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segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

Luminosidade


A luminosidade tangente ao teu olhar
entre círculos
quadrados
e buracos
há no teu corpo equações sem solução
resmas de papel quadriculado
em chamas
e feridas no coração...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 5 de Janeiro de 2015

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Três incógnitas e um corpo


Tens um X no espelho dos teus lábios,
há um Y no centro do teu peito, deslocando-se em pequeníssimos milímetros,
ora para a direita, ora para a esquerda,
depois, mais abaixo, no teu umbigo... o desgraçado Z, desnorteado, sem saber o que fazer,
como eu, um corpo deambulando entre a raiz quadrada da solidão,
e uma mísera folha quadriculada, feia, e abandonada,
gravitando em volta dos teus seios,
procuro-me nos três ponto algures no espaço do teu desejo,
peço-te um beijo,
e tu, tu respondes-me com uma equação sem solução,
e obrigas-me a rotações ímpares, sem local para aportar,
como os barcos recheados de quadriláteros,

O meu corpo ancora no Z que adormece no teu umbigo,
transforma-se em três eixos, sinto-me tridimensional, raivoso, animal,
esqueço as palavras, esqueço as equações...

(Impossível de resolver)

Lá fora chove,
e hoje o vento entristece as três incógnitas do teu esqueleto com odor a noite sem nome,
há um perfume em ti que me diz... (hoje não o conseguirás),
e não,
desisto desta equação,
desgraçado, eu, eu que não percebo o significado da matriz amar,
talvez transposta,
talvez... talvez mal-disposta,

(Impossível de resolver)

Escrevo números no teu olhar,
silencio-me quando de ti uma parábola acabada de nascer voa como uma gaivota sobre o mar,
os resultados começam a aparecer nas tuas mãos...
o X é igual a paixão...
o Y é igual a cansaço, porque desenhar-te... cansa, Ai como cansa!
e o Z é igual a amor sem saída, rua encerrada, edifício sem transeuntes...

(Impossível de resolver)?

Não,

A equação do teu corpo... tem solução...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Junho de 2014

domingo, 18 de maio de 2014

Os círculos do desejo


Redefino-te entre os círculos do desejo
percebo das pálpebras do Oceano que o teu corpo flui na equação da recta
há nos teus seios de oiro uma velha parábola
que voa
e dorme
nas tuas mãos embrulhadas na curva de Agnesi,

És matemática que o homem acaricia
docemente
e resolve as equações de ti,

Redefino-te e sinto na tua boca o regresso do amor
sento-me em frente ao mar
e espero que cresça a noite
desenho na areia do prazer os lençóis onde adormeces
e absorvo-te na peugada estrelar das camélias em flor
e sei que habitam em ti todos os esconderijos da montanha...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Domingo, 18 de Maio de 2014

terça-feira, 8 de abril de 2014

Flores triangulares


Percebo que as equações do meu corpo não têm resolução,
sou um aglomerado de números complexos, integrais duplas e triplas, habitam nos meus braços,
percebo que tenho um sorriso em granito, e sei que nas quadrículas do meu peito...
suspendem-se as infinitas cordas paralelas do nylon madrugada,
um imbecil programado, um corpo onde se misturam os algoritmos de Fortran e as raízes quadradas do obscuro olhar, sem sentido, único, proibido estacionar o meu corpo em cima do passeio da solidão,
cruzo os braços,
e pergunto-me...
o que faz o poema sem nome dentro do silêncio amanhecer?
sem prazer,
a vida é um fluído em escoamento permanente...
em direcção ao mar,
em construção... como corpos geométricos procurando amor nas flores triangulares...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Terça-feira, 8 de Março de 2014

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2014

(imagem tua estampada no rosto inverso do vidro...)

foto de: A&M ART and Photos

A imagem tua estampada no rosto inverso do vidro
vêem-se de ti os cabelos da madrugada trigonométrica procurando senos e cossenos
e dentro do círculo trigonométrico
os teus tristes lábios em três quartos de pi radianos
a imagem acorda em ti e cansa-se do silêncio transferidor
e as lágrimas envergonhadas como pedras fundeadas na ribeira do Adeus
desaparecem ao amanhecer
tenho medo confesso-lhe
e ela desesperadamente
desenha-me na ardósia manhã como beijos tangenciais ao quadrado do Amor
o rio flui até encostar-se à fórmula fundamental da trigonometria...
e percebo que o seno ao quadrado de alfa mais o cosseno ao quadrado de alfa é igual à unidade... a (imagem tua estampada no rosto inverso do vidro...)

