Que sobre o amor nada tenho a dizer,
Saboreio a vida com prazer,
Todos os dias ao acordar,
Danço, escrevo e consigo navegar
Nos teus braços de manteiga,
Aceito,
Amo,
Percorro caminhos obscuros da maternidade…
Tenho em mim a saudade,
Da verdade,
Da sabedoria de nada saber…
A não ser…
Que a morte existe,
Persiste…
Persiste em me atormentar,
Navego no teu colo nascer do sol,
Quando o tempo se esquece de mim,
Tenho o teu jardim,
Desenhado,
Desenhado num caderninho…
Num caderninho dentro de mim,
Que sobre o amor nada tenho a escrever,
A não ser,
Viver.
Francisco Luís Fontinha
sexta-feira, 30 de junho de 2017
quarta-feira, 28 de junho de 2017
A casa
A
casa desocupada e infestada de bichos marinhos,
Os
ninhos do meu quintal estão recheados de pergaminhos,
Palavras
soltas,
Palavras
mortas,
Vivas
palavras rompendo a madrugada,
Sem
nada,
O
infeliz meu corpo deitado na casa desocupada,
Escrevo
no chão,
Minha
mão estremece a cada sílaba adormecida,
Vomito
poesia sobre a janela envidraçada,
E
imagino a louca Calçada…
Ajuda,
não ajuda,
O
eléctrico dorme na minha cama esganiçada,
O
comboio para Cais do Sodré engasga-se em Alcântara Mar,
E
o sonâmbulo adormecido descarrilha ao passar pela minha sombra,
Uma
tragédia, meu amor,
A
casa,
Desocupada
e infestada,
De
livros,
Quadros,
Esqueletos…
E
restos de ossos,
Poeira,
Alvorada
fora até ao nascer do Sol,
Bebedeira,
o esqueleto cambaleia…
Saltita,
E
volta a adormecer no meu peito,
Nada
me resta,
Nada
tenho para te oferecer, meu amor,
A
não ser, a não ser… algumas velhas flores,
Pedres,
Envelhecidas
como nós.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
28 de Junho de 2017
segunda-feira, 26 de junho de 2017
Envenenadas pelo silêncio
Percorro
este caminho de pedras envenenadas,
Cada
palavra escrita é um novo suicídio…
A
aldeia de chocolate evapora-se ao pôr-do-sol,
O
teu corpo permanece impávido com a minha presença,
Aventuro-me
no teu cabelo…
Fresco
ao nascer do sol,
Um
livro poisa nos teus lábios recheados de poemas e beijos abstractos,
Sinto-o…,
sinto-o quando acordo e apenas vejo a tua sombra
Na
penumbra dos meus aposentos empoeirados,
Não
me vês, não pertences aos esqueletos de prata
Que
brincam na minha biblioteca,
E,
no entanto, sei que existe em mim a tua pobre sombra,
Ao
fundo do horizonte um rio que chora a tua partida,
Apenas
cruzo os braços e deixo-te partir como uma gaivota sobrevoando o mar…
Deixo-te
ir…
E
canto uma canção para alegrar os arbustos em teu redor,
O
Tejo é o Tejo…
A
ponte que te iluminava nas noites inquietas,
Os
cacilheiros apressados e tu indiferente aos seus anseios…
Não
tenho pena nem sinto tristeza,
Já
tive e vi muitos barcos…
Reais,
de papel… e de esferovite,
Desenhei-te
pela última vez de costas para a cidade,
Sentias-te
cansada das minhas mãos…
E
das minhas palavras,
Percorro
este caminho…
De
pedras…
Envenenadas
pelo silêncio.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
26 de Junho de 2017
domingo, 25 de junho de 2017
A casa dos encantos
Domingo,
um abraço chuvoso,
O
fogo absorve-te na imensidão do espaço,
Evapora-se
nos teus cabelos frescos como a água da ribeira…
Domingo,
Um
abraço na carcere do esquecimento,
A
flauta suspensa nos teus lábios…
Enquanto
em mim permanece acesa a musicalidade da saudade,
Tenho
em mim os marinheiros esfomeados do sexo,
E
das bebedeiras noites junto ao mar,
A
inocência granítica do teu corpo voando na minha mão,
És
uma estátua invisível como são invisíveis todas as estátuas,
Olhos
cerrados,
Mãos
maniatadas,
O
uísque em pequenos tragos na melancolia do dia,
As
palavras, Domingo, um abraço chuvoso,
A
poesia incinerada na tua boca de papel…
Ardem
as cidades do sono,
O
fogo…
No
teu corpo de vidro,
Os
barcos amarrotados esperando seus passageiros clandestinos,
Um
comandante embriagado…
Prisioneiro
de um Domingo chuvoso,
Um
abraço,
Até
sempre…
No
espelho convexo da tua nuvem favorita,
A
poesia morre?
