sábado, 25 de outubro de 2014

Vaguear na geometria de amar


Vagueias entre os lábios das andorinhas de papel
és uma planície desgovernada
que espera ser semeada...
com palavras
e beijos de pólen
vagueias nos disfarces da madrugada
ténue luz
janela encerrada,

Vagueias... com arte
vagueias na geometria complexa do meu olhar
esperamos o regressar da vertigem
há em ti o silêncio e a viagem
de vaguear sem destino
vagueias na metamorfose dos ossos de cristal
entre os barcos cansados de caminhar...
… e os homens embebidos nos poemas de chorar,

Vagueias no sexo inventado dos amores risíveis
trazes no peito a claridade da insónia
misturamos os dedos nas mãos que vagueiam as montanhas de sémen...
vagueias por vaguear
e sonhas com círculos suspensos no Céu
… e os homens embebidos nos poemas de chorar
que o poeta deixou na clareira amortalhada
que o poeta cessou depois da tua partida,

Vagueias miúda no cigarro incandescente
corres, corres... corres sem perceber que há no amanhecer fotografias tuas
calendários moribundos...
e relógios com mecanismos envenenados
vagueias nos alicerces da solidão
deitas a cabeça no meu peito
e em tristes suspiros...
finges que me amas... quando é impossível amarem este poeta de luz...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 25 de Outubro de 2014

"O Futuro Está Já ali" - Colectânea - vários Autores



Com a participação de Francisco Luís Fontinha - Alijó

Espelhos nocturnos...


O esboço atrapalhado das palavras incendiadas pelo teu coração,
a ilha afundada no centro geométrico do Oceano da escuridão,
os tímidos beijos engasgados na neblina falsa quando a manhã se masturba no teu olhar,
a confusão dos lábios quando há mãos fugitivas que acariciam o teu peito de anelar amanhecer,
fingir que...
… que existem flores no teu cabelo,
às horas adormecidas num triste calendário suspenso na parede da solidão...
e fogem,
e saltitam...
todas as madrugadas de desassossego,
o meu corpo se esquece de caminhar,
e arde,
o esboço na algibeira do cansaço,
o parvo pedreiro construindo muros invisíveis com sabor a paixão...
dos homens, dos silêncios embalsamados que transportam poemas,
poemas envenenados pelas tuas coxas de marfim prateado,
o esboço amor numa límpida árvore em pleno voo...
ao longe o mar..., só,
ao longe os azimutes do sexo alimentando espelhos nocturnos...
… que nem a própria noite aquece,
que nem os teus seios desejam,
perco-me na tua jangada de suor quando a tua pele de papel se deleita...
e uma estrada sem saída, e um carrossel de madeira em pequenas fatias de morte,
gritam eles...
“não temos sorte”,
e há uma casa que nos espera, e há uma casa vazia com pobres janelas...
não durmo, não leio o que escrevo,
por medo, por medo, por medo... dos espelhos nocturnos.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 25 de Outubro de 2014

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Lágrimas de marfim


Onde habitas, meu amor das intempéries...!
regressadas visitas,
o adeus...
onde habitas, meu amor das nuvens encarnadas,
quando das tuas mãos rompem madrugadas,
e a melancolia...
nos abraços do dia,
onde habitas, coração incendiado,
sem sorrisos, e no desejo... inventas o cansaço,
e no desejo... os teus lábios de púrpura insónia,
não tenho memória, nem estória...
nas minhas tristes palavras,
onde habitas, meu amor das intempéries...
de vidro, de lata... de chocolate,
no olhar uma jangada,
e nos seios a janela com vista para o mar,
os rochedos dos teus sonhos,
onde habitas, meu amor de prata,
navio, caravela... sombra nocturna da cidade interrompida,
de vidro, de lata... disfarçada de aço laminado,
assassinas-me nos livros que nunca vou escrever,
amar, amar a montanha esquecida,
amar o amanhecer...
como se ama um cigarro a arder...
e no entanto, não me canso de te procurar,
endereço desconhecido,
País inabitado... há um planeta em polpa de tomate,
um desenho,
uma ribeira recheada de gente...
um café colorido de amargura,
e no fundo da chávena... as lágrimas de marfim...
a tristeza dos quatro ventos enamorados,
a vodka embriagada nas mãos de um Cacilheiro,
onde habitas, meu amor embrulhada em prismas de luz,
como um velho tecido estampado...
na inquietante avenida onde dormem os homens desgraçados.



