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foto: A&M ART and Photos
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Vivíamos perto da fronteira com a loucura, havia
flores que nunca acordavam, e quando o faziam, sonolentas, pareciam
vadios homens deambulando as paredes frias, finas e escuras, do
corredor com acesso a lado nenhum, um postigo embriagado, todas as
manhãs se abria como os olhos das borboletas quando as pálpebras do
silêncio se dilatam, aumentam de volume e começam a chorar, o dia
clareava em duodécimos, e pouco depois, digamos que
Tempo de mais,
Elas apareciam vestidas com roupas leves, de cor
branca, com o aqui e além, dispersas em sacrifícios de momentos
devastados pela chegada da tempestade e partida da solidão, dizia
eu, algumas rosas em puro linho, que ao longe mais pareciam janelas,
ainda mergulhei-me em pensamentos parvos
Será que ela tem janelas no peito?
Claro que não, claro que não, e pitosga como sou,
facilmente confundiria uma palmeira com um beijo, ou
Será que ela ainda pensa em mim?
Ou
Claro que não, claro
Que esperavas, tu?
Eu?
Sou um tipo porreiro, tenho amigos em todo o lado e
ainda ontem
Claro que não, Alice, claro que não,
E ainda ontem recebi uma carta (mesmo carta, em
papel, com letras desenhadas a caneta e perfumada) cujo remetente era
algures da Lua..., como vês, minha filha, o teu pai começa a ficar
famoso,
Se eu penso em ti, Alice?
Claro que sim, claro que sim, não, não é engano,
o remetente é mesmo da Lua...,
E ainda ontem, Sábado, vi pela ultima vez o teu
corpo nu e estranhamente escrito com as minhas palavras, estranho não
é? Se eu penso em ti, querida Alice? Claro
Mas ontem foi Sexta-feira..., então foi hoje,
Claro que penso, claro que penso nas palmeiras
esperando o regresso do final do dia, o velho Francisco desce
cuidadosamente os cortinados do desejo sobre as labaredas do teu
corpo a transpirar poesia e pequena literatura, diga-se
(de merda)
Diga-se que sim, que tenho saudades das palmeiras, e
da tua voz quando disfarçada me melancolia, quando timidamente me
dizias
Amo-te João,
Me dizias que as palmeiras inventavam fotografias, e
que ainda hoje, Claro que sim, querida Alice!, que ainda hoje espero
pela chegada da tenda do circo onde vivem as tuas mãos, aquelas,
Recordas-te, querida Alice?
Sim, aquelas que te afagavam o cabelos...
E depois de me cerrares as pálpebras... eu
adormecia no teu débil peito de seios minúsculos, como o vento,
aturando limões contra os vidros das janelas, aquelas que eu pensava
serem janelas, e que nunca passaram de rosas bordadas pela tua avó...
O que será feito da tua avó, Alice?
Um dia, como nós, simples partículas de poeira
viajando pelo espaço escuro e frio, e responder-te-ei...
Claro que sim, Alice, claro que sim, as palmeiras.
(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha