quarta-feira, 24 de julho de 2013

Sim, tu, tu aí... mulher de ébano!

foto de: A&M ART and Photos

Me desencontro na encruzilhada dos teus braços,
Pergunto-me, quem és?
Ninguém sabe, ninguém percebe porque são os teus lábios doces e a tua boca tem o sabor da Primavera, ninguém sabe quem és, o que fazes entre as flores mais belas dos jardins imaginários, mas dizem-me que te veste de noite, que passeias em frente ao mar com sorriso de gaivota, dizem-me, porque sinceramente... confesso... não sei, quem és tu?
Os barcos são de papel, os rios vasos comunicantes, abraçados, ou não, braços de prata com pulseiras de xisto, montanhas desgovernadas, montanhas solitárias, que os teus olhos tão bem conhecem, e eu, não
Não dizias que havia mar dentro da algibeira dos sonhos?
E tu, que fazes disfarçado de homem do circo, como palhaço, trapezista, como malabarista ou... ilusionista, sim, diz-me tu, quem és, o que fazes, porque são azuis os teus olhos? E eu, não, não percebo, não entendo a madrugada quando não acorda, cerra os olhos, as portas e as janelas, morre-se dentro da cidade como ardem pedaços de papel, e tu, e tu o que fazes?
Nada, indiferente, ausente de mim, e no entanto... nem sei quem és...
Uma cegonha de incenso invade a tua privacidade, iluminam-se-te os pretos cabelos com folhas de pequenas lâminas de luz... há rochas incompletas dentro de hipercubos à beira da paixão, há triângulos de desejo no centro do teu círculo púbis, e eu, sem saber quem és, onde moras, o que fazes dentro do mar com velas de linho,
Barcaça?
Me desencontro na encruzilhada dos teus braços, permaneço impávido como uma cerejeira na sombras dos castelos de areia, finjo morrer e fujo para o outro lado da montanha, desenho linhas, muitas linhas no térreo pavimento, sou só, solitáriamente só, sou como as árvores antes de nascerem, sou nuvem, e tu, quem és,
Quem és, mar ausente dos barcos transversais das janelas de Janeiro, tu, heroína das pesadas roldanas nas tempestades verticais quando os cortinados caem sobre o azul olhar da Princesa manhã, saberias acariciar-me com os teus dedos de seda se ouvisses o borbulhar das malignas gotas de suor do amanhecer desconhecido? Tu?
Eu, barcaça?
Sim, tu, tu aí... mulher de ébano!
Não dizias que havia mar dentro da algibeira dos sonhos? E o amor, como será o amor vivido dentro dele, tu, ou eu, ambos, mergulhados em espuma de insónia... como dos corredores longínquos dos seios teus perdidos nas catacumbas da paixão,
Amar-me-ás, um dia? Apenas num qualquer dia..., numa qualquer cidade...
Tu, barcaça?
Eu, o quê? Sim... tu, uma barcaça desnorteada enrolada em ventos convexos e pulmonares corações de silêncio; o teu. O Teu simples silêncio...

(não revisto – ficção?)
@Francisco Luís Fontinha

Cidade de vidro

Desenho de: Francisco Luís Fontinha

Há uma cidade com janelas de vidro
tem ruas e pessoas
há uma cidade com jardins invisíveis
e marés transparentes... que nem todas as pessoas
as pessoas dessa cidade
… há uma cidade
que nem todas as conseguem olhar
como persianas marteladas em papel hortelã,

Há marinheiros
filhos da cidade
vagabundos dos mares inavegáveis como rochas íngremes nas estradas de brincar...
há uma pobre cidade com braços de porcelana
e palmeiras
e pássaros...
há uma cidade em penumbras madrugadas
uma cidade embriagada,

Há uma cidade que renasceu do teu olhar sobre a ponte inoxidável...
uma cidade com seios prateados e coxas de plátano...
há conversas perdidas nas sombras desta cidade
uma cidade com beijos de lábios em néon imaginário
e pássaros
e palmeiras
há uma cidade com janelas de vidro
e toalhas de linho... sobre a mesa nocturna dos sexos débeis das flores perdidas na calçada...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

terça-feira, 23 de julho de 2013

Rebuçados de açúcar doirado

desenho de: Francisco Luís Fontinha

Tinhas na boca o perfeito cubo de gelo, era noite e estava vestida com um pano negro com finas lâminas de seda, havia entre nós um muro de ardósia com desenhos desconexos, três, de cima para baixo, três frases suspensas numa madrugada inventada, desleal, dislexia, complexa talvez, como voláteis vapores de enxofre sobrevoando as janelas do pedestal granítico da escada que existia nas traseiras dos cais... e entre nós e o muro, uma canção, o orgulho em beijos fatias recheadas com doce de abóbora, as sandálias tuas perdidamente perdidas na camuflada relva clandestina dos amanheceres sem ordem, dos amanheceres vagabundos, e sujos,
Tinhas,
O perfeito cubo de gelo, era noite e estava vestida com um pano negro com finas lâminas de seda, as tristes árvores dos teus cabelos em pequenas labaredas que a lareira dos sonhos forjava consoante os minutos suicidados na ponte Romana que servia simplesmente para atravessarmos a ribeira sem nome, passado, esquecíamos-nos dos relógios de pulso que as cavernas de areia engoliam como simples, complexos, dislexia... rebuçados de açúcar doirado,
Fumo,
Havia em ti âncoras de silêncio e porcelanas manhãs de chuva ensanguentada como ontem, depois dos parafusos que ajudavam a suster o muro, o tal que estava entre nós... simplesmente, complexo, dislexia... desapareceram, ruíram como castelo de xisto descendo socalcos embriagados...
Tinhas na boca...
E perdia a paciência para mordiscar os teus lábios, hoje, rochas, ontem, ontem chovia, e trazias todas as lágrimas embebidas no teu vestido de chita, com rosas encarnadas, havia em ti... círculos, cubos de gelo na tua boca, e não sinto saudades da Primavera, e não sinto saudades das tardes debaixo das mangueiras...
Tinhas na boca,
Tinhas,
As âncoras de silêncio dos finais de tarde dentro de mim.

@Francisco Luís Fontinha
(não revisto)

Não me fazes sentido

foto de: A&M ART and Photos

Não me fazes sentido
ouvir-te mergulhada em palavras não ditas
quando o divã das tardes perdidas navega na seara da insónia
ouvir-te ou não ouvir-te... voando como cigarras debaixo das nuvens cinzentas
não me fazes sentido
porque os livros morrem nas encostas dos teus olhos navegáveis,

Os barcos tuas mãos com velas em desejo
descendo cuidadosamente os trilhos da calçada Portuguesa... o cais
e as distintas amarras que o nylon transforma em pedaços de aço
em beijos
os barcos salgados das páginas amarrotadas tua pele...
folheio-as e preciso de ancorar no teus seios com janelas para o mar,

Não me fazes recordar as montanhas cobertas de neve
não vejo os navios das tuas pálpebras brincando nas areias brancas
que as tuas coxas escondiam como serpentes embalsamadas...
não
não o quero porque sou um peixe invisível com asas de perdão
e carapaça escorregadia à deriva sobre os teus cabelos de vento...

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Em destaque – Sapo Angola – Blogue Cachimbo de Água


Em destaque – Sapo Angola – Blogue Cachimbo de Água

segunda-feira, 22 de julho de 2013

O verde rodeado em azul?

Desenho de: Francisco Luís Fontinha

A simplicidade dos teus olhos, o silêncio agreste da tua boca doirada, também em ti, quando dormem todos os desejos, as cavernas da paixão, sós, nós, tu e eu, duas sombras, duas simples sombras... nos abraços dos céus,
A simplicidade das tuas mãos, visíveis, e invisíveis os teus lábios mergulhados no cacimbo que a noite constrói depois de adormecerem todos os sonhos,
Em ti?
O quê?
O verde rodeado em azul? O azul misturado em verde, caule frágil dos teus seios de amêndoa..., a simplicidade, o silêncio, e o desejo com que as palavras nos absorvem, comem... como os sexos em plataformas giratórias depois de cair a noite,
Simples, a simplicidade dos teus olhos, que nunca vi, que nunca...
Ver?
Deixei de o fazer depois das navegantes viagens ao teus púbis de solidão..., ver? Ver, o quê? Se o verde abraça-se ao azul..., e este, o azul, ama compulsivamente... o verde; assim é a cor dos teus olhos, definitivamente, sós, sós como as minhas tristes mãos.
@Francisco Luís Fontinha
Alijó

Os pássaros teus olhos

foto de : A&M ART and Photos

Deixei de perceber os pássaros teus olhos
quando o mar se confunde com uma seara de sofrimento
tombando entre ventos e marés como o pôr-do-sol voando nas mãos do inverno...
mergulhando em ti palavras de fé
letras em paredes de gesso perdidamente sós
como cobertores e espelhos da escada da morte
que nos conduzirá até às árvores das candeias envenenadas...
como serpentes de aço enroladas nos braços teus meus abraços,

Beijos em bocas de porcelana
sexos invisíveis às janelas de Domingo quando lá fora brincam crianças de madeira...
e as mães
indefesas
incrédulas...
acreditam na atmosfera límpida da cristalina música que o amanhecer faz acordar
todas as manhãs
e a todos os dias sem preconceitos ou tempestades de areia...

