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domingo, 14 de janeiro de 2018

Cabeça de xisto


Lívido sacrifício das noites indomáveis,

Os livros da despedida esquecidos no espaço,

Viagem sem regresso,

Habito neste pobre musseque,

Que deambula pela madrugada do meu sono,

Os esqueletos teus no vidro meu,

Uma cabeça de xisto suspensa na alvorada,

E as dores que assolam o teu corpo, e as dores que dormem na tua cabeça…

Despedidas madrugadas sem dormir,

Pensando em ti,

Como uma jangada livremente sobre as nuvens…

Tenho em mim o sono da morte,

E o desejo do abismo,

Os cartazes escondidos no meu quarto,

Caras, rostos desfocados, simplesmente abandonados,

E deixo na tua mão o silêncio do rio,

Que entre montanhas,

Corre nas tuas veias…

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 14 de Janeiro de 2018

sexta-feira, 21 de julho de 2017

Nesta cidade, este corpo que pesa, e de lata…


Este silêncio que me mata,

Este corpo de lata,

Que habita indecentemente na tua mão,

Este corpo camuflado pela tristeza,

Quando o meu olhar alcança tão altiva beleza,

Este corpo que pesa,

E não serve para nada,

Este corpo sofrido e filho da madrugada,

Quando as aventuras se desenham no amanhecer…

As tonturas,

Nas palavras de escrever,

Este corpo que estorva,

E trás consigo a solidão,

Trova…

Passeio sem destino na carruagem do sofrimento,

Este corpo sem alento,

Descendo pedras e calhaus desagradados…

Soldados,

Que abatem este corpo com dignidade…

Este corpo que pertence à cidade.

 

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 21 de Julho de 2017

terça-feira, 4 de julho de 2017

Cidade sonâmbula


Atravesso a cidade amedrontada,

Finjo não existir nas ruas sem saída,

A morte tem o seu encanto,

A partida… o não regressar nunca mais,

Atravesso a cidade sonâmbula que há em mim,

Deito-me no rio…

 

Sofro,

Choro,

 

E dizes-me que amanhã serei apenas poeira envenenada pela saudade,

 

A viagem às catacumbas do sono,

Invento desenhos no teu corpo,

Viajo incessantemente na sombra dos aciprestes…

E toco com a mão a fresca água da tua nascente,

 

Sofro,

Choro…

 

Enquanto houver luar.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 4 de Julho de 2017

domingo, 25 de junho de 2017

A casa dos encantos


Domingo, um abraço chuvoso,

O fogo absorve-te na imensidão do espaço,

Evapora-se nos teus cabelos frescos como a água da ribeira…

Domingo,

Um abraço na carcere do esquecimento,

A flauta suspensa nos teus lábios…

Enquanto em mim permanece acesa a musicalidade da saudade,

Tenho em mim os marinheiros esfomeados do sexo,

E das bebedeiras noites junto ao mar,

A inocência granítica do teu corpo voando na minha mão,

És uma estátua invisível como são invisíveis todas as estátuas,

Olhos cerrados,

Mãos maniatadas,

O uísque em pequenos tragos na melancolia do dia,

As palavras, Domingo, um abraço chuvoso,

A poesia incinerada na tua boca de papel…

Ardem as cidades do sono,

O fogo…

No teu corpo de vidro,

Os barcos amarrotados esperando seus passageiros clandestinos,

Um comandante embriagado…

Prisioneiro de um Domingo chuvoso,

Um abraço,

Até sempre…

No espelho convexo da tua nuvem favorita,

A poesia morre?

Domingo, um abraço, chuvoso,

E o fogo leva-te para as minhas cinzas misturadas na terra húmida…

E toda a sanzala é nossa…

A casa dos encantos.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 25 de Junho de 2017

segunda-feira, 12 de junho de 2017

A arte de sofrer


Na arte de sofrer,

Quando dentro de mim arde um corpo esquelético, e sem o saber,

Ele ilumina a noite que se cansou de crescer,

 

Tenho nas raízes solares a vontade de partir…

Caminhar naquele rio absorvente

Que engole todos os corações,

Tenho nas mãos o sangue valente

Das marés e dos canhões…

Que me obrigam a sorrir,

 

Na arte de sofrer,

Deixo para ti o prazer…

O prazer de escrever,

 

No prazer de morrer.

