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sábado, 11 de abril de 2015

Os pecados


Não sei

Meu amor

Porque poisam em mim as estória de luz

Às vezes amo-te

Não desconheço se tu

És

Um livro, um poema, uma imagem ou um triciclo em madeira

Poderias ser o regressar ao ponto de partida

Luanda

Mil novecentos e sessenta e seis

Número três

Vila Alice

 

Os berros e os espirros dos automóveis pôr-do-sol

A naftalina do olhar

Na gaveta do sexo

Imagino o teu corpo

Meu amor

Um odor de palavras

Inseminadas por uma caneta de tinta permanente

Permanente

Eu

Aqui

Nesta

Vida de “merda”

 

Nunca

Meu amor

Quis

Nunca meu amor

Quis ser poeta

Sei que não o sou

Nem serei

E nem quero

A paixão da alma

Na fala desenhada

Pela mão do murmúrio

A aldeia em chamas

 

E os transeuntes

Entre estradas de gelo

E bermas de cansaço

Não

Meu amor

Não existem noites coloridas

Em sapatos em verniz

Bicudos

As calças embrulhadas nos tornozelos

E os ossos embalsamados

Alimentava-me dos teus lábios

Meu amor

 

Perdi

Tudo

A imagem da tridimensional alegria

Hoje

Sou

Um

Gajo

Triste

E tímido

Como as andorinhas da tua casa

Os torrões de açúcar dos melancólicos teus seios

Sou

 

Um

Gajo

Triste

E tímido

Hoje

As equações dormindo debaixo da cama

(o gajo está apaixonado)

Os palermas acreditando que

Amanhã

Um

Gajo

Tímido

 

Tão cinzento

Como a própria noite

Sem vaidade

Número de polícia

Ou

Ou cidade

As máquinas assassinam

O dormitório do prazer

A cama

Meu amor

Desfeita

Em aventuras de algodão

 

E

Não

Não pertenço aos teus símbolos de sombra

Deixei de ter janelas

E portas

A minha casa

Sem

Telhado

Sem

Meu amor

Não

Não esta triste cidade

 

Sem shots de tristeza

Ou

Sexo

Barato

Sabes

Meu amor?

A inveja é uma chávena de café-com-leite

E torradas

A neblina invade

Os

Teus olhos

A neblina invade os teus olhos

 

Entre cartas e telegramas

Mãe?

Sim

Meu amor

Fui

Assaltado

Stop

Envia

Dinheiro

Ok

Beijo

Não meu amor

 

Não sei a cor dos teus olhos

Nem da tua pele

Não

Não meu amor

Amanhã é sábado

E não sei se te amo…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 11 de Abril de 2015

domingo, 7 de dezembro de 2014

Gaivotas & Revoltas


Oiço as tuas palavras mastigadas em prazer,
sinto o círculo das tuas coxas alicerçado ao centro geométrico do meu corpo,
somos apenas um ponto perdido no espaço...
traçamos parábolas na cintilante areia do Mussulo,
e há na tua pele de neblina adormecida... flores,
gaivotas,
revoltas,
palavras gritadas em vão...
e gemidos rochedos ao pôr-do-sol,
não habito em ti... mas há barcos nas nossas veias,
cansados de amar...
marinheiros sem pátria,
toda a gente nos apedreja com silêncios
e medos desgovernados,
somos um ponto em movimento,
temos coordenadas,
e... massa,
a luz que nos ilumina esconde-se entre a chuva miudinha do fim de tarde,
e toda a gente,
em delírio...
chicoteando as nossas sombras,
em pedaços de fotografias embriagadas pelo suicídio...
oiço as tuas palavras mastigadas em prazer,
nesta cidade em ruínas...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 7 de Dezembro de 2014