Imagino-te nua sem saberes que no espelho encarnado vivem gaivotas veleiros
e pernaltas petroleiros

A imagem tua estampada no rosto inverso do vidro
a equação da Saudade desfaz-se em pedacinhos papeis...
que voam em direcção ao infinito onde se abraçam rectas paralelas e ventos circunflexos
corpos incandescentes ardem como ângulos adormecidos
há lareiras em desejo na janela da noite
quando os versos transformam-se em sanduíches de nada
e do nada
a tua imagem sem saber que as integrais triplas são amantes dos cossenos hiperbólicos...
a matriz transposta invade o púbis da matriz inversa
choras...
dormes... como uma criança deitada na equação diferencial da paixão
e a tua imagem... e a tua imagem esconde-se na lixeira do inferno.


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 26 de Fevereiro de 2014

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Incineração

foto de: Martin Bernier

Incinero-me na tua sombra com os espelhos nocturnos do inverso complexo número
e sinto em ti as cinzas equações das tristes integrais
duplas… triplas...
infinitamente sós
soalheiramente sentadas num quadriculado caderno com capa negra
argolas nuas dos simplificados arames maleáveis em chapéus de palha humedecida pelo desejo orvalho da madrugada...
sinto-te desfalecer a cada minuto em desassossego e as janelas não mais acordaram depois da tempestade
o silêncio mergulha-te
insemina-te de falsos alicerces...
como falsas deles as palavras que somos obrigados a ouvir
incinero-me na tua sombra sem o saber
e não entendo as tuas lágrimas após caírem sobre o soalho os cortinados da solidão...


@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 16 de Janeiro de 2014

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

o espaço só e vazio

foto de: A&M ART and Photos

imagino as incógnitas que vivem na tua cabeça
tento perceber as equações do teu empobrecido coração
geometricamente
não consigo determinar a posição do teu corpo no espaço tridimensional...
e tudo parece tão simples
normal
imagino a integral dos teus seios pintados de encarnado
e reflectidos no prisma que se esconde na teoria das cores
dos cheiros
e sabores
imagino a equação diferencial das tuas alegres coxas
quando se despedem da tarde as gaivotas triangulares

imagino o silêncio vestido de negro
caminhando sobre o arame da solidão
lá em baixo o público enfurecido olha-te como se fosses um cartaz perdido no vento
balançando
dormindo
chorando
e imagino as incógnitas que vivem na tua cabeça
os círculos trigonométricos do teu púbis amargurado
cansado de mim
talvez... apaixonado por mim
talvez
porque tridimensionalmente... não consigo determinar-te no espaço só e vazio


(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 29 de Agosto de 2013

sábado, 20 de julho de 2013

Bailarino, tu!

