quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Incineração

foto de: Martin Bernier

Incinero-me na tua sombra com os espelhos nocturnos do inverso complexo número
e sinto em ti as cinzas equações das tristes integrais
duplas… triplas...
infinitamente sós
soalheiramente sentadas num quadriculado caderno com capa negra
argolas nuas dos simplificados arames maleáveis em chapéus de palha humedecida pelo desejo orvalho da madrugada...
sinto-te desfalecer a cada minuto em desassossego e as janelas não mais acordaram depois da tempestade
o silêncio mergulha-te
insemina-te de falsos alicerces...
como falsas deles as palavras que somos obrigados a ouvir
incinero-me na tua sombra sem o saber
e não entendo as tuas lágrimas após caírem sobre o soalho os cortinados da solidão...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 16 de Janeiro de 2014

quarta-feira, 15 de janeiro de 2014

A lareira da paixão

foto de: A&M ART and Photos

Perceber o fogo do corpo em suspenso
aquele que arde entre a morte e as palavras enraivecidas
escrever no corpo que arde em suspenso quando os lábios do fogo
não morrem... e permanecem inconstantes como um círculo descendo a calçada da Ajuda
perceber que o homem arde
fervilha
e dorme no colo de outro homem...
ergue-se o cansaço argiloso das andorinhas de papel
vem a nós os desejos preguiçosos das saudades de ontem
e fervilhas
como um pedaço de madeira nas mãos de Deus...
porque o rio se despediu de ti e tu permanecerás dentro da lareira da paixão.



@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 15 de Janeiro de 2014

terça-feira, 14 de janeiro de 2014

Sílaba louca

foto de: A&M ART and Photos

A mágica sílaba louca
da ardósia tua boca
desenhando
escrevendo
construindo palavras nas pálpebras do sono,

A mágica sílaba louca
correndo à fonte a água pouca
saltitando
sonhando
as madrugadas de veludo em seu tão distinto trono,

A mágica sílaba louca
como nunca ninguém a viu nas manhãs sem touca
humedecendo
comendo
os censurados cobertores do absorto mono...

A mágica sílaba louca
sabendo que terminaram todas as rimas do silêncio em poupa
a cabeça dançando
e os braços... e os braços abraçando
as insígnias maleitas do desejo nono.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 14 de Janeiro de 2014

Blogue Cachimbo de Água em destaque na Rede – Sapo Angola



segunda-feira, 13 de janeiro de 2014

Esqueleto apátrida

foto de: A&M ART and Photos

Nas pálpebras do silêncio um fino fio de tristeza,
mergulha, insemina e cresce como pétalas cinzentas,
corre na límpida água fresca dos seios encastrados na montanha do desejo,
morrem todas as palavras terminadas em OR,
morrem as nuvens de chocolate e os sinos ásperos do sofrimento...

Ouvem-se-lhes nas migalhas do dúctil granito as mágoas de um final de tarde,
sem luzes amarelas, sem néons alicerçados à cidade do medo,
ouvem-se-lhes os ditongos gagos nas planícies desnorteadas do corpo adormecido,
sem luzes amarelas, sem... nas migalhas do dúctil granito as mágoas... de tarde,

A dor veste-se de negro, e o vértice do prazer desalinha-se em relação ao centro da Cárcoda espalhada pela serra da Arada,
lobos uivos distraem-nos como pedaços de vento saltitando de pedra em pedra...
tropeça-se no buraco da nocturna habitação esquecida junto à ribeira,
e... o Inverno, e o Inverno transforma-se em esqueleto apátrida.


