Poema de Francisco
Luís Fontinha
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sexta-feira, 1 de agosto de 2014
quinta-feira, 31 de julho de 2014
O apeadeiro do desejo
O apeadeiro do
desejo,
embrulhado no
encarnado beijo,
o apito na garganta
da insónia tombando sob os socalcos granitos,
o corpo roda, o
corpo canta,
o corpo... o corpo é
um pedaço de cacimbo,
esquecido nas
mergulhadas mãos de cera,
o corpo arde na
fogueira,
acorrenta-se ao
cansado limbo,
o corpo... o corpo
que a aldeia inventa,
e não lamenta...
o apeadeiro do
desejo,
o corpo... o corpo é
uma sebenta envenenada,
Uma estrada...
descendo a montanha
das coxas cinzentas,
o corpo se enterra
na derramada carne,
como uma árvore sem
voz,
o corpo levita, o
corpo não aguenta...
o silêncio triste
das canções de Domingo,
uma estrada, e um
corpo vestido de amanhecer,
espera, espera o
regressar do apeadeiro do desejo,
espera... espera o
vento nascer,
o corpo é uma rosa
recheada com palavras de papel,
uma estrada, um
barco correndo no pôr-do-sol,
o corpo se cansa e
ama... ama o encarnado beijo,
O corpo não cessa,
e chora,
o corpo é um
vinhedo com tecto de marfim,
o dia míngua, o dia
nunca terá fim...
enquanto o corpo
habita no meu peito,
deseja e escreve no
xisto leito de pele doirada,
o corpo vomita os
sons do orgasmo silencioso,
o corpo..., o corpo
se esconde no colmo com paredes de vidro,
o corpo não cessa,
e chora...
enquanto houver
madrugadas de brincar...
o corpo..., o corpo
se ama e adora..., o corpo, o corpo é um poema de amar!
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 31 de
Julho de 2014
Arte
Esta arte,
Este povo no
pedestal da saudade,
Dizem-me que há um
desejo em tempestade,
Uma mulher que arde,
Uma mulher que arde…
arde na lareira da vaidade,
Esta arte,
Estas cores
pinceladas de veneno,
O beijo que assombra
a árvore no vento ameno,
Uma mulher que arde,
Arde… no meu peito
sereno,
Esta arte,
Este povo que teima
em não se revoltar,
Dizem-me que há no
mar,
Uma mulher que arde,
Arde… arde sem
vontade de regressar,
Esta arte,
Que o meu corpo
consegue transpirar,
Esta arte que não
respira nas noites de luar,
Que arde…
Que arde… que arde
sem parar,
Esta arte,
Que os musseques
alicerçam ao cais dos afogados,
Meu povo… meus
coitados,
Esta arte que arde…
E não vos deixa
sossegados.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quinta-feira, 31 de
Julho de 2014
quarta-feira, 30 de julho de 2014
Arcadas em flor
Não sei porque
chora,
este granito das
arcadas em flor,
porque se cansa esta
cidade...
porque morre este
amor,
se a noite não vai
acordar,
e a tarde,
e a tarde teima a
alicerçar-se nos lábios da dor,
não sei porque
chora,
este granito sem
cor,
que no cansaço
mora,
que dos abraços
inventa as palavras de amar,
quando se dissipa no
teu corpo o silêncio grito...
não sei porque
chora,
este granito em teu
olhar,
esse corpo
fervilhando em desejo,
não o sei, agora,
se esse granito é
luar...
ou... ou se é um
beijo,
não o sei...
porque chora este
granito das arcadas,
em flor semeados os
seios da alvorada,
este granito das
madrugadas,
que um dia desenhei,
e hoje, e hoje não
é nada.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Quarta-feira, 30 de
Julho de 2014
terça-feira, 29 de julho de 2014
A Casa Amarela
Desejastes-me
Senhora,
quando eu tudo
tinha,
hoje, que não tenho
nada,
vós, minha Senhora,
odiais-me...
pareceis, hoje, uma
alminha,
denegrida,
deitada na
madrugada,
Desejastes-me
Senhora,
nas mansardas de
Belém...
fazíamos amor
olhando o rio,
triste, e habitado
por chulos, putas... e Cacilheiros,
à janela,
os cigarros semeados
numa casa amarela,
fumegavam, e
gritavam... e gritavam... esta Senhora é bela,
bela Porcelana,
que rica
Porcelana... ela!
Desejastes-me
Senhora,
quando eu tudo
tinha,
hoje, que não tenho
nada,
vós, minha Senhora,
odiais-me...
O poeta é um
fotógrafo de palavras,
um pintor de
caricias e medos,
o poeta é... o
poeta é um escultor...
molda, molda o corpo
da minha Senhora bela,
do granito
embalsamado...
que olhando outro
rio,
não triste, não
habitado por chulos, putas... e Cacilheiros,
vive como um
coitado,
vós, minha Senhora,
odiais-me...
E ainda guardais
dentro de um livro uma envelhecida flor,
Não morreu o poeta,
não morreu a minha Senhora bela...
mas... mas morreu o
amor,
E morreu a casa
amarela.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Terça-feira, 29 de
Julho de 2014
segunda-feira, 28 de julho de 2014
Grito, fujo... às palavras começadas por...
Um rio
esquizofrénico que não me deixa viajar,
sou acorrentado ao
tédio cansaço do cais invisível,
não durmo, não
vivo... vivendo nos lábios do desamor,
uma estrada
congestionada abraça o teu corpo de linho,
e pareces um
cortinado com odor a morte suspenso na solidão,
sem sorte,
grito, fujo... às
palavras começadas por... não sei, talvez... talvez por A,
vendo o meu nome em
troca de livros, vendo poemas em toca de beijos,
vendo-me... vendo-me
em troca de nada,
nada,
que hoje a noite vai
ser uma trampa,
um rio, um rio
esquizofrénico que não me deixa viajar...
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Segunda-feira, 28 de
Julho de 2014
domingo, 27 de julho de 2014
Os socalcos das coxas cinzentas dos pinheiros bravios...
Feliz aquele que tem
alguém para amar,
feliz aquele que tem
um livro para ler,
escrever, tão
feliz... tão feliz aquele que sente a noite adormecer,
adormecer... nos
braços do luar,
Feliz aquele que tem
lábios para beijar,
que habita numa boca
com sorriso de amor,
feliz aquele que
inventa cabelos na planície do amanhecer,
e sem querer... e
sem querer começa a chorar,
Felizes os barcos
que têm marinheiros de papel,
corpos nus, corpos
com sabor a mel...
feliz aquele que tem
seios para pintar,
segredos para
desvendar, quando o calendário da solidão... desaparece no mar,
feliz, eu?
talvez venha um dia
a acreditar,
que há sanzalas com
odor a chocolate,
que existem nuvens
plantadas nos socalcos das coxas cinzentas dos pinheiros bravios...
feliz aquele que
morre sem o perceber,
feliz..., tão
felizes os cigarros de fumar,
tão felizes os
cigarros de viver,
… quando há uma
mulher embrulhada numa folha amarrotada,
Feliz aquele que tem
alguém para amar,
feliz aquele que tem
um livro para ler,
feliz..., tão feliz
aquele que tem um poema a crescer...
a crescer... no
verbo desejar.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Domingo, 27 de Julho
de 2014
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