foto de: A&M ART and Photos

Projecto-me tridimensionalmente no muro onde poisas, todas as noites, os cotovelos, seguras a tua doce cabeça com as pequeníssimas mãos de menina apaixonada, olho-te como se fosses uma imagem prateada tingida com pedaços de azuis cerejas que numa tela simplesmente mergulhada na noite desgovernada, ela, absorve-te, alimenta-se de ti como as abelhas do feminino pólen com sabor a masculino desejo, e depois de saber que és uma imagem prateada tingida..., os pedaços de azuis cerejas borbulham-se-te com cobertores suspensos numa janela dançarina, bailarina eu?
Bailarino, tu!
E de ti como as abelhas, desisto das parvas palavras que finges ler, como fingias as noites dos cortinados de Lisboa, baixavam-se as tímidas persianas do amor também ele..., tímido?
Bailarino, bailarino sem profissão conhecida, artista sem arte, Tímido, eu? Que me dera ser como tu, uma triste alga dentro do rio sonolento das varandas com gradeamentos enferrujados, tristemente, eles, dentro de ti, às sílabas farto eu escrever, Tímida ela?
Perdia-se-lhe os mínimos sons da sua voz nas pétalas doiradas das rosas transeuntes das ruas prostituindo-se como reles bancos de jardim, onde todos se sentam, e eles... apenas estão lá, não pelo prazer, apenas estão lá porque os obrigam a estar, porque se não fosse dessa forma...
Tímidos?
Os corpos reluziam como gaivotas, e das ripas em madeira dos teus ombros, as alegres asas de porcelana, meu amor, Tímida? Quando sei que o teu corpo é incenso que arde num prato de cobre, música alimenta-se em ti, e os versos
Bailarino, tu!
E de ti como as abelhas, desisto das parvas palavras que finges ler, como fingias as noites dos cortinados de Lisboa, baixavam-se as tímidas persianas do amor também ele..., tímido?
Versos no cardápio ao preço de vinte e cinco euros a dose, aprece muito, isenção de IVA, e com a oferta de uma bebida branca...
Bailarino tímido, eu, ou tu?
Tenho uma vida cúbica, tenho sonhos quadrados e sofro em círculo, sou um perfil geométrico, alimento-me de senos e cossenos, fumos tangentes hiperbólicas, e faço o amor com as equações diferencias..., afinal, quem sou eu? Um pedinte matemático? Um bailarino/Bailarina, Tímida? Um hipercubo com braços de esperma descendo escadas de cinzentos soníferos com orifícios a imitar as janelas de luar?
Bailarino, tu?
És um triste, és uma integral tripla sobrevoando o momento fletor dos teus livres seios na viga do desejo... oiço-te gemer, a musicalidade da tua boca é uma pauta com sons débeis, difíceis de engolir, fáceis de mastigar..., textos, palavras, livros bolorentos entre vacas e carneiros no centeio do tio Joaquim, vivíamos como dois palhaços embriagados pelos sorrisos das marés envergonhadas dos longínquos mares que descobrimos nunca terem existido..., e o vento
E o vento vai desalicerçar a tua singela estrutura de bailarina rodando em redor do teu centro de massa cuspindo momentos angulares como fazem as nuvens antes de adormecerem nos teus braços...
Ainda acreditas, que, eu, Bailarino... Tímido?

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 15 de julho de 2013

A paixão de PI

foto de: A&M ART and Photos

Invejo-te os olhos de púrpura amanhecer
quando te sentavas sobre as sombras da madrugada
sem o saber sem o perceber
amanhã envio-te as cartas prometidas com as flores desenhadas
ruas e prédios e penumbras fachadas
no jardim do silêncio à espera da tua chegada,

Amanhã prometo regressar aos teus braços
e a vela transatlântica é engolida pela insónia cristalina das tuas mãos
amanhã
engolida toda a matéria disforme numa equação desnecessária
proibida
cansadas?
maltratadas janelas com pequenos grãos de areia...
e a vã maternidade dos recortes em papel voando sobre ti,

Invejo-te os olhos
e as persianas dos teus olhos como uma fotografia a preto-e-branco caminhando junto ao mar
transformas-te em alga adormecida
e desces pelo meu corpo até te acorrentares ao meu peito aprisionado pelo medo...
invejo-te os seios perfumados como estrelas tricolores suspensas na saudade
e percebo que passou por nós... imenso tempo tempo demais...

Tempo perdido quando rectas paralelas se encontram no infinito...
acreditas, não acreditas, meu amor?
a paixão de PI quando começa o vómito de 3,141592654... no teu púbis onde desenho gráficos,
equações, máximos, mínimos... e os zeros da função...
e a função alimenta-se dos teus gemidos como vidros partidos sobre as flores das searas...
prometidas?
Invejo-te os olhos
e as tuas coxas com sabor a gaivota estonteante...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

sábado, 2 de março de 2013

Sábado de Março

Enquanto ouvir os pássaros, percebo que estou vivo, sentindo os barcos em círculos no rio dos sonhos, sim, percebo que estou a sonhar, e enquanto olho, uma cidade em voos silenciosos debaixo das pontes que ligam o amor e a paixão, sim, percebo que estou “fodido”, porque a paixão mata, mói, corrompe as mandíbulas das asas de papel, e oiço-as, a elas, e percebo, porque oiço os malditos pássaros, que estou vivo, sou um espelho insignificante, com luzes e brilhantina na cabeça, um palhaço de circo ambulante, um zumbi com cabelos soltos e mergulhados nas espinhas do amanhecer, e sim, que percebo, a paixão emagrece o céu, alimenta-se dos corpos em desejo, e depois, depois de mastigar os ossos e a carne, foge, e esconde-se no monte mais secreto do abismo; e começo a não ouvir os pássaros, e percebo que os barcos em círculos no rio dos sonhos, sim, percebo que a paixão mata, como matam as balas da solidão, quando embatem contra o peito da paixão...
Para que servem os meus poemas se as tua mãos de papiro ardem no silêncio da noite recheada por uma longínqua, fria, inteligente, capaz de absorver-te como as tuas algas que utilizavas nas tuas débeis pesquisas, acabavas de te apaixonar pelo mar, e já trazias os rios num dos bolsos do teu bibe, e dançavas, quando o vento soprava do Sul, uma bandeira flutuava, dizia-se livre, liberta-me
E tu
Que fizeste concretamente?
Deixaste-me acorrentado a um cais mórbido, ensanguentado por palavras que ninguém percebia, porque era a nossa linguagem, eram as nossas palavras, como o fumo
E
E tu
Lembravas-me o vento quando eu sobrevoava as tendas de lona das casas sem literatura, e que fizeste concretamente? Nada,
Nada,
Como sempre, eu, tu, dois veleiros num cais de cimento com luzinhas que ao longe se transformavam em pontinhos, em círculos, em
Em
E tu
Que fizeste concretamente?
Enquanto ouvir os pássaros, percebo que estou vivo, sentindo os barcos em círculos no rio dos sonhos, sim, percebo que estou a sonhar, e enquanto olho, uma cidade em voos silenciosos debaixo das pontes que ligam o amor e a paixão, sim, percebo que estou “fodido”, porque a paixão mata, mói, corrompe as mandíbulas das asas de papel, e oiço-as, a elas, e percebo, porque oiço os malditos pássaros, que estou vivo, que precisamos de gritar, amar, morrer, que enquanto ouvirmos os pássaros, percebemos que estamos vivos, sentindo os barcos em círculos no rio dos sonhos, sim, percebemos que estamos a sonhar, e enquanto olhemos, uma cidade em voos silenciosos debaixo das pontes que ligam o amor e a paixão, sim, percebemos que estamos “fodidos”, porque
A paixão matou-nos, porque o amor, também ele, numa noite de inverno, assassinou-nos, e ficamos sós, abraçados, como duas gotas de água suspensas num arame de vidro..., e no entanto
Em
E tu
Que fizeste concretamente?
As tuas tristes algas sobreviveram à tempestade de areia, talvez, hoje, Sábado de Março, vivam dentro de uma parede de xisto, com janelas para o rio Douro, talvez, hoje, Sábado de Março, as tuas tristes algas, algumas, não todas, mortas, como nós, como eles, e todas as palavras que escrevemos sentados num triste banco de jardim com ripas de madeira e mãos de alecrim, o cheiro, sentíamos o cheiro das palavras que deixamos morrer, e matamos
As palavras;
(amor, amo-te, paixão, desejo, beijos, carícia, abraço)
E tantas outras que matamos, como matamos os pássaros,
Enquanto ouvir os pássaros, percebo que estou vivo, e como não os oiço, percebo, entendo, pressinto
Que morri,
Ou
Que as tuas tristes algas... mentiam-nos, quando acordávamos pela manhã e depois de abrirmos a janela, ao longe, ao longe uma ponte de aço acenava-nos, ao longe, uma ponte de aço gritava-nos
Amava-vos, mas deixei de olhar o sol e o mar transformou-se na face de um cubo pintada de azul, e quase sempre estávamos de olhos vendados, como todas as rochas dos rios com algas mentirosas...
(Lembravas-me o vento quando eu sobrevoava as tendas de lona das casas sem literatura, e que fizeste concretamente? Nada,
Nada,
Como sempre, eu, tu, dois veleiros num cais de cimento com luzinhas que ao longe se transformavam em pontinhos, em círculos, em
Em
E tu
Que fizeste concretamente?)
E nunca mais tivemos sossego como o homem com cabeça de palha.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

P.S.
Tinhas nos seios as sílabas que construíam as palavras mais belas do planalto onde habitávamos e nos escondíamos, tinhas no peito uma janela onde vivia um coração, e dessa janela, víamos os triângulos de areia que Deus deixava sobre as plantas carnívoras que brincavam no nosso quintal de cartolina e lápis de cor, e mesmo assim, que tudo tínhamos, deixamos morrer as palavras mais importantes de nós; E hoje, Sábado de Março, apenas comunicamos através de números e equações matemáticas complexas, feias e distantes...