Francisco Luís Fontinha
Sexta-feira, 24 de Outubro de 2014

quinta-feira, 23 de outubro de 2014

Os teus lábios


Os teus lábios são poesia
que os meus frágeis dedos acariciam...
são uma ilha
sem nome
deserta
com cabanas de luz,
os teus lábios são geometria
geometria cansada
riscos
traços longitudinais
… e verticais
que não beijam mais,

Os teus lábios não pensam
sofrem
ou não sofrem...
os teus lábios que mastigam as minhas palavras
quando uma caravela desaparece no teu olhar
e sorri... lá longe...
os teus lábios que se perdem nas escadas do amanhecer
os teus lábios que brincam no silêncio e não sabem escrever
… os teus lábios
madrugadas em papel
que o meu peito absorve
que o meu peito... transforma em cinza,

E voam
voam como insónias prisioneiras de um Oceano de estrelas
e voam
os teus lábios acabrunhados nos lânguidos lençóis de seda...
como pássaros sem penugem...
como espingardas sem balas,
os teus lábios que matam
matam palavras...
matam... matam cidades inteiras
os teus lábios são telegramas fantasma
sem endereço
sem medo da noite...



Francisco Luís Fontinha
Quinta-feira, 23 de Outubro de 2014

quarta-feira, 22 de outubro de 2014

As palavras de amar


Vão morrendo as palavras de amar
quando desperta no amanhecer
o quadrado silêncio mergulhado no círculo lunar,

Faço-me à vida,
caminho sonâmbulo sobre a fogueira dos meus poemas
até que eles se transformem em nada,
olho-me no espelho da agonia, sinto na garganta a tempestade da paixão,
carrego nos ombros o peso do meu próprio caixão,
em vidro, e com fotografia a preto e branco para o mar,
saboreio o teu corpo nas pálpebras verdes dos livros não lidos,
perco-me em ti... sem saber se amo, sem saber se estou vivo nesta campânula de lágrimas,
e o desassossego inventa-me como se eu fosse um papagaio de papel,
de muitas cores,
como muitas cartas de amor
no tempo destruídas pelas suicidas lâminas da geometria,

Tenho saudades de ti...
minha Lisboa, meu amado Tejo... meu amante Cais do Sodré,
percebia nas paredes húmidas da noite um corpo em translação,
uma puta que procurava um ombro de gesso,
um gajo embriagado que cuspia finos fios de fogo...
e terminava quando a cidade acordava,
eu amava, eu não amava...
eu sentia nas amoreiras flores o beijo de ninguém,
o pavimento paralelepípedo da tristeza começava a transpirar,
ouviam-se os gemidos delas, ouviam-se os gemidos deles...
e ao longe,
um apito encurralado entre carris de aço em direcção a Belém,

(Vão morrendo as palavras de amar
quando desperta no amanhecer
o quadrado silêncio mergulhado no círculo lunar),

Esquecia as mãos na algibeira,
iluminava-me na fragrância madrugada quando um banco de jardim corria para o rio,
misturava-se com um velho Cacilheiro, às vezes... tossindo, às vezes... às vezes coxeando...
como um mendigo prisioneiro de um vão de escada,
como um marinheiro em busca de sexo, drogas... e um par de asas...
nunca voei,
e havia noites que sobrevoava a minha amada Lisboa,
como um louco,
como um prego de aço no barbear da manhã...
disfarçava-me de ponte metálica...
e desenhava sorrisos nos vidros pintados de negro embalsamado,
até morrerem todas as palavras de amar...!


