segunda-feira, 23 de junho de 2014

Três incógnitas e um corpo


Tens um X no espelho dos teus lábios,
há um Y no centro do teu peito, deslocando-se em pequeníssimos milímetros,
ora para a direita, ora para a esquerda,
depois, mais abaixo, no teu umbigo... o desgraçado Z, desnorteado, sem saber o que fazer,
como eu, um corpo deambulando entre a raiz quadrada da solidão,
e uma mísera folha quadriculada, feia, e abandonada,
gravitando em volta dos teus seios,
procuro-me nos três ponto algures no espaço do teu desejo,
peço-te um beijo,
e tu, tu respondes-me com uma equação sem solução,
e obrigas-me a rotações ímpares, sem local para aportar,
como os barcos recheados de quadriláteros,

O meu corpo ancora no Z que adormece no teu umbigo,
transforma-se em três eixos, sinto-me tridimensional, raivoso, animal,
esqueço as palavras, esqueço as equações...

(Impossível de resolver)

Lá fora chove,
e hoje o vento entristece as três incógnitas do teu esqueleto com odor a noite sem nome,
há um perfume em ti que me diz... (hoje não o conseguirás),
e não,
desisto desta equação,
desgraçado, eu, eu que não percebo o significado da matriz amar,
talvez transposta,
talvez... talvez mal-disposta,

(Impossível de resolver)

Escrevo números no teu olhar,
silencio-me quando de ti uma parábola acabada de nascer voa como uma gaivota sobre o mar,
os resultados começam a aparecer nas tuas mãos...
o X é igual a paixão...
o Y é igual a cansaço, porque desenhar-te... cansa, Ai como cansa!
e o Z é igual a amor sem saída, rua encerrada, edifício sem transeuntes...

(Impossível de resolver)?

Não,

A equação do teu corpo... tem solução...


Francisco Luís Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 23 de Junho de 2014

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