O abstracto,
quando o sorriso se
transforma em chuva,
o abstracto silêncio
das tuas palavras,
desfasadas,
misturadas nas
pálpebras de um fio de luz,
O abstracto meu
corpo, laminado pelas garras do amor,
o sítio negro do
teu peito,
o cofre das tuas
flores de papel,
o abstracto mar que
corre no teu abdómen,
como neblina sobre o
rio da saudade,
O abstracto...
o dia morre,
o relógio nocturno
das tuas coxas..., abstractas, mergulham em mim como a âncora de
madeira cansada,
e tudo parece
adormecer em nós...
a cidade, a rua onde
existe um quiosque de algodão e arde,
O abstracto facalhão
que traveste a solidão em paixão,
a ressaca do
esqueleto em módicas trinta e seis prestações,
o abstracto corpo
sem alicerces,
dançando na copa da
árvore das tuas tristes lágrimas...
e um barco entra em
ti,
Vives no abstracto
espelho,
suspenso nas
gaivotas cinzentas das searas envenenadas,
uma fotografia
diz-me que tu deixaste de ser menina,
hoje és uma pedra,
abstracta e sem nome,
que desce a montanha
do meu olhar...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Sábado, 31 de Maio
de 2014