quinta-feira, 5 de fevereiro de 2015

Jeans

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Sentia que as quatro paredes do silêncio
brincavam nas cinco esferas da insónia
com a mãozinha...
tocava nas quatro sombras da solidão
e dormia
sonhando que sentia
as quatros paredes do silêncio
dentro do meu peito
havia rock na algibeira dos jeans
e a febra abraçava-se a mim
como um poema
não para ti... mas... mas para noite que me ilumina.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 5 de Fevereiro de 2015


terça-feira, 3 de fevereiro de 2015

Movimento helicoidal

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O movimento helicoidal do beijo em silencio
o aço desperdiçado junto ao cais dos arrozais
barcos todos mortos
peixes...
nem ais...
âncoras de xisto galgando os semáforos da loucura
que só a cidade consegue alimentar
um desenho é amor
ou amam-se as palavras
e os cigarros improvisados
(pobres... não os há – dizem eles)
antes do dia acordar...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 3 de Fevereiro de 2015


domingo, 1 de fevereiro de 2015

Os fios da loucura


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Imagino os teus olhos navegando no silêncio da madrugada,
faltam-me as palavras
e as pedras imaginadas pela noite abandonada,
faltam-me as tuas mãos entranhadas nas minhas mãos...
as correntes em aço,
um barco adormecido nas pálpebras do ciúme,
que só o espelho do amanhecer consegue acariciar,
imaginadas lâminas de desassossego
nas ruas íngremes do desejo,
não tenho tempo para desenhar o teu sorriso nas sombras do corpo envelhecido
da aldeia
em lágrimas,

Imagino os teus olhos masturbados na montanha
onde habitam os fios da loucura,
o poema alicerçado aos rochedos da solidão,
o medo,
a morte...
da aldeia
em lágrimas,
como uma criança sem nome,
idade,
nada...
as correntes em aço,
e pequenas migalhas de saudade.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 1 de Fevereiro de 2015

sábado, 31 de janeiro de 2015

Beijos em flor

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Roubaste-me o sorriso nocturno dos beijos em flor
pegaste nas minhas palavras e transformaste-as em solitárias andorinhas
depois
trouxeste a Primavera
e o amor
do poema
de amar o poema
e sentir no peito as equações do destino...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Sábado, 31 de Janeiro de 2015


quinta-feira, 29 de janeiro de 2015

Os murmúrios da noite


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Tenho medo meu amor
quando os murmúrios da noite caem sobre os teus seios poéticos
e o fantasma do poema acaricia o teu corpo
como se fossem as minhas mãos encardidas pelo passado
tenho medo
meu amor
quando chove
tempestades...
e tu
não estás
ausente
viajante

dos círculos de gesso
e das acrílicas esferas que dormem nos teus cabelos
tenho medo do teu silêncio
e dos teus lábios de pergaminho
a rua deserta meu amor
um cigarro despede-se de mim
como se esta fosse a nossa última noite
juntos
e tu
não estás
ausente
viajante

do cúbicos orgasmos literários
tenho
medo
meu
amor
das pedras
dos pássaros
… e das flores
tenho medo que regresses
em formato digital
a preto e branco
a fotografia da teu destino...



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 29 de Janeiro de 2015

Insónia madrugada


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Perco-me nas avenidas de cartão,
levo nos ombros o peso das tardes húmidas,
carrego a insónia madrugada
como se fosse um corpo invisível,
sem palavras,
perdido,
a humilhação do amanhecer
quando eu não queria acordar
e olhar
as avenidas de cartão,
e perde-se o cansaço
num simples sorriso de luar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 29 de Janeiro de 2015


quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O teu nome


O teu nome
uma vírgula
encalhados na Península das palavras
o teu nome
uma vírgula
e... e a solidão desalmada do meu triste olhar
quando anoitece
e o vento me rouba o sorriso
ficam nas pálpebras o silêncio amor das quatro paredes graníticas
da prisão esquecida nos teus lábios
perco-me
e corro

uma vírgula
entranhada no teu peito
o dardo venenoso da insónia
a arte acorda nas paredes límpidas do meu corpo

ardo
sinto as cinzas a alicerçarem-se nas avenidas
da cidade
uma vírgula
solteira
cansada
da cidade os teus beijos envergonhados
desenhados
solteira
uma vírgula
apaixonada.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2015

