quinta-feira, 11 de julho de 2013

Despedida

foto: A&M ART and Photos

Prometeste-me viagens sem regresso
alimentaste-me de corações de areia
e pequenas pétalas poéticas que guardavas junto ao peito...
dizias-me que todos os calendários morriam no final de cada ano
e que os beijos
eram pequenas invenções dos crescidos
éramos crianças com asas de papel
e brincávamos em quintais clandestinos
e quando da despedida...
vi-te pela última vez com um bibe sentada sobre um cacho de bananas...
sorrias
e eu me ausentava para nunca mais regressar,

Imagino-te recheada de filhos
num banco de jardim
ou junto ao escorrega enquanto uma das tuas crianças (se as tens) fazem o que fazíamos...
sonhávamos com papagaios de papel suspensos num cordel de lábios lacrimosos...
e esperávamos que descessem todas as nuvens dos finais de tarde,

Vestias-te de mar
com laços de maré ao pescoço...
desenhaste um beijo na luminosidade da manhã...
e parti em direcção ao infinito despertar dos desejos
adormeci
e hoje incessantemente... procuro a tua sombra entre os destroços dos velhos caixotes em madeira...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 10 de julho de 2013

Os sonhos invisíveis das praias do abismo

foto: A&M ART and Photos

Acreditava que eras uma pedra polida vagueando entre silêncios e montanhas de desejo
descias as escadas em caracol até adormeceres sobre os lençóis de mar
onde se escondiam braços de amor e beijos desalojados
começavam as chuvas frias que encobriam a tua pele castanha
como cerejas dentro de uma boião perdido no centro de uma cidade,

Amavas-me loucamente como se amam as gaivotas e os ventos de Nortada
ouvíamos as luzes dos guindastes de aço a romperem os verdejantes jardins da Ajuda
e dormíamos enrolados na neblina do amanhecer
e ninguém nos Ajudava...
havíamos descoberto as pedras da calçada como se fossem cobertores cinzentos...

Havíamos descoberto os sonhos invisíveis das praias do abismo
como se fossem cigarros de brincar
em dedos fictícios alimentados por laços de papel...
havíamos... acreditava que eras a noite quando voavas sobre as velas de linho
dos veleiros em madeira e cansados sobre a mesa da sala...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 9 de julho de 2013

A cidade dos cães

foto: A&M ART and Photos

Solicitavas-me nos dias proibidos
escrevias o meu nome nas pedras ímpares da cidade dos cães
misturavas sílabas indefesas com folhas de laminado xisto
a preto-e-branco um rio pertencia a uma imagem adormecida no amanhecer sem relógios
solicitavas-me quando ainda todos lá de casa brincavam
sonhavam
acordados porque tinham sido picados com gotas de insónia
que o vento trazia do outro lado da planície,

Éramos putos governados por esqueletos de palha
conforme rangiam as vidraças dos corações de centeio
amávamos-nos entre árvores e pincéis mergulhados em tintas alimentadas com pequenas luas
que a alvorada deixava ficar debaixo da tenda do circo
corríamos de terra em terra
em busca do prazer carnal como cegonhas viciadas em jejuns de areia...
e corpos masculinos estampados nas paredes cinzentas do amor
que os pequenos cigarros iluminavam as noites envergonhadas dos lençóis imaginários,

Solicitavas-me do preto desejo que o teu espelho acorrentava
quando as tuas coxas eram o fim de mais um dia de transbordo e vãos de escada
que subíamos e aterrávamos num sótão com lentes de marfim e dentes de âncoras em correntes de doce chocolate
vivíamos o amor num círculo trigonométrico
entre senos e cossenos... depois das tangentes que os teus seios desenhavam no meu dorso de cristal...
um ângulo perdidamente apaixonado... voava em direcção ao mar
e a cidade dos cães escondia-se entre os cortinados das tuas coxas...
em pequenas açoitadas flores com olhos verdes que me beijavam quando entrava em nós a escuridão dos dedos testiculares da madrugada...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 8 de julho de 2013

