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domingo, 21 de julho de 2013

Eu? Porquê?

foto de: A&M ART and Photos

Uma,
Apenas uma palavra, uma só...
Pensa numa palavra e escreve-a na minha mão,
Vou... vou escrever rui, é isso, RIO,
Una única palavra à janela dos teus lábios misturando-se no teu olhar o apaixonado rio, barcos e filhos, em círculos como crianças em volta de uma lareira imaginária, lágrimas de cacimbo engolindo sombras de mangueira, barcos e filhos, Cacilheiros e pontes, atravessávamos e do outro lado, o Seixal, e rumávamos a sul, paragem em Silêncios de Nada, uma pequena aldeia minúscula encalhada entre a poesia e um reles texto de ficção
(não revisto)
Claro que sim, não revisto, não aprovado, não
Vês, apenas uma palavra, RIO... e nas tuas mãos sei que habitam sorrisos, Louco, eu?
Claro, louco tu, porque
(não revisto)
Porque de uma palavra é impossível construir um texto, porque de um RIO é impossível viverem barcos e filhos e Cacilheiros, e dormirem pontes, e caminharem sobre ele
Comboios,
Filhos e filhas, e os pais, os barcos de braço dado em frente a um espelho, bâton nos lábios, desejos na boca, sigilo profissional, e tudo o que disser será usado contra a sua defesa...
(Foda-se)
Já o sabia, estes cabrões destes barcos novos... mal começam a navegar e já deixam entrar água e outros objectos indesejáveis aos habitantes portuários das Ilhas dos Pássaros Adormecidos, lembras-te amor?
Amor, eu? Qual amor seu parvalhão? Vai chamar amor ao...
Uma, vês, apenas uma
Parabéns ao vencedor!
Apenas uma e tu ficavas a perceber como se constroem os muros nocturnos das cinzentas escadas de acesso ao céu..., enrolavas-te numa toalha de linho
Eu? Deves ser malucos..., eu nunca, nunca...
E punhas-te à varanda a desenhar marés nas gaivotas com boca de Cacilheiro, ouvíamos os apitos, ouvíamos os muitos gemidos do pôr-do-sol, e ouvíamos o maldito som do Cuco do relógio de sala, sempre desgovernado, tu,
Amor, são quatro horas,
Eu,
Vai chamar amor ao...
Olhava a parede sonolenta e ele parado, estacionado ao lado do crucifixo em madeira, não sei muito bem porquê..., mas sempre
Eu? Porquê?
Tive, mas sempre tive a sensação que ele me espiava, quando entrava em casa madrugada dentro, embriagado, fazia-me de invisível e sabia que tu...
Porquê?
Amor, és tu?
Vai chamar amor...
Não, não sou eu, sinto muito, deve ser o Cacilheiro do quarto esquerdo, a brincar no ascensor, subindo, descendo, parando..., subindo, descendo, descendo, descendo,
Amor?
Olhava a parede sonolenta e ele parado, estacionado ao lado do crucifixo em madeira, não sei muito bem porquê..., mas sempre
Eu? Porquê?

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha

domingo, 5 de maio de 2013

Wotan`s Farewell and Magic Fire Music

foto: A&M ART and Photos

Para que servem as pontes, se eu, não as consigo atravessar, porque é-me proibido fazê-lo, por decreto, por desejo, pelas vertigens do medo, sento-me junto à margem do rio e imagino-me a atravessar a ponte para o outro lado, ignoro-me, finjo-me adormecido, talvez assim consiga perder a tristeza e acreditar que do outro lado, me esperam, espera, o meu regresso ao principio infinito das melancolias perdidas entre paredes, vermelhas, paredes, azuis, paredes... ai, paredes verdes, como as da cela onde estive até hoje enclausurado,
(escrevo e oiço Hans Hotter "Wotan`s Farewell and Magic Fire Music" Die Walküre)
Sinto-me voar sobre as ponte que atravessa o rio, sinto-me mergulhar nas tuas coxas como se elas, as tuas coxas, fossem um montículo de palha, de barriga para o ar, olhava-te os buracos que o tempo provocou nas telhas do palheiro, o teu palheiro, visto seres um pequeno montículo de palha, o meu corpo ficava encharcado de praganas, picavam-me, sinto-a, a maldita comichão, mas... compensa acariciar a tua pele de neblina em pedaços silêncios, mas compensa, sempre, mas compensa-me ficar aqui, e esperar que a ponte me venha buscar, e pegue na minha mão, como tu o fazias, não propriamente, mas imaginavas fazê-lo quando me convidavas para te abraçar perto dos arbustos do jardim em Belém, ao fundo o CCB, entrávamos, tomávamos café, e comprávamos livros, livros
que hoje pego neles e me fazem recordar-te no tal palheiro imaginário contigo travestida de montículo de palha...
(escrevo e oiço Hans Hotter "Wotan`s Farewell and Magic Fire Music" Die Walküre)
Livros, malditos de ti os livros oferecidos pelos olhos amargurados que o dia transportava para um quatro de hotel, havia uma cama, montículos de palha, havia um tecto, não como o teu, mas liso, areado liso pintado de branco, como o céu em dias de chuva embriagadas todas as janelas da cidade, abria-as e puxava de um cigarro para te saborear e para te chatear e para me distrair... que horas depois, partiria e te ia deixar
sempre imaginando que seria a última vez de mim dentro de ti,
Sempre inventando palavras para descrever os montículos de palha em que tu te transformavas, sem o saberes, apenas eu, quando te alisava a pele, percebia-se, apercebia-me que também tu receavas a partida, também tu encontravas formas distintas de adiar o inadiável, não fumavas tu, mas deixas-me adormecer nos teus braços de selva fazendo-me acreditar que havia sempre um outro dia, num outro mês, numa outra cidade, fazias-me acreditar que havia um outro hotel, com uma outra cama, num qualquer palheiro, não propriamente o teu, um outro, um outro qualquer, não importava, não nos importavam se havia semanas de quatro dias, ou se o dia tinha treze horas, até porque
tínhamos, lembras-te?
Deitamos fora os relógios de pulso, e rasgamos os calendários e as agendas, deitamos fora o ano de dois mil e quatro, e quando me olhava no espelho da tua testa franzina... via-me de pássaro a saltar sobre as árvores perdidas pelas ruas que íamos deixando abandonadas,
havia sempre um rua para nos acolher,
Sempre,
(escrevo e oiço Hans Hotter "Wotan`s Farewell and Magic Fire Music" Die Walküre)
e penso, não em ti nem nos montículos de palha seca como tu quando te transformavas em desejo, e penso, penso porque tive medo de atravessar a ponte e recusei-me encontrar-te do outro lado do Oceano, algures entre a terra e o mar e a lua, algures numa ilha deserta, sem ninguém, algures... por aí disfarçado de paquete galgando searas e montanhas, e sempre
Sempre acreditando que um dia perdia o medo de atravessar uma simples ponte,
e não consigo,
Sentávamos-nos na esplanada do CCB e víamos adormecer Lisboa...
Tão lindo, e tão belo, quando te vestias de montículo de palha, e eu, e eu acariciava os teus dóceis venenos que escondias entre os dedos de alga salgada.

(ficção não revisto)
@Francisco Luís Fontinha