Amargos lábios do poema

Nunca soube o que era o amor, acreditava nas gaivotas em papel da minha infância, recordo o triciclo enferrujado, o boneco estúpido que apelidei de “chapelhudo”..., que parvalhão apelidava o seu fiel amigo de “chapelhudo”, eu, claro,
As palavras misturados entre orgasmos e flores, gemidos cirílicos suspensos nas andorinhas em flor,
Eu?
Nunca,
O amor,
Poemas escritos debaixo da embriaguez
Freguês?
Nem uma modinha habita na minha algibeira, e o amor sossegado debaixo de uma mangueira, crescia, brincava e...
Nunca,
E embrulhava-se na timidez de um novo dia, e lentamente, os meus ossos alimentados pelos sulcos solitários da noite, a barriga crescia-lhe, é menino? Menina?
Freguês?
Eu, simulador de voo quando as estrelas dormem, e habita na minha algibeira uma película fina de desejo,
O que é o desejo...!
Não
Nunca soube o que era o amor,
Não pai, não pode ser,
A vida é viver, um dia, dois dias, um quatro de dia..., percebes?
VIVER...
E amar?
Não sei, meu pai, não... sei,
O frio entranhava-se-lhe nos ossos fictícios de pequenas partículas de desejo, António inventava fogueiras no olhar, esfregava as mãos como se de um reza se tratasse, mas não, a rua deserta deixava-lhe suspenso nos ombros um fino silêncio de noite, imaginava vãos de escada em cada esquina, desenhava na geada pequenos quadrados, depois, de pé ente pé saltitava como a queda de uma folha,
Um cigarro adormecia-me a alma, reclamava ele quando dois adolescentes se abraçaram a ele
E ele?
Incrédulo,
Vocês. Aqui?
Sim, pá, nós aqui,
António florescia, António corria calçada abaixo até ao rio, sorria... e regressava,
Não,
Não acredito que os meus irmãos estejam aqui, comigo, só nós,
Não,
Um cigarro, tem lume? Que não, que não,
Vocês aqui...
Meus Deus, tanta solidão, frio, fome...,
Foste tu que quiseste, ou não?
E António fulminava o irmão Miguel com as pálpebras inchadas,
Eu é que quis...!
Quase como lâminas afiadas, depois, o acordar da cidade, os primeiros automóveis do dia, depois os últimos bêbados da noite, e depois
Não, não acredito,
Os Primeiros cheiros de Lisboa,
O fumo argamassou todas as palavras... Meus Deus, vocês aqui...
O amor é uma noite escura, imagens tridimensionais vagueiam nos teus seios de Inverno, a geometria do prazer inventa-se,
E transforma-se em películas de desejo, o corpo vacila, sente a tempestade íngreme do desespero, amanhã não há madrugada, amanhecer, horas, sorrisos... e beijos,
O amor?
Uma parábola esquecida no mural de xisto junto ao rio, lá longe os barcos embalsados, aqueles que ninguém ama, quer...
Geometria, equações trigonométricas com odor a poesia
Possível
E no entanto o amor é uma noite escura, sombria, habitada pelo medo da paixão, uma rua, uma avenida... e embriagados transeuntes olhando monstras desertas, as insinuações acomodadas do dia, sentado, de pé... correndo,
Escrevo palavras para não morrer, e o amor é uma noite escura, imagens, retratos, e... e quadros desconexos,
Avenida,
Sem sentido,
Correndo
Possível?
Correndo sobre as tempestades de areia, e acordo sobre a imensidão do impossível, dos amargos lábios do poema,
Palavras,
Mortas... encaixotadas nos teus lábios...



(texto de ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Janeiro/2015

Maré dos enganos


(desenho de Francisco Luís Fontinha)


Este caixote sem janelas
que habita o meu cérebro cinzento
as palavras belas
que sinto
quando acorda o amanhecer
e não encontro o teu corpo na minha cama,

As imagens do silêncio
reescritas na tua mão de porcelana
regressar é impossível
viver...
sonhar
sem saber que amanhã não existe mar,

Maré dos enganos
sílabas assassinadas pela caneta negra...
um desenho
(uma porcaria de desenho...)
suspenso na forca da idade
como serpentes em pedacinhos descendo a montanha,

As sombreadas verrugas do Adeus
quando o caixote arde na cinza madrugada
o meu cérebro morre
e leva as minhas palavras...
o meu cérebro morre...
e leva o meu corpo.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2015

Sem sentido – O Amor -

(desenho de Francisco Luís Fontinha)


O amor é uma noite escura, imagens tridimensionais vagueiam nos teus seios de Inverno, a geometria do prazer inventa-se,
E transforma-se em películas de desejo, o corpo vacila, sente a tempestade íngreme do desespero, amanhã não há madrugada, amanhecer, horas, sorrisos... e beijos,
O amor?
Uma parábola esquecida no mural de xisto junto ao rio, lá longe os barcos embalsados, aqueles que ninguém ama, quer...
Geometria, equações trigonométricas com odor a poesia
Possível
E no entanto o amor é uma noite escura, sombria, habitada pelo medo da paixão, uma rua, uma avenida... e embriagados transeuntes olhando monstras desertas, as insinuações acomodadas do dia, sentado, de pé... correndo,
Escrevo palavras para não morrer, e o amor é uma noite escura, imagens, retratos, e... e quadros desconexos,
Avenida,
Sem sentido,
Correndo
Possível?
Correndo sobre as tempestades de areia, e acordo sobre a imensidão do impossível, dos amargos lábios do poema,
Palavras,
Mortas... encaixotadas nos teus lábios...


(…)


(texto de ficção)
Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 28 de Janeiro de 2015