As auras mãos de menina

foto: A&M ART and Photos

Vejo as faúlhas da parvalhice, sinto das auras mãos de menina, o doce perfume da mulher desiludida, com o marido, com os filhos, com os vizinhos, com os políticos..., comigo, com ele, ou com o amante, sinto-lhe a leveza vassalagem a transbordar a alegria de pálpebras negras, e empobrecidas, falta-lhe o amor, falta-lhe ser amada, desejada, possuída... sobre as toalhas vadias das tempestades de Agosto,
(assobiam os manifestantes contra a ausência de amor)
Crescem pétalas de amor como de lixo existe nas ruas, há muito amor, este ano, para dar, oferecer e vender, este ano tudo se oferece, e tudo é possível de concretizar, as auras de menina, o doce perfume da mulher acabada de o ser, finge ter um marido ausente, caminha pelas encostas cegas dos socalcos abandonados, imagina um rio feliz, imagina um homem a comandar esse rio, e apenas com um sorriso nos lábios, ele, ele desancora o casebre em ruínas, dissimuladas canções escritas em paredes de areia, velhas cortinas em janelas de madeira, tudo arde, e ele corre até entrar nos orgasmos clandestinos das eleições que se avizinham, alguns, precocemente, já ejacularam, outros, nem esse prazer chegaram a sentir, porque é assim a puta da vida, quando se quer, não se tem, às vezes, apostam no cavalo errado, por essa razão comecei a apostar em ratos de capoeira, são destros, astutos e sabem sempre o que fazer, alicerçam-se os caminhos até ao cimo das escadas com vista para as nuvens, e tudo se perderá como um simples grão de areia...
(assobiam os manifestantes contra a ausência de amor)
Vejo as faúlhas da parvalhice,
Como são as borboletas?
Têm pintinhas nas asas, meu amor,
Como as ondas silvestres dos Oceanos mergulhados em areia branca, uma voz de carneiro desaparece dos currais desabitados e com telhas em cerâmica pintadas de verde alface, oiço os orgasmos inconsequentes de alguns candidatos, e coitadas das mulheres que descem e sobem a montanha da vaidade, infelizes, tristes como as mãos do escultor, que tendo diante dele um pedaço de rocha, nada dali sairá até que desçam todas as estrelas dos céus onde se escondem os malabaristas do costume, e afins,
(não falo de política, porque me enoja a sobrevivência de alguns)
Ela amanhava uns cabelos curtos, castanhos e com alguns desenhos misturados com algumas frases inocentes, deitávamos-nos sobre uma lago de sémen e olhávamos os edifícios com braços longos e esguios, alguns deles, masturbam-se intelectualmente e sem se aperceberem, os edifícios, deslizam rua abaixo... até que o Tejo os apanha, os coloca no comboio para Cais do Sodré, e depois, nasce a manhã em nós, e depois...
Têm pintinhas nas asas, meu amor,
E depois crescem pétalas de amor como de lixo existe nas ruas, há muito amor, este ano, para dar, oferecer e vender, este ano tudo se oferece, e tudo é possível de concretizar, as auras de menina, o doce perfume da mulher acabada de o ser, finge ter um marido ausente, ama o amante, e tem raiva às flores amarelas,
Porquê?
Pergunto-me se seria possível viver sem ti, sem os teus carris, sem as tuas sombras, pergunto-me... e percebo, que há sempre uma esplanada de amor à nossa espera, sempre, como as chuvas depois do carregado céu com estrelas de papel, Porquê
Porquê o quê?
(não falo de política, porque me enoja a sobrevivência de alguns)
Porquê o quê?
… se a cidade é tão bela, se a cidade tem um coração de amêndoa e uma pétala poética e melódica... como as palavras dos Fingertips..., como os pinheiros de Carvalhais, como as algas na boca dos teus queridos peixes...
E amanhã
Porquê o quê?
E amanhã, logo pela manhã, serei odiado por alguns sobrevivente raivoso porque este texto existe e é meu...

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

O Castelo da Solidão

foto: A&M ART and Photos

Inventava cavernas na tua garganta
percorria as entranhas rochosas da tua pele de cogumelo acabado de nascer
via na tua língua as migalhas de incenso
trazidas pela insónia
inventava barcos no teu púbis como os desenhos das gaivotas sobre os teus seios de silêncio
ao cair a noite sobre o Castelo da Solidão,

Inventava um divã semi-nu em busca de corpos crucificados pelo suor da noite
e das pedras as encarnadas palavras copiando veias e artérias dentro do medo
vinha até nós a escuridão dos areais cinzentos com plumas adormecidas
vinhas-me do espelho e dizias que eu parecia uma lanterna poisada sobre um pedaço de espuma
que o teu nobre corpo degolava como sílabas num texto embriagado
pela minha triste mão,

Sabias-me a neblina quando palmilhava o teu corpo com os meus lábios
escrevia meros poemas em poucas palavras de argamassa orvalhada
sentia-me entre dedos e marés
como ventos ciclónicos depois de partir o último comboio para o Castelo da Solidão
puxava o último cigarro
e agarrando o último suspiro... cerrava os olhos até adormecer eternamente só... dentro do teu peito...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

domingo, 7 de julho de 2013

Se partires, partirás como sempre o desejaste, simples, simples demais...

