Quando a saudade habita
na montanha do mar,
E o amar,
Desce pela escadaria do
vento,
Esconde-se numa mão
invisível,
Cresce,
Se liberta e,
Morre na maré da insónia.
Se eu pegar nesse cabelo,
Se eu abraçar a sua boca,
O poema se escreve,
Dança,
E se deita na calçada.
Serão todas as palavras
que te escrevo
Pedacinhos do poema
Em formato de beijo?
Pergunto-me enquanto olho
o vento
Embrulhado nos seus
entrelaçados degraus,
Alvenaria de incenso,
Betão que dorme na tua
mão;
Oiço.
Habito em ti
Como se fosse uma criança
desenhada no sono da escuridão,
Um panfleto de sono
Suspenso nas paredes da
madrugada.
Chamo pelo silêncio,
Pego docemente na
esferográfica da alegria e,
Escrevo.
Escrevo-te
Todas as palavras da
laranja.
Sei que lá fora uma
página obscura
De um livro obeso
Se suicida na tarde junto
ao mar;
Amar.
Canso-me das ruelas desta
cidade
Prateada,
Pincelada de cigarros e,
Marmelada.
O orvalho;
Palavras, sílabas,
páginas doentes…
Deste livro sem nome.
Amanhã,
(Quando a saudade habitar
na montanha do mar,
E o amar,
Descer pela escadaria do
vento,
Esconder-se-á numa mão
invisível,
Crescerá,
Se libertará e,
Morrerá na maré da
insónia).
Todos somos esqueletos de
vento
Na sombra do silêncio.
vi.
vivi.
Ontem, era uma pedra.
Hoje,
Algures,
Sou um pedaço de rosa,
Deitada sobre a
mesa-de-cabeceira da insónia.
Francisco Luís Fontinha
Alijó, 24/08/2021