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segunda-feira, 20 de abril de 2015

A prisioneira paixão


Sentíamos os alicerces da noite

Nos tormentosos desejos de luz

Que ao acordar

Nos abraçavam

O teu corpo

Era um ponto equidistante

No espaço silencioso

Sentia-te dentro de mim

Como se fosses um intruso vulto

Para me apunhalar

Não morri

Sabes disso

Ouvíamos as marés de granito

Contra os beijos de xisto

Beijar-te… o impossível marinheiro enforcado nos teus seios

Eras uma estátua de vidro

Que dançava em Cais do Sodré


Tu eu e ele

O triângulo da vaidade

Sobre a clarabóia dos desnudos corpos

Nossos

O eléctrico avançava

Éramos prisioneiros

Eu de ti

Tu de mim

E ele

Ele dele

À janela

As quatro paredes da infância

Fotografadas pelas nossas línguas

Entrelaçávamos os dedos de arame fino

E nunca soubeste o meu nome

Repartias a tua cama

Com o meu cadáver de veludo

Enferrujado

Sentias o peso da areia nos teus ombros

E descias o poço da saudade

A nossa cidade

Um perfume envenenado

Pela paixão das palavras

E nem tive tempo de perguntar-te

Se…

Se me amavas

Ou se a noite nos pertencia

Ou... ou nós é que pertencíamos à noite

Devagar

Beijava-te enquanto dormiam os nossos relógios

Que alimentava a nossa pele

Uma parede de insónia

Separava os nossos corpos

Luanda entrava na tua vagina

E tínhamos a Baía só para nós

As palmeiras

E os tristes rostos de alumínio

Esperando o regresso da tarde

Tinha medo de ti

Meu amor

Tinha medo do caderno onde escrevo

E via o meu corpo franzino

Soluçar nos teus braços

E hoje

Vejo o meu corpo de cinza

Soluçar nas tuas lágrimas de prata…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Segunda-feira, 20 de Abril de 2015

sábado, 4 de abril de 2015

Confissão


Sinto o teu olhar

Nas madrastas canções de amar

O silêncio beijo escondido na tua boca

As palavras minhas

Percorrendo o teu corpo

A tua imagem melancólica

Nas vidraças dos rochedos

O segredo

O amor em segredo

Nas pálpebras do fugitivo

Amanhã não venho

Aos teus braços

Cansei-me das tuas alegres noites

Quando a sinfonia do orgasmo tricolor

Poisa docemente no Tejo

O amor

O amor sem compreensão

Que os orgasmos de lata

Cintilam

Nas árvores da saudade

Eu só

Esperando-te sem perceber quem és

Uma conversa em triângulos soníferos

Os fósforos

E os cigarros

Na aldeia da paixão

Mergulhar o teu corpo nos lençóis da tristeza

Acreditas?

Sempre

Amanhã

Outro dia

Outros homens

E outros barcos

O teu corpo polvorizado pelas pálpebras de cinza

O amor

Os beijos

As metáforas embriagadas nos cortinados da cama

Nua

Desfeita

Calibrada nos imperfeitos botões de rosa

Amo-te…

Como?

O sonolento poeta

Nas coxas da literatura

As canções

Os poemas

O teu corpo na minha cama

Sofrendo

Insónias e vapor de medo

Ao deitar

A fotografia da noite

Vivíamos debaixo de um cortinado de sémen

As cartas

E os telegramas

Infestados de viagens

E alegrias ruas do Rossio

Cais do Sodré

Putas à vez

Da cidade dos imbecis currículos de areia

Perco-me

Finjo

Nada

Morto

Nas palavras.

“Foder-te contra o espelho do infinito”

A vastidão das estrelas

Camufladas rosas de ensurdecer

Coloridas

No amanhecer

Voando

As gaivotas

No teu ventre…

 

Francisco Luís Fontinha – Alijó

Sábado, 4 de Abril de 2015

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Amas-me?