foto: A&M ART and Photos

Percebia pela forma do teu corpo que eras construída de uma massa esponjosa, preenchidas as cavidades onde começaram a habitar borboletas, abelhas e flores anónimas, vieram os plátanos, o criador trouxe a luz e a noite, fez com que os plátanos se sentassem em frente ao mar, havia suspiros de vento aqui e além, pouca coisa, percebia pelos teus medos que pouco tempo permanecerias perto do meu jardim, porque da eira chegavam as abrasadoras palavras como brasas em insónia na lareira da casa de Favarrel, olhava-te nas poucas palavras que te escrevi
E
Pouca coisa, em três ou quatro linhas,
E depois vesti-me, saí de casa pensando que te encontraria sentada no colo dos plátanos, não era verdade, o meu sonho tinha-se destruído como acontece com as teias de aranha, quando alguém lhes toca, e desiludem-se os corpos mergulhados em fenol,
E,
E pouca coisa, em três ou quatro linhas, curtas e magras, despedi-me de ti...
Olhavas-me nas poucas palavras que me escreveste, percebia pela forma do teu corpo que seria o fim, uma anunciada despedida, e das esponjosas cavidades, inutilmente desejadas pelos desconhecidos novos habitas de ti, partiste sem dizer até amanhã,
Parti sem dizer nada, lançando-me do cimo do Inverno... até encontrar uma Primavera de claridade, até perceber pela forma do teu corpo..., que havia uma outra estrada paralela à que deixamos adormecer,
Hoje
E pouca coisa,
Hoje olho-te nas poucas palavras que pensava ter-te escrito e que dou-me conta, nunca o fiz
Porquê?
Coisa, pouca, quase nada, porque a morte se apressa, e a vida se esgota como pequenos silêncios nas mãos de uma flor, a morte vai levar-te, tal como a mim, e depois, encontrar-nos-emos entre o Jardim Doutor Matos Cordeiro e o infinito, fumaremos cigarros inventados e conversaremos de coisas banais, o relembrar de memórias, pequenas longas histórias, palavras deixadas cair nas minhas confidências que me ouvias... e falávamos, e fumávamos, e bebíamos..., se partires, partirás como sempre o desejaste, simples, simples demais,
Hoje,
Percebia pela forma do teu corpo que eras construída de uma massa esponjosa, preenchidas as cavidades onde começaram a habitar borboletas, abelhas e flores anónimas, vieram os plátanos, o criador trouxe a luz e a noite, fez com que os plátanos se sentassem em frente ao mar, havia suspiros de vento aqui e além, pouca coisa, percebia pelos teus medos que pouco tempo permanecerias perto do meu jardim, porque da eira chegavam as abrasadoras palavras como brasas em insónia na lareira da casa de Favarrel, olhava-te nas poucas palavras que te escrevi, e que ele sabia da tua existência,
Meu Deus, quantas noites ele passou a ouvir os meus lamentos, quantas noites vimos nascer o sol, e esperávamos o regresso do mar, que ainda hoje,
Porquê?
Porque a vida é assim, uns partem e regressam, outros partem sem nunca mais regressar..., e tu, e eu, um dia, viveremos entre um banco de jardim e o infinito amanhecer..., se partires, não deixes que te encerrem as janelas viradas para o mar, e nunca, nunca deixes de olhar as rochas... e os barcos de papel como gaivotas a virem comer nas tuas mãos.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

E uma mão escreve na parede dos teus lábios as canções desesperadas

foto: A&M ART and Photos

Submergem de ti os pequenos silêncios da alvorada
abres as pálpebras embebidas nas lágrimas da insónia
mergulhas em mim como um arbusto suicidado no rio do desassossego
sinto-te fervilhar como uma gaivota em cio
sobrevoando os socalcos imaginários da encosta montanha
e da tua boca
os pequenos gemidos
latidos contra o muro em betão que separa o cais do amor da sulfurosa água da fonte velha,

Oiço-o como se vivessem em ti os braços espetados no dorso magoado da árvore do desejo
e depois da janela partida os vidros esperam a chegada do vento
e uma mão escreve na parede dos teus lábios as canções desesperadas
dores inventadas no teu coração,

