domingo, 20 de agosto de 2017

As árvores dos teus braços


Navego nos teus alicerces de prata,

Sinto o término do dia, é triste, meu amor, a despedida da luz vadia…

Quando tenho nos braços o cansaço da solidão, meu amor,

Navego sem destino, desorientado, sem leme… nem rumo certo,

Trago no peito a lança cravada pela noite, meia-noite aqui, meu amor,

E das sanzalas de veludo o cheiro dos meninos brincando na areia…

A prezada manhã enraivecida pelo tédio, o sol distante de nós,

E lá ao fundo os barcos de papel…

Navego nos teus alicerces de prata,

Sonâmbulo nocturno das cavernas,

E dos pequeninos charcos de incenso… voando em direcção ao rio.

Escrevo-te todos os dias, minha sombra de parede,

Olho-te no espelho da tarde, e sabes, meu amor, amanhã mais um dia de tristeza,

Carregado de sangue nas algibeiras da coragem,

Amanhã, meu amor, amanhã entras pela janela e correrás dentro de mim…

Líquido da madrugada, fantasma da alvorada…

Navego,

Acesso ao teu coração…, e observo um cadáver de lata lutando contra um braço de mar…

Esperança, a distância dos perfumados destinos, assim, assassinados pelo tempo, escuro, deserto, e áspero…

E as árvores tombam nos teus braços, meu amor, tombam nos teus braços.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 20 de Agosto de 2017

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