Havia um emaranhado de fios eléctricos dentro da sala de jantar, todos eles eram providos de rosto, voz... e esqueleto, sentia a cada desperdício de cerveja o regresso do Oceano meu coração, ouvíamos alguns sons melódicos que o Rui tinha adquirido em cinco suaves prestações, e a Madalena saciava-se com um livro de poemas,
Amo-te sem saber porquê...
Os poemas dançavam no ventre de Madalena, sentia cada palavra como se de um desejo se tratasse, ou de um orgasmo em despedida,
Amanhã vou caminhar depois do jantar, olhar as estrelas amantes da trigonometria, desenhar círculos de papel nas clarabóias da inocência..., e olhar-te, e olhar-te como se existisses, como se fosses um texto de ficção dentro da fogueira,
A lareira sonolenta abraçava-se aos teus seios,
Amo-te sem saber porquê...
E eu sabia que nos teus seios apenas habitavam as minhas mãos de porcelana,
A morte em pequenos assobios,
As horas em agonia num relógio de parede,
E eu sabia que nos teus seios...
Texto de ficção?
Em quadriculas, os números agoniados e agachados junto ao capim do quintal, nunca tinha olhado o Sol depois das cinco da tarde,
E eu sabia que nos teus seios...
Texto de ficção?
E mesmo assim, deitado debaixo das mangueiras... imaginava petroleiros a entrarem dentro de mim,
tive medo, senti o primeiro beijo, a primeira carícia, o primeiro e derradeiro contacto, os lábios deixaram-se apelidar de Amor,
Amas-me?
O amor, os poemas dançavam no ventre de Madalena, sentia cada palavra como se de um desejo se tratasse, um orgasmo em despedida, os gemidos dos poemas inseminados nas páginas abandonadas de uma velha folha de papel, a caneta de tinta permanente... pesadíssima, as correntes do teu olhar acorrentavam-me, deixei de sentir os braços, as pernas, o... o amor,
Amas-me?
Deixaram-se apelidar de Amor,
Havia um emaranhado de fios eléctricos dentro da sala de jantar, os fusíveis dos meus sentimentos... ardiam, e percebi que nunca mais conseguiria perceber o Amor,
Amas-me?
E eu sabia que nos teus seios...
Texto de ficção?
Não revisto, não lido, não...
Não percebo as palavras que escrevi na tua pele de marginal semeada de palmeiras, barcos encalhados e... e gaivotas.



Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 26 de Dezembro de 2014

quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Três círculos de luz

Uma casinha habitada por pequeníssimas lâminas de papel,
um coração de cacimbo voando sobre as sanzalas com telhados de insónia,
um homem, um poeta..., e a amante do poeta,
um corpo pendurado na preia-mar,
que espera o regresso do sonâmbulo cansaço da madrugada,
o silêncio disfarçado de mendigo passeando-se pelas ruas da cidade,
uma janela que nunca, que nunca se abre,
um poema nas mãos da clarabóia com braços de luar,
uma casinha,
e lâminas de papel,
um sorriso, um desejo... e três círculos de luz nos lábios do pôr-do-sol,
o sonho...

As paisagens pigmentadas nas paredes da casinha,
as palavras acorrentadas no estendal poético,
uma eira deserta, uma eira de vinil girando na noite...
e o sonho,
e o lugar que me falta alcançar antes de morrer,
a escola morta, a escola um amontoado de escombros,
cadernos apodrecidos,
quadriculados momentos que ficaram sob a árvore de sisal,
um menino brincando com um velho “chapelhudo”...
e um triciclo com o assento em madeira,
o mar, o mar do Mussulo em tracejadas rotações de amar,
no sonho, no sonho de voar...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 14 de Agosto de 2014

domingo, 22 de dezembro de 2013

domingo, 10 de novembro de 2013

sentir não sentindo as velhas noites de cetim

foto de: A&M ART and Photos

senti-te despregada dos sonhos em castelos de veludo
desci as escadas da solidão à tua procura
mergulhei no incenso magusto das castanhas embebidas em pétalas de amor
dormi na rua por tua causa
subi às árvores para buscar-te as asas que te prometi
e por lá fiquei
senti
e sem ti
senti-te mais tarde dentro de mim como se sente o rio quando corre nas nossas veias de onomatopeias desgovernadas
tristes
e simples espada nas cantigas das janelas em ruelas empobrecidas
senti-te despregada dos sonhos em cubos de areia vestidos com bonecos em palha seca
sabia-te perdidamente nas cidades em volta dos relvados nocturnos dos néons castrados como abelhas fundeadas no cais das aranhas e noites em dormitórios de marés rochosas ou das malignas coberturas de zinco nas cabeças sem coloridas manhãs de Outono
amar-te-ei depois dos terramotos de cetim em cobertores de chita?
e por lá fiquei
senti
e sem ti
imaginava-te louca com brincos de centeio dos campos de Carvalhais
imaginava-te nua dentro do espigueiro junto à eira
e sentia-te entre as frestas do dia em delírios poemas como gotículas de suor que o teu corpo derramava sobre a minha sombra
e por lá fiquei
senti
e sem ti
às caravanas esplanadas do rio embrulhado em pontes de concreto armado
vagueavas-me na ponta dos dedos como objectos minúsculos do edifício da rua dos apaixonados mosquitos de arame
sentia-te fervilhar no meu sangue
sentia-te a desfrutares as palavras dos meus suspiros quando acordava o pôr-do-sol...
e um barco se sémen poisava sobre as tuas coxas envergonhadas
absorvendo o prazer da tarde como uma equação diferencial esquecida dentro do caderno quadriculado
e por lá fiquei
sem saber que tu eras como as espigas de milho
sem saber que tu sonhavas com clarabóias de insónia depois dos terramotos de cetim em cobertores de chita
amar-te-ei?