Francisco Luís Fontinha
Quarta-feira, 22 de Outubro de 2014

terça-feira, 21 de outubro de 2014

Sem regresso


Do término dia entra em mim o morro da paixão,
ele, vestido de negro, começa a voar sobre os socalcos imaginados por uma louca,
desiste,
e deita-se...
descem as cinzas do sofrimento que dizimam toda a claridade reflectida no espelho da insónia,
aparece o sonho disfarçado de lâmina de xisto,
ouvem-se das encostas húmidas da pele o silêncio emagrecido de uma gaivota,
desiste, e deita-se,
como um corvo sobre a sua presa apodrecida,
há navios esquecidos nos meus lábios,
e do término dia...
nada, só o sangue triste de uma viagem sem regresso,
há um mapa que não me ajuda a regressar,
um clandestino beijo enforcado nas sílabas da noite,
e do término dia...
o amor,
em forma de carrasco,
uma carta escrita na algibeira,
um cigarro inseminado numa qualquer rua de uma cidade sem nome,
e um qualquer húmus redopia junto ao rio,
tenho fome, tenho medo deste amor sem marinheiros,
tenho medo das palavras invisíveis que aportam nos teus seios...
sento-me e finjo caminhar sobre uma fogueira habitada por gajas nuas...
… e nuas flores com um lencinho ao peito,
há espingardas suspensas na bandoleira da manhã,
peço um café,
e adormeço no sisal Outono,
e deixei de perceber o mar,
os rochedos enamorados que desenham no meu peito a solidão,
e esta casa funde-se como se fundem todos os metais...
quando o alicerce do abismo encerra nele o livro proibido,
não tenho janelas no meu olhar,
sinto-te entranhada nos confins de uma ilha inabitada,
sem uma cabana, sem um cão para conversar...
e adormeço no sisal Outono,
e deixei de perceber o mar,
do término dia entra em mim o morro da paixão,
ele, vestido de negro, começa a voar sobre os socalcos imaginados por uma louca,
desiste,
e deita-se...
até que o tempo se transforma em estátua e todas as lâmpadas se apagam,
o meu corpo evapora-se numa amoreira...
e tu perceberás que sou filho da noite,
e tu perceberás que sou a própria noite... só.



Francisco Luís Fontinha
Terça-feira, 21 de Outubro de 2014

segunda-feira, 20 de outubro de 2014

Tempestades de luar


O medo ejacular das tempestades de luar,
há nesse cansaço de amar uma velha equação,
um caderno quadriculado que alguém esqueceu no amanhecer,
há no teu sémen a estátua das palavras por escrever,
que se afogam no coração...
que não sentem a noite crescer, e há no teu olhar,
o finíssimo papel de acreditar... não havendo nuvens de brincar,
o medo afaga os teus inexistentes cabelos de arame farpado,
como uma jangada apodrecida num velho telhado,
e sem o saberes... vives esquecendo,
não viver, não vivendo...
a madrugada de sorrir,

Sonhas como sonham os homens de esqueleto em veludo,
não dormes,
não comes...
sonhas com planícies recheadas de crianças,
inventas baloiços na sombra das árvores...
e escondes dentro de ti... as lembranças,

Sabes que vais partir,

O medo ejacular das tempestades de luar,
a fogueira da paixão imune aos silêncios de prata,
o navio que te transporta... aportado num bairro em lata,
achatado,
mal iluminado,
tão triste como os teus braços de amendoeira doente...
poisam em ti as abelhas sílabas dos infernos ilimitados,
gritas,
e gritas... gritas através dos vidros laminados,
gritas...
“coitados”...
acorrentados à voz que lhes mente.



Francisco Luís Fontinha
Segunda-feira, 20 de Outubro de 2014

domingo, 19 de outubro de 2014

Balas de prata...


Há uma bala disfarçada de palavra
alojada no meu peito,
há uma jangada de geada voando sobre os teus seios,
Há um muro impossível de galgar,
Há no teu olhar a tristeza dos montes inanimados,
palavras,
balas de prata...
cachimbos despedaçados descendo a montanha,
Há uma bala amiga que me alimenta e adormece,
há uma cama clandestina prisioneira nas sanzalas com miúdos brincando,
cachimbos, e balas de prata...
me dizendo...
que há um jardim desenhado nas amoreiras da manhã,
enquanto eu fumando... me esqueço das teus lábios me beijando!


Francisco Luís Fontinha
Domingo, 19 de Outubro de 2014

Invisível luar


Os quatro círculos de luz que envenenam o teu olhar
na geometria apátrida dos teus lábios,
a brancura da montanha sem coração...

O teu corpo em chamas funde-se nos silêncios cansados da tarde,
tens nas mãos os trémulos compassos do sofrimento,
gemes,
e inventas imagens no invisível luar,

Há um pássaro vestido de papel que te incendeia,
tu, tu ignoras os horários marinhos,
tu, tu ignoras os calendários sem quadrados nas semanas que alguém constrói só para ti...
finges estar sentado no cadeirão de sombras como se fosses uma pedra sem lei,
tens na boca a amargura da dor,
e do teu corpo em chamas...
a madrugada que nunca mais cresce,
e desaparece como uma tempestade de néones sobre a cidade...

