quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Vinhedos sombreados


Inventei-te numa noite de solidão,
escrevi o teu nome fictício numa muralha de xisto
que a tempestade tombou,
havia no teu olhar socalcos cansados
e vinhedos sombreados
de... paixão...

Havia na tua mão
uma carta por escrever,
e lá dentro...
um beijo,
um beijo desenhado no meu sorriso
com lágrimas de sofrer,

Inventei-te numa noite de solidão,
abri os cortinados e olhámos as estrelas de papel crepe...
havia luar nos teus cabelos
e neblina cinzenta nas tuas pálpebras de adormecidos rochedos,
e quando me abraçaste... a cidade morreu,
como morreram todas as cidades onde habitámos,

hoje, somos dois esqueletos vadios...
vagueando pela embriagada poesia de um louco,
dois pássaros sem árvores para poisar...
hoje, somos dois esqueletos vadios... sem Oceano para navegar,
e esperamos,
impacientemente que acorde a madrugada.

(e hoje... nada me apetece escrever...)



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 3 de Dezembro de 2014

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Palavras de zarcão


Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão
que a manhã come enquanto dormes e finges sonhar
não permitas que entre o mar dentro de ti
e se alicerce aos teus desejos
não tenhas medo dos cortinados cinzentos
que a madrugada esconde nas pálpebras do vento
como quem morre
em sofrimento...

Não saboreies os meus lábios encaixotados
como pedaços de cacos e miudezas...
que galgaram o Oceano em direcção ao teu coração
não digas que a noite é uma mistura gasosa de iões e positrões...

Não
não saboreies os meus tentáculos de espuma
como se eu fosse uma cidade voando na preia-mar
não confundas o amor com a amizade
não
não confundas as palavras tontas com as palavras embriagadas
pelo cansaço
ou... ou pelo Inverno em desassossego,

Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão,

Inventa amanheceres de cartão
gaivotas de porcelana...
mas... não
não saboreies as milhas tristes palavras de zarcão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 2 de Dezembro de 2014

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Equação de amor


Arcaico silêncio que finge adormecer nas minhas mãos
saboreiam o teu corpo pincelado de luz
como a névoa pálpebra de papel voando sob o púbis da madrugada
a mendicidade dos teus lábios quando o meu espelho se parte em teu sorriso
o verme poema enrolado nos teus seios...
em curvilíneos cansaços
traçando lágrimas de sémen no triângulo nocturno da insónia
da janela... o teu perfume em pequeníssimas lâminas de suor,

Uma equação de amor morre na quadriculada folha embriagada,

Arcaico silêncio que finge...
minhas mãos indiferentes à parábola do teu cabelo
se existes... é porque pertences às telas invisíveis do amanhecer
como andorinhas ancoradas às cordas da solidão
que ardem
e se evaporam...

Uma equação de amor morre na quadriculada folha embriagada,

E tu não percebes que há na matemática a paixão secreta do desejo
que na ardósia tarde junto ao rio
o teu corpo pertence-me na plenitude simetria de uma canção
que te revoltas
nos meus braços
como uma criança em distantes birras...
desenhando círculos na areia
ou... ou escrevendo sílabas numa rua sem saída.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 1 de Dezembro de 2014

domingo, 30 de novembro de 2014

Em fuga – (o medo de arder)


A cidade a arder
quando os teus lábios se entranham nos meus lábios
alguém liga o interruptor da noite
e ela cai sobre os teus seios
como a tempestade
ou... ou a destruição do muro que nos aprisiona
e come a cidade a arder
e as ruas em fuga
para a outra margem
o barco escondido nas tuas mãos
nos leva
e desaparecemos na neblina,

A fogueira que há em ti
e faz do teu corpo o aço em delírio
o sino da aldeia nos acorda
e alimenta
e encanta...
como um jardim despido à nossa espera
tenho medo das tuas garras de serpente sem nome
envenenada pela paixão
a cidade a arder...
na cidade com fome
da cidade sem coração
da cidade dos rochedos em liberdade.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 30 de Novembro de 2014

Candeias da saudade


Sinto as tuas mãos
meu marinheiro iletrado
ensanguentadas
poisadas nos meus ombros de xisto
o rio se entranha nas minhas veias
no meu peito socalcos se embriagam
e sentem
o peso da despedida,

a lentidão da esperança
mergulhada no lixo poético do meu cansaço
e há mulheres tão lindas... esperando um abraço,

e há mulheres tão lindas... esperando um beijo
e sinto
as tuas mãos meu marinheiro iletrado
quando as candeias da saudade acordam
e fingem
que hoje é dia dos tentáculos de sal
das palavras enxertadas de insónia
e meu querido...
as minhas palavras são a febre que alimentam as hélices do corpo em cio
e do clitóris da estória...
sinto as tuas mãos...
meu querido!




Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 30 de Novembro de 2014

sábado, 29 de novembro de 2014

Vento sofrido


A astronomia loucura do profeta
as paredes encarceradas do guerreiro desconhecido
à força e pela força
o cansaço espaço de luz nos confins rochedos da melancolia
a astronomia
embriagada pelos momentos sem pressa
numa carta de despedida
sem palavras
ou... ou remetente
uma aventura na escuridão da cama do sonambulismo
os cigarros absorvidos pela morte do fumo colorido...
e um caixão de espuma poisado nos alicerces da canção de revolta

cessem este destino
e o silêncio
da atmosfera encarnada em comestíveis soluços de desejo
a astronomia loucura do profeta
sentado em frente ao espelho da agonia
sem sentido
sem... sem melodia
antes de acordar o dia

o vento sofrido
o corpo mordido pelos meus dedos
o odor embalsamado do prazer
em finíssimos gemidos
e uivos...
e no entanto
não existem ruas na minha mão
casas
flores
nada
apenas... um rio adormecido numa fotografia
e um Domingo desorganizado e despido...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 29 de Novembro de 2014

Em desespero


A arte em desespero
que cresce no meu peito de vidro
há nas minhas palavras sorrisos de vento
e...
e segredos de nada
a arte em desespero que esta terra alimenta
o sofrimento da alma quando o livro se esquece de acordar
e cresce
no meu peito de vidro
a insónia do mar
e a tempestade de viver...
inventando espelhos inanimados

que só o corpo consegue fazer

a arte em desespero
na cidade dos enlatados lábios
o amor quando aparece...
e sem o perceber
em desespero
as minhas mãos evaporam-se na neblina assassina
não o quero
prefiro o invisível sapateado das amendoeiras em flor
a arte
em desespero...
a arte em desassossego
que o desespero pinta no olhar do pintor...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 29 de Novembro de 2014

Simplificado


Simplificado orgasmo sem sentido,
o prazer da escumalha insónia
quando o clitóris se enfurece
e foge... em direcção ao mar,
simplificado sorriso das tuas fantasias disfarçadas de cidade,
transeuntes em fúria,
nomes desorganizados
nos braços de estátuas embriagadas,
soníferos sofrendo quando a noite se despede do silêncio,
a morte em fumo
disfarçado de cigarro... a morte
o insignificante abutre na canção da estória...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 29 de Novembro de 2014

sexta-feira, 28 de novembro de 2014

O cadáver da paixão


Os teus olhos pincelados de verniz
camuflados no sombreado silêncio de uma ardósia
a tarde sem destino
e o menino...
embrulhado nas palavras adormecidas pelo giz
que só o luar consegue apagar
e destruir
o barco vai partir
sem conhecer a direcção...
ou... ou o cais para ancorar
e há uma corda suspensa nos lábios da solidão
que transcende o homem que deseja mergulhar no Oceano,
o desengano
do desassossego vestido de beijo enfeitiçado
a menina dança?
os teus olhos que só os pássaros percebem
o teu corpo de esferovite à deriva na planície das lágrimas incendiadas pelo areal...
um grito de revolta
alicerçado ao magnetismo esconderijo das geadas envenenadas
a embriaguez estonteante das madrugadas
quando o relógio de pulso se suicida num abraço de cartão canelado
e o homem responsável pelos teus olhos pincelados de verniz...
… morre lentamente na fogueira da paixão
como a perdiz
nas garras do amanhecer
e nesta vida de viver...
os teus olhos são cerejas de sofrer.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 28 de Novembro de 2014

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

Cidade dos transatlânticos...


Alicerçar-me nos teus braços
como se eu fosse um faminto,
não.

Um sorriso de pergaminho
nos lábios de uma caneta de tinta permanente,
uma folha húmida,
como a tua pele...
sobre a secretária desarrumada,
uma pilha de livros à minha espera...
e nada,
nem palavras,
nem leitura,
apenas oiço “Wordsong”...
e... e imagino o “AL Berto” deambulando
pela cidade dos transatlânticos...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 27 de Novembro de 2014