(desenho
de Francisco Luís Fontinha)
O
fugitivo regressa, aparece disfarçado de pássaro, não voa, deixou
de voar, sonhar, deixou de viver, e de construir castelos de areia
junto ao mar, quando dizias que aos três anos de idade já voava...
Eles
chegaram, o caixão ainda cheirava à tinta fresca da manhã,
brincava um silêncio de olhos verdes no vão de escada,
Foder
num vão escada, como fodem todas as palavras do poema...
Sabíamos
que o corpo não pertencia às nossas vidas, e o fugitivo sem
regressar aos nossos lençóis de sémen foragido, sem pátria,
destino
A
porta de entrada encerrada,
Janelas
ainda não tinham acordado,
Destino,
viver dentro de duas folhas brancas com olhos verdes, um círculo, o
Sol, a Lua, o vazio do corpo na alvorada clandestina, fria, fria e
amarga,
A
porta
Deus,
criador de tudo e de todos, a porta gaguejando, rangiam os biombos da
literatura quando imaginava o mar na parede da biblioteca,
Apetecia-me
Queimar
todos os livros, meus, desenhos, vozes, corpos de insectos e rosas
embalsamadas, queimar as fotocópias e os fósforos da insónia,
beijar-te, e olhar-te
A
mim?
A
porta entranhada entre dois segundos, as lâmpadas lá de casa todas
fundidas, sós, escuras, como a humidade das palavras enquanto
pessoas, nenhumas... monstras, vazio, a astronomia do ciume suspensa
num cabo de aço, Rua da Nossa Senhora..., Não está, hoje,
O
Doutor, a secretária do Doutor, e a porta, envergonhada como eu,
porque hoje não houve madrugada, porque hoje morrem as palavras...
(cansei-me,
vou deixar de escrever durante uns tempos e de frequentar as redes
sociais, cansei-me e apetece-me ouvir Wordsong... embrulhar-me nos
sons das palavras... e imaginar AL Berto voando junto ao Tejo. Vou
ler muito mais e dedicar-me ao desenho)
Francisco
Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira,
2 de Março de 2015