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 10 de Novembro de 2013

domingo, 20 de outubro de 2013

sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Desejava-te loucamente como versos brincando numa calçada de Lisboa

foto de: A&M ART and Photos

Embalavas o teu alegre piano como se ele fosse o teu próprio filho, abraçavas-lo e embrulhava-lo com os braços pendentes de caules verdejantes como as lâmpadas que a noite inventa nos teus olhos, ouvíamos-te longamente sentada num pequeno banco alegremente feliz, sentavas-te nele, rodavas o tronco e a cabeça, esticavas os longos dedos de porcelana... e saíam das tuas mãos os mais lindos melódicos sons,
Chamo-te A Pianista, sem o saber, sem sequer perceber se realmente sabes tocar piano, se realmente... algum dia tocaste com os teus dedos em algum, se realmente algum dia acariciaste algum, e sabes? Não o sei, talvez nunca tenhas tocado piano, talvez nunca tenhas adormecido ou acariciado algum piano, mas eu, eu imagino-te sentada num banco simples, feliz, voando dentro da sala de estar,
Ela vagueando como corpo sobre as teclas húmidas do piano em voz poética quando das manhãs ouvíamos-te saltitar entre os ramos cerâmicos dos teus abraços cúbicos nas equações complexas dos sons invisíveis do corpo teu piano..., havíamos inventado as janelas com vista para o mar, embalavas o teu alegre piano como se ele fosse o teu próprio filho, feliz, descendente do Sol, filho da nuvem cinzenta e da gotícula número mil quinhentos e vinte e três, gostava de ti, nua, sobre o teclado em tons de negro, descia sobre ti a tempestade, o ciúme, descia sobre ti o medo, e tu, rosa bravia, caminhas desordenadamente junto ao desejo, olhavas-nos, e sabíamos que nos teus olhos
Chamava-te A Pianista, sem o saber, sem sequer perceber se realmente sabes tocar piano, se realmente..., os teus olhos, vagabundos, escrevias nas pálpebras as notas musicais, deixavas adormecer nas tuas mãos os tão desejados silêncios dos beijos ainda não acordados, dormias, nua, eu, eu fumava desalmadamente cigarros que me cerravam os meus olhos, deixava-te de ver, apenas um sombreado ténue realçada o teu corpo deambulando entre o travesseiro e a cabeceira da cama, os teus cabelos soltos pelo imenso areal, a areia branca, silenciosa, e quando acordavas
Olá sisudo,
E quando acordavas, se ele fosse o teu próprio filho, feliz, descendente do Sol, filho da nuvem cinzenta e da gotícula número mil quinhentos e vinte e três, gostava de ti, nua, sobre o teclado em tons de negro, descia sobre ti a tempestade, o ciúme, descia sobre ti o medo, e tu, rosa bravia, caminhas desordenadamente junto ao desejo, tu vestida de desejo, e sentia-te nas minhas mãos antes de entrarmos mar adentro, o teu silencioso piano, o teu invisível teclado ténue...
Olá sisudo
Ténue como os teus dedos, ténue como os teus soltos cabelos escrevendo poemas sobre as rochas desassossegadas das palavras abelha que voavam debaixo dos velhos plátanos, deitada, tu, tu não propriamente, deitado o teu corpo, eu, eu fumava desalmadamente para não te ver, porque quando te via, eu, eu desejava-te loucamente como versos brincando numa calçada de Lisboa, ouvia, ouvíamos-te os sussurros sonhos,
Sisudo,
E a noite entrava nos teus mamilos cor de chocolate, uma borboleta poisava como se de uma folha de papel se tratasse, e sabíamos que não era uma folha de papel qualquer, e sabíamos que a noite não era uma noite qualquer, e sabíamos que o teu piano dançava no corredor entre o teu quarto e a casa de banho, e a borboleta que não era borboleta, mas apenas a imagem reflectida num espelho de uma folha de papel, a mesma
Sisudo,
A mesma folha de papel onde escondias as notas musicais, a mesma onde escondias o meus lábios e me proibias de te beijar, e era nessa mesma folha de papel onde guardavas as minhas mãos, para que eu, para que eu não te acariciasse o teu copo sonolento com sabor a melódicos sons e a poéticos suspiros, e os teus lábios acabavam, já de madrugada, por morderem-me o meu pescoço e o meu peito,
Sisudo eu, sisudo eu,
E fumava desalmadamente para não te morder os lábios e os teus seios poisados sobre o teclado sombreado de um piano, de um piano, que nunca ninguém viu, que ninguém sabe a idade, nome, ou a localidade onde habita, mas sinto-o, mas sinto-te na minha cama debaixo dos meus lençóis...