Os quatro círculos de luz... um dia extinguir-se-ão como os vidros da tua alma,
um caixote de iões envolverá os teus cabelos,
e a brancura da montanha sem coração... será o abismo das palavras prometidas...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 19 de Outubro de 2014

sábado, 18 de outubro de 2014

As sombras do teu olhar


Esqueces-me como se eu fosse um papiro em combustão,
um corpo suspenso na fogueira da madrugada,
sinto-te dentro de mim,
afogada nas minhas lágrimas,
alicerças-te aos meus braços de madeira prensada,
és o espinho volátil do derradeiro amanhecer,
a válvula incandescente dos meus sonhos...
na esplanada da solidão,

Esqueces-me desde a noite preenchida com quadriculadas manhãs invisíveis,
dizias-me que nunca terminaria a luz dos olhos verdes,
e eles, morreram, morreram como morrem as andorinhas,
como morrem as árvores sonâmbulas dos cinzentos planetas,

Hoje sei que sou um cansado verme de pano,
uma caneta de tinta permanente que derrama sangue em vez de palavras...

Os cinzeiros do adeus mergulhados nas planícies coloridas de amar,

Esqueces-me como se eu pertencesse aos cadernos negros,
aqueles onde escrevia poemas parvos,
textos esmiuçados com sabor a Primavera,
sinto-te dentro de mim,
e não consigo assassinar-te,
viverás como uma prisioneira...
e eu, e eu que constantemente me esforço para te libertar...
e gritar,

Só, só me alimento das triste sombras do teu olhar!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 18 de Outubro de 2014

Morte inventada


A morte inventada pela dimensão do infinito,
a equação do desespero cansa-se dos meus braços,
alicerça-se na geada cinzenta dos hospícios sem janelas,
a morte cintila no tecto da solidão...
e o rio me come,
e o rio me leva... e não voltarei aos fios de nylon da cidade,
o livro de ti, arde,
e das lâmpadas do abismo... filamentos de sangue em construção,
o navio solitário escreve-se e silencia-se na montanha de uma fotografia,
há no teu olhar a neblina do pastor sem solução,
há nos teus lábios os secretos sonhos do perdão...
e não conseguirei alcançar as tuas pálpebras de anelar sombra com odor a cansaço...
morrerei como um pássaro,
a morte não sabe...
que os suspiros da hipnose madeira fantasma... flutua nas plumas de uma bailarina,
partirei,
partirei como um veleiro sem velas,
disfarçado de homem...
com uma gaivota no meu coração.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 18 de Outubro de 2014

sexta-feira, 17 de outubro de 2014

Enigma dos oceanos de cartão


O triste enigma dos oceanos de cartão,
o vulcão da saudade mergulhado numa áspera lâmina de solidão,
espera-se o regresso, e o viajante sem destino... nos aplausos do silêncio,
há um circo de esperança rodopiando sob o tecto de lona da insónia,
pergunto-me porque choram as árvores de papel,
percebermos que há no seu coração uma enxada de silício,
uma roda dentada em putrefacção, perdidamente... percebermos a sinfonia dos horários obscuros,
há um Deus com esqueleto de xisto...
e de socalco em socalco,
desassossegado... suspensas as mãos em corpos de espuma, grita comigo,
absorve-me como se eu fosse um travestido cansaço com dentes de marfim,
no telhado de uma camponesa com saliva nas pálpebras,
sei que há na cidade dos pequenos charcos de doirado sangue,
uma menina com duas rectas paralelas procurando o infinito,
e sinto,
o pulsar das laranjas rochedos abaixo,
alguém escreve nos meus braços os rancores de uma tarde inexistente,
uma carta secreta com desenhos abstractos... ainda permanece na minha algibeira,
existe nela um estranho perfume com odor a dor,
o viajante desalojado carrega os livros do sofrimento,
entra num bar, senta-se... senta-se à minha frente e dou-me conta que ele é apenas um espelho fusco, negro... alguém escolhido pelo comandante do navio das indolores pinturas.... diz que me ama,
não amo, não quero amar... e não desejo que me amem,
preciso de fugir desta sanzala com olhos de incenso,
deitar-me dentro do vulcão da saudade, sentindo nas minhas veias o palpitar dos azulejos pintados à mão,
tenho medo de ti quando entras no meu quarto e me perguntas pelos malmequeres,
e não tenho coragem de dizer-te que os perdi, destruí-os pensando que eram soníferos indefesos,
pensando que eram apenas sombras de água...
como tens passado, enigma dos oceanos de cartão?



