(…)
E...
Tão
belo como as sandálias da infância... sonhadoras,
As
tristes viagens ao cacimbo da infância, o sombreado rosto no pavimento térreo e
sem nome, as mangueiras no retracto do meu avô, de machimbombo na mão, abria-se
o portão de entrada, um beijo, infinitos abraços... e o sentar numa cadeira de
vime,
O
cansaço disfarçado de saudade, a tela do silêncio em pequenos suspiros de amor,
o sexo mergulhado nas frestas do passado, a morte e a loucura, e uma equação
irresolúvel, menstruada nas sílabas da madrugada, não sei o significado desta
noite,
Faltam-me
as palavras,
E
os desenhos,
Faltam-me
as palavras certas para a tua boca de verniz, e quanto aos desenhos
Uma
porcaria,
Sem
nexo, abstractos como o teu sorriso, e tristes como o final da tarde junto ao
rio, O Tejo embriagado nos meus lábios, os esqueletos de palha ardendo na maré,
e uma porcaria
Os
meus desenhos?
E
tu,
Uma
porcaria como todas as porcarias da minha vida,
E
tu,
A
“Divina Comédia” ...
Entre
as minhas pálpebras de arroz,
Nasce
o poema no teu olhar, recomeçam as sagradas lâmpadas do fugitivo sem destino, imagino-me
um transeunte sem identificação, Pátria... nasce o poema no teu olhar
cambaleando lâminas de azoto e perpétuas flores em papel, as lágrimas da
inocência impregnadas no teu rosto, sangrento, fulminantes palavras inscritas
na alvorada,
Amanhã
regressarei aos teus braços,
Não,
não quero Deus nas minhas mãos, não...
Braços,
A
alvorada inseminada na fala dos desassossegados orgasmos de plástico, a
claridade sideral poisa sobre os teus seios, meu amor,
E
o amor?
Braços,
Palavras,
O
corredor embriagado de flores e árvores caducas, na algibeira um beijo e
algumas migalhas de suor que só o teu corpo sabe desenhar em mim, abri a
janela, puxei de um velho cigarro, a tosse, a idade da tosse... sobre os meus
ombros,
Tens
de deixar de fumar...!
Nunca,
(Navegas
na morte, habitam em ti as saudades da partida, o regresso sem saída, absorto, infinitesimal
adormecido numa lápide de sonho, partimos, chegamos, o frio entranhou-se-nos
nos ossos, esquecemos as palavras, e todos os momentos, a loucura imaginária
dos vinhedos escrevia nos rochedos... o xisto disfarçado de “Alimento para
Cães”, as ruas inúteis, fúteis, onde ”putas e drogados” dormiam para fugirem ao
vicio, a emigração dos corações de areia, a sedução, o prazer quando o teu
corpo balançava na alegria, o sótão vazio, o telhado encravado nas ombreiras da
paixão,
Amo-te,
escreve ela todos os dias no espelho embaciado,
Amas-me?
O
que é o amor, meu amor...
Palavras,
poemas, poetas... & mortos sem cabeça, Amas-me? O que é o amor, meu amor...
Pedra,
madeira...ou papel quadriculado,
Oiço
“Foda-se
o amor”)
Nunca
oiço, as tuas exclamações do prazer, e quando o teu corpo se desfaz em cinza,
eu, sou absorvido pelos teus olhos, navego desde que cheguei, dentro de um
caixote em madeira,
Alguns
tarecos, fotografias e fios de sémen ainda por descobrir, os calções
emagrecidos na madrugada, o desejo desenhado nas montanhas do “Adeus” ...
Até
logo, meu amor...
E
nunca,
O
que é o amor, meu amor...
Os
meus desenhos?
E
tu,
Uma
porcaria como todas as porcarias da minha vida,
Estes
desenhos sem sentido, abstractos, doentes, malditos... sinto-o e finjo que ele
não existe, não o quero ver, não me apetece falar com ele, amanhece nos teus
braços e não me dou conta da liberdade das tuas mãos, das palavras dos teus
lábios... e dos teus beijos geométricos,
A
rima é de quem a trabalha,
Geométricas
cintilações de cianeto, o azoto e os cigarros,
E
tu?
Amanhã
amar-me-ás como hoje?
Mas
hoje... não existe, um caixote em madeira, alguns tarecos e meia dúzia de
fotografias,
Todas,
Todas
a preto e branco...
Partiram,
levaram o miúdo dos calões e o caixote em madeira,
Alguns
tarecos, pouca coisa e fotocópias de fotografias envenenadas pelo silêncio, na
algibeira, o amor, o desejo do mar, dos barcos e das coisas
Simples?
(…)
(não
revisto)
Francisco
Luís Fontinha – Alijó