(não revisto – Ficção)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó

sábado, 13 de julho de 2013

O veneno do amor

foto: A&M ART and Photos

Sentia-te nos meus pobres sonhos como uma andorinha
sabia-te dentro de um círculo de luz
sentindo-te camuflares-te a mim ente poemas e versos
palavras e conversas sem significado,,,,
encontrava-te nas veias a saliva da manhã
quando acordavas nos meus braços despedidos do ontem
amava-te pensava eu
sabendo que os úmeros são conversas de loucos
apaixonados por flores carnívoras em dente de marfim
adorava-te como adoro o sol a noite e os orgasmos dispersos como manhãs...
e tu nos meus braços
desaparecias como testemunhas de cadáveres envenenados pelo amor...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sábado, 29 de junho de 2013

Das palavras não escritas

foto: A&M ART and Photos

Sentia as tuas mãos a sufocarem-me das palavras não escritas
promessas incompreendidas quando havia uma manhã de desejo
correndo encosta abaixo
afogando-se nas veias submersas em saliva que escondiam sombras do meu pobre esqueleto
ossos e pó deles envenenados pelas imagens a preto-e-branco dos meus lábios descoloridos,

Amargos
sofridos quando sabíamos que era o último reencontro após a partida em direcção ao nada
sabíamos e não o confidenciamos a ninguém
apenas trocávamos verdes olhares de verdes olhos
em frente à inocência saudade,

Sentia a tuas mãos de xisto
vagueando no meu corpo de árvore em papel paixão
poisavam pássaros em ti
e ouviam-se as tuas dolorosas canções de amor
caminhando sobre a praia-mar...

Uma floresta de carnívoras madrugadas acordava dentro de nós
quando abrias os olhos e sabias que já tinha partido
descia a janela com vista para as rochas mergulhadas no mar...
e procurava da noite dispersos gemidos de ti
que eu pensava serem versos nas folhas mortas do poeta,

O livro escrevia-se conforme se extinguiam as luzes dos nossos gemidos
formatávamos os nossos discos rígidos até percebermos que já não éramos nós
eu deixei de saber quem eras
e tu, tu percebias que eu não passava de um mero cortinado de areia
a brincar numa rua de Luanda...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 19 de junho de 2013

Querido lobo, que desenho é esse?