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 17 de Outubro de 2014

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Canção suicida


Há na madrugada uma canção suicida,
alimenta-se de palavras,
respira insónia e transpira solidão...
há no teu olhar uma triste noite de viver,
que te embriaga como se fosses um marinheiro cansado de aportar,
como se fosses um esqueleto de morrer...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 17 de Outubro de 2014

quarta-feira, 15 de outubro de 2014

A chuva vestida de branco


Odeio as poças de água
odeio os nenúfares e os sombreados vultos da noite
odeio a poesia
as palavras
e a felicidade...
ah... odeio a chuva vestida de branco,

odeio os acenos
e os enganos,

odeio...

odeio as sanzalas com telhados de vidro
as cidades sem transeuntes
nus
descalços
odeio as calçadas
e os cansaços,

odeio as pontes
e os beijos
odeio o silêncio e os cigarros de matar...

odeio... odeio o mar,

odeio as poças de água
odeio os nenúfares e os sombreados vultos da noite
odeio a poesia
e as espingardas de brincar
odeio... odeio a solidão e as lareiras invisíveis
odeio as cabanas inseminadas nos seios da montanha,

tudo odeio...
até que das nuvens inventadas pela madrugada
desçam a mim os sorrisos do milagre!



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 15 de Outubro de 2014

terça-feira, 14 de outubro de 2014

As palavras de matar


São estes os teus medos,
são estas as tuas lágrimas envenenadas pelo silêncio,
são eles que te protegem,
são eles que te enforcam na madrugada,
oiço o sussurrar da alvorada,
são estes os teus desejos impossíveis de realizar,
são estas as pálpebras do teu olhar,
são as tuas veias o cansaço de amar,
viver...
e sonhar,
são estas as palavras de matar,
vejo o ressuscitar de um cigarro laminado pelo fogo...
e há uma cabana com versos de enganar,
e há um rio com vontade de partir...
zarpar,
são elas as rodas dentadas do sofrer,
que te movimentam,
são elas,
são eles os lânguidos amanheceres que te enfrentam...
e baixinho,
te dizem... são horas de adormecer.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 14 de Outubro de 2014

segunda-feira, 13 de outubro de 2014

O flamejante sorriso do abismo


Porque dormem no meu olhar
os traços coloridos de silêncio?

Porque existe um veleiro desgovernado
no Oceano meu sofrimento,
se o vento,
se o vento deixou de correr junto às palmeiras...

Porque vagueiam na minha mão
as palavras nocturnas da dor,
quando o livro poisado na minha mesa-de-cabeceira...
ardeu,
morreu,
e hoje é apenas cinza como os traços coloridos de silêncio...

Porque dormem no meu olhar
os traços coloridos de silêncio?

Se nas tuas pálpebras crescem andorinhas sem asas!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 13 de Outubro de 2014

sábado, 11 de outubro de 2014

A arte de matar


Estas telas assassinas
suspensas nas pálpebras nocturnas do sofrimento
um grito que voa sobre os telhados de vidro
uma voz rouca
alicerçada às cores incendiadas do teu olhar
um corpo que range
e sofre...
e espera desesperadamente...
que regresse a “arte de matar”
sem fôlego
rompes a geada do amanhecer
sobes as escadas íngremes do silêncio,

E cais... e cais sobre a calçada do Adeus!

Cinco pedras de xisto
poisam na tua algibeira de sonífero falsificado
acordas
e o cansaço saltita nos teus ombros
como uma corda de nylon que aprisiona o navio da dor
sem marinheiros, sem mulheres vestidas de paisagem,

Estas telas assassinas
que na tua mão circulam desejando enfrentar o medo
as palavras que tens nas paredes do teu quarto...
de nada te servem
são palavras
são versos
são telas assassinas
que a “arte de matar” inventou...
das tuas janelas vêem-se os malmequeres adormecidos
como cadeiras de vime esquecidas no jardim da solidão
um lago cumprimenta-te... e tu, e tu, e tu ficas feliz
como se fosses um pássaro com asas de papel doirado...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 11 de Outubro de 2014

sexta-feira, 10 de outubro de 2014

A cidade do engano


Este sismo que avassala o teu corpo,
esta espera... infinita,
esta cidade recheada de cansaços
e sombras prateadas,
esta tempestade sem nome
que atravessa as tuas mãos
e desagua no rio das lágrimas
como um pedaço de silêncio em tuas mágoas,

Este sismo travestido
que dorme nos teus cabelos...

Este sismo que avassala o teu corpo
e te engole como uma pedra mortífera,
finges que não,
finges... finges como o poeta,
dizes-me que está tudo bem,
e à tua volta,
uma cidade em revolta
uma cidade que me engana...

E te mata com espingardas de tristeza!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 10 de Outubro de 2014

quinta-feira, 9 de outubro de 2014

Poema sem coração


A água com que te embrulhas
pertence ao silêncio,
os meus braços que rejeitas
pertencem aos rochedos amorfos,
a noite... a ninguém pertence...
a noite é uma equação sem solução,
como a água com que te embrulhas,
a noite é um poema sem coração.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 9 de Outubro de 2014