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sábado, 23 de novembro de 2019

O sono


Dorme, dorme, meu menino.

Nas lágrimas desta cidade.

Na rua caem palavras de saudade.

No altar veneras o Santo Peregrino.

Dorme.

Dorme, meu menino.

Dorme, dorme, meu menino.

Nos livros de sonhar.

Dorme, meu menino.

Menino do mar.

Dorme.

Dorme, meu menino.

Nas manhãs de desenhar.

Dorme, dorme, meu menino.

Dorme nesta cama de palavras incertas.

Dorme, meu menino.

Nas cantigas de amanhecer.

Meu menino, dorme.

Dorme, antes de nascer.

Dorme.

Dorme, meu menino.

Dorme nas sombras da madrugada.

Meu menino, menino, dorme.

Nesta pedra cansada.

Nesta pobre calçada…

Dorme.

Meu menino, dorme.

Meu menino, dorme.

Dorme sem almoçar.

Meu menino, dorme.

Dorme até antes de jantar.

Meu menino.

Dorme.

Dorme, cansado, meu menino, dorme.

Dorme à beira desta montanha desabitada.

Meu menino.

Menino.

Dorme nesta aldeia amaldiçoada.

Dorme.

Dorme, meu menino.

Esquece o sono de ontem.

Recorda o sonho de hoje.

Meu menino. Dorme.

Dorme. Menino que foge.

 

 

 

 

 

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

23/11/2019

quinta-feira, 14 de março de 2019

Eterno chão


Tem uma caneta na mão,

Desenha na sombra da tarde o cansaço da solidão,

Como na despedida,

Ouvindo a canção…

Que o silêncio alimenta,

E tece,

Sobre o chão.

Hoje, não me apetece,

Escrever,

Comer,

Ler.

E senta,

E deita-se na cama sem colchão.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 14/03/2019

domingo, 9 de setembro de 2018

As palavras do amor


Das janelas não se viam as transeuntes folhas caducas,

A rua imunda, suja, recheada de sombras invisíveis,

E um corpo putrefacto mergulha na minha mão…

Que faço eu com ele?

Alimento-o,

Enterro-o…

Ou escrevo nele a minha raiva.

As espadas da saudade, cravadas no peito húmido do esqueleto de vidro,

As pedras perfurantes alicerçadas nos lábios do abismo,

Sinto-me tudo isto, ao adormecer…

Sem perceber as palavras do amor.

 

 

Francisco Luís Fontinha

09-09-2018

terça-feira, 1 de maio de 2018

Sem ti


O fogo, sem ti, não é fogo.

É cansaço que se apodera dos braços,

É flor que morre na tua mão,

É avenida deserta, nesta cidade, sem pão.

O fogo, dos beijos baços,

É jardim de árvores caquécticas,

Adormecidas,

Tortas.

O fogo, sem ti, não é fogo.

É noite mal dormida,

Sorriso na parada do sofrimento,

De olhar distante,

É sirene da alvorada,

Muro em xisto,

Que atormenta minha amada…

Ai, meu amor, o fogo, sem ti…

Atormenta tanta gente.

O fogo, sem ti, meu amor,

É a luz das esplanadas de Verão,

São ruas,

Casas…

São barcos encostados ao portão,

Quando o meu quintal dança nos teus lábios de algodão,

O fogo, sem ti, meu amor,

Não é nada, nem pão, nem pedras poisadas no coração.

Amanhã, se o fogo, sem ti, não for fogo,

A minha vida é um pequeno conto,

Palavras…

Palavras, meu amor, sem ti!

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 1 de Maio de 2018

domingo, 15 de abril de 2018

O carrasco


Todos os dias apareço.

Todas as noites sou comido por uma língua de sombra,

 

Posso concluir que sou um sonâmbulo desorganizado,

Distante das estrelas,

Cansado do vento.

 

Cada osso meu,

Um poema teu,

 

O carrasco.

 

Não gosto do vento,

Porque o detesto,

Faz-me mal às palavras escritas,

Enquanto dormes.

 

E sonhas.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 15 de Abril de 2018

quarta-feira, 21 de março de 2018

Fotografia


(21 de Março, dia Mundial da Poesia)

 

 

 

Tão singela a porcelana do teu rosto,

Boneca de trapos, entre livros e plátanos,

Entre farrapos e palavras adormecidas,

Que só o vento sabe esquecer.

Tão magras as tuas mãos sapientes,

Quando tocam a minha face de xisto,

Grito, grito…

Existo!

Tão melódica a tua voz de cantadeira,

Quando o mar sobe a calçada,

E traz no ventre a despedida,

Triste, amargurada.

Dentro do parêntesis da madrugada,

A simplicidade do teu sorriso,

Tão simples o teu desejo,

Quando o beijo, enraivecido, se abraça à noite,

Tão simples o teu cansaço,

Nesta terra de ninguém,

Alguém,

Quase nada,

Perdido no espaço.