foto; A&M ART and Photos

Via a terra desaparecer dos meus olhos, sentia-a em pedaços de vapor a todo o comprimento do meu corpo, e pensei
É o fim, o eterno fim,
As nuvens tristes, prontas a comerem-me, saborearem-se com a minha carne em cadáver, como o fazem os abutres (aves e humanos), das poucas gotas de chuvas que sobejavam dos lobos dispersos pela montanha, ainda coberta pela neve do Inverno, havia um que me chamou à atenção, e de tão distraído que sou, só depois de o observar, uma, duas, três... talvez quatro vezes, percebi que ele trazia na lapela uma folha de papel com um desenho ilegível, perguntei-lhe
Querido lobo, que desenho é esse?
Cerra os olhos, finge que eu sou uma pedra, um arbusto ou pior, que eu não existo, deu meia volta e desapareceu entre os outros companheiros, como quem foge do silêncio quando as palavras apenas servem para interromperem a noite, desviarem todas as estrelas dos espelhos côncavos das cidades sem rios, e
Querido lobo, que desenho é esse?
Se possível, mesmo antes de acordar a manhã, fazer com que todas as lâmpadas da cidade se apaguem, como os corpos putrefacto, dentro de um congelador gigante, numa qualquer morgue, onde existe sempre uma flor não identificada, à espera, que desespera a chegada de um abutre, e assim, aliviar todo o sofrimento dos corpos sem cabeça, sem braços, sem leme que seja possível prosseguir viagem,
Há uma lenda que alimenta desde os primórdios os mosquitos de asa tricolor, e sobre o fino prato de sopa, infelizmente, apenas só, em permanente solidão, que como o corpo putrefacto, espera e desespera pela chegada..., neste caso da dita sopa, não do abutre (ave ou homem), apetecia-me ouvir POP DEL ARTE, e como teimoso que ele é
Acredito,
Acreditar, porque não? Até prova em contrário, todo o réu é inocente, como assim?
Acredito, eu acredito,
E como teimoso que ele é, acredito que passe o resto da noite a ouvir POP DEL ARTE, depois, depois pegará num livro de poemas de AL Berto, entre um poema ou três no máximo, deliciar-se-á como um pássaro a atravessar o Oceano, lê os poemas, ouve a música, adormece suavemente como
“Vi a terra desaparecer dos meus olhos, sentia-a em pedaços de vapor a todo o comprimento do meu corpo, e pensei
É o fim, o eterno fim,”
Como se tudo em si fosse um misero sono dentro da cabeça de um mosquito com asas tricolores, dentro de um prato de sopa, sem sopa, como à janela da solidão, e o desgraçado do lobo, até hoje, nunca me saciou a curiosidade e me contou o significado do desenho ilegível que trazia na lapela...
É o fim?
Eu, acredito, acredito que não..., vi a terra desaparecer dos meus olhos, sentia-a em pedaços de vapor a todo o comprimento do meu corpo, e pensei
Vi o céu a desaparecer, e pensei
Vi, e pensei...
Hoje, POP DEL ARTE e AL Berto, porque não? Acreditar...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sábado, 8 de junho de 2013

Como todos os versos dele...

foto: A&M ART and Photos

Tinha medo do escuro e das mãos não tuas, cresciam em mim desejos imprimidos no papel grosso e quase cartão onde embrulhávamos os demais objectos não utilizados, tínhamos apenas uma cama para as duas, e éramos uma lágrima antes de romper a madrugada janela adentro, ouvíamos ranger a cidade, ouvíamos os rosnar dos autocarros dando os primeiros passos avenida abaixo, ouvíamos o estender de braços, sobre a cabeça, do rio que ficava a meia dúzia de metros dos nossos encontros secretos, depois, abríamos a janela, dávamos as mãos, e fumávamos os primeiros cigarros de nós, e éramos felizes assim
Poemas que vão integrar esta colectânea,
Horríveis, sangrentos, húmidos às vezes, como esponjas derramando películas de suor que vogais e sílabas alimentam depois de nascer o poema, e morrer o texto, sulcos salivais, vaginais, vagabundos escondendo-se em folhas velhas de jornais, a cama, delírios imaginados por um transeunte camuflado num sobretudo castanho, havíamos combinado escondermos-nos no sótão enquanto nos acariciávamos olhando-nos num espelho magro, esquelético, voraz, volátil como alguns fluidos dentro de pequenas caixas de fósforos, e ardíamos como cachimbos na boca desespero do senhor António Emagrecido com voz penumbra soletrando as pequenas letras no cardápio do prazer,
Poemas que vão integrar esta colectânea, poemas de “merda” e textos de “merda” percorrendo socalcos e avenidas entre arbustos e automóveis de luxo, por favor – Mesa para duas – e depois despedíamos-nos após transcrevermos na palma da mão os poemas envenenados e moribundos, alguns, nem sobreviviam e na primeira carícia acabavam por despenharem-se-me nos seios circunflexos das paixões em marés de Primavera, éramos novas e queríamos – Queremos um quarto de casal se faz favor – e a pergunta parva de sempre
(as meninas vão dormir juntas)
Respondíamos que não, claro que não – Eu durmo no chão e ela dorme com o gato Jerónimo – PARVALHÕES...
Horríveis, percebem?
Os poemas, as noites em claro olhando uma lâmpada embrulhada em papel celofane, encarnada, e pela segunda vez sinto o meu corpo possuído pelo maldito sarampo, eu parecia um forno depois de aquecido e esperando a entrada em mim da massa, que posteriormente, como os poemas, renasce o saboroso pão, e trazias-me a manteiga de amendoim, e quando acordava, sentia-me embalsamada nas tuas mãos..., “tinha medo do escuro e das mãos não tuas, cresciam em mim desejos imprimidos no papel grosso e quase cartão onde embrulhávamos os demais objectos não utilizados, tínhamos apenas uma cama para as duas, e éramos uma lágrima antes de romper a madrugada janela adentro, ouvíamos ranger a cidade, ouvíamos os rosnar dos autocarros dando os primeiros passos avenida abaixo, ouvíamos o estender de braços, sobre a cabeça, do rio que ficava a meia dúzia de metros dos nossos encontros secretos, depois, abríamos a janela, dávamos as mãos, e fumávamos os primeiros cigarros de nós, e éramos felizes assim, assim, assim como hoje, poisando os cotovelos no peitoril de verniz sobre a Avenida Almirante Reis, e comíamos Sábados à noite, depois de acordarmos com hálito a chocolate e a beijos de açúcar”, mãos, as mãos tuas em mim, depois, depois a penúria de vivermos sobre um mar de areia branca, sem barcos...
Horríveis, percebem?
Como todos os versos dele...