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O cadáver da paixão


Os teus olhos pincelados de verniz
camuflados no sombreado silêncio de uma ardósia
a tarde sem destino
e o menino...
embrulhado nas palavras adormecidas pelo giz
que só o luar consegue apagar
e destruir
o barco vai partir
sem conhecer a direcção...
ou... ou o cais para ancorar
e há uma corda suspensa nos lábios da solidão
que transcende o homem que deseja mergulhar no Oceano,
o desengano
do desassossego vestido de beijo enfeitiçado
a menina dança?
os teus olhos que só os pássaros percebem
o teu corpo de esferovite à deriva na planície das lágrimas incendiadas pelo areal...
um grito de revolta
alicerçado ao magnetismo esconderijo das geadas envenenadas
a embriaguez estonteante das madrugadas
quando o relógio de pulso se suicida num abraço de cartão canelado
e o homem responsável pelos teus olhos pincelados de verniz...
… morre lentamente na fogueira da paixão
como a perdiz
nas garras do amanhecer
e nesta vida de viver...
os teus olhos são cerejas de sofrer.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 28 de Novembro de 2014

terça-feira, 5 de agosto de 2014

O Acrílico Corpo


(À minha amiga Isa V.)


No acrílico corpo esconde-se a madrugada,
escrevê-lo parece impossível, acariciá-lo... o acrílico corpo voando nos meus braços de papel,
entre flores doiradas e alicerces de suor,
sentir na tua pele a humidade do silêncio,
entranhar-me em ti... eu a gaivota do amanhecer,
no acrílico corpo, as coxas montanhas recheadas de luares de incenso,
os rochedos do medo evaporando-se em pedaços de gemidos...
os cortinados da manhã esganiçados contra a janela do prazer,
e do teu acrílico corpo, uma maré de sílabas invadindo o teu sorriso,
escrevê-lo... parece impossível,
numa cama de luz o teu acrílico corpo nu...
esperando os meus desenhos vestidos de palavras!


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 5 de Agosto de 2014

sexta-feira, 1 de agosto de 2014

As tâmaras sílabas da paixão


Ao longe, as tuas mágoas de acetileno caminhando rochedos abaixo,
não existem abraços, nada te toca, e tudo... e tudo te silencia,
o morganho subindo as escadas dos tristes telhados de zinco,
o azoto evapora-se nos lábios tenros da madrugada,
uma enxada, uma enxada estremece quando penetra a terra cansada do teu corpo,
ficas imóvel, desenhas-te no espelho da saudade... como se fosses uma flor de carne,
há em ti o olhar triste dos dias sem prazer,
há em ti o desejo louco de me tocar... mas... mas eu, mas eu sou apenas um pedaço de aço,
enferrujado,
tão enferrujado como o barco que nos espera, como o barco encalhado nos teus seios...
ao longe, as tuas coxas de areia,
mergulhadas nas tâmaras sílabas da paixão.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 1 de Agosto de 2014