 

 

Francisco Luís Fontinha

Alijó, 12 de Junho de 2017

segunda-feira, 13 de fevereiro de 2017

Sentir



Sinto no corpo
O peso das esplanadas em solidão,
Sinto no corpo
Os rochedos do medo,
Junto à noitinha…
Quando regressa o sonho,
Sinto no corpo
A tua voz a gritar NÃO,
Desde a madrugada
Até ao anoitecer,
Sinto no corpo
As clarabóias do sofrimento,
Os alicerces das cidades em destruição…
E uma gaivota revoltada
Poisa sobre a minha sombra, e dorme na minha mão,
Sinto no corpo
A saudade, o silêncio… e a vaidade,
Sinto no corpo
Os livros que nunca vou escrever,
Por indiferença, por preguiça… por tudo e por nada,
Este peso,
Este corpo,
Que foge em demandada…


Francisco Luís Fontinha
13/02/17

sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Tudo o que não sinto


Não sinto o odor

das pedras onde te deitas

e dormes,

não sinto a dor

quando as tuas mãos melódicas

me tocam e envenenam,

não sinto o amor

que habita no teu peito

rompendo a alegria da madrugada,

não sinto a cor

do teu olhar

quando desce a noite nos teus lábios…

e uma película de mar,

não sinto o suor

das plantas do meu abismo

quando o silêncio envelhece no teu corpo…

e um poema morre no veleiro sem navegar.

 

 

Francisco Luís Fontinha

sexta-feira, 23 de Setembro de 2016

sábado, 6 de agosto de 2016

os olhos do teu prazer


descem a ribeira

os olhos do teu prazer

trazem na mão a tristeza

e o mar a arder

sinto o palpitar do meu coração

numa simples gota de suor…

deitada nas sombras dos aciprestes

descem a ribeira

as montanhas desertas

cansadas de viver…

que este corpo desenhou

nas palavras de escrever

descem a ribeira

os trilhos pedestres

dos abutres desgovernados

tristes

apavorados…

pela solidão da tempestade.

 

Francisco Luís Fontinha

sábado, 6 de Agosto de 2016

segunda-feira, 1 de agosto de 2016

Corpo sentido


O meu corpo sente

Os teus lábios carnívoros

Desenhando marés de medo

E palavras de silêncio,

O meu corpo sente

As tuas mãos de xisto

Transportando um rio no sorriso

Antes de terminar o dia,

O meu corpo sente

A noite menina

Deitada na praia…

Deitada na ria…

O meu corpo sente

A despedida

De um relógio de bolso…

Quando a cidade adormece,

O meu corpo sente

E estremece

Quando o teu cabelo aprisiona o luar…

E nada pertence à saudade…

O meu corpo sente

As sílabas do poema

Quando a madrugada se despede da cama…

E o meu corpo,

Ausente

 

Sente.

 

Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 1 de Agosto de 2016

terça-feira, 17 de maio de 2016

Paisagens do sono


A paisagem despede-se de mim.

Sinto as estrelas poisarem em cada gotícula de suor do teu corpo,

Deito sobre ele a minha desnorteada cabeça,

E regressa o sono do Oriente…

Sonho com pássaros,

Sonho com barcos,

Ínfimas imagens travestidas de loucura absorvem-me,

E sou forçado a fugir para outras paragens sem escuridão.

 

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 17 de Maio de 2016

quarta-feira, 30 de março de 2016

as tempestades do silêncio


a desilusão da noite

quando o corpo cessa de sonhar

debaixo do alpendre os ossos sobejados das tempestades do silêncio

um fio de sono

refugia-se na madrugada

a insónia partiu sem deixar rasto

fugiu das minhas pálpebras

enquanto a solidão brincava no mar

e um barco

e um barco enferrujado atrapalha-se com os meus frágeis braços de porcelana

tenho medo da chuva clandestina

sem morada para aportar

tenho medo da morte que semeia a dor

que semeia o sofrimento

e a escuridão entra no meu peito

sinto o meu coração em pequenas fatias de cansaço

apetecia-me escrever-te

mas deixei de ter palavras para ti

em tempos tinha o teu rosto aprisionado num caderno

mas com a idade

esqueci-me dele

do caderno

e esta ausência viagem permanece sem destino

que só a desilusão da noite

sabe desenhar na areia húmida dos teus seios

o desejo sem navegar em ti

o esquecimento dos teus lábios saqueando a cidade

navego em ti como um sonâmbulo arbusto do teu jardim

e a noite me leva para o infinito

o grito

o sorriso das serpentes nas amarras do beijo

o triste sono sobrevoando os lençóis da alegria

amanhã estarei aqui sentado?