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 27 de maio de 2013

É com enorme prazer e alegria que participarei com poemas meus na “Poesia Sem Gavetas- Aqui há Poetas, Parte II. Obrigado.

sábado, 11 de maio de 2013

Azul como eu do azul os pássaros

foto: A&M ART and Photos

Azul sou azul como os pássaros do infinito amanhecer, desprezava os horários, relógios, comia-os, os calendários? Simplesmente, olhava-os como pequenos bichos amestrados, imaginava-me sobre um fino arame que atravessava a rua dos sentidos, e eu, juro, não sinto, não sentia, nunca, coisa alguma, como hoje que azul como sou, os pássaros do infinito amanhecer, descobrem, coitados, que não existe noite, embriagados prazeres, nem aos dias faltam malabarices eternas, como as pieguices do catrapuz sistema de equações lineares, havia uma fígado encharcado em vodka, um fígado doente, mas contente, um... perfeito idiota, mafiosa como as bolachas de água e sal que deixavas sobre a mesa de granito que em pequenas rotações, mínimas, conseguiam alimentar um exercito de abelhas com pequenos parafusos de aço, com asas de porcelana, lama, a cama na lama que havia em ti, havia e havia
aprendi a consultar nas páginas amarelas
O teu rigoroso endereço num papel encarnado, escreveste o teu nome, número de polícia e telefone,
e ouviam-se-te os berros das horas por terminar, e ouviam-se-te os berros dos dias entalados na penumbra que os pássaros do infinito amanhecer, esse
O teu
silêncio que dizias-me existir no teu coração e que eu, nunca, acreditei, acredito no azul como eu do azul os pássaros, colados na tela que as velhas flores que crescem nas tuas coxas que a Primavera absorve, come, diz-se que o teu
Esse?
porque são as tuas coxas amarelas?
Diz-se que o teu corpo pertence às searas brancas com pontos de luz e pequenos torrões de açúcar quando se acendem na tua pele os pigmentos mórbidos das caravelas em flor, misturam-se-lhes as ditas coisas que despedaçavas como gargantas infelizes, e berravas, dançavas como estrelas em queda livre, até que os dias se transformavam em martírios e delírios, e uma pequena longa cruz de cedro poisava-se sobre os teus cabelos, à rapaz, de rapaz, saltavas os muros da aldeia e partias as cabeças dos transeuntes como tu, crianças como tu, e como tu
desejavam-se-lhes as pequenas palavras tatuadas no pescoço, um poema em forma de vidro, ou um pequeno vidro, travestido de poema, efeminado, ele, eu, corríamos suavemente sobre as palha adormecida do palheiro do tio Joaquim, e adoçavam-se-nos os corpos com pequenas caricias de mel e de mãos dentro de ti que procuravam o clitóris literário dos teus dias como nós
Vagueávamos nas docas encobertas com rochas e músculos comboios de areia, sabia-te como fosses um gladíolo comestível, ou prisioneira numa jarra de murmúrio, havia-nos de acontecer entrar no nosso palheiro, além do desejo, da paixão, do amor... a eterna saudade de ti quando fingias não me veres, e sentia-te sobre o meu ventre...
todo o teu peso, mínimo, a equação de três incógnitas, três equações suspensas por três letras aleatórias, e eu, resolvendo-as sem saber que tu existias, nunca te vi, mas imagino-te habitares dentro de uma integral tripla, ou numa talvez... pequena, sempre pequena, derivada do co-seno ou seno, tão simples, e não conseguia perceber que estavas lá, que sempre
Estive nesse lugar como os protões e os electrões,
Que sempre, ou não,
“azul sou azul como os pássaros do infinito amanhecer, desprezava os horários, relógios, comia-os, os calendários? Simplesmente, olhava-os como pequenos bichos amestrados, imaginava-me sobre um fino arame que atravessava a rua dos sentidos, e eu, juro, não sinto, não sentia, nunca, coisa alguma, como hoje que azul como sou, os pássaros do infinito amanhecer, descobrem, coitados, que não existe noite, embriagados prazeres”
Que sempre, ou não, acreditar que dos teus lábios, um dia, soltar-se-à
os triângulos dos teus olhos, adoro-os sem o saberes...
Soltar-se-à a madrugada com pequenas pétalas das flores que és tu.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Frágeis, tão frágeis que vergam e partem, e morrem...

