foto: A&M ART and Photos
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Vivíamos não percebendo que das marés
de Inverno
habitava em nós o tédio
construíam-se-nos alicerces
envenenados por doces lábios de incenso
como Primaveras desenhadas num papel
esquecido em ti
eu
de esquadro e régua
tu
deitada sobre o estirador do desejo
delineava-te em curvas com sombras de
trapézios
e dos poucos ângulos que sobejavam em
ti
davam para alimentar-me quando chovia
nos lençóis da espuma infância
e sorrias como os milímetros de noite
inertes entre pilares de granito e luzes ancoradas pelo suicídio,
Vou deixar de escrever
(confesso-o apenas a ti)
porque tudo tenho perdido com as
palavras
hoje
(confesso-o apenas a ti)
olhei-me no espelho do meu guarda-fato
(que te garanto, nada guarda)
e vi os meu olhos em pedaços de lume
como a lareira de Carvalhais
(lembras-te do Inverno?),
Sorrir para quê?
Se todas as minhas fotografias são
tristes
inexpressivas e doentes
até parecem (disseram-me um dia)
cadáveres voando sobre os Oceanos onde
mergulhavas em busca de cardumes inexistentes
de peixes
e lobos descendo a Serra
aldeias perdidas em ti
como eu
(disseram-me um dia, que as madrugadas
não eram todas iguais)
apelidei-te de PARVALHONA e hoje
percebo que errei
(peço-te desculpa)
porque nenhuma madrugada consegue ser
decalcada no estirador onde habitas
digamos que (onde ainda consigo ver o
teu corpo no esquisso),
Abro a janela
(para quase todos eles, já é noite)
para mim (para mim acorda agora o dia)
começam as brincadeiras dos meninos
enquanto mães desassossegadas
habitam como tu no estirador semi-nu
das estrelas de plátano adormecido,
(confesso-o apenas a ti, tenho fome)
fome daquela que estávamos habituados
a saciar
coisa que conseguíamos resolver com
dois ou três livros
alguns beijos
e corações com o marcador encarnado
deixando no teu peito uma rosa
um silêncio
sem queixumes
saudades
ou pieguices...
abro a janela
e deixaste de descer a Serra
como os lobos
(quando ouviam a velha máquina de
costura Singer),
Hoje
Que dia é hoje, (se posso apelidar-te
de amor)?
Não sabes ou não queres responder...
deixei de perceber se é Sábado
Terça-feira
não o sei porque não o desejo saber
(Vivíamos não percebendo que das
marés de Inverno
habitava em nós o tédio
construíam-se-nos alicerces
envenenados por doces lábios de incenso
como Primaveras desenhadas num papel
esquecido em ti
eu
de esquadro e régua
tu
deitada sobre o estirador do desejo)
porque se o soubesse
perceberia o quanto feliz eu era sem as
malditas palavras...
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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