Tão singela a porcelana do teu rosto,

Quando a alegria parte, morre…

E poisas eternamente numa fotografia.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21 de Março de 2018

domingo, 12 de novembro de 2017

O eterno acusado


Acusais-me de tudo e de nada.

Acusais-me da chuva e do sol,

Das províncias desgovernadas,

Dos socalcos inanimados,

Tristes…

Cansados.

 

Acusais-me do cansaço,

De ser o menino dos papagaios

E das estrelas em sombreados tentáculos,

Acusais-me de o mar não regressar…

 

E de matar.

Acusais-me do eterno ventrículo agachado no musseque,

Das palmeiras envenenadas pelo silêncio,

Acusais-me das palavras gastas,

Tontas,

Nas paredes da solidão.

 

Acusais-me de tudo e de nada.

Acusais-me do medo,

Da morte em segredo,

Acusais-me do sofrimento

Nas montanhas solidificas dos livros

E dos momentos passados na escuridão de um velho bar.

 

Acusais-me da dor,

Das metástases ensanguentadas de um corpo em delírio…

Acusais-me de nada,

De tudo,

Até da triste madrugada…

Que a sombra alimenta.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Novembro de 2017

domingo, 29 de outubro de 2017

Coração das sete serpentes


Iluminado sejas, coração das sete serpentes.

O cansaço das pedras, perfumadas almas na escuridão,

Palavras dispersas,

Nas garras de uma canção.

Iluminado sejas, corpo desengonçado das sete maravilhas…

O sorriso perfeito, nas tardes estátuas,

Os livros mortos, os textos acorrentados aos braços da madrugada,

Iluminado sejas, obscuro cansado prato, sobre a mesa do sono,

E das pedras abençoadas.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 29 de Outubro de 2017

terça-feira, 10 de outubro de 2017

Outono em flor


O corpo pincelado de noite,

Quando da noite regressam as barcaças do Inferno,

Não trazem destino,

Como no Inverno,

O menino…

O menino recheado de luz e incenso verbo,

Lá fora chora uma flor,

Um pequeníssimo poema morre de dor…

E o menino em febre, cansado da flor,

Deita-se sobre o orvalho imaginado pelo seu progenitor,

Prometo conquistar todos os ossos do teu corpo,

Prometo desenhar no teu corpo a sombra da revolta,

E que nunca mais volta,

Às escadas do sofrimento.

Oiço o teu lamento,

Os teus gritos contra os cortinados da Primavera…

Oiço o Outono na tua mão tão bela,

Quando a barcaça,

Em passo acelerado,

Bate contra os rochedos da desgraça…

E o menino,

Coitadinho…

No chão sentado.

quinta-feira, 7 de setembro de 2017

7 de Setembro


Tão triste…

As palavras que escrevo

No teu rosto sofrido,

 

Tão triste…

Ser viajante sem regresso

No teu barco perdido.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 7 de Setembro de 2017

quinta-feira, 24 de agosto de 2017

O sono utópico


Não sei o que te diga,

O sono utópico na displicência da ignorância,

Cansaço, muito, agreste e triste,

Triste e alegre do cansaço absorvido no dia sem fim…

Conto os segundos, conto os minutos… e perco-me nas horas mortas, sem destino, nas palavras, e, e nas searas envergonhadas,

Desconfio que fui atropelado por um poema sem nexo, idade… ou cidade,

Dispo a farda, poisa a arma de papel sobre a secretária, pego novamente na arma e disparo… e sinto a cabeça cravada no espelho do quarto,

Estou parvo, hoje, cansado, hoje, farto das palavras, e farto dos livros,

Não sei o que te diga,

O sono,

O tédio,

Casa assombrada e a arder de febre,

E o sofrimento nas mãos…

(estou parvo, hoje, meu amor).

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 24 de Agosto de 2017

domingo, 20 de agosto de 2017

As árvores dos teus braços


Navego nos teus alicerces de prata,

Sinto o término do dia, é triste, meu amor, a despedida da luz vadia…

Quando tenho nos braços o cansaço da solidão, meu amor,

Navego sem destino, desorientado, sem leme… nem rumo certo,

Trago no peito a lança cravada pela noite, meia-noite aqui, meu amor,

E das sanzalas de veludo o cheiro dos meninos brincando na areia…

A prezada manhã enraivecida pelo tédio, o sol distante de nós,

E lá ao fundo os barcos de papel…

Navego nos teus alicerces de prata,

Sonâmbulo nocturno das cavernas,

E dos pequeninos charcos de incenso… voando em direcção ao rio.