foto: A&M ART and Photos

Não me toques, meu amor, não toques nas minhas pétalas, não, por favor, não toques nas minhas imagens, invenções minhas quando a noite mergulha no teu corpo desassoreado, desassossegado, embriagado por palavras e palavras, por luzes, e pelas eternas árvores, não amor, por amor, não me toques,
(três pequenas malas separavam-nos da paixão das almas embalsamadas, tínhamos asas, e tínhamos onde esconder os pequenos sobejos de nós, simples coisas, poucas, das tuas mãos, apenas uma máquina fotográfica, com imagens dentro, e de mim, nada, não esperavas absolutamente nada, a não ser, meia dúzia de livros com bolor, e alguns poemas escritos sobre os teus joelhos, e confesso, sabendo que não me estás a ouvir, e a ver, que esses – Queimaste-os? - claro, assim, despedi-me do teu corpo, como alguns corpos, se despedem suspensos dos ramos de árvore, algumas frágeis, tão frágeis que vergam e partem, e morrem...)
Não, não meu amor, por favor, não toques em mim, não, não me toque – Que dia é hoje, meu querido? - não sei, não, deixei de contar os dias, deixei de apontar as horas na parede em gesso do quarto minúsculo e húmido, e com uma também minúscula janela virada para um quintal de areia, desértico, tão pobre, quase, como os móveis que habitam esta tão acorrentada casa de sonhos, grãos de milho sobre uma eira sem nome, sem destino, sem terra, e queimaste-os dizes-me tu, e claro que te mentia, minto-te, porque sou incapaz de queimar palavras, talvez tivesse coragem de queimar
(corpos?)
Mas destruir palavras, nunca, meu amor, não me toques, por favor, deixa-me, deixa-me...
(corpos, o meu, o teu, o dele, corpos, corpos entre imagens a preto-e-branco, janelas intactas, que depois das tempestades, lá, estão sossegadamente lá, como o estavam antes, como o continuaram depois, e o fotografia não é mais do que uma janela, fixa, sem vidros e inquebrável . Queimaste-os? - baixava a cabeça e não respondia, e pensava, como poderia queimar os teus joelhos... - impossível queimar os teu belos joelhos, meu amor! - e no entanto, mentia-te, dizendo-o quando não o tinha feito, e tu, acreditaste, sempre, que todos os poemas escritos sobre os teus joelhos, coitados, foram todos queimados numa sexta-feira, era Verão, talvez uma tarde de Agosto, e depois, semeei as cinzas sobre a lápide encarnada do batom que passaste a usar nos lábios, sabia-me bem, não sei a quê, talvez – A chocolate? - não, não era a chocolate, talvez fosse a saudade)
Deixa-me, que um dia vais perceber que dentro das minhas imagens existem sonhos, os nossos sonhos, um dia vais perceber que da árvore que morreu devido ao peso de um corpo, outro corpo nascerá, - acreditarás em mim? - e outro, e outro, e outro corpo mergulhará nas imagens que escondo dentro das minhas férteis coxas de silêncio, tu um dia, vais
(corpos – Queimaste-os? - sim, meu amor, sim, sim, queimei-os a todos...)
Vais, vais bater a uma porta com um pedaço de vidro, do outro lado, alguém, mulher, homem ou criança, ou todos, perguntar-te-ão pelos poemas escritos sobre os meus poemas, e tu, responderás
(queimaste-os?)
Não, por favor, não me toque, meu querido, e responderás que os tens dentro de uma caixa de cartão, melhor dizendo, três perdidas caixas de cartão, em que numa delas, três, talve... talvez meia dúzia de imagens, guardas, de mim, do meu rosto, da minha pele, e
(teus joelhos)
Não, não, por favor,
E esqueci como era o teu rosto.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quarta-feira, 20 de março de 2013