Submergem de ti os pequenos barcos do louco marinheiro...
e as ondas púrpuras que os teus olhos alimentam
descem do corpo cerâmico... como as tempestades de areia
nuvens de chocolate...
ventos desconformes
assim como o divã onde nos deitávamos
depois de poisar o Sol sobre as tuas canelares flores de papel...
assim como um orgasmo supérfluo no esqueleto nocturno do extinto Luar.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Porque és a noite à procura do desejo

foto: A&M ART and Photos

Porque és a noite
ofereço-te todas as minhas forças
dou-te os meus braços
desenho-me nos teus seios
porque és a noite
invento-me nos teus lábios
e saboreio a tua doce boca de cereja adormecida...
porque és a noite
saio de mim
do meu corpo
e voo... voo como um milhafre à procura do desejo
que se esconde no mar.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sábado, 6 de julho de 2013

Será que ela tem janelas no peito?

foto: A&M ART and Photos

Vivíamos perto da fronteira com a loucura, havia flores que nunca acordavam, e quando o faziam, sonolentas, pareciam vadios homens deambulando as paredes frias, finas e escuras, do corredor com acesso a lado nenhum, um postigo embriagado, todas as manhãs se abria como os olhos das borboletas quando as pálpebras do silêncio se dilatam, aumentam de volume e começam a chorar, o dia clareava em duodécimos, e pouco depois, digamos que
Tempo de mais,
Elas apareciam vestidas com roupas leves, de cor branca, com o aqui e além, dispersas em sacrifícios de momentos devastados pela chegada da tempestade e partida da solidão, dizia eu, algumas rosas em puro linho, que ao longe mais pareciam janelas, ainda mergulhei-me em pensamentos parvos
Será que ela tem janelas no peito?
Claro que não, claro que não, e pitosga como sou, facilmente confundiria uma palmeira com um beijo, ou
Será que ela ainda pensa em mim?
Ou
Claro que não, claro
Que esperavas, tu?
Eu?
Sou um tipo porreiro, tenho amigos em todo o lado e ainda ontem
Claro que não, Alice, claro que não,
E ainda ontem recebi uma carta (mesmo carta, em papel, com letras desenhadas a caneta e perfumada) cujo remetente era algures da Lua..., como vês, minha filha, o teu pai começa a ficar famoso,
Se eu penso em ti, Alice?
Claro que sim, claro que sim, não, não é engano, o remetente é mesmo da Lua...,
E ainda ontem, Sábado, vi pela ultima vez o teu corpo nu e estranhamente escrito com as minhas palavras, estranho não é? Se eu penso em ti, querida Alice? Claro
Mas ontem foi Sexta-feira..., então foi hoje,
Claro que penso, claro que penso nas palmeiras esperando o regresso do final do dia, o velho Francisco desce cuidadosamente os cortinados do desejo sobre as labaredas do teu corpo a transpirar poesia e pequena literatura, diga-se
(de merda)
Diga-se que sim, que tenho saudades das palmeiras, e da tua voz quando disfarçada me melancolia, quando timidamente me dizias
Amo-te João,
Me dizias que as palmeiras inventavam fotografias, e que ainda hoje, Claro que sim, querida Alice!, que ainda hoje espero pela chegada da tenda do circo onde vivem as tuas mãos, aquelas, Recordas-te, querida Alice?
Sim, aquelas que te afagavam o cabelos...
E depois de me cerrares as pálpebras... eu adormecia no teu débil peito de seios minúsculos, como o vento, aturando limões contra os vidros das janelas, aquelas que eu pensava serem janelas, e que nunca passaram de rosas bordadas pela tua avó...
O que será feito da tua avó, Alice?
Um dia, como nós, simples partículas de poeira viajando pelo espaço escuro e frio, e responder-te-ei...
Claro que sim, Alice, claro que sim, as palmeiras.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Terei em mim as sobejadas tuas lágrimas?

foto: A&M ART and Photos

Terei em mim as sobejadas tuas lágrimas?
E as tuas algas, meu amor,
como conseguem elas sobreviver sem as minha mãos...
sem o meu olhar,
terei em mim as algemas flutuantes do silêncio
quando apareces no espelho da noite
e começas a cantar
sorrindo,

Sou uma gota de água salgada
que voa nas clarabóias do teu doce cabelo
sou uma gaivota disfarçada de gota de água...
que te ama quando deitas a tua cabeça no meu peito confeccionado com as pobres pétalas
do xisto laminado da paixão,

O amor dispara palavras contra os uivos meninos da cidade dos abismos
sentavas-te nos corredores da noite como se fosses uma árvore
uma menina vestida de árvore
como as tuas algas e os teus peixes e a rosa que deixaste no interior de um velho livro...
o amor disfarça-se de madrugada
e assim, nós, os eternos amantes, dormimos parecendo pássaros envenenados pelo cacimbo,

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha