sábado, 29 de junho de 2013

Das palavras não escritas

foto: A&M ART and Photos

Sentia as tuas mãos a sufocarem-me das palavras não escritas
promessas incompreendidas quando havia uma manhã de desejo
correndo encosta abaixo
afogando-se nas veias submersas em saliva que escondiam sombras do meu pobre esqueleto
ossos e pó deles envenenados pelas imagens a preto-e-branco dos meus lábios descoloridos,

Amargos
sofridos quando sabíamos que era o último reencontro após a partida em direcção ao nada
sabíamos e não o confidenciamos a ninguém
apenas trocávamos verdes olhares de verdes olhos
em frente à inocência saudade,

Sentia a tuas mãos de xisto
vagueando no meu corpo de árvore em papel paixão
poisavam pássaros em ti
e ouviam-se as tuas dolorosas canções de amor
caminhando sobre a praia-mar...

Uma floresta de carnívoras madrugadas acordava dentro de nós
quando abrias os olhos e sabias que já tinha partido
descia a janela com vista para as rochas mergulhadas no mar...
e procurava da noite dispersos gemidos de ti
que eu pensava serem versos nas folhas mortas do poeta,

O livro escrevia-se conforme se extinguiam as luzes dos nossos gemidos
formatávamos os nossos discos rígidos até percebermos que já não éramos nós
eu deixei de saber quem eras
e tu, tu percebias que eu não passava de um mero cortinado de areia
a brincar numa rua de Luanda...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

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