Vão morrendo as
palavras de amar
quando desperta no
amanhecer
o quadrado silêncio
mergulhado no círculo lunar,
Faço-me à vida,
caminho sonâmbulo
sobre a fogueira dos meus poemas
até que eles se
transformem em nada,
olho-me no espelho
da agonia, sinto na garganta a tempestade da paixão,
carrego nos ombros o
peso do meu próprio caixão,
em vidro, e com
fotografia a preto e branco para o mar,
saboreio o teu corpo
nas pálpebras verdes dos livros não lidos,
perco-me em ti...
sem saber se amo, sem saber se estou vivo nesta campânula de
lágrimas,
e o desassossego
inventa-me como se eu fosse um papagaio de papel,
de muitas cores,
como muitas cartas
de amor
no tempo destruídas
pelas suicidas lâminas da geometria,
Tenho saudades de
ti...
minha Lisboa, meu
amado Tejo... meu amante Cais do Sodré,
percebia nas paredes
húmidas da noite um corpo em translação,
uma puta que
procurava um ombro de gesso,
um gajo embriagado
que cuspia finos fios de fogo...
e terminava quando a
cidade acordava,
eu amava, eu não
amava...
eu sentia nas
amoreiras flores o beijo de ninguém,
o pavimento
paralelepípedo da tristeza começava a transpirar,
ouviam-se os gemidos
delas, ouviam-se os gemidos deles...
e ao longe,
um apito encurralado
entre carris de aço em direcção a Belém,
(Vão morrendo as
palavras de amar
quando desperta no
amanhecer
o quadrado silêncio
mergulhado no círculo lunar),
Esquecia as mãos na
algibeira,
iluminava-me na
fragrância madrugada quando um banco de jardim corria para o rio,
misturava-se com um
velho Cacilheiro, às vezes... tossindo, às vezes... às vezes
coxeando...
como um mendigo
prisioneiro de um vão de escada,
como um marinheiro
em busca de sexo, drogas... e um par de asas...
nunca voei,
e havia noites que
sobrevoava a minha amada Lisboa,
como um louco,
como um prego de aço
no barbear da manhã...
disfarçava-me de
ponte metálica...
e desenhava sorrisos
nos vidros pintados de negro embalsamado,
até morrerem todas
as palavras de amar...!
Francisco Luís
Fontinha
Quarta-feira, 22 de
Outubro de 2014
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