Deixei de perceber os pássaros teus olhos
confundes-me com os teus lábios oceânicos sacrificados com grandiosos petroleiros
e marinheiros embriagados com sonâmbulos desenhos em cartolina...
deixei de perceber o amor e a paixão
os homens as mulheres os homens e os homens e as mulheres e as mulheres
sobejantes pingos de cinza de um mendigo cigarro
tudo mas tudo parece acreditar nas madrugadas das pontes com pré-esforço...
e asas em veludo desejo.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

domingo, 21 de julho de 2013

Eu? Porquê?

foto de: A&M ART and Photos

Uma,
Apenas uma palavra, uma só...
Pensa numa palavra e escreve-a na minha mão,
Vou... vou escrever rui, é isso, RIO,
Una única palavra à janela dos teus lábios misturando-se no teu olhar o apaixonado rio, barcos e filhos, em círculos como crianças em volta de uma lareira imaginária, lágrimas de cacimbo engolindo sombras de mangueira, barcos e filhos, Cacilheiros e pontes, atravessávamos e do outro lado, o Seixal, e rumávamos a sul, paragem em Silêncios de Nada, uma pequena aldeia minúscula encalhada entre a poesia e um reles texto de ficção
(não revisto)
Claro que sim, não revisto, não aprovado, não
Vês, apenas uma palavra, RIO... e nas tuas mãos sei que habitam sorrisos, Louco, eu?
Claro, louco tu, porque
(não revisto)
Porque de uma palavra é impossível construir um texto, porque de um RIO é impossível viverem barcos e filhos e Cacilheiros, e dormirem pontes, e caminharem sobre ele
Comboios,
Filhos e filhas, e os pais, os barcos de braço dado em frente a um espelho, bâton nos lábios, desejos na boca, sigilo profissional, e tudo o que disser será usado contra a sua defesa...
(Foda-se)
Já o sabia, estes cabrões destes barcos novos... mal começam a navegar e já deixam entrar água e outros objectos indesejáveis aos habitantes portuários das Ilhas dos Pássaros Adormecidos, lembras-te amor?
Amor, eu? Qual amor seu parvalhão? Vai chamar amor ao...
Uma, vês, apenas uma
Parabéns ao vencedor!
Apenas uma e tu ficavas a perceber como se constroem os muros nocturnos das cinzentas escadas de acesso ao céu..., enrolavas-te numa toalha de linho
Eu? Deves ser malucos..., eu nunca, nunca...
E punhas-te à varanda a desenhar marés nas gaivotas com boca de Cacilheiro, ouvíamos os apitos, ouvíamos os muitos gemidos do pôr-do-sol, e ouvíamos o maldito som do Cuco do relógio de sala, sempre desgovernado, tu,
Amor, são quatro horas,
Eu,
Vai chamar amor ao...
Olhava a parede sonolenta e ele parado, estacionado ao lado do crucifixo em madeira, não sei muito bem porquê..., mas sempre
Eu? Porquê?
Tive, mas sempre tive a sensação que ele me espiava, quando entrava em casa madrugada dentro, embriagado, fazia-me de invisível e sabia que tu...
Porquê?
Amor, és tu?
Vai chamar amor...
Não, não sou eu, sinto muito, deve ser o Cacilheiro do quarto esquerdo, a brincar no ascensor, subindo, descendo, parando..., subindo, descendo, descendo, descendo,
Amor?
Olhava a parede sonolenta e ele parado, estacionado ao lado do crucifixo em madeira, não sei muito bem porquê..., mas sempre
Eu? Porquê?

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Os Sábados dos guindastes de solidão

foto de: A&M ART and Photos

Tínhamos os Sábados dos guindastes de solidão
comendo-nos como vampiros solstícios desgovernados
havia em nossos corpos de ébano os silêncios lábios da triste manhã
e percebíamos que as luzes da noite anterior eram apenas cadáveres de areia
brincando nas dunas rochas dos seios madrugar,

Transportava-te nos dedos em réstias letras sobejantes dos pobres textos
que o louco EU deixara de escrever nos espelhos da casa dos sonhos
e uma corrente de aço aprisionava o vento marítimo dos barcos em flor...
tínhamos os Sábados dos guindastes de solidão e uma lanterna de paixão
apoderou-se dos meus braços com assentos circunflexos com vírgulas e parágrafos embriagados...

Amar-te percebendo que sei que não existo... em ti e
dificilmente (efeito Borboleta) tocarás nos velhos troncos dos plátanos de xisto
que habitam nos meus olhos...
Tínhamos... Sábados em tristes guindastes de solidão
e todos os nossos livros deixaram de ser livros e hoje... pássaros em liberdade.

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

Sílabas de papel

foto de: A&M ART and Photos

Pertencer-me-ás sílaba de papel que deixei suspensa em teus lábios cerâmicos
depois de adormecer sobre ti a noite com cinco estrelas de marfim?
Pergunto-me sem perceber que há muito perdi a esperança de levemente pegar em sílabas
que há muito me esqueci das rosas que roubavas nos jardins junto ao Tejo...
pertencer-me-ás, tu, sílaba em papel mergulhada em beijos de tinta?

(não revisto)
@Francisco Luís Fontinha