foto de: A&M ART and Photos
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Me desencontro na encruzilhada dos teus braços,
Pergunto-me, quem és?
Ninguém sabe, ninguém percebe porque são os teus
lábios doces e a tua boca tem o sabor da Primavera, ninguém sabe
quem és, o que fazes entre as flores mais belas dos jardins
imaginários, mas dizem-me que te veste de noite, que passeias em
frente ao mar com sorriso de gaivota, dizem-me, porque
sinceramente... confesso... não sei, quem és tu?
Os barcos são de papel, os rios vasos comunicantes,
abraçados, ou não, braços de prata com pulseiras de xisto,
montanhas desgovernadas, montanhas solitárias, que os teus olhos tão
bem conhecem, e eu, não
Não dizias que havia mar dentro da algibeira dos
sonhos?
E tu, que fazes disfarçado de homem do circo, como
palhaço, trapezista, como malabarista ou... ilusionista, sim, diz-me
tu, quem és, o que fazes, porque são azuis os teus olhos? E eu,
não, não percebo, não entendo a madrugada quando não acorda,
cerra os olhos, as portas e as janelas, morre-se dentro da cidade
como ardem pedaços de papel, e tu, e tu o que fazes?
Nada, indiferente, ausente de mim, e no entanto...
nem sei quem és...
Uma cegonha de incenso invade a tua privacidade,
iluminam-se-te os pretos cabelos com folhas de pequenas lâminas de
luz... há rochas incompletas dentro de hipercubos à beira da
paixão, há triângulos de desejo no centro do teu círculo púbis,
e eu, sem saber quem és, onde moras, o que fazes dentro do mar com
velas de linho,
Barcaça?
Me desencontro na encruzilhada dos teus braços,
permaneço impávido como uma cerejeira na sombras dos castelos de
areia, finjo morrer e fujo para o outro lado da montanha, desenho
linhas, muitas linhas no térreo pavimento, sou só, solitáriamente
só, sou como as árvores antes de nascerem, sou nuvem, e tu, quem
és,
Quem és, mar ausente dos barcos transversais das
janelas de Janeiro, tu, heroína das pesadas roldanas nas tempestades
verticais quando os cortinados caem sobre o azul olhar da Princesa
manhã, saberias acariciar-me com os teus dedos de seda se ouvisses o
borbulhar das malignas gotas de suor do amanhecer desconhecido? Tu?
Eu, barcaça?
Sim, tu, tu aí... mulher de ébano!
Não dizias que havia mar dentro da algibeira dos
sonhos? E o amor, como será o amor vivido dentro dele, tu, ou eu,
ambos, mergulhados em espuma de insónia... como dos corredores
longínquos dos seios teus perdidos nas catacumbas da paixão,
Amar-me-ás, um dia? Apenas num qualquer dia...,
numa qualquer cidade...
Tu, barcaça?
Eu, o quê? Sim... tu, uma barcaça desnorteada
enrolada em ventos convexos e pulmonares corações de silêncio; o
teu. O Teu simples silêncio...
(não revisto – ficção?)
@Francisco Luís Fontinha