E havia

Havia o corredor de silêncio quando ela se vestia de palavras e caminhava, corria, caminhava, corria até que aos poucos, devagarinho, as luzes suspensas no tecto falso, ensurdeciam, enlouqueciam, e do vermelho abrupto sussurro das transversais linhas com poemas de areia, voavam, voavam até desaparecerem no final do corredor, a mulher, desesperava-se com a lentidão dos relógios e dos calendários, os dias tinham parado, e as horas e os minutos e os segundos,
Enlouqueciam como as lâmpadas de halogênio que vieram de regresso da plataforma número três com carris de xisto, socalcos mergulhavam na sombra do Douro, homens e mulheres, comendo sandes mal passadas, pedaços de pão, chouriço, e claro, vinho, com a água que Deus envia de vez em quando, e por incrível que pareça, misturam-se, abraçam-se
Como dois amantes, loucamente entrelaçados, sós, eles, tal com Deus os desenhou nas ardósias húmidas das tardes sem Primavera, lá dentro, o palheiro vazio, uma cama nua e despida de preconceito, mistura-se-lhe nas pequenas mãos de linho, o algodão transpira na camisa adquirida num estilista famoso que o cigano André vendia a cinco Euros, e num dos cantos do palheiro, pequenas palhinhas de desejo a iluminarem os espaço prestes a ser inaugurado entre dois sexos vazios, dois sexos que partilham cada milímetro de sombra que desce do tecto com ripas de madeira, eles amam-se e misturam-se-lhe das grandes asas do ciúme
Adeus meu querido,
Amo-te,
E havia o corredor, sem portas nem janelas, apenas com um tecto falso, baixo, a luz fingia-se viva quando todos sabíamos que as lâmpadas de halogênio estavam mortas, como mortas estavam as frases inscritas nas paredes de gesso, e havia
Alegria muita alegria, felizes todas e elas, felizes as flores e eles, felizes, felizes, não felizes,
Aposto tudo em
Não felizes,
Mais ninguém aposta? Vou lançar os dados, e...
Ganhou
Ganhei, ganhei, não felizes, palpitava-me, sabia-o como sempre soube desde que nasceu este pequeno monstro com braços de aços e esqueleto laminado a frio de uma liga de carbono e ferro, e às vezes, uma pequeno dor de coluna, que quando saia de casa e se queixava, ouvia a dona Amélia
Ai vizinho, esse chiadouro nas cruzes, até parecem dobradiças com insónias,
E
Não
Eram,
Qual insónia?
Sabes, meu querido? Não, como posso saber se não me disseste o que era,
Medo,
Tens medo, medo de quê?
Do amor, da paixão, e das loucas gaivotas quando devoram o mar durante a noite, enquanto dormimos, desculpa, enquanto eu durmo, tu nunca dormes, porque tu não existes, porque tu,
Sou um corredor do corredor de silêncio quando ela se vestia de palavras e caminhava, corria, caminhava, corria até que aos poucos, devagarinho, as luzes suspensas no tecto falso, ensurdeciam, enlouqueciam, e do vermelho abrupto sussurro das transversais linhas com poemas de areia, voavam, voavam até desaparecerem no final do corredor, a mulher, desesperava-se com a lentidão dos relógios e dos calendários, os dias tinham parado, e as horas e os minutos e os segundos, e eu, e ele, e todos os nossos móveis deixavam de fazer sentido, pareciam velhos, e não o eram, pareciam vermelhos, e eram azuis, tinham o Céu desenhado com estrelas de chumbo, e não tinham nada, afinal não era o Céu, nem as estrelas, nem o chumbo, apenas a humidade no tecto devido às infiltrações do vizinho de cima, por baixo de nós vivia um casal de submarinos, também eles, velhos e sós, também eles, estátuas onde pássaros mal educados cagavam sobre as deles pobres cabeças de bronze
Nunca quis ser estátua,
Nem altar onde se ajoelhassem mulheres a rezarem, a pedirem-me coisas, e pergunto-me
O que teria um desgraçado de um desempregado para oferecer?
Por favor
Procurar outro santo,
Porque eu,
Desisto,
Porque eu
Não estou disponível para negociações, porque eu
Nada
Nunca,
Porque meu querido
AL Berto
E companhia limitada,
Se o Pacheco estivesse vivo
Di-lo-ia
Amigos, estamos todos fodidos e mal pagos.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha