinhos, Os grilos sonham?
Claro que sim, os grilos, os pássaros, as árvores e as couves e os rios
E já agora, as pedras, não?
Claro que sim, também sonham,...

(ficção não revisto)
Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 19 de março de 2013

Dar-te-ei um rio com ripas de madeira

A&M ART and Photos

 
As três árvores do sonho, morreram, deixaram sete sombras e duas teias de aranha, fumavas muito, repreendias-me sobre os malefícios do tabaco, e eu, prometia-te
Brevemente vou deixar,
Hoje, não fumo, e sinto-me envergonhado por nada ter para te prometer, não posso prometer-te o mar porque é impossível levar o mar até ti, não posso prometer-te flores, porque deixei de saber o que são flores, noites de geada, ou noite de lua cheia em plena Primavera, não posso, e não quero
Prometer-te o que não consigo dar-te,
Um rio, por exemplo, poderei eu um dia oferecer-te um rio só para ti, não, evidentemente que não, mas posso oferecer-te os cheiros que vivem no rio, ou
Um banco de jardim, onde te sentarás à minha espera, mesmo tu, sabendo, que nunca irei regressar, porque os mortos não regresso, e eu, lembras-te?
Morri quando caí na asneira de prometer-te o Céu com estrelas, com chuva, e ventos e tempestades, fiz-te promessas que nunca fui capaz de realizar, umas por falta de tempo, a melhor desculpa para todas as situações, outras
Por não ter dinheiro, emprego, vida estável, por preguiça
E deixei-te ficar sentada num banco de jardim, em ripas velhas, em busca das sombras, e duas teias de aranha, fumavas muito, repreendias-me sobre os malefícios do tabaco, e eu, prometia-te
Brevemente vou deixar,
E deixei que esperasses por mim quando devia ter-te dito para partires..., depois veio a bruma, a fina espuma, o silêncio, depois veio o caderno onde escrevíamos palavras, loucas, poucas às vezes, que iluminavam os teus olhos com uma luzinha em cada um, parecias um sol quando acabava de acordar, ainda na parte de esfregar as pálpebras, com os finos dedinhos que a lua emprestava, depois vinha o sono, o cair da tua cabeça sobre o meu ombro...
Brevemente vou deixar,
De sentar-me em bancos de jardim, principalmente aqueles em ripas de madeira, porque me fazem recordar os teus olhos, as flores, que confesso, não sei o que são, nunca soube, e prefiro não o saber, como tantas e tantas coisas que
Não sei
Não quero saber
Não me apetece,
Não sei, mas talvez um dia, quem sabe, me venha a sentar num banco de jardim com ripas de madeira, e talvez um dia, quem sabe, me ensinem o que são flores, noites estreladas, omeletes recheadas com pólen, talvez um dia, me ensinem, que o amor, às vezes, tal como o sono
Aparece sem darmos conta, outras, é difícil adormecer, mas o pior, é o silêncio quando nos sentamos num banco de jardim com ripas de madeira, espero-o, e ele não regressa, e eu, sentada, acreditando que tal como o sono
Ele vem, vai regressar a qualquer momento, acredito, e enquanto sentada, imagino-o a caminha em direcção a mim, vagarosamente, como sempre, debaixo do braço, um livro, nos lábios um cigarro, imagino-o, vejo-o, depois, sentar-se-á junto a mim, dar-me-á um beijo, e nervosamente me dirá
Desculpa, meu anjo, o transito estava infernal; Já leste o novo de José Saramago “A Estátua e a Pedra”? Trouxe-o para ti..., E penso sempre nele quando me sento num banco de jardim com ripas de madeira, e ele me diz
Meu anjo
Não sei, mas talvez um dia, quem sabe, me venha a sentar num banco de jardim com ripas de madeira, e talvez um dia, quem sabe, me ensinem o que são flores, noites estreladas, omeletes recheadas com pólen, talvez um dia, me ensinem, que o amor, às vezes, tal como o sono, e talvez um dia, meu anjo, talvez um dia te apaixones por mim, como a Primavera se apaixona pelas flores, que confesso-te
Não sei e nunca soube o que são,
O que são flores, meu anjo?

(ficção não revisto)
Francisco Luís Fontinha



sábado, 13 de outubro de 2012

Cansados às vezes esquecidos


O mar a enrolar sorrisos
nas mortalhas dos lábios adormecidos
cansados,

às vezes
esquecidos,

e nos silêncios perdidos
caminha a noite sem destino
porque nas mãos de um menino
vive e cresce a madrugada,

cansadas
às vezes,

as equações diferenciais
suspensas no desejo das matrizes compostas
que o dia constrói
e a tarde alimenta,

o mar
e os cigarros em migalhas
antes de fumados,

o mar a enrolar sorrisos
nas mortalhas dos lábios adormecidos
cansados,

cansados
às vezes,
às vezes cansadas,

as vozes dormentes da Primavera.

(poema não revisto)

segunda-feira, 11 de junho de 2012

submersa no pólen inventado da tarde

A eterna abelha do desejo
submersa no pólen inventado da tarde
das mãos de uma criança
uma flor de saudade
um poema amado

poema desajeitado
horrores da madrugada
a eterna abelha FROUXA
drogada
sobre a mesa do pequeno-almoço

e o desejo?
Se do clitóris enciclopédico da primavera
um simples olhar de mar
faz voar a gaivota do amor

e o desejo?

FROUXA
FROUXA sobre o rio do prazer.

sábado, 5 de maio de 2012

Tecto da insónia

Deixei de perceber
as manhãs de primavera
deixei de olhar as plantas
e os pássaros de meu jardim,

deixei de escrever
palavras nas paredes do meu quarto,
cerrei a janela,
a porta,

e destruí a lâmpada de halogéneo
suspensa no tecto da insónia.

segunda-feira, 26 de março de 2012

Aqui tão perto

(aos poucos amigos que na obscuridade tudo fazem para que eu não passe fome; Obrigado)

Aqui tão perto
E tudo parecia tão longe
Aqui tão perto
Quando todos os vidros das janelas do inverno
Adormeceram

Aqui tão perto
Quando cresce o néon da primavera
E todas as flores
Tão belas
Tão… especiais
Aqui tão perto
E tudo parecia tão longe
Inatingível e desumano e horrível

Aqui tão perto
E tudo parecia tão longe

A primavera.

sexta-feira, 23 de março de 2012