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Teresa (sem nome, idade ou sexo)

Supostamente, nada o fazia prever, e no entanto, misteriosamente, aconteceu, como uma mácula cinzenta de penumbra debaixo de um céu reconstruído de resíduos esféricos que sobraram das brincadeiras infantis em frente à velha escola, quatro paredes, telhado em zinco, e casa de banho completa com cerca de um hectare bordada a capim húmido e algumas pedras cansadas de sobreviverem à escuridão das noites quando os cortinados se enrolam no pescoço esguio do teu vestido encarnado, adoras o vermelho, o sangue, a gravida quando deixa de ser aproximadamente nove vírgula oito metro por segundo quadrado, e talvez por desorientação, é de doze vírgula cinco metro por segundo quadrado,
(acreditei que o seno ao quadrado de alfa mais o co-seno ao quadrado de alfa o resultado é um, incrível, como se a tangente de trinta graus não fosse raiz de três sobre dois),
Dir-me-ás que o triângulo isósceles do segundo esquerdo é loucamente apaixonado pelo triângulo equilátero do rés-do-chão frente, e que são felizes, diria até
Muito,
E tal como o triângulo rectângulo do quinto direito ama loucamente o triângulo isósceles do quatro esquerdo, a hipotenusa ao quadrado é igual à soma dos quadrados dos catetos, e também eles, apaixonados pelo perímetro do círculo com o raio igual à paixão, e se
A paixão ao quadrado é igual ao amor, logo
Qual será a raiz quadrada da paixão?
Não sei nada dessas coisas, tal como nunca percebi o silêncio dos nossos vizinhos que se amam loucamente e têm medo de o assumir, palhaços e palhaços, dentro de um circo denominado tesouro absorto das palavras proíbas, custava-lhes dizerem ou escreverem ou simplesmente no átrio da escola com um ripa de madeira, desenharem na terra húmida
Amo-te Teresa,
(o autor deste texto não ama e tão pouco conhece fisicamente uma Teresa, e é apaixonado por triângulos rectângulos e círculos de luz)
Amo-te Teresa, e enquanto ele escrevia na parede lateral esquerda do átrio da Igreja Matriz, não sendo ela, a matriz, nem quadrada, nem diagonal, nem outra coisa alguma
(apenas o devaneio de um louco que julga ter piada com as porcarias que escreve)
Apareceram treze linda flores de nome Teresa,
Nunca acreditei que no jardim do amor existissem tantas e lindas
Figuras geométricas,
Complexas coxas, finíssimas fronteiras de carne e osso, da pele, escurecida como a água depois de cair a noite sobre o mar, libertava-se um distinto livro de poemas com pétalas vestidas de cubos e hipercubos
(E se eu em vez de amar uma Teresa amasse um hipercubo?)
Com madeixas triangulares, e percebi que ele resolvia as equações do terceiro grau como se elas fossem simples flores, pertences ao jardim do amor, e mesmo assim, elas, elas acreditavam que
(Supostamente, nada o fazia prever, e no entanto, misteriosamente, aconteceu, como uma mácula cinzenta de penumbra debaixo de um céu reconstruído de resíduos esféricos que sobraram das brincadeiras infantis em frente à velha escola, quatro paredes, telhado em zinco, e casa de banho completa com cerca de um hectare bordada a capim húmido e algumas pedras cansadas de sobreviverem à escuridão das noites quando os cortinados se enrolam no pescoço esguio do teu vestido encarnado, adoras o vermelho, o sangue, a gravida quando deixa de ser aproximadamente nove vírgula oito metro por segundo quadrado, e talvez por desorientação, é de doze vírgula cinco metro por segundo quadrado,)
Quando se cai nos braços de uma Teresa qualquer; Cravo, Rosa, Crisântemo ou outra qualquer figura geométrica.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Não falando nas noites

