Desejastes-me
Senhora,
quando eu tudo
tinha,
hoje, que não tenho
nada,
vós, minha Senhora,
odiais-me...
pareceis, hoje, uma
alminha,
denegrida,
deitada na
madrugada,
Desejastes-me
Senhora,
nas mansardas de
Belém...
fazíamos amor
olhando o rio,
triste, e habitado
por chulos, putas... e Cacilheiros,
à janela,
os cigarros semeados
numa casa amarela,
fumegavam, e
gritavam... e gritavam... esta Senhora é bela,
bela Porcelana,
que rica
Porcelana... ela!
Desejastes-me
Senhora,
quando eu tudo
tinha,
hoje, que não tenho
nada,
vós, minha Senhora,
odiais-me...
O poeta é um
fotógrafo de palavras,
um pintor de
caricias e medos,
o poeta é... o
poeta é um escultor...
molda, molda o corpo
da minha Senhora bela,
do granito
embalsamado...
que olhando outro
rio,
não triste, não
habitado por chulos, putas... e Cacilheiros,
vive como um
coitado,
vós, minha Senhora,
odiais-me...
E ainda guardais
dentro de um livro uma envelhecida flor,
Não morreu o poeta,
não morreu a minha Senhora bela...
mas... mas morreu o
amor,
E morreu a casa
amarela.
Francisco Luís
Fontinha – Alijó
Terça-feira, 29 de
Julho de 2014
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