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 13 de Janeiro de2014

domingo, 12 de janeiro de 2014

Não... não... não... não te quero porque és uma migalha de pão sobre a pedra mesa da solidão

foto de: A&M ART and Photos

Não quero ser a lágrima inventada pelo teu putrefacto corpo
a palavra escrita na tua lápide de silêncio como uma gaivota em sofrimento
não quero ser o teu desejo inacabado
a porta encerrada do jazigo da tua minha loucura...
não quero as tuas cinzas embrulhadas em prata
numa urna calafetada
um cortinado chorando
não quero ser a estrada onde permaneces invisível
erva comestível... folha de jornal húmida das tempestades da paixão
não
não quero ser a chave do teu coração
a tua mão,

Não quero ser o teu corpo de porcelana
envenenado
com sabor a poema
não
não... não quero que tu me digas – Amo-te... quando eu não quero ser amado
não
não quero os teus cabelos
fecho os olhos quando imagino os teus lábios
e sinto no teu olhar a ravina até ao poço da desgraça
és a cidade empenhada
a pulseira sem nome no braço do condenado...
não,

Não quero ser o teu amado
prefiro um cadeado
um cão
um livro
mas não
não quero ser o que tu queres que eu seja
um doente mental
um quarto desabitado...
um punhal espetado
não
não o quero...
não,

Não o quero no meu peito
os beijos
as carícias
vestidas de milícias...
não... não... não... não te quero porque és uma migalha de pão sobre a pedra mesa da solidão
não te quero porque pertences às brancas montanhas dos alicates em aço.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 12 de Janeiro de 2014

Granito censurado

foto de: A&M ART and Photos

Não me perguntem porque desejo tanto o mar
porque sou uma lâmina em papel voando sobre a alvorada embriagada
não quero pertencer aos corações de areia
às janelas sem vidros ou... ou com eles estilhaçados...
não... não me perguntem o que são noites em solidão
masmorras com sabor a limão
mesas candeeiros e portas de entrada em constipação...
não me perguntem pelas palavras mortas
suicidadas
esquecidas
velhas...
… ou cansadas,

Não me perguntem pelo verdadeiro amor
embrulhado em lençóis de paixão
não quero saber do luar
da luz
das calçadas com pedras de chorar
não... não me perguntem pelos sábados à noite entre uísque e lágrimas de poesia
corpos despidos pedindo clemência às cordas de nylon em fantasia...
… ou cansadas
não
não me perguntem pelas tristes madrugadas
cintilantes seios no meu peito em granito censurado...
não me perguntem porque desejo tanto o mar.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 12 de Janeiro de 2014

sábado, 11 de janeiro de 2014

A espera

foto de: A&M ART and Photos

Inspiração quanto baste, três desejos e um sonho, o mar sumarento e sensível como a pele límpida da alvorada, quatro árvores desajeitadas e sem sono, uma drageia ao pequeno-almoço e outra...
Ao deitar?
E a outra e mais outra, a inspiração, o orvalho, o soalho e o espelho, a cama em lágrimas e o sofrimento impregnado nas lâminas transversais do gesso embriagado, quatro árvores em decadência, um corpo suspenso na madrugada, a chuva, as nuvens apaixonadas pelo triste cacimbo... e nada mais, e apenas um menino
Ao deitar?
Quatro drageias, três árvores em desejo misturado em cinco quintos de sonho, uma
Merda?
Ao deitar?
As fotografias em constante transbordo, a locomotiva da paixão descarrilou, ravina abaixo, ravina acima, a mini-saia encarnada e as meias com bolinhas brancas, no joelho a nódoa negra, a pedra em granito que caiu do silêncio camafeu em robe e velho pijama, o corredor, a espera, a derradeira espera, uma janela, cigarros na mão, ao longe, ao longe o metro de superfície parecendo uma lesma sobre os muros em xisto do Douro Vinhateiro, socalcos de pano, lanternas na cabeça, e a burra... tropeçando, e a burra...
Ao deitar?
Desesperado eu, a inspiração em drageias, quatro, cinco... ou nenhuma... as janelas embebidas na dor e eu sentado, braços cruzados, braços descruzados, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, e eu... desesperando, pensando, pensando
O que será de nós?
E ao deitar,
Não sei se a imaginação vive dentro de mim ou se eu, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, cruzo os braços, descruzo e enrolo-me à dor dos presentes, fumo, não fumo, abro a janela, não abro a janela... apetece-me saltar, aterrar do outro lado da rua, cair sobre os carris do metro, deitar-me de barriga para o céu... e gritar, e... e chorar..., e
Ao deitar tomo as drageias da saudade, meio copo com água, um copo com uísque, dissolvidas todas como sementes junto à eira em Carvalhais, irrita-me
Ao deitar?
O metro de superfície correndo como um louco, e dizem que o louco sou eu, cruzo, descruzo, invento desenhos nas paredes incolores da tristeza, oiço-os em conversas desalinhadas, finjo não os ouvir, eu não os quero ouvir,
Ao deitar? E ao deitar a sonolenta voz das palavras, a neve sobre os telhados que a dor deixa nos malditos ossos, frágil – cuidado, cuidado com o cão, cuidado com as carruagens do metro de superfície engasgadas, tosse e rouquidão, não sei se fume, não fume ou fume, comprar cigarros, saltar a janela, saltar o gradeamento, saltar os carris... e eu... e eu imaginando cigarros nas paredes coloridas da cela, a porta abre-se...
E?
O que será de nós?
E ao deitar, o perfume da Cinderela passeando junto aos carris...
(desesperado eu, a inspiração em drageias, quatro, cinco... ou nenhuma... as janelas embebidas na dor e eu sentado, braços cruzados, braços descruzados, e eu... compro cigarros, e eu... não compro cigarros, e eu... desesperando, pensando, pensando
o que será de nós?)
Inspiração quanto baste, três desejos e um sonho, o mar sumarento e sensível como a pele límpida da alvorada, quatro árvores desajeitadas e sem sono, uma drageia ao pequeno-almoço e outra...
Ao deitar?
Ao deitar as drageias, os silabados imaginados por um louco que depois da felicidade deseja voar como gaivotas sobre os petroleiros vampiros que habitam os rios dos velhos sonhos de infância,
Não sei, não... sei... não sei se ele conseguirá...!
Talvez,
Ao deitar?
Talvez... talvez ao deitar.


