sábado, 6 de dezembro de 2014

Migalhas


As migalhas do teu suor
quando há nuvens com fome
e esqueletos sem nome...
os tentáculos da tua dor
mergulhados na calçada do Adeus
há uma rosa
há uma flor
que a noite alimenta
e não quer
na lareira da solidão
mas só as estrelas conseguem
desenhar na tua mão,
há uma paisagem sem amor
no sorriso de um caixão
há jardins embriagados esquecidos na escuridão
as migalhas do teu suor
quando há nuvens com fome
e esqueletos sem nome...
há ossos de papel voando na madrugada
que só o amanhecer consegue parar
há barcos infelizes
e há barcos apaixonados...
mas as migalhas do teu suor
são os alicerces da cidade dos pássaros aprisionados.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 6 de Dezembro de 2014

sexta-feira, 5 de dezembro de 2014

Esqueletos e escuridão


Esta casa sem mão
completamente embriagada pelo fogo da madrugada
de janelas encerradas
com portas em latão,
Esta cabeça casa sem mão
o teu corpo em desalinho
dentro da lareira...
sem perceber que há um amanhecer colorido,
Este caixão
na casa sem mão
o celibato cansaço quando há na tarde esqueletos
e escuridão...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 5 de Dezembro de 2014

Não consigo imaginar


Não consigo imaginar
As lágrimas de uma criança
Quando tem fome
Medo… que cresce sem infância
Não consigo imaginar
As lágrimas de um menino
Sozinho
Esquecido no centro da cidade
Não consigo imaginar…
A mãe do menino
Com medo
Com fome… sem nada para lhe dar.

Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sexta-feira, 5 de Dezembro de 2014

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Fotografia


A lentidão do desejo sonífero
que mergulha nos teus abraços sem sentido
o espelho da insignificância em pedaços de papel
que do vento regressam os fios loucos do teu cabelo iluminado pelo luar
trazem alegria
trazem poesia...
e tu pareces não perceber
que a lentidão do desejo
é uma digital fotografia
que arde
e que grita
a cada novo dia...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 4 de Novembro de 2014

quarta-feira, 3 de dezembro de 2014

Vinhedos sombreados


Inventei-te numa noite de solidão,
escrevi o teu nome fictício numa muralha de xisto
que a tempestade tombou,
havia no teu olhar socalcos cansados
e vinhedos sombreados
de... paixão...

Havia na tua mão
uma carta por escrever,
e lá dentro...
um beijo,
um beijo desenhado no meu sorriso
com lágrimas de sofrer,

Inventei-te numa noite de solidão,
abri os cortinados e olhámos as estrelas de papel crepe...
havia luar nos teus cabelos
e neblina cinzenta nas tuas pálpebras de adormecidos rochedos,
e quando me abraçaste... a cidade morreu,
como morreram todas as cidades onde habitámos,

hoje, somos dois esqueletos vadios...
vagueando pela embriagada poesia de um louco,
dois pássaros sem árvores para poisar...
hoje, somos dois esqueletos vadios... sem Oceano para navegar,
e esperamos,
impacientemente que acorde a madrugada.

(e hoje... nada me apetece escrever...)



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 3 de Dezembro de 2014

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

Palavras de zarcão


Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão
que a manhã come enquanto dormes e finges sonhar
não permitas que entre o mar dentro de ti
e se alicerce aos teus desejos
não tenhas medo dos cortinados cinzentos
que a madrugada esconde nas pálpebras do vento
como quem morre
em sofrimento...

Não saboreies os meus lábios encaixotados
como pedaços de cacos e miudezas...
que galgaram o Oceano em direcção ao teu coração
não digas que a noite é uma mistura gasosa de iões e positrões...

Não
não saboreies os meus tentáculos de espuma
como se eu fosse uma cidade voando na preia-mar
não confundas o amor com a amizade
não
não confundas as palavras tontas com as palavras embriagadas
pelo cansaço
ou... ou pelo Inverno em desassossego,

Não saboreies as minhas tristes palavras de zarcão,

Inventa amanheceres de cartão
gaivotas de porcelana...
mas... não
não saboreies as milhas tristes palavras de zarcão.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 2 de Dezembro de 2014

segunda-feira, 1 de dezembro de 2014

Equação de amor


Arcaico silêncio que finge adormecer nas minhas mãos
saboreiam o teu corpo pincelado de luz
como a névoa pálpebra de papel voando sob o púbis da madrugada
a mendicidade dos teus lábios quando o meu espelho se parte em teu sorriso
o verme poema enrolado nos teus seios...
em curvilíneos cansaços
traçando lágrimas de sémen no triângulo nocturno da insónia
da janela... o teu perfume em pequeníssimas lâminas de suor,

Uma equação de amor morre na quadriculada folha embriagada,

Arcaico silêncio que finge...
minhas mãos indiferentes à parábola do teu cabelo
se existes... é porque pertences às telas invisíveis do amanhecer
como andorinhas ancoradas às cordas da solidão
que ardem
e se evaporam...

Uma equação de amor morre na quadriculada folha embriagada,

E tu não percebes que há na matemática a paixão secreta do desejo
que na ardósia tarde junto ao rio
o teu corpo pertence-me na plenitude simetria de uma canção
que te revoltas
nos meus braços
como uma criança em distantes birras...
desenhando círculos na areia
ou... ou escrevendo sílabas numa rua sem saída.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 1 de Dezembro de 2014