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As três árvores do sonho, morreram, deixaram sete
sombras e duas teias de aranha, fumavas muito, repreendias-me sobre
os malefícios do tabaco, e eu, prometia-te
Brevemente vou deixar,
Hoje, não fumo, e sinto-me envergonhado por nada
ter para te prometer, não posso prometer-te o mar porque é
impossível levar o mar até ti, não posso prometer-te flores,
porque deixei de saber o que são flores, noites de geada, ou noite
de lua cheia em plena Primavera, não posso, e não quero
Prometer-te o que não consigo dar-te,
Um rio, por exemplo, poderei eu um dia oferecer-te
um rio só para ti, não, evidentemente que não, mas posso
oferecer-te os cheiros que vivem no rio, ou
Um banco de jardim, onde te sentarás à minha
espera, mesmo tu, sabendo, que nunca irei regressar, porque os mortos
não regresso, e eu, lembras-te?
Morri quando caí na asneira de prometer-te o Céu
com estrelas, com chuva, e ventos e tempestades, fiz-te promessas que
nunca fui capaz de realizar, umas por falta de tempo, a melhor
desculpa para todas as situações, outras
Por não ter dinheiro, emprego, vida estável, por
preguiça
E deixei-te ficar sentada num banco de jardim, em
ripas velhas, em busca das sombras, e duas teias de aranha, fumavas
muito, repreendias-me sobre os malefícios do tabaco, e eu,
prometia-te
Brevemente vou deixar,
E deixei que esperasses por mim quando devia ter-te
dito para partires..., depois veio a bruma, a fina espuma, o
silêncio, depois veio o caderno onde escrevíamos palavras, loucas,
poucas às vezes, que iluminavam os teus olhos com uma luzinha em
cada um, parecias um sol quando acabava de acordar, ainda na parte de
esfregar as pálpebras, com os finos dedinhos que a lua emprestava,
depois vinha o sono, o cair da tua cabeça sobre o meu ombro...
Brevemente vou deixar,
De sentar-me em bancos de jardim, principalmente
aqueles em ripas de madeira, porque me fazem recordar os teus olhos,
as flores, que confesso, não sei o que são, nunca soube, e prefiro
não o saber, como tantas e tantas coisas que
Não sei
Não quero saber
Não me apetece,
Não sei, mas talvez um dia, quem sabe, me venha a
sentar num banco de jardim com ripas de madeira, e talvez um dia,
quem sabe, me ensinem o que são flores, noites estreladas, omeletes
recheadas com pólen, talvez um dia, me ensinem, que o amor, às
vezes, tal como o sono
Aparece sem darmos conta, outras, é difícil
adormecer, mas o pior, é o silêncio quando nos sentamos num banco
de jardim com ripas de madeira, espero-o, e ele não regressa, e eu,
sentada, acreditando que tal como o sono
Ele vem, vai regressar a qualquer momento, acredito,
e enquanto sentada, imagino-o a caminha em direcção a mim,
vagarosamente, como sempre, debaixo do braço, um livro, nos lábios
um cigarro, imagino-o, vejo-o, depois, sentar-se-á junto a mim,
dar-me-á um beijo, e nervosamente me dirá
Desculpa, meu anjo, o transito estava infernal; Já
leste o novo de José Saramago “A Estátua e a Pedra”? Trouxe-o
para ti..., E penso sempre nele quando me sento num banco de jardim
com ripas de madeira, e ele me diz
Meu anjo
Não sei, mas talvez um dia, quem sabe, me venha a
sentar num banco de jardim com ripas de madeira, e talvez um dia,
quem sabe, me ensinem o que são flores, noites estreladas, omeletes
recheadas com pólen, talvez um dia, me ensinem, que o amor, às
vezes, tal como o sono, e talvez um dia, meu anjo, talvez um dia te
apaixones por mim, como a Primavera se apaixona pelas flores, que
confesso-te
Não sei e nunca soube o que são,
O que são flores, meu anjo?
(ficção não revisto)
Francisco Luís Fontinha
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