Escrevo-te todos os dias, minha sombra de parede,

Olho-te no espelho da tarde, e sabes, meu amor, amanhã mais um dia de tristeza,

Carregado de sangue nas algibeiras da coragem,

Amanhã, meu amor, amanhã entras pela janela e correrás dentro de mim…

Líquido da madrugada, fantasma da alvorada…

Navego,

Acesso ao teu coração…, e observo um cadáver de lata lutando contra um braço de mar…

Esperança, a distância dos perfumados destinos, assim, assassinados pelo tempo, escuro, deserto, e áspero…

E as árvores tombam nos teus braços, meu amor, tombam nos teus braços.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 20 de Agosto de 2017

sexta-feira, 14 de julho de 2017

Lágrimas tuas palavras minhas


Todas as minhas palavras são lágrimas tuas,

Nuas cancelas sobrevoando o Oceano,

Os barcos cansados e a remo…

Prisioneiros no teu cabelo ao vento,

Sofro, sofro e alimento

Estes carris do pensamento,

Todas as minhas palavras são lágrimas tuas,

Duas pontes absorvendo o rio da dor,

Uma pequena flor,

Um grande amor…

 

Nas janelas doiradas do sofrimento.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 14 de Julho de 2017

quinta-feira, 22 de junho de 2017

Cansaço


Canso-me das tuas palavras, meu amor,

Canso-me do teu sorriso… quando sou alicerçado aos rochedos e na minha vida não existem sorrisos,

Canso-me do teu olhar, meu amor… quando regressa a noite e odeio um simples olhar,

Canso-me da riqueza e da beleza das coisas… mesmo as mais belas,

Canso-me da tua sombra quando o orvalho rompe pela manhã e nas tuas mãos trazes o lenço da saudade,

Canso-me de mim, meu amor,

Canso-me dos meus poemas, meu amor… quando os meus poemas são apenas palavras desconexas e perdidas no vento,

Canso-me do silêncio, meu amor… quando amo a trovoada e a chuva de Verão,

Canso-me dos rios e dos montes,

Canso-me do mar e da infância…

Canso-me tanto, meu amor…

Canso-me tanto, meu amor.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 22 de Junho de 2017

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Cansaço


Canso-me das palavras que não dizes
E escondes nas paredes do silêncio,
Canso-me das palavras que não escreves
E semeias nas searas abandonadas do sono,
Canso-me da ausência
Quando o meu corpo tem peso, centro de massa…
E voa em redor das andorinhas em flor,
Canso-me dos beijos desenhados
Na tela da solidão, e tão ínfima é a minha mão
Que afaga o teu rosto de xisto,
Canso-me das planícies onde te escondes,
Como se fosses uma criança amedrontada,
Palavras,
Cansaço,
Canso-me dos rios obsoletos das cidades embriagadas…
Depois da despedida,
Canso-me tanto, tanto meu amor,
Que até me canso de ti…
Canso-me do sol,
Da lua,
E da noite,
Canso-me da escrita,
Canso-me da leitura e dos desenhos sem nexo…
Que brotam do meu sorriso,
Canso-me da luz,
Canso-me da luz e das ruas sem saída,
Que se perdem numa qualquer avenida,
Canso-me,
Canso-me das palavras daninhas, nos terrenos baldios,
Canso-me, tanto meu amor,
Que este cansaço vai acompanhar-me até à morte…



Francisco Luís Fontinha
20/02/17

domingo, 20 de novembro de 2016

Incertezas


Não sei o que fazem estes pássaros desajeitados no meu quintal.

A pobreza tomou conta deles,

Adormece-os enquanto não regressa a noite

E a doçura da paixão sobrevive ao luar,

Alimentam-se do meu cansaço que vive desassossegado na minha mão,

Insiste na nobreza do espaço,

Inventa tempestades de açúcar

Como se fossem nuvens em papel.

O sono é um livro de despedidas,

Palavras à solta nos socalcos da solidão,

O prazer construído na cidade invisível

Que imagina horários abstractos e doentes…

Não sei,

Não sei o que fazem estes pássaros desajeitados no meu quintal.

 

 

Francisco Luís Fontinha

20/11/2016

sábado, 15 de outubro de 2016

Ausência


O sítio enigmático deste corpo balançando sobre o mar,

as náuseas do sono suspensas na manhã…

como se o dia fosse uma rua sem saída

numa qualquer cidade sem nome,

o grito arremessado contra a dor

descendo a solidão pelos obstáculos do sonho,

envelheço como envelhecem todas as palavras,

envelheço como envelhecem todos os livros…

e sobre o mar

este caduco corpo disfarçado de espelho,

as fotografias perfumadas…

dentro de um cubo de chumbo,

os rostos desfigurados pelo tempo,

os rostos precipitados contra os rochedos da ausência,

e nas minhas mãos uma flor de cansaço

dentro do amanhecer.

Sinto o destino esquecido no corredor do sofrimento,

as lágrimas de um menino brincando na ardósia da tarde

inventando brincadeiras em papel…

e desenhos na terra queimada pela noite,

da escuridão o vento,

do vento o desassossego do corpo

que os socalcos arrebatam no silêncio da morte,

encosto-me às marés de tédio,

encosto-me aos pilares de sombra que o dia tece

na alcatifa do amor,

as horas tímidas no pulso de um coração aniquilado

pelo desastre da madrugada,

ausência minha nas tuas viagens,

ausência minha nos cabelos do teu olhar…

como o tempo estremece,

e acorda depois da tempestade.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 15 de Outubro de 2016