sábado, 1 de março de 2014

Madame Silêncio

foto de: A&M ART and Photos

Da noite percebia-se o olhar felino de Madame Silêncio, havia um cortinado de fumo que nos separava, ela, ela escondia-se sob o perfume camuflado das areias em flor, havia em nós pergaminhos por descrever, palavras inaudíveis que preferíamos não pronunciar, medos, desejos prometidos e não realizados, sonhos desfeitos, como as folhas que o Outono assassina, da noite a noite, só, sem mais nada, do rádio sentia-se a voz trémula de um poema por escrever, alimentado por desenhos insignificantes, tristes talvez, e sabíamos que tudo não passava de uma noite inventada pelos olhos de uma abelha,
Não entendo o sisudo espelho do nosso quarto, dizia-me quando nos preparávamos para dormir, o corpo dela deixou de fazer sentido, inexistente, apenas uma imagem esquecida num edifício caduco, e quase que do outro lado da rua conseguíamos as âncoras do destino, via-se nos seus seios o peso desmesurado da solidão, e às vezes, eu, fingia dormir, e não dormia, e não sabia o significado de dormir, de sonhar, e eu, eu não sabia porque choram os pássaros em Carvalhais, porque me sentava nas margens do Tejo a imaginar palavras no sombreado da preia-mar,
Da noite em ti,
Eu só, ao teu lado, eu só, sem ti, porque o teu corpo era uma réstia de luz que quando abria a janela..., ele desaparecia, o fumo separava-nos, e éramos todas as noites invadidos por sussurros gritos da vizinha do segundo esquerdo,
Os nossos vizinhos constantemente a fazer amor, dizia-me, eu calado, eu
Silêncio,
E sabíamos que tudo não passava de uma noite inventada pelos olhos de uma abelha, e que essa abelha nunca, nunca nos pertenceu, algures tínhamos deixado as mãos no rosto de um gladíolo, havia cheiros, barcos em movimento, corpos transversos, e que nunca percebemos a razão de existirem,
Silêncio,
Eu calado, eu uma rocha ancorada ao púbis dos inanimados marinheiros quando saíam dos bares de Alcântara, os pedacinhos de sono estampados no paralelo agoniado, a cerveja e a vodka davam para alimentar meia dúzia de veleiros, sofríamos a angustia das varandas como fotografias a preto-e-branco, e em nós o sexo penetrava-nos como se fossemos mercadores ambulantes, beijava-se, e amavam-se, e
Madame Silêncio, ela embrulhada num esqueleto esquizofrénico, e havia um cortinado de fumo que nos separava, ela, ela escondia-se sob o perfume camuflado das areias em flor, havia em nós pergaminhos por descrever, palavras inaudíveis que preferíamos não pronunciar, medos, desejos prometidos e não realizados, sonhos desfeitos, como as folhas que o Outono assassina,
Desejosa de
Partir?
E partiu sem deixar um sorriso,
E desejosa, ela, que todas as folhas que o Outono assassina deixassem de ser folhas assassinadas, livres, como dever ser o mar e a paixão.


(não revisto – ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 1 de Março de 2014

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

arcadas da solidão

foto de: A&M ART and Photos

inventas mentiras com dentes de marfim
escreves falsas palavras nos lábios do rio apaixonado
dizes que sou louco porque tenho sonhos com gaiolas de vidro e sapatos de granito
inventas coisas a meu respeito
que amanhã serei submergido como um navio profanado
uma imagem branqueada
límpida
alegre ou triste
como as tuas mentiras
com dentes...
jacarés em mpingo inoxidável
voando sobre as arcadas da solidão

inventas flores com sabor a orgasmo silabando e desfiado pela mão do drogado
sabes que os poemas escritos no teu corpo são uma lareira de prazer
e nunca mais desaparecerão da tua pele flácida
mole...
mole e cintilante como diamantes num leito abandonado
inventas carcaças de baleia que trazem a nós o cheiro nauseabundo do teu sémen com... dentes de marfim
e o drogado de mão estendida... sonha como eu sonhava
com gaiolas de vidro e sapatos de granito
(se é lá possível... gaiolas de vidro e sapatos de granito)
louco ele
varrido
como as folhas do velho plátano na madrugada das aflições intermináveis...
e acreditava que tinhas nos seios as pétalas embebidas na penumbra neblina do silêncio


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 10 de Dezembro de 2013

sábado, 16 de novembro de 2013

as incendiadas sanzalas do prazer

foto de: A&M ART and Photos

porque me procuram nas incendiadas sanzalas do prazer
não sendo eu um homem como os homens das bandeiras embriagadas
porque me procuram nas entranhas manhãs de cacimbo
eu escondido no zinco telhado do musseque alvorado
porque sou assim
um casebre sem esqueleto e ignorado
um imbecil que em tudo acredita
e que procuram como se fosse um objecto para reciclagem
usa-se
deita-se fora
e nasce em ti o dia ensanguentado das tristezas noites junto ao Mussulo
porque sou um um monstro vestido de negro

(como o dizem quando me chamam
e acordam
em todos os silêncios do medo...)

porque finjo que sou amado
porque acredito eu no amor
quando o amor é uma caravela à deriva no triste Oceano
porque me procuram nas incendiadas sanzalas do prazer
porque sou um canino disfarçado de desenho animado
porque me dizem que sou um poema odiado
palavras da merda escritas por um gajo de merda
porque acredito
se nunca deveria acreditar nas manhãs sem nuvens
porque são falsas
e logo em seguida
ejaculam as gotinhas amargas da chuvinha colorida...

(como o dizem quando me chamam
e acordam
em todos os silêncios do medo...)

sou um gajo porreiro como o são todos os cadáveres da morgue do púbis amanhecer
porque sou um imbecil sentado num banco de jardim
espero as ripas madres em madeira apodrecida
finjo que sou amado
e todos o sabemos que não o sou
porque apenas pertenço aos corpos dilacerados
dos musseques adormecidos
doridos
mórbidos entre as espadas dos livros em poesia
e as palavras semeadas nas tuas coxas de terra fértil...
esperam as sementes da alegria
como se fossemos apenas vozes entrelaçadas como dedos em vaginas acorrentadas às sílabas inanimadas...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 16 de Novembro de 2013

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

equações de prata

foto de: A&M ART and Photos

prometidas equações de prata nos olhos da cidade agoniada
da boca os sinceros mergulhos de solidão
como simples quadrados traçados no térreo pavimento do desejo
há nela uma janela com vidros de sémen
que caminham
e vivem no Mosteiro da insónia
prometidas coisas
sem sentido sem sentido...
simples
simples anexos de chita
sobre o nu travesti que as coxas do silêncio absorvem antes de terminar o dia
e prometidas linhas de fino ouro que atravessam as ruelas dos sonhos
e infestam de palavras as mãos ensanguentadas das mulheres-sombra
alimentam-se de pedaços papel e singelas migalhas de areia da algibeira da agonia
sentíamos os velozes corpos transatlânticos vestidos de aço como líquido esquelético dos alicerces de vidro
e amávamos-nos quando nos embrulhávamos nas montanhas das gaivotas em cio
prometidas equações que o teu corpo seduz como a Professora quando do aluno fantasma
ossos e pregos e madeira ressequida saltitam no recreio da escola
há árvores sobre os diques do prazer quando ejaculam as searas os palhaços de trapos de cetim
e amávamos-nos sobre quatro rodas em movimento curvilíneo
um pêndulo e um cordel
e tudo o que nos restou da tempestade de zinco aos telhados engrenados no teu ventre
chovia enquanto desenhávamos sexo nas frestas do gesso
às paredes argamassadas das esquinas iluminadas pelo teu olhar de manteiga...



(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 14 de Novembro de 2013

quarta-feira, 13 de novembro de 2013

canções do prazer

foto de: A&M ART and Photos

percebo quando as tuas mãos de papiro invisível
encontram as minhas flácidas coxas de argamassa clandestina
percebo que em ti vivem as canções do prazer
e as gaivotas dos moinhos de vento
percebo que és a montanha
e a tempestade que castiga o meu corpo entre os teus dedos
percebo que me absorves como uma semente abandonada
que o teu corpo acolhe
cuida
e do salivar poema de xisto carcomido pelo teu sémen sabático
dormem
e fogem as andorinhas de olhar esverdeado...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 13 de Novembro de 2013

segunda-feira, 11 de novembro de 2013

o habitáculo do desejo

foto de: A&M ART and Photos

dentro do habitáculo do desejo
a bailarina Caliente voa sobre as gaivotas em flor
uma moeda insere-se na ranhura do piano embriagado
ouvem-se sons dispersos nas coxas dele
ele geme
ela sente cada milímetro quadrado dos gemidos dele
o piano enlouquece
o piano derrama a fina pauta de sémen sobre a geada da alvorada
sinto a lareira do ciume nas planícies do abismo coração solitário
e dentro do habitáculo
ela
ela ri-se e dos lábios sobejam as finas pétalas do prazer...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 11 de Novembro de 2013