amanhã estarei aqui sentado a folhear o caderno

onde se encontra aprisionado o teu rosto?

amanhã haverá tempestades de silêncio?

(mas com a idade

esqueci-me dele

do caderno

e esta ausência viagem permanece sem destino

que só a desilusão da noite

sabe desenhar na areia húmida dos teus seios)

amanhã?

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 30 de Março de 2016

terça-feira, 23 de fevereiro de 2016

Estrada da insónia


As quatro esferas de quartzo

Desalinhadas na estrada da insónia

A simplicidade do silêncio mergulhada no meu corpo

Até que ele cai no poço da alvorada

Não sinto nada

Sou indolor

Como as manhãs de Inverno

Recheadas pelo sono da madrugada

 

Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 23 de Fevereiro de 2016

quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

A fuga


Deixei de sentir as minhas palavras no teu corpo,

Fixei as tuas lágrimas no lençol de espuma

Que cobria o teu olhar,

Cruzei os braços,

Puxei de um cigarro… e disse-te adeus…

 

Como se nunca mais te visse!

 

Ausentei-me dos teus horrores,

Alimentei-me da solidão que proliferava nas tuas mãos,

Cerrei os olhos…

Esqueci que tenho um esqueleto,

Que sou humano como tu…

 

Da sombra embriagada do silêncio à medula espinhal do desejo…

 

Fui!

Fomos!

 

E nunca mais te vi neste jardim de aromas artificiais

Que habita este esconderijo de porcelana…

 

Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 3 de Fevereiro de 2016

segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O corpo de matar!


Este amontoado de sucata que apelidaram de corpo

Enferrujado como os ventos que assombram a montanha

Encurralado nos rochedos desde o amanhecer

Até ao sol-posto,

Não quero querer

Que este corpo pertence à geada

Que este corpo é feito de velhos papeis e ossos em poeira

Esquecido numa velha calçada,

Não quero querer

Que este corpo brincou na eira

E hoje faz-se transportar pelas palavras envenenadas

Entre marés de sono e noites cansadas,

Ai… ai este corpo amontoado de sucata amordaçada

Vivendo da escuridão da cidade

Sem janelas para o mar

Sem vida, sem idade,

Este amontoado de sucata

que apelidaram de corpo…

não é de prata

nem sequer oiro maciço…, mas é o meu corpo, o corpo de matar!

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

segunda-feira, 18 de Janeiro de 2016

sexta-feira, 11 de dezembro de 2015

Da noite na noite só



 
 

Porque sinto o teu corpo na escuridão da noite
Deitado sobre os meus livros
Comendo as palavras dos meus livros
Apagando os desenhos dos meus livros…
Assim acontece
Noite após noite
Semana após semana
Eternamente
Deitado
Como eu queria ser um dos meus livros!
Um qualquer
Para acariciar o teu corpo
E nele escrever a aventura
E a paixão
De viver
Da noite
Na noite
Só.
 
Francisco Luís Fontinha – Alijó
sexta-feira, 11 de Dezembro de 2015


 


quarta-feira, 25 de novembro de 2015

O perplexo sentido da fuga do corpo em translação


O perplexo sentido da fuga

Do corpo em translação

O abraço submerso

Nas marés de ninguém

Acordar

Acender o último cigarro da vida…

Escrever o poema nas tuas pálpebras incendiadas pelo desejo

Que só a minha mão o sabe fazer

Ler-te o último parágrafo do meu livro

Oferecer-te um beijo

E partir sem regresso

Ao teu olhar

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

quarta-feira, 25 de Novembro de 2015