Um livro esquecido sobre uma mesa de vidro, os olhos tristes da gaivota quando sobrevoa o oceano acreditando que as horas são pedaços de papel à deriva no mar desenhado na areia por uma menina com lágrimas de vidro em frente a um espelho de pano, dividia-me entre manhãs de desencanto e tardes de loucura, não falando nas noites
Ternura,
Pintávamos os nossos corpos invisíveis com acrílicos que o velho do jardim das Pilas Murchas nos ofereceu no dia de S. Valentim, tu primeiro, eu depois, pintamos o céu e as estrelas e quando nos abraçávamos perguntavam-nos
Vocês são a noite?
Dizíamos-lhes que sim, claro, porque ter medo, vergonha, dizíamos-lhes que éramos a noite disfarçada de janelas com vidro duplo, cortinados de açafrão, e na porta de entrada para a gaveta onde guardávamos os pincéis, as tintas, as telas, a mãe das telas, e os filhos das telas, desenhos, construídos, em construção, alguns desmaiados e à espera da chegada do 112, outros
Amarfanhados como ervas daninhas recheadas de restos de cigarro e pólen de haxixe que saboreavam os desassossegos lábios das abelhas revoltadas contra as árvores do recreio, as tuas lágrimas de luz morriam como morreram todas as coisas que amei, os livros, as crateras dos desejos secretos quando a noite me vinha buscar e eu sentia-me transportado para dentro do teu coração de aço, outros
Sem vida, já, estendidos pelo corredor, o cheiro putrefacto da tela misturada com a tinta, um cadáver de quadro sem tecto, morada, destino, ou vida, pindérico pequeno-almoço que me serviam na enfermaria e eu sabia das lágrimas circulares depois de lhes calcular a área e o respectivo perímetro,
Qual é o perímetro de uma lágrima?
Partindo do princípio que as lágrimas não são círculos, porque têm volume, e que o perímetro de uma lágrima calcula-se elevando a tristeza ao cubo multiplicando pela cor dos olhos
Qual é a cor dos olhos dela? Verdes, verdes, tem a certeza?
Então diria que o perímetro da lágrima dela é de três vírgula catorze verdes searas lineares...
(Pintávamos os nossos corpos invisíveis com acrílicos que o velho do jardim das Pilas Murchas nos ofereceu no dia de S. Valentim, tu primeiro, eu depois, pintamos o céu e as estrelas e quando nos abraçávamos perguntavam-nos), se éramos a noite disfarçada de noite, tu, respondeste-lhe
Não, nós somos a noite disfarçada de amor, com beijos, com asas, com vento e palavras parvas, com tardes cinzentas, horas embebidas em ponteiros de relógios suspensos nas teias de aranha das madeixas dos limoeiros da dona Aninhas, do galo que não se cala, todos os dias, rabugento, enferrujado, rouco como os cigarros de arame, tristes, tristes as tuas mãos com silêncios em penas amarelas, verdes, azuis, encarnadas
Pareces um palhaço com ventoinhas nas pernas e embrulhado num tecido quadricolor, depois tiveste o azar do teu hipercubo se apaixonar por um gato, o gato mordeu-o e o hipercubo fugiu, depois veio-te a carta do tio Hilário a comunicar-te que Venho por este meio informar Vossa Excelência que os livros da prateleira número três, rés-do-chão – Direito, por minha morte, pertenceram à Biblioteca Pública da Aldeia das casas de vidro
(Que se foda o velho, nunca gostou de mim..., que meta os livros pelo rabo acima)
Quero lá saber dos livros, do amor, do tio Hilário, do perímetro, do volume, ou da área de uma lágrima, Porquê? Sou mais feliz por saber essas coisas?
Não quero saber,
Não me interessa,
Quero lá saber da paixão do meu hipercubo por um ranhoso gato, mimado, filho único como eu e maluco, como diz o povo, ai o povo diz tanta coisa
Só não diz às vezes aquilo que devia dizer,
Como a gaveta mortuária onde dormem as telas mortas, como a gaveta dos sonhos onde dormem um par de chaves e uma lanterna, como
Quero lá saber dos livros, do amor, do tio Hilário, do perímetro, do volume, ou da área de uma lágrima, Porquê? Sou mais feliz por saber essas coisas?
Não quero saber,
Não me interessam,
Como será um hipercubo loucamente apaixonado por um gato? Consegues imaginar?
Claro que consigo
É como nós,
Um dia é verde, outro dia é encarnado, e às vezes alterna entre o azul e o amarelo, e nunca, e nunca elas se queixaram por eu não saber calcular a área, o perímetro ou o volume de uma simples lágrima, porque o segredo está
No coeficiente de tristeza.

(texto de ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Matriz composta

Procuro nos olhos oblíquos da manhã
a bissectriz do cansaço
o meu corpo transforma-se em matriz composta
e dos meus braços
crescem linhas paralelas sem destino
algures suspensas no infinito

elevo ao quadrado a minha solidão
e à raiz quadrada do sofrimento
adiciono uma noite sem nome
sem horários

sem nada