quinta-feira, 5 de março de 2015

Calçada da Ajuda


Está escuro
no exíguo espaço dos teus braços
mantenho-me aceso como uma fogueira invisível
no meio do campo
deserto
sem árvores
pássaros
ou... enforcados marinheiros
procuro a enxada do silêncio
e gemem as pedras xistosas dos lábios da alvorada
escuro
nada

como o transeunte sentado
na Calçada da Ajuda
procura
procura o carteiro
carta escrita
sem remetente
vem a morte
e leva-o para a biblioteca
abre um livro
folheia-o como se fosse o teu corpo adormecido sobre as lágrimas do veneno...
afugenta as palavras
e a tempestade alicerça-se-lhe no peito

começa a voar nos cortinados da noite
acende o seu último cigarro do dia...
e pergunta-se
quando?
quando terminará este dia...
a morte dos sonhos
envergonhados
lânguidos nas janelas sem vidros
o mar dança-lhe na algibeira da solidão
bebe um uísque...
e acredita que a poesia
habita no terceiro esquerdo dos teus seios...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 5 de Março de 2015

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