sábado, 2 de novembro de 2013

volúpias madrugada em ti

foto de: A&M ART and Photos

volúpia madrugada em ti
quando te tocavam as minhas pétalas mãos
ouvíamos o silêncio desejo subir os andaimes da paixão
sentávamos-nos sobre a pedra emagrecida da vaidade
acariciávamos os vampiros olhos da noite sem nome
éramos dois vagabundos
mergulhados na tristeza
éramos dois corpos de açúcar ínfimos nos alicerces da beleza
não sabíamos que as palavras viviam em nós
como viviam em vós os pedaços de papel da alvorada
cansados em sexo de ocasião...
sentávamos-nos sobre a almofada e sorriamos para o espelho carrancudo da noite
os outros éramos nós em volúpias canções de amor
quando roubávamos às palavras as almas e os sinos da transatlântica corrente de aço
ouvíamos os gonzos das esplanadas que entravam logo pela manhã na cidade dos vícios...
fumávamos e fodíamos
fumávamos e dormíamos
fumávamos e... nada como volúpias madrugada em ti
quando as minhas pétalas mãos fecundavam as sílabas do prazer
e nascia o teu e só teu poema


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 2 de Novembro de 2013

domingo, 4 de agosto de 2013

E que aos Domingos voávamos sobre as árvores

foto de: A&M ART and Photos

Dia de voar sobre as árvores..., estava escrito no teu braço esquerdo, li, fiquei indiferente, regressei e percebi que sim, que era Domingo, e que aos Domingos voávamos sobre as árvores,
E que dos teus olhos Margarida brincavam as pálpebras encarnadas do desejo, cerrei os meus olhos, e vi, começaste a levitar em pedacinhos milímetros de cada vez, e quando percebi, pouco importava já, tinhas-te diluído com a neblina acabada de nascer,
Dia de voar?
E vi, e aos poucos entraste nos meus olhos, despias-te, e vagueavas como uma andorinha de íris em íris..., até que acordei, abri os olhos, e tu, não estavas, e tu, não existias em mim..., dobravas-te sobre a neblina, o sombreado teu corpo mergulha no espelho do calendário suspenso na parede da cozinha, cheiravas a naftalina, a roupa despida numa tarde de Domingo, dia, de voar,
voar?
Sim, minha querida, sim, voar sobre a planície dos arbustos domésticos, voar sobre as árvores, porque
Hoje é Domingo,
Porque uma criança em birra não come a sopa, porque um palhaço no circo, triste, deixa de fazer rir, porque...
Hoje
Domingo,
Porque vejo nos teus olhos o desejo de seres desejada, porque invento histórias quando as nuvens descem sobre nós, eu, e tu, e lá fora a mesma criança que muito há pouco fez uma enorme birra devido a não querer,
Não quero, não gosto de sopa,
Tu, tu esqueceste-te de mim, tu cerraste os lábios e proibiste-me os beijos, tu, tu cerraste os olhos e proibiste-me os olhares Primaveris de quando passeavas nos jardins do Palácio, Belém fervilhava, fervilha, como tu, quando te despes, como tu, quando te desembaraças de todas as tuas roupas e me dás as mãos e
Domingo,
Dia de voar sobre as árvores..., estava escrito no teu braço esquerdo, li, fiquei indiferente, regressei e percebi que sim, que era Domingo, e que aos Domingos voávamos sobre as árvores, e que hoje vamos começar a voar sobre as árvores, sem roupa, apenas tu, apenas eu, e um dia, não Domingo, um outro dia
Vais, sim, acredito, um outro dia vais tocar para mim, só para mim,
Um outro dia, os sons melódicos do teu piano e as gotículas de suor da tua pele poética, não Domingo, não, um outro dia, tu, tu vais tocar só para mim, e eu, e eu poisarei a minha cabeça sobre o teu ombro, inventarei uma tempestade para ficares dentro da sala, eu, tu e o teu piano, Domingo, não
Domingo não,
Talvez um dia, talvez uma bela manhã, talvez numa feliz noite de inverno, livros, o piano, tu e a lareira..., mas
Domingo?
Mas...,
E vi, e aos poucos entraste nos meus olhos, despias-te, e vagueavas como uma andorinha de íris em íris..., até que acordei, abri os olhos, e tu, tu não estavas, e tu, não existias em mim..., dobravas-te sobre a neblina, enrolavas-te como uma rosa bravia, ias à janela e ficavas a olhar as notas musicais dos teus dedos a despedirem-se do Domingo...
Não, Domingo, não, não Domingo,
E sorrias no prazer dos pássaros, antes, muito antes do teu corpo silenciar-se na nocturna insónia em pequenos desejos masturbais...
Desejar-te desejo, como às palavras ainda não escritas, soltas e vagabundas...
Domingo?
Não, não Domingo.