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 11 de Janeiro de 2014

… rochedos da saudade

foto de: A&M ART and Photos

Diluímos-nos com os velhos vapores que a solidão alicerça nos rochedos da saudade
habitávamos num fino e escuro cubículo de paixão com telhado de vidro
tínhamos na mão a varanda do suicídio construída com as raízes do medo
e voávamos como serpentes de papel nos cortinados das lareiras sem nome...
éramos o ébano lençol de seda com desenhos bordados a fogo
descíamos das nuvens embebidas em frestas de gesso e pedaços de madeira envelhecida...
fugíamos... fugíamos como loucas pedras em granito esquecidas na espuma do Pôr-do-Sol
inventávamos o mar dentro das nossas veias onde corriam insectos e outros objectos da noite
luzes
néons como venenos que iluminavam a madrugada das livrarias empoeiradas
diluímos-nos com os velhos vapores...
… rochedos da saudade,

Há uma saudade invisível nos socalcos da cidade das marés lunares
um barco de sémen navega sobre a tua pele doirada quando pintada com pincéis de aço
o teu corpo se transforma em fome
os teus braços desassossegam todos os transeuntes mendigos da dita cidade das marés lunares...
uma criança procura chocolates de areia nas algibeiras do segredo
corre como uma lebre talude abaixo
e do sol chegam até nós os prometidos apitos dos vapores que a solidão... alicerça... a saudade...
submerges nos êmbolos loucos dos relógios de parede
saberás abraçar-me?
desejo-te em cachimbos de madeira voando como gaivotas em silêncios de tabaco
o perfume entranha-se nas grades do soalho das pequenas sílabas que dormem no quarto do grito
e uma outra criança chega a ti e pergunta-te... porquê pai?


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 11 de Janeiro de 2014

Desilusão

foto de: A&M ART and Photos

Acreditava que o sonho se vestia de branco
que em todos os jardins existiam esqueletos de aço com coração de veludo
e que em todas as palavras pronunciadas...
escritas
e apaixonadas... habitavam as mãos do delírio sono extinto das noites circunflexas
tínhamos no sono a ânsia de viver dentro dos poços das amoreiras em flor...
crescíamos
e vivíamos...
e éramos vultos comestíveis como as folhas dos plátanos adormecidos
queríamos a paixão e vinha até nós a solidão
desejávamos o prazer
e acordava em ti a desilusão de deambular sobre os coqueiros em papel...


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 11 de Janeiro de 2014