Domingo,
um abraço, chuvoso,
E
o fogo leva-te para as minhas cinzas misturadas na terra húmida…
E
toda a sanzala é nossa…
A
casa dos encantos.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
25 de Junho de 2017
sábado, 24 de junho de 2017
O grito
Neste
cansaço dia
Sinto
o abraço da alegria,
Sou
um homem desajeitado
E
sem sono,
Sou
uma pedra imperfeita,
Sou
uma nuvem desfeita…
E
este corpo ancorado,
E
este corpo cruxificado ao teu olhar madrugada,
O
feitiço de amar,
Na
planície magoada
Pela
bela trovoada…
Sou
um homem desiludido com a cidade dos Deuses Tristes de Morrer…
Uma
amêndoa apodrecida jaz sobre a minha mão de escrever,
Sempre
me recordam as cinzas do teu silêncio amanhecer,
Neste
cansaço dia
Sinto
o abraço sem perceber o que sentia,
As
albufeiras da solidão
Descem
a montanha até ao meu coração,
Irritado,
Sou
uma pedra de granito
E
grito…
E
sinto sem sentir…
A
alegria de sorrir,
Na
tristeza do grito.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
24 de Junho de 2017
sexta-feira, 23 de junho de 2017
Nascer no tempo… no tempo de sofrer
Não
vou ter tempo para desenhar o tempo no silêncio da noite teu corpo,
Não
vou ter tempo para semear nas tuas cochas o mais belo poema de amor…
Porque
não sou poeta,
Porque
não sou desenhador,
Não
vou ter tempo para ver o nosso filho escrever no pavimento térreo do quintal,
Porque
nem sequer temos um filho,
Porque
nem sequer temos um quintal,
Não
vou ter tempo para acariciar a chuva miudinha que se entranha no teu cabelo,
Não
vou ter tempo para ir à lua e trazer-te um beijo…
Porque
sendo astronauta não tenho esse desejo,
Não,
não vou ter tempo!
Não
vou ter tempo para te desejar,
Não
vou ter tempo para no teu corpo brincar…
E
juntos, sem tempo, olharmos o mar,
Não
vou ter tempo para muito viver,
Já
muito vi sem querer…
Não,
não vou ter tempo!
Não
vou ter tempo para escrever,
Tempo
para amar,
Tempo
para ver nascer…
Nascer
no tempo… no tempo de sofrer.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
23 de Junho de 2017
quinta-feira, 22 de junho de 2017
Cansaço
Canso-me das tuas palavras, meu amor,
Canso-me do
teu sorriso… quando sou alicerçado aos rochedos e na minha vida não existem
sorrisos,
Canso-me do
teu olhar, meu amor… quando regressa a noite e odeio um simples olhar,
Canso-me da
riqueza e da beleza das coisas… mesmo as mais belas,
Canso-me da
tua sombra quando o orvalho rompe pela manhã e nas tuas mãos trazes o lenço da
saudade,
Canso-me de
mim, meu amor,
Canso-me
dos meus poemas, meu amor… quando os meus poemas são apenas palavras desconexas
e perdidas no vento,
Canso-me do
silêncio, meu amor… quando amo a trovoada e a chuva de Verão,
Canso-me dos
rios e dos montes,
Canso-me do
mar e da infância…
Canso-me
tanto, meu amor…
Canso-me
tanto, meu amor.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó, 22
de Junho de 2017
terça-feira, 20 de junho de 2017
Vou escrevendo
Vou
escrevendo antes que termine o dia,
E
o meu corpo, se transforme em cinza luar,
Vou
escrevendo sem alegria,
Porque
regressando a noite escura,
Não
tenho força para abraçar o mar…
Nem
tempo para a ternura,
Sei
que aos teus olhos sou um cadáver sem destino,
Um
barco ancorado ao teu sorriso de prata,
Um
pobre menino…
Vivendo
num bairro de lata,
Vou
escrevendo…
Vou
escrevendo antes que termine o dia,
E
o meu corpo, se transforme em cinza luar…
Vou
vivendo o dia, antes que este termine e regresse o teu cabelo desajeitado,
Oiço
no teu silêncio a viagem do mendigo…
Quando
em tempos sentia
O
peso esquecido
Da
morte espada sentes de lutar,
Há-de
crescer um dia,
Onde
vou escrever as palavras dardos de sangue das tuas coxas de xisto prateado…
Sento-me
na rua…
Sento-me,
escrevendo o que a mão me deixar,
E
alguém dizia,
Que
a tua poesia
Livre
e nua
Adormecia
na minha solidão de amar…
Vou
escrevendo, vagabundo da cidade perdida.
