foto: A&M ART and Photos
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Percebia pela forma do teu corpo que eras construída
de uma massa esponjosa, preenchidas as cavidades onde começaram a
habitar borboletas, abelhas e flores anónimas, vieram os plátanos,
o criador trouxe a luz e a noite, fez com que os plátanos se
sentassem em frente ao mar, havia suspiros de vento aqui e além,
pouca coisa, percebia pelos teus medos que pouco tempo permanecerias
perto do meu jardim, porque da eira chegavam as abrasadoras palavras
como brasas em insónia na lareira da casa de Favarrel, olhava-te nas
poucas palavras que te escrevi
E
Pouca coisa, em três ou quatro linhas,
E depois vesti-me, saí de casa pensando que te
encontraria sentada no colo dos plátanos, não era verdade, o meu
sonho tinha-se destruído como acontece com as teias de aranha,
quando alguém lhes toca, e desiludem-se os corpos mergulhados em
fenol,
E,
E pouca coisa, em três ou quatro linhas, curtas e
magras, despedi-me de ti...
Olhavas-me nas poucas palavras que me escreveste,
percebia pela forma do teu corpo que seria o fim, uma anunciada
despedida, e das esponjosas cavidades, inutilmente desejadas pelos
desconhecidos novos habitas de ti, partiste sem dizer até amanhã,
Parti sem dizer nada, lançando-me do cimo do
Inverno... até encontrar uma Primavera de claridade, até perceber
pela forma do teu corpo..., que havia uma outra estrada paralela à
que deixamos adormecer,
Hoje
E pouca coisa,
Hoje olho-te nas poucas palavras que pensava ter-te
escrito e que dou-me conta, nunca o fiz
Porquê?
Coisa, pouca, quase nada, porque a morte se apressa,
e a vida se esgota como pequenos silêncios nas mãos de uma flor, a
morte vai levar-te, tal como a mim, e depois, encontrar-nos-emos
entre o Jardim Doutor Matos Cordeiro e o infinito, fumaremos cigarros
inventados e conversaremos de coisas banais, o relembrar de memórias,
pequenas longas histórias, palavras deixadas cair nas minhas
confidências que me ouvias... e falávamos, e fumávamos, e
bebíamos..., se partires, partirás como sempre o desejaste,
simples, simples demais,
Hoje,
Percebia pela forma do teu corpo que eras construída
de uma massa esponjosa, preenchidas as cavidades onde começaram a
habitar borboletas, abelhas e flores anónimas, vieram os plátanos,
o criador trouxe a luz e a noite, fez com que os plátanos se
sentassem em frente ao mar, havia suspiros de vento aqui e além,
pouca coisa, percebia pelos teus medos que pouco tempo permanecerias
perto do meu jardim, porque da eira chegavam as abrasadoras palavras
como brasas em insónia na lareira da casa de Favarrel, olhava-te nas
poucas palavras que te escrevi, e que ele sabia da tua existência,
Meu Deus, quantas noites ele passou a ouvir os meus
lamentos, quantas noites vimos nascer o sol, e esperávamos o
regresso do mar, que ainda hoje,
Porquê?
Porque a vida é assim, uns partem e regressam,
outros partem sem nunca mais regressar..., e tu, e eu, um dia,
viveremos entre um banco de jardim e o infinito amanhecer..., se
partires, não deixes que te encerrem as janelas viradas para o mar,
e nunca, nunca deixes de olhar as rochas... e os barcos de papel como
gaivotas a virem comer nas tuas mãos.
(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha
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