(não revisto – ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

terça-feira, 30 de julho de 2013

Nua voando sobre os lençóis da alvorada

foto de: A&M ART and Photos

imagino-te sentada numa rocha, nua, cansada, despida... imagino-te, nua, triste, alegre, vadia... correndo sobre o mar, imagino-te, Mulher do mar, veneno, palavras não escritas, nas mendigas folhas de papel, imagino-te, nua... nua voando sobre os lençóis da alvorada, um anjo com asas de vidro e lábios de cristal, a preciosa mulher do mar, a mulher do verdadeiro amar..., como as árvores de porcelana vagueando sobre os cabelos nocturnos da alvorada, saciando o teu desejo, construindo em ti os prazeres infinitos das equações diferenciais,
Triplas integrais correndo sobre o rio agoniado,
Sentávamos-nos um sobre o outro, brincávamos como artistas plásticos desenhando corpos invisíveis nas clarabóias do imaginário sofrimento, gemias, uivos e pingos de suor como pássaros vaiados nas manifestações do amor,
Equações dos mamilos heterogéneos como sílabas de cansaço, teus braços nos meus braços, teus lábios nos meus lábios..., tu dentro de mim, assim, uma rocha recheada de sémen, uma lâmina de luar deitado na varanda virada para o rio, ao longe, o petroleiro esquecido procurando anzóis envenenados e pequenas migalhas de ferrugem, saciar-me de ti como tu sem dizes,
Existo, e sou mulher,
O que é ser feliz?
Imagino-te sentada sobre mim, imagino-te em trapézios de mãos entrelaçadas, fugindo, correndo, escondendo-se..., imagino-te, assim, nua, em mim, imagino-te sendo o mar vestido de gaivotas com sorriso encarnado, o pôr-do-sol, ou...
Existo, e sou mulher, existo e preciso de prazer, de ser acariciada, e amada, simplesmente como são as flores, e as abelhas, e os poemas esquecidos sobre a mesa-de-cabeceira, escritos para ti, poemas, palavras embriagadas, estonteantes, palavras mendigas, vagabundeando a cidade amaldiçoada, imagino-te amada, mal amada, imagino-te só... enrolada no travesseiro, embrulhada nos lençóis de seda com nuvens verdejantes, triplas integrais correndo sobre o rio agoniado, barcos e barcaças e velhos cacilheiros, vomitando, agoniados, frases de paixão adormecida, peixes comendo algas, as tuas algas, e tu, sobre mim
Nua, recheada de sémen e incenso, em tridimensionais desenhos, cubos olho-te e de nua nada tens, olho-te e de integral... apenas o símbolo, escorrendo da tua boca como saliva, como ninguém,
Existo, e sou mulher,
O que é ser feliz?
E lábios de cristal, a preciosa mulher do mar, a mulher do verdadeiro amar..., como as árvores de porcelana vagueando sobre os cabelos nocturnos da alvorada, saciando o teu desejo, construindo em ti os prazeres infinitos das equações diferenciais,
Triplas integrais correndo sobre o rio agoniado, vogais suicidadas no mural da felicidade, vejo-te e sinto-te, dentro de mim, nua, apenas em esqueleto de desejo como melódicas canções de amor, imagino-te, imagino-te... imagino-te,
Chorando, rindo, sonhando, imagino-te..., imagino-te sentada numa rocha, nua, cansada, despida... imagino-te, nua, triste, alegre, vadia... correndo sobre o mar...
Nua, dentro de mim, cambaleando como tempestades de areia...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 29 de julho de 2013