Francisco
Luís fontinha
Alijó,
20 de Junho de 2017
segunda-feira, 19 de junho de 2017
Por uma vida melhor
Por
uma vida melhor,
Partir
sem nada dizer,
Caminhar
sobre a sombra do teu corpo,
Quando
o mar se suicida contra os rochedos da inocência,
Por
uma vida melhor,
Sentar-me
junto ao rio,
Percorrer
as ruas desertas de um livro…
De
um livro acabado de morrer,
Por
uma vida melhor!
Deixar-me
desfalecer nas avenidas transparentes do infinito.
Por
uma vida melhor…
Deixar
de respirar,
Fugir
para a montanha…
Ser
pássaro sepultado na planície…
Por
uma vida melhor,
Adormecer
no teu colo.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
19 de Junho de 2017
domingo, 18 de junho de 2017
A viagem
Muita
coisa me afasta da realidade,
O
silêncio…
A
saudade,
A
tarde,
A
nocturna viagem ao desconhecido…
O
silêncio,
A
saudade…
A
tarde,
De
um corpo esquecido.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
18 de Junho de 2017
sábado, 17 de junho de 2017
O esquadrão das palavras mortas
Somos
poucos,
O
lívido segredo da alma fica suspensa nas umbreiras da madrugada,
Silêncios
muitos,
Neste
exíguo espaço nocturno,
Não
penso na vossa ausência, flores do meu jardim,
Em
cada pedra um nome teu, em cada pedra um beijo,
Somos
poucos,
Ou
nenhuns…
Este
exército de vespas prontas a atacar o pôr-do-sol…
Até
à batalha final,
A
vitória, somos poucos, ou nenhuns…
Silêncios
muitos,
Quando
rompe a solidão no longínquo Domingo de ninguém,
Amanhã
será a derradeira despedida da cidade dos pilares de areia,
Os
barcos amarrados aos teus pulsos sonegados pela escuridão,
Não
me serve este destino…
Escrever
não escrevendo as palavras de ninguém…
Que
o coitado do menino,
Sempre
oprimido pela tempestade…
Deixa
ficar na terra queimada pela charrua,
Somos
poucos,
Ou
nenhuns…
Mas
somos um exército de mendigos.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
17 de Junho de 2017
sexta-feira, 16 de junho de 2017
As aventuras na eira
Uma
nuvem sulfúrica poisa no teu silenciado sorriso,
Agacho-me
sobre a terra prometida…
Mas
não tenho jeito para a aprisionar na minha mão,
Minutos
depois, palavras muitas, perco o juízo,
Pego
na luz magoada que ficou em ti esquecida,
À
porta de entrada do meu coração,
As
aventuras na eira
Enquanto
cai a noite sobre o espigueiro,
Livros
perdidos dentro de um mealheiro…
Para
serem vendidos na feira,
A
casa é pobre, pequena… e aconchegante,
O
quintal recheado de poemas envenenados pela charrua,
O
meu corpo embebido em clorofórmio vomitando sinalização de rua…
Que
o luar se torna brilhante,
E
a lua,
É
tua.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
16 de Junho de 2017
quinta-feira, 15 de junho de 2017
Fuga
Embrulho-me
no fumo dos meus pobres cigarros,
Um
cobertor obscuro de silêncio evapora-se no meu quarto… e rumo à janela
desaparece no rio das pontes invisíveis,
Sinto
o orvalho clandestino e secreto do teu sorriso,
Os
barcos ancoram nos teus braços de silício…
E
tenho medo de perder-te na escuridão do deserto,
A
falência dos meus órgãos começa em cada Primavera,
E
a vida é um destino longínquo de sofrimento…
Junto
às tangerinas,
Morro
na tentação de me evadir deste presídio abandonado,
Junto
à janela,
Sentado
na tua solidão.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
15 de Junho de 2017
quarta-feira, 14 de junho de 2017
Uma alma aborrecida
As
máquinas infernais do sofrimento não cessam de chorar,
Escavam
o corpo até que a madrugada surja no horizonte,
Os
ruídos sinusoidais da pequena vergonha de viver
Adormecem
como cães raivosos deitados ao luar,
Chamo
por ti, meu querido mar…
E
sinto na arte de escrever
O
sinfónico e desgraçado monte,
Sou
uma alma aborrecida.
Sou
uma alma faminta.
Os
pássaros quando brincam na minha janela
E
lá longe acordam as planícies de cartão
Dos
dias desesperados à luz da vela,
Sou
uma alma sem coração.
As
máquinas infernais do sofrimento não cessam de chorar,
Escavam
o corpo até que a madrugada surja no horizonte,
Uma
criança não se cansa de brincar…
Entre
risos e papeis na casa do rinoceronte,
Sou
uma alma faminta…
Sou
uma alma aborrecida…
Sou.
Sou
Uma
alma
Sou
uma alma sem tinta.
Francisco
Luís Fontinha
Alijó,
14 de Junho de 2017
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