Palavras do ser

foto de: A&M ART and Photos

O corpo viciado em pequenos pedaços de espuma, mergulha, flutua..., o corpo sensível e volátil, voa, voa livremente sobre as acácias em flor, o corpo viciado em poema, disfarçado de personagem imaginária, o corpo vivo, do prazer, ao sonho, como um livro, um livro recheado com palavras, desenhos... um livro teu corpo de ler,

Define paixão!
Define… definição
Corpo
Coração,

Define amor!
Define… definição
Corpo
Canção,

Define madrugada!
Define… definição
Criança
Zangada,

Define flor!
Define… definição
Mulher
Dor,

Define prazer!
Define… definição
Sexo
Escrever.

O corpo mergulha, transpira, vive, vive como uma sílaba embebida numa simples folha em papel de parede, o espelho, a vida, o corpo que é o teu, simples, complexidade, circular, cúbico, os teus olhos, mergulhas, és esfinge, és literatura, espuma, mar, o corpo teu que voa, que tem asas, tua, minha, deles... destruída, a paisagem, tua, como uma janela despedaçada, húmida, partida, forçada..., tua, Tua..., um corpo e uma parede, nua, mergulha, cintila, e as pálpebras ao rubro, o desejo percorre as mandíbulas da rua,
Nua, tu, tua, o corpo, o teu, aquele que alimenta os espelhos, aquele que acompanha a Primavera, aquele que embrulha os tristes lençóis de seda, aquele teu corpo de ler, invisível, como as palavras nele, como as palavras nele escritas, desenhadas, premeditadas...
O corpo, o teu belo corpo em cerâmica e pintado com os dedos finos às lâminas da mão do prazer, uivos, gritos, gemidos, pedras partidos vidros, o corpo, teu corpo de ser...
Escrever,
Sexo?
Quando a mulher existe, quando a mulher se transforma em pedra anelar, em Lua, luar..., em planeta, foguetão, em astronauta, quando o corpo da mulher submerge até ao infinito cubo silêncio dos pássaros vadios, rebeldes, como tu, em teu corpo, simples, de palavras, as palavras do ser...

(não Revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

quinta-feira, 25 de outubro de 2012

A serpente feiticeira da paixão


Amargas as mandíbulas da paixão
na boca expressa da serpente feiticeira
os olhos desmesuradamente em direcção ao infinito
no silêncio da água ribeira,

As palavras comem as sombras do rodapé da algibeira
quando os sonhos brincam na madrugada
da serpente feiticeira
sereia carícia dos lábios da aldeia abandonada,

Amargas as mandíbulas da paixão
entre flores e beijos em cadências amanhecer
na boca o coração
em gemidos de prazer.

(poema não revisto)

terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

O último cigarro da noite

Cerro a janela dos sonhos, pego no mar que pintei na parede do meu quarto e guardo-o na gaveta da cómoda juntamente com velhos papéis amarrotados pelo cansaço do vento, sento-me na cadeira de vime e enrolo o último cigarro da noite, acendo-o e espero, acendo-o espero que os meus braços se transformem em rocha e que nas minhas mãos cessem as lágrimas da primavera, uma gaivota parvamente me sorri, e dou-me conta que amanhã posso não ter tempo pra desfrutar o último cigarro da noite.